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29.5.22

LUÍS NORONHA DA COSTA

 

Luís Noronha da Costa: Os leilões são o grande cancro dos artistas

Apontado como um dos grandes artistas portugueses da segunda metade do século XX, Luís Noronha da Costa diz que os leilões são os maiores inimigos dos pintores. Fez 75 anos no dia 17 de Abril e parte do seu trabalho está na Casa-Museu Medeiros e Almeida.



Miguel Baltazar

Tem como "livro de cabeceira" a obra de Heidegger. Luís Noronha da Costa é "um pintor animado pela filosofia". E pelo mar. Nasceu e cresceu junto dele, em São Pedro do Estoril. Atravessava a marginal e tocava nas rochas. Desenhava os barcos que passavam. Neto de condes e viscondes, ele era o menino D. Luís Mário no Colégio São João de Brito. Estudou Arquitectura, simpatizou com o PCP, lançou-se nas artes plásticas. Nos anos 70, os seus quadros valiam quase tanto como os de Gerhard Richter na altura. Hoje, está a desfazer-se de trabalhos dos quais nunca pensou desfazer-se. Sente-se furioso, critica os leilões e os leiloeiros, mas continua a pintar. Continua preguiçosamente a pintar. Fez 75 anos no dia 17 de Abril e parte do seu trabalho está na Casa-Museu Medeiros e Almeida na exposição "Isto não é só um écran - Noronha da Costa - 50 anos de pintura".


Entra-se e do lado direito está o mar, em forma de desenho. É o mar de Luís Noronha da Costa e fica até amanhã na Casa­-Museu Medeiros e Almeida, em Lisboa. Ele era menino, vivia em São Pedro do Estoril e da janela de casa via os barcos que chegavam e partiam da barra. Pintava os barcos e pintava o mar. Era o seu mar, aquele que transplantou para as obras e para a vida. Luís Noronha da Costa, o menino D. Luís Mário no Colégio São João de Brito, neto de condes e viscondes, estudou Arquitectura na Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa, trabalhou com o arquitecto Manuel Tainha, descobriu novos mundos e lançou-se nas artes plásticas. Destacou-se através de colagens, algumas delas feitas com páginas arrancadas a revistas de moda e pintadas com óleo de linho. Dedicou-se depois à criação de objectos, passou dos objectos para a pintura de imagens difusas ou "fantasmais", como lhes chamou Eduardo Lourenço. "Não sou um pintor de coisas e de factos, mas das imagens das coisas", diz o artista plástico, que adoptou a tinta celulósica em spray para esfumar a sua pintura. Representou Portugal na Bienal de São Paulo (1969) e na Bienal de Veneza (1970) e, em 1999, foi­-lhe atribuído o Prémio Europeu de Pintura pelo Parlamento Europeu. Apontado como um dos grandes artistas portugueses da segunda metade do século XX, Noronha da Costa sente-se hoje um pouco esquecido pela sociedade. "Penso que sou um indivíduo do azar."


  

A sua exposição chama-se "Isto não é só um écran". O que é "isto", então?

Trata-se de uma leitura crítica do meu curador, Bernardo Pinto de Almeida, e da Teresa Vilaça, directora da Casa-Museu Medeiros e Almeida. Em tempos, eu pintei "Isto é um écran", eles pegaram nessa ideia e ironizaram. "Isto não é só um écran" é, no fundo, pintura depois da pintura ou pintura que vem construir-se a partir da pintura.

 

Em 1972, Eduardo Lourenço utilizava mesmo a expressão "pintura-pintura" para descrever a sua obra. Falava também no carácter "fantasmal" dos seus trabalhos.

Ele escreveu isso há muito tempo – e eu fiquei muito contente – sobre a minha série de quadros com as figuras difusas, baseadas em fotografias de 1900. Eduardo Lourenço disse uma coisa que eu gostei imenso: a representação morreu, viva a representação dessa mesma morte. Isto, em 1972! Penso que há uma continuidade e uma coerência no meu trabalho ao longo do tempo.

 

Focado na solidão da imagem.

Pois, focado na imagem que fica. Depois de uma contemplação prolongada, nós queremos construir ou reconstruir na nossa mente a figura que está ali representada, desfocada ou, como eu prefiro dizer, difusa, como se estivéssemos a tentar reconstruir essa figura no espaço real.

 

Em 1974, o preço de um quadro meu de tamanho médio em leilão chegava a 75 contos, o valor pelo qual o Richter estava a vender na altura. Neste momento, estou quase sem vender.

