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Cartas de Filipe II com ordem contra pretendente ao trono português leiloadas por 250 mil euros
11 julho, 2025 às 01:31
Foto: Sotheby's Os documentos incluíam ainda uma instrução secreta que contemplava a
captura da Ilha de Wight e a captura do pretendente ao trono português,
Dom António
Uma série de cartas do rei Filipe II ao duque de
Medina Sidonia, comandante da Armada Invencível espanhola, incluindo uma
ordem para a captura de Dom António, pretendente ao trono português,
foram vendidas em leilão por 250.600 euros. De
acordo com a leiloeira, os documentos, datados de 1588, incluem a
nomeação formal do Duque, Dom Alonso Pérez de Guzmán, como chefe da
expedição após a morte do Marquês de Santa Cruz, bem como instruções
militares detalhadas sobre a viagem, a coordenação com o exército do
Duque de Parma na Flandres e possíveis ações alternativas em caso de
contratempos.
A Armada Espanhola foi uma frota enviada por Filipe II durante a
Guerra Anglo-Espanhola (1585-1604) para invadir a Inglaterra, derrubar
Isabel I, restaurar o catolicismo, conter o apoio inglês à independência
dos Países Baixos, então sob domínio espanhol, e conter os ataques
piratas às rotas e colónias espanholas.
Os documentos incluíam ainda uma instrução secreta que contemplava a
captura da Ilha de Wight e a captura do pretendente ao trono português,
Dom António.
Dom António, prior do Crato, que viveu entre 1531 e 1595, era neto do
rei D. Manuel I, e apresentou-se como candidato ao trono de Portugal em
1580, depois do desaparecimento do rei D. Sebastião, na batalha de
Alcácer Quibir, em 1578.
Incluíam ainda uma ordem assinada pelo próprio Medina Sidonia a bordo
do galeão San Martín, com orientações sobre o combate naval, a
segurança e a disciplina a bordo.
As cartas, até então em mãos privadas,
oferecem informações valiosas sobre os preparativos para uma das maiores
operações navais do século XVI, que culminou numa derrota significativa
para a Espanha devido a uma combinação de fatores militares,
estratégicos, meteorológicos e logísticos.
Como será contar a história não de um idioma em particular, com
as suas transformações e expansões, mas sim das várias línguas que se
ouviram numa só cidade, ao longo dos séculos? Escolho Lisboa, por ser a
cidade onde por acaso vivo.
1. Lisboa há 40 000 anos
A nossa capacidade de reconstruir as línguas do passado não consegue
recuar mais de uns 6000 ou 7000 anos — e mesmo essas reconstruções são
arriscadas. No entanto, todos os linguistas concordam que há largas
dezenas de milhares de anos já haveria línguas humanas. Alguns afirmam
mesmo que há milhões de anos que se ouvem no mundo línguas humanas — mas não precisamos de ir tão longe.
Assim, se caíssemos na Lisboa de há 40 000 anos, que seria uma
agradável zona de rios, florestas e colinas, um pouco mais longe do mar
do que hoje, encontraríamos bandos de humanos, talvez a caçar, talvez a
conversar, e se tempo tivéssemos para estudar os seus hábitos,
encontraríamos línguas com gramáticas complexas e palavras tão
expressivas como as palavras de qualquer língua actual. Ninguém
escrevia, mas todos conversavam com a mesma intensidade das conversas de
agora.
O vocabulário seria o necessário para o tempo, bastante mais rico do
que o de hoje na referência a plantas ou perigos naturais, talvez um
pouco menos expressivo na descrição de ferramentas informáticas (entre
outras).
Tais antigas línguas foram mudando, misturando-se, desaparecendo,
dividindo-se. Algumas delas deram origem às línguas que falamos hoje.
Outras terão desaparecido sem deixar rasto — ou deixando apenas uma ou
outra palavra ou construção que agora usamos sem suspeitar que teve
origem no falar de uma velha tribo que por aqui cirandou há muitos
milhares de anos, com os seus mitos, as suas histórias, as suas ilusões e
certezas. Um tempo tão colorido como o nosso para quem nele viveu.
2. Línguas no fim do mundo
Avancemos até aos tempos em que já sabemos alguma coisa sobre as
línguas desta zona. Muito antes do latim, haveria línguas
pré-indo-europeias, que deixaram poucos vestígios que consigamos
identificar.
Dizer poucos vestígios talvez seja injusto, se alargarmos o
nosso olhar para toda a Península onde está Lisboa. Afinal, um dos
vestígios é uma língua inteira, ainda hoje falada na Península: o basco,
uma língua pré-indo-europeia. Sabe-se que houve na Península uma outra
língua a que chamamos ibérico, de que restam algumas inscrições, e
outras, de que sobraram uns poucos intrigantes vestígios.
Há 7000 anos, quem vivesse à volta do estuário do Tejo ouviria
palavras de viajantes de outras zonas da Ibéria, que falariam nessas
línguas antigas. Não seria impossível encontrar falantes do basco da
época, do tal ibérico, de línguas mais próximas que hoje não têm nome
— e ainda palavras das línguas do Norte de África. Não se ouviria,
certamente, uma só língua. É difícil reconstruir a paisagem linguística
desses tempos. Temos apenas vislumbres.
Para contar a história das línguas de Lisboa, temos agora de dar um
salto até ao outro lado da Europa. Na zona da actual Ucrânia, pensa-se
(a localização exacta é objecto de velha controvérsia), falava-se há uns
6000 anos uma língua que tem hoje o desconfortável nome de proto-indo-europeu. Que nome teria na época, ninguém sabe.
Esta língua veio a ter uma importância tremenda, sem que os seus
falantes tivessem alguma ideia disso — línguas actuais tão díspares como
o ucraniano, o português, o persa, o inglês, o russo, o hindi ou o
sueco descendem todas, com mais ou menos sobressaltos, desse falar
antigo.
O proto-indo-europeu não apareceu do nada — veio de línguas ainda
mais antigas e todas elas terão vindo, se andarmos suficientemente para
trás no tempo, de África. O certo é que esta língua viajou, a bordo do
cérebro dos falantes, em direcção ao ocidente — acabando por chegar a
este fim do mundo onde está Lisboa em duas levas.
3. Celtas, fenícios e outros viajantes
Todos já ouvimos falar dos celtiberos e de outros povos das
redondezas. Foi essa a primeira onda de línguas indo-europeias que
chegou a Lisboa: as chamadas línguas celtas. Por Lisboa e arredores
falar-se-iam estas línguas e nelas haveria um nome para este lugar.
Que nome? Não sabemos.
Podemos, no entanto, imaginar estas colinas de há milhares de anos,
por onde corriam éguas que emprenhavam só com o vento, como vários
autores romanos descreveram e recordou Damião de Góis, em latim, na sua Urbis Olisiponis descriptio, de 1554, no auge da cidade.
Latim… É hoje língua antiga, alguns crêem-na morta — mas, nesta época
em que aterrámos, é uma língua do futuro. Este é ainda o tempo das
línguas sem nome.
