Tornados, 28 de março
2024-04-04 (IPMA)
No
passado dia 28 de março o bordo sul da depressão “Nelson”, com
ondulações frontais associadas, afetava o território do continente,
promovendo, a partir da manhã, um fluxo de oes-sudoeste moderado a forte
sobre o território (figura 1). Nas regiões do centro e do sul, à
passagem de uma ondulação frontal de noroeste para sueste,
encontravam-se reunidos os ingredientes necessários à formação de nuvens
com desenvolvimento vertical, por vezes com natureza de supercélula
(SC). Estas perturbações são caraterizadas pela presença de um
mesociclone (MC), que corresponde a um movimento de rotação na nuvem,
organizado, mas que se estabelece apenas em altitude. Só em condições
muito particulares é possível a formação de um tornado, a partir do
referido MC. Tornado implica, por definição, a presença de um vórtice em
contacto com a superfície. O ambiente atmosférico ao final da manhã e
tarde deste dia era, igualmente, caraterizado por um escoamento muito
forte aos vários níveis, em que células convectivas coexistiam, por
vezes, com bolsas de ar relativamente mais seco. Nestas condições é
favorecido o transporte, vertical, de parcelas de ar com momento linear
de grande magnitude, de modo que as correntes de ar associadas à
precipitação, podiam causar a ocorrência de rajadas muito fortes de
vento, em níveis baixos. Estes fenómenos, denominados por rajadas
convectivas são, em geral, muito repentinos e localizados.
Durante a tarde deste dia foram reportados episódios de vento e
precipitação forte, em diversos locais da área metropolitana de Lisboa e
do sul do território do continente. A maior parte destes episódios de
vento forte terá estado associada a rajadas convectivas. Alguma da
documentação consultada permite concluir que, por vezes, a magnitude das
rajadas terá excedido os 100 km/h.
Sobre o rio Tejo foi observado um vórtice de tornado, ao início da
tarde. Na figura 2 é possível seguir o padrão de dipolo na velocidade
Doppler correspondente à SC que veio a produzir o fenómeno. Pelas 13:57
UTC (UTC = hora local nesta data) a SC situava-se a oeste da foz do rio
Tejo (figura 2a). Com uma advecção de 23 m/s (83 km/h) na direção
es-nordeste, a SC cruzou todo o sul da cidade de Lisboa, entre a zona de
Belém (figura 2b) e a zona oriental da cidade (figura 2c), onde se
situava pelas 14:17 UTC, já próximo da Ponte Vasco da Gama. Dez minutos
após, a assinatura do dipolo era ainda perfeitamente visível,
encontrando-se a SC já sobre os terrenos sedimentares do estuário do
Tejo (figura 2d). Pela análise dos elementos disponíveis até ao momento,
o tornado ter-se á iniciado sobre a água do estuário, provavelmente já a
este da Ponte Vasco da Gama, no período compreendido entre as 14:21 e
as 14:24 UTC. Não são conhecidos efeitos de destruição associados ao
tornado, pelo que não é possível estimar a sua intensidade.
Para o final da tarde, no Barlavento algarvio, foi reportado um episódio
de vento forte em Benaciate (freguesia de S. Bartolomeu de Messines,
concelho de Silves). Pela análise das observações com radar,
documentação e relatos, confirmou-se que a ocorrência esteve associada a
um tornado. Na figura 3 pode seguir-se a evolução da SC que gerou o
fenómeno. Pelas 17:07 UTC a SC situava-se ainda sobre o mar (figura 3a),
localizando-se nas proximidades de Lagoa (concelho de Lagoa) dez
minutos após (figura 3b). Com uma advecção de 22,5 m/s (81 km/h) na
direção es-nordeste, pelas 17:27 UTC esta SC situava-se próximo do local
de onde foi reportada a ocorrência (figura 3c) e, dez minutos mais
tarde, já se encontrava após a auto-estrada A2 (figura 3d). Este tornado
destruiu duas casas pré-fabricadas, danificou outras habitações e
causou a queda de árvores de grande porte que danificaram viaturas, a
queda de postes de telecomunicações e de energia. Ignora-se a extensão e
largura do trajeto de destruição deste fenómeno.
Uma análise preliminar dos efeitos da destruição reportada no local,
aponta para que o fenómeno tenha alcançado uma intensidade de, pelo
menos, F1/T2 (escala clássica de Fujita/escala de Torro), correspondendo
a vento na gama 33-41 m/s, ou seja, 119-148 km/h (rajada, média de 3s).
Estes valores devem ser considerados como provisórios, podendo vir a
ser confirmados ou alterados proximamente.
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