 

É um pintor animado pela filosofia, como escreveu José Gil. Que filósofos estão na sua obra?

Sim, Heidegger, Nietzsche e, em tempos idos, Marx. Mas gosto mais do Heidegger. Aliás, o meu livro de cabeceira é o Heidegger. Ainda é! Vou sempre relendo e descobrindo coisas novas. O Heidegger é o homem mais capaz de entender o que tem sido a estética ao longo dos séculos. Em termos de pensar a arte, ele é o máximo, ele é o maior.

 

O mar e os barcos também estão muito presentes nas suas pinturas.

Quando era criança, tive a sorte de viver numa casa junto ao mar, na marginal, então ia para a janela e ficava a desenhar, desenhava um barco ou outro que estivesse a entrar ou a sair da barra. Vivia em São Pedro do Estoril, que na altura era uma terra simpática, era uma maravilha, eu atravessava a estrada e via as rochas. Nos temporais de Inverno, costumava ir para o Guincho ou para a Boca do Inferno, eram os meus locais de prazer. O meu mar começa aí, aos cinco, seis anos até aos 12 anos. Teria uns 10 anos quando pintei um navio da armada americana. Tive uma doençazeca daquelas, uma coisa quase mortal, passei um mês só a beber água e a comer fruta, e precisava de apanhar sol. Foi então que vi um belo couraçado americano, foi uma festa ver uma coisa daquelas ali... Esse era o meu mar que depois transplantei para outras coisas. O mar faz parte de mim, nasci ao pé dele, vivi ao pé dele, e agrada-me muito pintá-lo.


 

O seu nome completo é Luís Mário de Sousa Azevedo de Noronha e Meneses da Costa, é neto de condes e viscondes. Teve uma infância muito diferente das outras crianças?

Não, por acaso, não. Andei na escola pública em São Pedro do Estoril e tinha muitos amigos, a vida era uma maravilha para mim. Mas, quando chego ao liceu, a minha mãe resolveu pôr o menino no Colégio São João de Brito e aí tive uma experiência extremamente traumática, detestável, terrível, pelas imposições jesuítas e pela alienação que ali se vivia. Por tudo. Eu, por exemplo, era tratado como D. Luís Mário...

 

Pertence a uma família brasonada e, pelo que li de uma entrevista sua, "ultra-reaccionária".

Sim, ultra-reaccionária, mas não gosto de falar disso. Tive uma educação rígida, mas continuei sempre a pintar. Depois fui para a Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa e, francamente, aquilo era outro mundo, eram outros colegas. Ao princípio, eles não gostavam de mim por causa do meu nome, depois isso diluiu-se. Estudei Arquitectura, cheguei a exercer, desenhei uma casa no Algarve que outros arquitectos gostaram muito, inclusive o Siza Vieira, mas os restantes projectos estão na gaveta ou andam por aí perdidos. Tenho pena, agora até pedi à minha filha para tentar juntar um ou outro rolo onde tenho alguns trabalhos de arquitectura.

 

Trabalhou com o arquitecto Manuel Tainha.

Sim, trabalhei, aliás, ele foi o melhor professor de Arquitectura que tive. Ele e, depois, o Nuno Portas, figuras quase opostas politicamente. O Manuel Tainha era marxista-leninista, o Nuno Portas era católico, era o chamado progressista de esquerda. Quer como professor, quer como crítico, tenho por ele uma admiração enorme, fizemos várias viagens de trabalho, ele ia como arquitecto, eu ia como estudante de Arquitectura. Chegámos a ir um congresso sobre urbanismo na Roménia, imagine, eu tinha vinte e tal anos. Foi um pouco complicado entrar no país, lembro-me de um colega de lá dizer que o sonho dele era viver num país como a Suécia. Falar à mesa era perigoso se determinadas conversas chegassem aos ouvidos do senhor Ceausescu.

 

Bebeu então do marxismo-leninismo e da esquerda progressista com os seus professores.

Sim, e ainda bem, foi um pouco de sorte que tive na vida, saí daquela parvoíce toda do Colégio São João de Brito e aproximei-me da arquitectura e do mundo em geral. O Manuel Tainha foi, de facto, um professor de Arquitectura espantoso e, curiosamente, o sonho dele era ser professor na Escola Superior de Belas-Artes, ele candidatou-se, mas não o deixaram leccionar dada a sua filiação partidária. A PIDE descobriu e ele foi proibido de dar aulas.

 

Não sei o que seria deste país sem a presença sempre activa do Partido Comunista. Tem um papel fundamental em termos de uma certa vigilância. 

 

O Luís Noronha da Costa chegou a estar filiado no PCP?