As línguas indo-europeias não apagaram todas as outras. Nestas
colinas continuaram a ouvir-se línguas de muitas origens — até línguas
do levante por aqui se falaram.
Sabe-se que chegaram a Lisboa os fenícios, que trouxeram a sua
língua, também ouvida em redor desta baía, e o seu sistema de escrita
(uma velha tradição afirma mesmo que o nome actual da cidade terá origem
fenícia, mas não há fundamentos sólidos que a sustentem).
Os caracteres fenícios vieram a dar origem ao nosso alfabeto,
passando pelo alfabeto grego, que lhes acrescentou as vogais, dando por
fim origem ao alfabeto latino, que acabou por também aqui vir parar, a
cavalo da língua latina — mas ainda não chegámos lá…
Os caracteres fenícios foram usados pelo Mediterrâneo fora e chegaram
mesmo a este porto atlântico, muito antes de se terem transformado em
letras latinas. Estão presentes, por exemplo, num túmulo do século VII
a. C., encontrado em Lisboa há poucos anos. A pedra tinha sido
reutilizada numa construção romana mais recente, como descrito no artigo
em que os arqueólogos revelam a descoberta (Neto et al. 2016).
O que está ali escrito? Tanto quanto é possível reconstruir, a inscrição refere-se a Wadbar, filho de Ibadar. É o mais antigo nome de lisboeta que se conhece.
Na Lisboa de Wadbar, ouviam-se línguas de toda a Ibéria e do Norte de
África. Ouviam-se palavras fenícias, cartaginesas e gregas — a lenda
diz, aliás, que foi Ulisses que fundou a cidade. Será um mito, mas a
verdade é que as várias línguas do Mediterrâneo vieram parar a esta
cidade atlântica, para lá do fim do mundo.
4. Línguas vindas de Itália
A primeira onda de línguas indo-europeias foram as tais línguas
celtas, que se vieram somar às línguas pré-indo-europeias e às outras
línguas que aqui aportavam. A segunda onda de idiomas indo-europeus, já
bastante diferentes das línguas celtas, foi a onda das línguas itálicas.
O chamado lusitano, que terá sido falado numa região a norte
de Lisboa, poderá ter sido uma língua itálica. A verdade é que temos
tão poucas inscrições que não é possível saber exactamente a que família
das línguas indo-europeias esta língua pertence — mas era claramente
indo-europeia (e foi escrita com o alfabeto latino).
A nossa propensão para ligar o termo «Lusitânia» a Portugal talvez
nos incline para considerar o lusitano como uma língua muito nossa; é
possível que tenha deixado vestígios no latim e que ainda hoje usemos
uma ou outra palavra que tenha passado pelo lusitano; no entanto,
podemos dizer o mesmo das outras línguas por aqui faladas. Mais: à
época, ninguém chamaria «lusitano» à língua. Esse é nome muito
posterior.
5. Latim à lisboeta
Chega então a Lisboa, no século II a. C., uma língua vinda da
Península Itálica: o latim. Durante muito tempo, em Lisboa, ouvir-se-iam
muitas das línguas da zona, à mistura com latim dos soldados e dos
romanos — o latim vulgar mais que o latim clássico, que apareceria na
escrita e num ou noutro discurso.
Os romanos não substituíram a população. Vieram aos poucos,
misturaram-se, a população local ganhou hábitos romanos — e entre esses
hábitos, o grande hábito da língua. Os habitantes desta cidade começaram
a falar latim com cada vez maior frequência, as novas gerações ouviam
muito latim, que tinha mais prestígio que as anteriores, o próprio
discurso na língua anterior misturava-se facilmente com a nova língua…
Quando deram conta, os falantes já nem se lembravam da língua dos
avós — mas é provável que falassem latim com certas inflexões das
antigas línguas — falavam latim com sotaque. O latim falado em Lisboa tinha o sabor de línguas antigas.
6. Bem-vindos a Hispânia
Algumas centenas de anos depois da chegada do latim a estas paragens,
ouviríamos latim em toda a Península, com a excepção conhecida do
basco, ali a um canto, e outras excepções que hoje não conhecemos (as
línguas berberes, por exemplo, já por cá se ouviriam).
O latim hispânico tinha características próprias — um habitante de
Itália reconheceria um hispânico pelo seu sotaque, talvez pela sua
sintaxe peculiar e, certamente, por uma ou outra palavra típica. O latim
nunca foi (como nenhuma língua alguma vez o foi) uma língua uniforme.
Mesmo dentro da Península, o latim falado em Lisboa teria
características próprias, fruto da particular mistura de línguas que por
aqui havia antes e ainda das várias influências que chegavam à cidade.
Lisboa era habitada por hispanos, o nome que os habitantes dariam a
si próprios, cidadãos romanos de uma zona particular do Império. Parte
da população teria vindo do Norte de África, outra de outras zonas. As
misturas entrevêem-se no estudo da História e da genética, mas são
demasiado complexas para se conhecerem em detalhe.
Um lisboeta do século III d. C. falaria latim hispânico à lisboeta.
Andando para leste, em direcção, por exemplo, a Barcelona, iria
encontrando variações, sem cortes, sem deixar de compreender o que
ouvia. Essas variações, subtis, acabaram amplificadas pelo tempo. São
sementes das línguas que virão.
7. Uma língua que fica
A Queda do Império Romano, enquanto acontecimento cataclísmico, é uma
forma peculiar de contar a história. À época, é provável que ninguém
tivesse dito: «Olha, o Império acabou!». Antes de mais, porque o
Império, na verdade, não acabou. Continuou a haver um imperador em
Constantinopla, a cidade que mais tempo foi capital do Império, durante
séculos e séculos. A grande mudança foi, mais que uma queda, a cristianização do Império.
Quando vários senhores germânicos começaram a governar grandes
parcelas do Império, assumiram o cristianismo e as tradições romanas e a
população não terá sentido um corte radical com o passado. Lisboa
continuou a ser uma cidade hispana (ou seja, romana) e cristã.
Poucas palavras germânicas por aqui ficaram, o que mostra como os
reinos visigodo e suevo, tradicionais simplificações de uma história
convulsa, se assumiram como continuação das sociedades romanizadas. Os
lisboetas continuaram a falar latim, com algumas palavras de outras
paragens.
Da mesma forma, quando grande parte da Península passou a ser
governada pelos muçulmanos, no século VIII, a população de Lisboa
continuou a falar a língua que já falava, mas agora com o árabe como
língua da administração e de prestígio.
Ouvir-se-iam também, pelas ruas de Lisboa, línguas berberes, de que
poucos falam — e que não chegaram com o domínio muçulmano: já cá
estavam. Essas línguas ainda hoje são faladas no Norte de África. As
letras à esquerda nesta rocha, em Marrocos, representam uma língua que
descende de línguas bem lisboetas (não é um código, é o sistema de
escrita chamado tifinagh):
O nome de localidade marroquina em tifinagh e em alfabeto latino. Autor da foto: Alicroche.
Um cristão lisboeta do século X falaria aquilo a que chamaria latino, mas utilizaria palavras árabes para certos conceitos. Diria, talvez, que precisaria de um alvará para uma certa actividade, por exemplo, uma palavra que ainda hoje usamos.
A esse latim que por aqui continuou a ser falado, com influências árabes e berberes, chamamos hoje moçárabe,
uma designação que não era usada na altura. O próprio cristianismo
continuou a ser praticado, com um rito próprio que denominamos também moçárabe.
7. Lisboa do ano 1000
Se aterrássemos na Lisboa do ano 1000, ouviríamos línguas berberes,
ouviríamos árabe (pelo menos, nas orações), ouviríamos o tal moçárabe,
que também variaria de região para região — um visitante de Badajoz
falaria de maneira diferente — e ainda o latim variado dos vários reinos
cristãos do Norte entre visitantes ou gentes que tivessem visitar ou
viver para Lisboa vindos de lá.
Se um lisboeta do século X reparasse na maneira de falar de algum
viajante vindo da Galécia, lá do Norte, talvez notasse a maneira
peculiar como diria as palavras, deixando cair os sons /n/ e /l/ no meio
das palavras. Diria, por exemplo, «lua» — e não «luna», como se dizia
em Lisboa. Por esta época já aquelas pequenas diferenças entre o latim
das várias zonas da Hispânia estariam amplificadas e a caminho de se
tornarem as línguas que hoje conhecemos. Mas ainda não chegámos lá.
Em 1108, a Lisboa muçulmana, onde a população falava latino e
era ainda, em grande parte, cristã, foi invadida pelos noruegueses, a
caminho da Palestina. Ouviu-se então, por estas ruas, o antigo nórdico
que associamos aos viquingues. Não durou muito: depressa a cidade voltou
ao domínio muçulmano. As lutas entre senhores cristãos e muçulmanos
continuaram, para aborrecimento geral da população.
Nesta Lisboa antes de Portugal, ouvimos pelos séculos fora línguas de
que não sabemos o nome, línguas celtas, línguas itálicas, línguas
berberes, o árabe em vários sabores, o hebraico das orações judaicas,
uma ou outra conversa em línguas germânicas — e até um pouco de antigo
nórdico… Muitas destas línguas misturavam-se nas ruas e nas casas.
Uma cidade digna de se chamar cidade raramente tem uma só língua.
8. Uma língua vinda do Norte
Em 1147, um rei vindo de norte, com ajuda de cruzados, cercou a cidade.
Os soldados de Afonso Henriques falariam várias formas de linguagem — a língua das ruas do noroeste da Península, a que poucos chamariam latino,
por estar a palavra reservada para o latim da escrita. A sul, note-se,
com o árabe como língua de prestígio e da escrita, a palavra latino podia designar perfeitamente a língua da rua — assim, podemos dizer que o cerco de Lisboa foi um cerco de falantes de linguagem a uma cidade habitada por falantes de latino (entre outras línguas), embora esta dicotomia seja uma simplificação.
Hoje, anacronicamente, chamamos galego-português à língua de Afonso Henriques e moçárabe
à língua de grande parte da população da Lisboa cercada. Ninguém, à
época, chamaria tais coisas aos falares que lhes saíam da boca para
fora.
Os cruzados, claro, falavam também várias línguas. Os nobres
ingleses, por exemplo, conversariam em francês normando, com mistura do
inglês do povo do seu país. Os flamengos falariam um dos vários falares
frâncicos (germânicos) ou latinos (do Norte de França). As divisões
entre povos eram porosas. Ninguém tinha um país, uma palavra
que surgiria muito depois. Teriam terras e teriam senhores, numa rede de
relações complexas muito diferente da nossa Europa de agora, dividida
em estados soberanos.
Também poucos desses cruzados teriam uma só língua: saberiam
comunicar em vários falares latinos, germânicos ou celtas, com misturas e
aproximações. O nosso tempo de países que preferem ter (mesmo quando
não têm) uma só língua oficial não nos ajuda a compreender a situação.
A população chamaria francos aos cruzados, uma designação
geral para os habitantes de largas zonas do Ocidente do Império. Estes
cruzados francos comunicariam bem entre si numa lingua franca, língua dos francos, feita dessas misturas e aproximações.
Lingua franca era também a designação da língua do Mediterrâneo que servia para que estes francos do Ocidente comunicassem com os romanos
do Oriente — os romanos eram agora os habitantes do Império a Oriente,
com a capital em Constantinopla (ou Bizâncio). Naquela época, gregos que
aportassem à Lisboa conquistada pelos cruzados diriam de si próprios,
em grego, que eram «rhōmaîoi» — romanos — em terra de francos.
Por esses tempos, a língua dos romanos era o grego; a língua dos francos
era ainda o latim, mas só na escrita — da boca para fora, a conversa
era outra.
9. Línguas cercadas
Voltemos à Lisboa cercada por Afonso Henriques. Quando a cidade cai,
por fim, os novos senhores pouca diferença visível encontravam entre os
muçulmanos e os moçárabes cristãos. O próprio bispo cristão foi
executado. Lisboa ganhou um novo bispo — inglês — e novos senhores.
A população não terá deixado de falar de repente o seu latino
à lisboeta, o tal moçárabe com muitas palavras árabes. A língua de
prestígio voltou a ser o latim da escrita. Os novos senhores da cidade,
vindos de norte, falavam no dia-a-dia um latim diferente, a linguagem
do Noroeste. Como eram variantes latinas, terá havido uma natural e
progressiva aproximação entre as formas de falar. A sintaxe e muito
vocabulário do Norte foi-se imiscuindo na língua dos lisboetas, que
mantiveram certamente um sotaque e vocabulário próprios.
Nessa época, se gente de outras partes da Península por aqui
aparecesse, dir-se-ia que falavam de outras maneiras, mas não havia
ainda ideia de que esses falares eram línguas distintas (línguas a sério,
na mente da época, eram o latim, o grego, o árabe…). Mas, ainda sem
nome fixo e em cinco faixas imprecisas, as línguas latinas da Península
espalhavam-se de norte para sul, substituindo lentamente o moçárabe do
Sul.
Foi o que aconteceu nesta faixa ocidental. Por enquanto, ainda ninguém chamava português à língua de Lisboa — mas um passo importante estava dado: a cidade fazia agora parte do Reino de Portugal.
A história continua…
Referências
O artigo foi escrito com base na bibliografia nesta página,
em especial: a história da linguagem (Everett 2017; Janson 2018), o
proto-indo-europeu (Anthony 2007; Pereltsvaig 2015), a inscrição fenícia
em Lisboa (Neto et al. 2016), o latim no Império e na Idade Média
(Alkire & Rosen 2010; Gabriele & Perry 2021; Ostler 2007), as
línguas dos cruzados (Pereltsvaig 2021), as línguas ibéricas (Janson
2018) e a história do português (Cardeira 2006; Faraco 2019; Teyssier
1982; Venâncio 2019, entre outros).