Não, o Partido Comunista tem sido muito simpático comigo, aliás, convidou­-me para assistir ao XX Congresso, eu não fui porque estava francamente adoentado na altura, mas enviei uma carta ao Jerónimo de Sousa a agradecer o convite. Se não estivesse doente, teria ido. Não que me reveja no partido, não me revejo mesmo nada, mas, de facto, não gosto da direita, eu queria ser qualquer coisa que o Bloco de Esquerda é, mas ao mesmo tempo não queria ser nada do que o Bloco de Esquerda é, porque, sinceramente, acho que é uma fantochada. Tudo menos o Bloco de Esquerda. Já o Partido Comunista é essencial. Não sei o que seria deste país sem a presença sempre activa do Partido comunista Português. Eu poderia ser um social-democrata de esquerda.

 

Quais são as suas grandes referências políticas, os grandes homens políticos em Portugal?

Para mim, o número 1 é o general Eanes. Ele é o grande génio político deste país do século XX e princípios do século XXI. À parte disso, é o meu maior amigo, é um homem extraordinário. Aliás, foi ele que nos salvou da guerra civil. Se o 25 de Novembro não tivesse sido no dia 25, mas no dia 26, Lisboa teria ficado cercada e teria havido uma grande guerra civil. Conheci-o quando foi criada a Comissão Nacional de Apoio à Recandidatura do Presidente Eanes (CNARPE). Ofereci-lhe uns seis quadros, ou sete ou oito. Eu também era amigo do Mário Soares, mas acho que o Mário Soares era um internacionalista e o Eanes era mais um universalista. O Eanes fez coisas extraordinárias, o Mário Soares também, mas menos e de uma maneira completamente diferente.


 

Como foi o seu 25 de Abril?

Em casa, a ver televisão, não fiz nenhuma festa porque, realmente, não existiam verdadeiros partidos políticos em Portugal, o partido dito social-democrata só aparece depois do 25 de Abril. De maneira que avistei logo um Portugal dominado pelo Partido Comunista, e chegou a dominar. Aí, sim, o Mário Soares teve um papel muito importante, mas realmente foi o chamado Grupo dos Nove e o general Eanes que tiveram um papel fundamental.

 

No pós-25 de Novembro acreditou no país. E hoje?

Ai, acreditei, mas continuo a pensar que este país precisa de um Partido Comunista a sério, como este é, que continue a ter um papel fundamental em termos de uma certa vigilância do próprio país. Os outros partidos, em geral, entendem menos de política.

 

Não integrou nenhum partido político nem nunca pertenceu a um movimento de artistas. Afirma-se como um artista solitário?

Penso que sempre fui um solitário. Depois, existiram determinados grupos de artistas que lançaram a ideia de que eu era um evocador do Gerhard Richter, que é para mim um dos maiores pintores vivos, sim senhor, mas resta sublinhar que as obras do Richter são muito diferentes das minhas, digo eu. Talvez tenham uma certa parecença formal que tem que ver com aquilo a que chamo de difusão e não desfocagem – a desfocagem tira-nos informação do objecto, a difusão coloca-nos o objecto no espaço, um pouco como os hologramas, é isso que eu faço. E faço-o, talvez, uns quatro ou cinco anos antes das primeiras experiências do Gerhard Richter nesse sentido. 

 

Internacionalmente, tem sido reconhecido

Sinceramente, não.

 

Em 1999 foi-lhe atribuído o Prémio Europeu de Pintura pelo Parlamento Europeu.

Ah, sim, foi, isso foi muito simpático. Eu até queria ter mais relação com o PS do que aquela que tenho, mas não vou culpar o Partido Comunista, pelo contrário, até teria mais prazer em fazer instalações para o PCP do que para qualquer outro partido. O Manuel Tainha, antes de morrer, fez um centro de actividades para uma vila do Alentejo que era do Partido Comunista e ficou extremamente comovido porque no dia da inauguração esteve lá o Álvaro Cunhal, que lhe disse algo como: eu sonhava com esta arquitectura para o partido.

 

Conheceu Álvaro Cunhal?

Apertei-lhe a mão uma vez no Palácio da Ajuda, fiquei impressionadíssimo porque aquele homem olhava-nos nos olhos e simultaneamente estava a ver através da nossa cabeça no infinito, é uma sensação extraordinária. Infelizmente, conversas não houve. Mas tenho a sorte de ter três desenhos dele... Um amigo do Cunhal que era MPLA tinha aqueles desenhos, acho que não gostava muito deles e eu chamei­-lhes um figo, guardei-os num lugar precioso em minha casa. Adoro aqueles desenhos. Considero o Álvaro Cunhal um desenhador. Ao nível do desenho, ele varre dois séculos da arte em Portugal, é extraordinário.