A segunda parte será publicada em breve:
o português ganha nome, o castelhano ouve-se por toda a cidade, há
idiomas longínquos que vêm nos porões dos navios, o terramoto conta-se
em várias línguas, há um invasor que fala francês e uma rainha que chega
à cidade a pensar em alemão
A pensar que quem escreveu isto tem muitíssima razão e que subscrevo na integra.
Ahh... sou assim desde pequenino.
Viva Portugal!
senhor Ricardo Pereira,
Li ontem, com toda a atenção, o artigo que escreveu na última edição da "Visão".
Versa o excelso artigo produzido sobre o tema que agora está na moda: - Quais os Portugueses que mais se evidenciaram ao longo da nossa história.
Ensaia V. Exa. ao longo do mesmo artigo um conjunto de afirmações sobre Oliveira Salazar.
Quem lhe pagou e encomendou o artigo?
- Começa por afirmar a sua admiração pela sua inclusão na famosa "Lista", compara-o a Adolfo Hitler e termina, afirmando, que se Salazar ganhasse o concurso seria a primeira vez que teria ganho umas eleições democraticamente.
Perante o estilo leviano do artigo e a piadinha fácil, não me surpreende a comparação com A. Hitler.
Surpreende-me, isso sim, que se tenha esquecido do óbvio
.
O tal Adolfo foi eleito democraticamente na Alemanha. E democraticamente eleito conquistou quase toda a Europa e democraticamente eleito ordenou o holocausto. Numa guerra onde morreram milhões e milhões de Europeus.
Conclusão óbvia: - As eleições, mesmo as "democráticas" valem o que valem.
Nesta 2ª Guerra Mundial não morreram Portugueses em combate.
Sabe o Exmo. Senhor a quem deve tal feito: -
Pois é!
Ao tal que não foi democraticamente eleito.
· Sabe o Exmo. Senhor os esforços diplomáticos que foram feitos para evitar a entrada de Portugal na Guerra?
· Sabe quem gizou diariamente a estratégia? Sabe os riscos que corremos? As pressões que sofremos?
· Estimará quantos portugueses teriam morrido se tivéssemos entrado briosamente no conflito? Muitos de nós hoje não estaríamos cá, pois os nossos pais ou avós teriam certamente tombado em combate!
· Sabe o estado em que Salazar herdou o país após a espantosa 1ª República, que estávamos mais endividados que hoje?
· Sabe a que estado de miséria chegou o povo que em 1928 abominava os partidos políticos, os quais considerava como os criminosos responsáveis pelo estado de ruína a que o país se encontrava, e que hoje estamos igualmente em idêntico estado de ruína por causa dos partidos que tanto gosta e defende!
· Sabe quem delineou, pela primeira vez, a viragem para a actual U.E.?
Pois é: - O tal que não foi democraticamente eleito.
Vá verificar, caro amigo. Leia.
Sabe quem nunca fez obra?
O que mandou construir a Ponte sobre o Tejo, a barragem de Castelo de Bode, o Aeroporto da Portela, e muito mais com dinheiro que nunca pediu emprestado como agora a estação de tv onde manda bacuradas o pede para lhe pagar.
Sabe quem nunca abandonou 1 milhão de Portugueses nas ex-colónias à sua sorte/morte?
Pois é, pois é.
Fácil foi fazer como se fez a seguir ao 25 de Abril.
Fugir é sempre fácil. Além de ser próprio dos fracos e dos cobardes que também o é, se assim não fosse não se colocava do lado deles.
Sabe quem morreu na miséria, tendo servido a causa pública sem receber uma atenção, uma recompensa, um prémio, uma benesse, uma jóia, um diamante, que não se reformou após dez anos a roubar, sim, este nem sequer roubou, trabalhou uma vida inteira, os que agora defende roubam durante dez e reformam-se depois, não com uma mas duas ou três!
Sabe quem foi íntegro no exercício do poder? Pois é, pois é
.
Se V. Exa. tem dúvida que Salazar ganharia todas as eleições durante o período que esteve no poder, está muitíssimo mal informado. Leia. Estude sobre a época. Que era alérgico a elas. Sem dúvida. E com razão, a meu ver.
Estude a 1ª República. Os governos que se sucederam. O desgoverno que se atingiu. Vem daí a alergia.
E quanto à censura: - Pois. E a informação que temos hoje?
Eu prefiro a censura do passado, evitaria ter de ler, por exemplo, o que tão infantilmente escreveu.
Numa palavra: Não escreva sobre o que não sabe.
E ainda tem uma surpresa. Num país infestado pela corrupção, pela mediocridade e pela ambição desmedida pelo poder na busca da corrupção, eu, contrariado, votaria Salazar.
E não seria o único, e ganhava, Garanto-lhe.
Leia e informe-se, a ignorância neste país é desmedida. Não fuja, pois, à regra.
Cumprimentos azeiteiro.
** ISTO SÃO FACTOS E NÃO CONVERSA FIADA!
Noutros tempos, houve Portugueses competentes e respeitadores dos interesses do bem público que garantindo a Lei e a Ordem, trabalharam afincadamente e em apenas 40 anos, deixaram OBRA, PAGA COM DINHEIRO PORTUGUÊS mas, em muitos casos, foram "pérolas a porcos".
Segue-se uma "pequena" Lista de Obras de Grande Interesse Nacional que ficaram desse período memorável.
Na Região de Lisboa:
1) Bairro Social do Arco do Cego
2) Bairro Social da Madre de Deus
3) Bairro Social da Encarnação
4) Bairro Social de Caselas
5) Bairros para Polícias
6) Bairro de Alvalade
7) Aeroporto Internacional da Portela
8) Instituto Superior Técnico
9) Cidade Universitária de Lisboa
10) Biblioteca Nacional
11) Instituto Nacional de Estatística
12) Laboratório Nacional de Engenharia Civil
13) Metropolitano de Lisboa
14) Ponte Salazar
15) Captação e encanamento das águas do Alviela (comemorada com a construção da Fonte Luminosa na Alameda Afonso Henriques)
16) Plantação do Parque florestal de Monsanto
17) Estádio Nacional do Jamor
18) Estádio 28 de Maio
19) Auto estrada da Costa do Estoril
20) Hospital Escolar de Santa Maria
21) Instituto Ricardo Jorge
22) Instituto de Oncologia
23) Hospital Egas Moniz
24) Assistência Nacional aos Tuberculosos o que permitiu a obrigatoriedade do rastreio anual às populações estudantil, do Comércio e da Função Pública
25) Eletrificação da linha do Estoril
26) Exposição do Mundo Português que permitiu a criação da Praça do Império, hoje Sala de visitas de Lisboa.
27) Monumento aos Descobrimentos
28) Regularização da Estrada Marginal Lisboa-Cascais.
29) Criação da Emissora Nacional de Radiodifusão
30) Criação da Radiotelevisão Portuguesa incluindo a instalação das respectivas antenas retransmissoras necessárias para cobrir todo o território continental
31) Criação da Companhia Aérea de bandeira (TAP)
32) Nova Casa da Moeda (no Arco do Cego)
Espalhadas pelo País e Ilhas Adjacentes:
33) Várias Escolas do Magistério Primário.
34) Escolas primárias do Plano dos Centenários em quase todas as Freguesias do País.
35) Liceus Normais em todas as capitais de Distrito.
36) Escolas Comerciais e Industriais espalhadas de Norte a Sul do País
37) Cidade Universitária de Coimbra (Faculdade de Medicina, Faculdade de Letras, Faculdade de Ciências, Biblioteca Geral e o reordenamento urbano envolvente)
38) Hospital de S. João no Porto
39) Laboratório de Física e Engenharia Nuclear (na Bobadela – Sacavém) para onde se adquiriu e instalou um reactor atómico de investigação, tornando Portugal no 35º país do Mundo (à época) a dispor de tão moderno equipamento científico.
40) Ponte da Arrábida
41) Ponte Marechal Carmona
42) Construção dos grandes aproveitamentos hidroeléctricos com dezenas de grandes Barragens (por exemplo Rabagão, Cávado, Douro, Mondego, Zêzere e Tejo).
43) Construção de várias barragens para regadio e recreio, nomeadamente nas Beiras (como, por exemplo, na Vila de Soure)e por todo o Alentejo.
44) Melhoria geral de toda a rede Rodoviária Nacional.
45) Melhoria geral da Rede Ferroviária e modernização geral das viaturas do Caminho de Ferro.
46) Melhoria, ampliação e renovação, em todo o território, da Rede Telefónica Nacional, Estações de Correios e Telecomunicações em geral.
47) Bases aéreas (Ota, Montijo, Monte Real, Beja, etc.)
48) Base naval da Marinha (Alfeite)
49) Navio hospital “Gil Eanes” de apoio à Frota Bacalhoeira
50) Criação das Casas do Povo
51) Criação das Casas dos Pescadores
52) Construção e beneficiação de muitos e diversos Hospitais, (damos como ex. o Hospital Rovisco Pais (Leprosaria) na Tocha (com dezenas de edificações espalhadas por uma área total de 110 ha) aproveitando integralmente uma doação do grande benemérito e o Hospital Psiquiátrico de Sobral Cid (próximo de Coimbra) com 15 edifícios espalhados por uma área de 10 ha, só para citar dois).
53) Plano de colonização interna que permitiu grandes desenvolvimentos agrários em vários pontos quase desabitados do País como, por exemplo, Pegões.
54) Construção de dezenas de Palácios da Justiça e remodelação de muitos Tribunais
55) Construção e remodelação de diversos Edifícios Prisionais e Prisões-escola
56) Construção da Central Termoelétrica do Carregado
57) Criação dos “Livros únicos” para o Ensino Primário e Secundário, o que proporcionou grandes economias às Famílias portuguesas da época
58) Criação das Pousadas de Portugal espalhadas por todo o Território
59) Criação da FNAT
60) Instituição do ABONO DE FAMÍLIA
61) Instituição da ADSE
62) Acolhimento fraterno e seguro a inúmeros refugiados de guerra dos quais se destaca o Sr. Caloust Gulbenkian que, em agradecimento desse bom acolhimento, doou a Fundação com o seu nome, que tanto tem ajudado e cultivado sucessivas gerações de Portugueses nos mais diversos ramos do Saber e da Arte.
Quando me dizem que tudo isto foi feito à custa da exploração ultramarina, eu respondo:
E o que lá ficou edificado e a seguir destruíram ou não souberam conservar?
Não ficaram inúmeros autóctones com cursos escolares primários, cursos médios e cursos universitários ministrados e pagos pelo Erário Público Português?
Não ficaram todas as Províncias Ultramarinas e nomeadamente Angola e Moçambique dotados de dezenas de CIDADES COMPLETAS onde se incluíam toda a espécie de edifícios habitacionais, Mercados, Redes de abastecimento de águas, Redes de efluentes, Escolas primárias, Liceus, Universidades, Hospitais, Quarteis e toda a espécie de instalações militares e até unidades completas de Radiodifusão?
Não ficaram disseminadas pelos territórios inúmeras Pontes e Viadutos, Barragens grandiosas (como Cambambe e Cabora Bassa, só para citar duas), inúmeras Estradas, diversas Linhas de Caminhos de Ferro, Portos de mar e modernos (à época) Aeroportos e Aeródromos, etc. ?
Para quem recebeu um País na Bancarrota, que atravessou as épocas difíceis da Guerra Civil de Espanha e da 2ª Guerra Mundial e teve ainda de enfrentar a Guerra do Ultramar, em três frentes, tendo deixado o País A CRESCER A 6% AO ANO, durante a sua última década de governação e muito mais de 600 toneladas de ouro nas reservas do Estado, é Obra!
** Comparem com os dias de hoje, depois de quase 50 anos de LIBERDADE!
Já no tempo de Jesus foi perguntado ao povo quem deviam salvar: o ladrão Barrabás ou Jesus Cristo e o povo escolheu o ladrão…………….. *
Dois mil e vinte anos depois a história repete -se... como podiam hoje salvar Salazar e reconhecerem a sua obra?
O povo aplaude e vota em ladrões, agora chamados CORRUPTOS.
Cada um tem o que merece mas que é triste, lá isso é!
QUEM SÃO AS PERSONALIDADES QUE INTEGRAM O CONJUNTO
ESCULTÓRICO DO PADRÃO DOS DESCOBRIMENTOS?
A
defesa, feita em Fevereiro, pelo deputado Ascenso Simões (PS), de que se
deveria demolir o Padrão dos Descobrimentos existente em Belém, levou
vários amigos a dirigirem-me alguns pedidos de
informação a respeito daquele monumento.
Embora parte dessa informação não seja muito difícil de encontrar,
tenho previsto vir a redigir proximamente um artigo acerca da obra
erigida na Praça do Império, mas darei hoje prioridade à satisfação
daquela que foi a curiosidade mais generalizadamente transmitida:
quem
são os personagens que compõem o conjunto escultórico que se distribui,
lateralmente às duas faces do monumento, com o Infante Dom Henrique (O
Navegador) em lugar dianteiro? Pois aqui vai a resposta.
Do lado da face oriental (a que está orientada para o lado de Belém),temos:
1
- D. Afonso V (de cognome O Africano), que foi rei de Portugal de 1438 a
1481 e ficou ligado a uma política de intensificação da expansão
ultramarina.
2 - Vasco
da Gama, o navegador e explorador que se distinguiu por ter comandado as
primeiras viagens de ligação marítima da Europa à Índia, concretizada
definitivamente em 1498.
3 - Afonso Gonçalves Baldaia, um dos primeiros navegadores enviados a explorar a costa ocidental africana, em 1434.
4 - Pedro Álvares Cabral, o capitão-mor da armada que em 1500 fez a descoberta oficial do Brasil.
5
- Fernão de Magalhães, navegador português que capitaneou nos dois anos
iniciais (1519 a 1520) a armada responsável pela primeira viagem de
circum-navegação ao Globo terrestre, feito que só não concluiu por, já
no regresso, ter morrido no meio de um combate.
6
- Nicolau Coelho, navegador que, como comandante de embarcação,
participou nas viagens de descoberta tanto do Brasil como do Caminho
Marítimo para a Índia.
7
- Gaspar Corte-Real, navegador a quem se atribuem as viagens de
descoberta da Gronelândia e da Costa Nordeste da América do Norte.
8
- Martim Afonso de Sousa, navegador estreitamente ligado aos nossos
reis Dom Manuel I e D. João III, teve destacado papel em acções
diplomáticas e militares tanto no continente americano como no asiático.
9 - João de Barros, considerado o grande narrador dos feitos dos
portugueses
no Oriente, repartiu a sua actividade entre a produçao de uma brilhante
obra literária e o papel de destacado funcionário da administração
régia em vários continentes.
10 - Estêvão da Gama, filho de Vasco da Gama, ficou conhecido
principalmente pelas virtudes militares, sobretudo nos mares do
Oriente.
11
- Bartolomeu Dias, comandante da frota que dobrou pela primeira vez o
Cabo das Tormentas (ou da Boa Esperança), proeza decisiva para se
progredir na descoberta do caminho marítimo para a Índia.
12 - Diogo Cão, navegador que realizou empresas de grande
merecimento na exploração da costa ocidental africana.
13
- António de Abreu, navegador proeminente nos mares das Índias,
sendo-lhe também atribuída a provável descoberta da Austrália.
14
- Afonso de Albuquerque, Governador da Índia a partir de 1506, e que
foi talvez, em toda a gesta ultramarina, o personagem com mais ampla
visão estratégica.
15 - São Francisco Xavier, religioso da Companhia de Jesus, foi
nomeado,
pelo próprio Inácio de Loyola, Superior das Missões Orientais desde o
Cabo da Boa Esperança até à China, desenvolvendo uma ímpar acção
evangelizadora.
16 -
Cristóvão da Gama, outro filho de Vasco da Gama, que as Crónicas
celebraram pela grande heroicidade nas campanhas de resistência a Turcos
e Muçulmanos ao lado do Imperador Prestes João.
****
Do lado da face ocidental (a que fica ‘virada’ para Algés), sucedem-se:
17 - Infante Dom Fernando, um dos filhos de Dom João I, conhecido como Infante Santo e mártir das guerras em Marrocos.
18 - João Gonçalves Zarco, navegador a quem se ficou a dever a
descoberta do arquipélago da Madeira e o início do povoamento das ilhas atlânticas.
19 - Pêro de Alenquer, piloto de grande perícia que participou com
relevo na exploração dos mares africanos, assim abrindo caminho para o acesso à Índia.
20 - Gil Eanes, navegador celebrado pela chegada às Canárias e por ter dobrado pela primeira vez o Cabo Bojador.
21 - Pedro Nunes, matemático a quem se devem progressos nas
disciplinas científicas da cosmografia e da astronomia que seriam
decisivos para o sucesso no avanço da exploração marítima do
Atlântico.
22 - Pêro de Escobar, notável piloto de embarcações, ligado à realização
de numerosas viagens, dentre as quais a de descoberta da Costa da Mina.
23 - Jaime de Maiorca, cartógrafo maiorquino contratado para dar
formação aos cartógrafos portugueses na elaboração de mapas das terras, mares e costas de África.
24
- Pêro da Covilhã, o mais conhecido dos emissários que o Rei D. João II
enviou por terras do Norte de África tendo em vista confirmar o acesso
às Índias que estava sendo tentado por mar, bem como o estabelecimento
de alianças com reinos locais.
25 - Gomes Eanes de Zurara, autor de diversas crónicas, que são
documentos fundamentais para o conhecimento da expansão
portuguesa.
26
- Nuno Gonçalves, talvez a figura maior de toda a história da pintura
portuguesa e de cuja oficina terão saído os famosos painéis
descobertos na Igreja de São Vicente e que são o principal atractivo do Museu Nacional de Arte Antiga.
27
- Luís de Camões, a maior figura da Literatura Portuguesa de todas as
eras e cuja obra principal, “Os Lusíadas”, constitui um símbolo da
epopeia marítima portuguesa.
28
- Frei Henrique de Coimbra, padre franciscano que integrou a armada que
descobriu o Brasil, sendo-lhe atribuída a celebração da primeira missa
rezada em terras de Vera Cruz.
29 - Frei Gonçalo de Carvalho, membro da Ordem religiosa dos
Pregadores (ou padres dominicanos), que viveu e morreu no reino
africano do Congo.
29
- Fernão Mendes Pinto, escritor e aventureiro que descreveu como nenhum
outro os povos e costumes observados durante um longo percurso que o
levou desde a Etiópia até ao Japão.
30
- Dona Filipa de Lancastre, rainha e mãe que as crónicas da época
relatam como a grande incentivadora da vontade e talentos dos vários
Infantes que tão importantes foram para a Empresa dos Descobrimentos e
que ficaram conhecidos por “Ínclita Geração”.
31
- Infante Dom Pedro, filho de D. João I, Duque de Coimbra e também
Regente do Reino durante a menoridade de D. Afonso V), foi um autêntico
homem do Renascimento, culto, com visão cosmopolita, fruto das numerosas
viagens e contactos que estabeleceu por numerosos países da Europa e
lhe granjeou o epíteto de “ O das sete partidas”.
E termino com a esperança e o desejo de que esta breve descrição
permita
a muitos dos meus leitores um olhar mais rico e interessado da próxima
vez que visitarem este singular monumento à beira do Tejo, que bem
merece o apreço dos portugueses amantes da sua pátria.
Em finais do
século XVIII era frequente a Família Real e a Corte ocuparem grande
parte do ano em jornadas de caça, que aconteciam mesmo em Lisboa, na
Ajuda, em Alcântara e em Belém. Porém, na maior parte dos casos,
deslocavam-se “Suas Majestades” a Salvaterra, Samora Correia, Queluz,
Mafra, Óbidos ou Vila Viçosa. “A Rainha-mãe ocupou algum tempo na caça,
em que matou muitas reses”, em Vila Viçosa; “El Rei N. Senhor se emprega
frequentemente no exercício da caça”, em Salvaterra – estes eram
relatos corriqueiros da Gazeta de Lisboa, entre 1778 e 1800. Esta frequente actividade era levada a efeito em zonas privilegiadas, as Coutadas Reais. Em
traços gerais, no final do século XVIII as coutadas reais ocupavam uma
área em torno de Lisboa e na região Centro Litoral do país, que se
estendia de Cantanhede a Alcácer do Sal, passando por Coimbra, Tomar,
Abrantes, Ponte de Sor, Coruche e Montemor-o-Novo. Existiam depois
outras zonas coutadas, como Vila Viçosa, frequentemente visitadas por D.
Maria I e pelo príncipe D. João, futuro D. João VI, bem como por outros
monarcas.
Daniel Alves
Durante
os séculos XVIII-XIX a caça deteve um estatuto relevante como
actividade da monarquia nacional. Conheça como estava regulamentada a
constituição e usufruto das coutadas e as suas implicações na
subsistência das populações locais.
Foram estabelecidos dois tipos distintos de
coutadas, as de caça e as de mata. As primeiras existiam enquanto
espaço régio exclusivo dedicado àquela actividade. As segundas tinham
como objectivo primordial o abastecimento de madeiras para a armada e
arsenais da coroa. Se, por um lado, o regime de coutada e toda a
legislação a ele ligada constituíram, desde a Idade Média até ao século
XIX, um sistema de protecção e conservação dos recursos naturais,
cinegéticos e florestais, em amplas áreas geográficas do país, por
outro, resultaram num privilégio dos monarcas e da alta nobreza que
entrava, frequentemente, em conflito com os interesses das comunidades
locais.
A par deste sistema legislativo especial,
durante todo o Antigo Regime (séc. XVI-XIX), manteve-se também o regime
jurídico geral. Este adoptava o princípio de res nulius, do
direito romano, que, no que diz respeito à regulamentação da caça,
estabelecia que o proprietário de determinado terreno não era
proprietário dos animais bravios que aí circulavam livremente. O direito
de propriedade sobre as espécies cinegéticas só era, então, adquirido
pelo caçador no momento em que as perseguia, feria ou matava.
Por sua vez, o regime de coutada atribuía o
exclusivo da propriedade das espécies cinegéticas e, também, da
exploração dos recursos florestais, no caso das coutadas de mata, ao
proprietário da base fundiária, excluindo moradores, rendeiros e
foreiros. Era, assim, um sistema de privilégio, que competia em
exclusivo ao monarca gerir, uma vez que só ele, desde o tempo de D. João
I e até ao final do Antigo Regime, tinha o direito de instituir uma
coutada.
O direito cinegético e florestal do regime
geral, nos finais do século XVIII e princípios do XIX, encontrava-se
estabelecido, essencialmente, nas Ordenações do Reino. Estas atribuíam
às autoridades locais (câmaras) e regionais (corregedores) a
obrigatoriedade de promover, fomentar e mesmo executar o plantio de
árvores para produção de madeira e frutos. O corte de árvores de fruto,
ou de árvores que estavam destinadas a produzir madeira para as armadas
reais, era punido com a pena de açoites e de dois anos de degredo. Eram
igualmente interditos os fogos florestais, sendo os incendiários
castigados com “açoites, baraço e pregão pelas vilas” e com o pagamento
de multas aos proprietários. As zonas queimadas por fogos de origem
criminosa eram interditas ao pastoreio por um período até dois anos.
Em relação à caça, a que era feita a
animais de pequeno porte, como o coelho e a lebre era, no geral,
permitida, com a excepção das comarcas da Estremadura, Alentejo e
Guadiana, nas quais só podia caçar aqueles animais quem tivesse “aquele
grau de nobreza civil”. Em Lisboa só o rei podia usar matilhas de galgos
para caçar lebres e era proibida a caça “com munição” a qualquer tipo
de aves. A caça só era permitida aos animais no estado adulto e não
durante o período de reprodução.
Era igualmente definida uma protecção para o
proprietário das terras, sendo interdita a entrada de caçadores e dos
seus cães em terrenos utilizados para o cultivo. Era sancionada a
invasão de propriedade por parte dos caçadores “contra vontade dos seus
respectivos donos”, podendo os mesmos prender de imediato os invasores.
Se estes entrassem armados e ferissem alguém ficavam sujeitos a uma pena
de dez anos nas galés, se fossem peões, ou de degredo em Angola, se
fossem nobres.
Em relação ao exercício à caça maior parece
não terem existido restrições à sua prática fora das coutadas,
ressalvando-se as épocas de caça. No que diz respeito aos predadores, em
especial aos lobos, as batidas não eram proibidas no período de
reprodução e eram mesmo incentivadas, sendo atribuídos prémios
monetários a quem os matasse.
O regime jurídico das coutadas
encontrava-se definido, essencialmente, em Regimentos particulares,
destacando-se os de 1605 e de 1800, e em alguma legislação dispersa.
Para gerir e defender as coutadas tinha sido criado, em 1521, o cargo de
Monteiro-mor do Reino, exclusivamente para membros da alta nobreza
portuguesa. A ele competia administrar as áreas coutadas, dispondo para
isso de um corpo militarizado e de um conjunto de magistrados próprios
que constituíam a Montaria-mor. Tinha como objectivos principais vigiar
as coutadas de mata e caça, mas também garantir um correcto ordenamento
florestal e gestão cinegética. Assim, ao abate de árvores deveria
seguir-se uma florestação sistemática. Mesmo o abate nas áreas
abrangidas pelo regimento das coutadas só podia efectuar-se mediante
autorização expressa do rei. Não era permitida a recolha de matos,
madeiras ou frutos por parte das populações locais. Era igualmente
proibido o pastoreio, chegando este a ser punido com “perpétuo degredo
para Angola”.
Nas coutadas de caça o rei tinha o
exclusivo da caça maior, nomeadamente, veado e javali. Em relação à caça
menor, só ele podia usar armas de fogo na caça às perdizes e em algumas
coutadas era proibida a utilização de cães. Este exclusivo na caça às
perdizes, actividade muito apreciada pelos monarcas, levou mesmo a
situações curiosas. Aquando das Invasões Francesas, entre 1807 e 1812, a
família real refugiou-se no Brasil. Para não perder contacto com o seu
desporto favorito, D. João VI exigiu ao Monteiro-mor do Reino uma
remessa anual de 68 perdizes para o Rio de Janeiro.
As penas para quem fosse apanhado a caçar
nas coutadas sem a devida autorização régia eram pesadas, chegando, a
partir de 1733, a definir-se pena de morte para aqueles apanhados em
flagrante “delito de caça” e que resistissem à prisão.
Como é óbvio, este regime especial entrava
em conflito com as populações que viviam nas áreas sujeitas a coutada,
ou próximo das mesmas. Viam-se, assim, privadas do acesso aos recursos
florestais e ao exercício da caça que constituíam, por vezes, um
complemento essencial da sua subsistência. Esta situação levou a
permanentes litígios e a uma constante transgressão das normas e leis
estabelecidas para aqueles espaços, definidos como espaços de lazer para
a monarquia. Eram constantes os fogos postos, a caça furtiva e o
contrabando neste período de final do Antigo Regime. Crimes praticados
pelas populações locais, mas também, por vezes, pelos próprios
funcionários da Montaria ou com a conivência dos mesmos.
No
caso das madeiras, por exemplo, o “mestre dos cortes” marcava mais
árvores para abate do que as que eram definidas por ordem do
Monteiro-mor; os restantes funcionários responsáveis pela fiscalização
fechavam os olhos e o “mestre dos barcos” “não se importava” de levar
uma carrada a mais no transporte para Lisboa.
Os fogos eram postos com o intuito de abrir
pastagens, mas também para fazer sair os animais dos seus esconderijos
e, assim, facilitar a sua caça. Para além deste esquema, os caçadores
furtivos não se coibiam de utilizar outros mais expeditos, como a
utilização do nome dos oficiais da Montaria para conseguir contornar as
patrulhas que vigiavam as coutadas, uma vez que estas não tinham, na
maior parte das vezes, possibilidade de confirmar no momento a
veracidade das informações.
Era um verdadeiro jogo do gato e do rato.
Por um lado a Montaria-mor a procurar preservar o património florestal e
cinegético das coutadas e, simultaneamente, o privilégio régio de
utilização e usufruto do mesmo com fins económicos e de lazer; por outro
as populações procurando subtrair-se a mais esta forma de opressão
senhorial e utilizando de forma furtiva os recursos naturais importantes
para a sua subsistência.
Com a Revolução Liberal procurou-se acabar
com o sistema de coutadas, tendo mesmo sido promulgado um decreto que
extinguia o cargo de Monteiro-mor, em 18 de Agosto de 1821. Porém, este
fervor revolucionário foi interrompido logo em 1823 e no ano seguinte
tudo tinha voltado à situação inicial. Só em 1834, após a vitória do
Liberalismo, é extinta definitivamente a Montaria-mor do Reino, depois
de mais de 300 anos de história.
TEXTO. Cristina Joanaz de Melo (2000). Coutadas Reais (1777-1824). Privilégio, Poder, Gestão e Conflito. Lisboa, Montepio Geral.
Quando é que se passa a certidão de óbito a uma nação?
Será quando ela tiver sido invadida por vontade alheia que se impôs? Será quando deixa de cunhar moeda própria e se submete à finança alheia? Será quando pontas de flecha de interesses estrangeiros a governam? Será quando deixar de acreditar em si e nas suas capacidades? Será quando prefere sujeitar-se para não emagrecer? Será quando se deturpam as verdades históricas? Será quando o futebol interessar mais do que a identidade nacional? Será quando já não soubermos pescar ou cultivar? Será quando ficarmos a olhar com vergonha para os quadros dos nossos antepassados?
Nas
minhas últimas trocas de opinião com o Prof. Agostinho da Silva e
Rafael Monteiro (o ermida do Castelo de Sesimbra), ambos entretanto
falecidos, tocou-se muito na pergunta sobre se Portugal ainda existe,
ou, se o que existe, ainda é Portugal!?
Na opinião de
Agostinho da Silva, tínhamos de ver Portugal mais no campo espiritual e
fortalecer este, visto no terreno já se ter afastado de mais.
Na
opinião de Rafael Monteiro, Portugal já morreu! Estamos, simplesmente, a
assistir ao banquete dos vermes que se digladiam pelos melhores bocados
do cadáver!
Na minha opinião, todos os que ainda sentem algo por
Portugal vão ter de entrar na clandestinidade, porque serão atacados e
afastados como “bairristas retrógrados”, simplesmente por amarem a sua
pátria.
Neste contexto convém ficar a saber que nas
reuniões dos coordenadores do ensino em Portugal, nos últimos anos,
foram dadas as seguintes directrizes (como sendo directrizes de
Bruxelas, mas isto é mentira, Bruxelas não se meteu nisto; as
directrizes vêm de organizações que pretendem a destruição das nações,
por fora, através da sua anexação por organizações internacionalistas,
e, por dentro, através de excessivas regionalizações):
1.ª – Já não se ensina a História de Portugal, mas a História da Europa! Cabe a cada professor decidir o grau de importância que neste contexto ainda querem dar a Portugal.
2.ª – Já não se ensinam os Descobrimentos Portugueses, mas sim (imagine-se) a Expansão Ibérica!
O que significa que toda a atitude dos conquistadores espanhóis com o
genocídio dos aztecas, dos incas e dos guanches é metida no mesmo
caldeirão das atitudes de Vasco da Gama, Bartolomeu Dias, e de tantos
outros dos nossos grandes navegadores, que em grande maioria, eram
cavaleiros iniciados escolhidos a dedo, com um pensamento ético e moral
inqualificavelmente superior ao dos castelhanos.
A fim de
acordar a nossa juventude para a realidade do nosso passado, resolvi
escrever “Homens, Espadas e Tomates” e outros livros relacionados com o
tema, cumprindo assim a parte que me cabe, no campo da minha
especialização, para que futuras gerações possam ter acesso à identidade
portuguesa.
(*) Rainer Daehnhardt, é o
Presidente da Sociedade Portuguesa de Armas Antigas – Portuguese
Academy of Antique Arms – cargo homologado pelo governo em 1972,
mantém-se nessas funções, representando Portugal em congressos
internacionais e dando conferências em muitas instituições europeias,
americanas e asiáticas. É autor de dezenas de livros e centenas de
artigos, na sua maioria ligados à armaria antiga, à História de Portugal
ou à preocupação com a evolução da Humanidade.
Nota 1: Este artigo foi publicado no O Diabo a 18 de Junho de 1996. Permito-me hoje completá-lo com algumas perguntas que abrem este capítulo. Nota do autor. Nota 2: É aqui transcrito com a devida vénia e autorização do autor. Nota 3: Os negritos e itálicos são da nossa responsabilidade.
... Caminhando nas suas cercanias, pousando nos seus paços, podiam afirmar, como Filipe II de Espanha ( I de Portugal ) quando em 1581 passou o Outono em Portugal:
SERRA DE SINTRA ( Foto de J.P.L. Ano de 2014 )
... Y después nos baxámos à este lugar ( Sintra ), qu'es muy fresco y dicen que muy bueno de verano, y báxasse más de media legoa. Llegámos ya tarde, que no pude ver sino un poco de la casa ( o Paço ).
Oy no he sallido d'ella, por despachar este correo y por ver esta casa que, aunque es antígua, tiene muy buenas casas y algunas que no me parece que en ninguma parte las he vista tales; y holgara yo harto de veros en ella, porque creo que holgarades, que tiene jardines y fuentes ( ... ).
Y avia visto antes los jardines y huertas, y yo los vi después, y son buenos y muchos, y muy buenas fuentes ... *
* Carta de Filipe II de Espanha às filhas, cit. in Vitor Serrão Sintra, Presença, 1989,p 58
... E ainda nessa altura, confessava o mesmo rei que tinha duas jóias nos seus reinos: Escorial em Espanha, e o Convento dos Capuchos em Portugal. * * Sérgio Luís de Carvalho. História de Sintra