 

Diz muitas vezes que os leilões têm destruído a arte.

Ah, sim, são os maiores inimigos dos pintores, dos mais velhos aos mais novos. Está a aparecer gente com imensa qualidade mas as telas estão caríssimas, as tintas são caríssimas... Eu, neste instante, estou quase sem vender, quase todos os pintores estão sem vender, excepto os leilõezinhos que vendem coisas minhas ao desbarato. Actualmente, o grande cancro dos artistas em Portugal são os leilões. Sempre que tenho oportunidade de dizer mal dos leilões, não a perco. Tenho o pior a dizer dos leiloeiros, é gente pouco honesta, e eu tento fugir deles, vendendo directamente às pessoas.

 

O que determina hoje o valor de mercado de um artista?

Depende do êxito das exposições, dos países onde expuseram, das viagens que fizeram a Nova Iorque e a Milão. Depois, chegam aqui e fazem um nadinha mais à esquerda ou mais à direita. Os pintores que têm conseguido vender mais são os especialistas em marketing. Não cito nomes. 

 

Vendo a sua página pública de Facebook, parece bastante zangado.

Estou furioso! Este é o país do futebol.

 

Não gosta de futebol.

Detesto futebol.

 

Li que está a desfazer-se de obras que nunca pensou desfazer-se.

Estou. Esse é o lindo estado económico em que me encontro actualmente. Quando tinha 30 anos, aí pelos anos 1970, o valor das minhas obras andava perto, embora abaixo, de um Júlio Pomar e de uma Paula Rego. A Paula Rego foi aldrabada de todas as maneiras, o Pomar sempre soube defender-se com uma grande qualidade. Mas, sim, o valor das minhas obras tem vindo a cair. Em 1974, dias antes do 25 de Abril, o preço de um quadro meu de tamanho médio em leilão chegava a 75 contos, que era o valor pelo qual o Gerhard Richter estava a vender na Alemanha. Reservei dois quadros, que significava 75 contos mais 75 contos. Se, na altura, tivesse comprado o Richter, esses 75 contos valeriam hoje um milhão. Foi azar.

 

Para mim, o general Eanes é o grande génio político deste país do século XX e princípios do século XXI. 

 

Há sempre a questão da sorte e azar, e do acaso.

Eu penso que sou um indivíduo do azar.

 

Não mantém coleccionadores particulares das suas obras?

Tenho muitas obras lá fora, em coleccionadores particulares. Em Portugal, houve uma altura em que existia uma certa coerência por parte dos coleccionadores em relação à escolha dos pintores. A época de 1960, 1970 foi de grande abertura à arte nacional e internacional, e isso foi a coisa mais positiva dos tempos de Marcelo Caetano. Havia coleccionadores como o Jorge de Brito, pessoas com grande conhecimento, algumas viviam em Saint-Tropez. Tudo isso foi completamente ao ar. Agora, por exemplo, aparece um sujeito em minha casa e começa a tirar quadros da parede: quero este, este e este. E eu respondo: a porta é ali. Há indivíduos que decidem dizer: sou coleccionador, mas depois não sabem o que comprar. Falta um certo sentido de osmose, de coerência nas suas escolhas, algo que havia muito mais antes do 25 de Abril. Custa-me dizer isto, mas é verdade.

 

Na série documental "A arte e a mente", disse que podemos assistir ao fim da arte e que o pensamento terá de voltar à sua pobreza essencial. Como assim?

Acredito nisso, a Barbara Rose, crítica e curadora norte-americana, por quem tenho uma admiração enorme, estabeleceu uma ligação entre a minha pintura e o Fernando Pessoa. Dizia que a minha pintura era autóctone e universal, e eu fiquei muito sensibilizado com isso. Ela dizia que eu andava à procura de uma nova arte que possivelmente não iria encontrar, mas que quando essa nova arte surgisse eu de certeza que ficaria como pioneiro. Foi algo que me deixou muito contente. E foi através dela que consegui aprender alguma coisa de pintura americana. Depois da Segunda Guerra Mundial, Paris passa a não ser nada ou quase nada e tudo o que de mais importante e revolucionário se fez a partir dessa altura vem dos Estados Unidos da América. Para já, com (Jackson) Pollock, ele destrói, pela primeira vez na história da arte, o antagonismo entre figura e fundo numa certa fase do cubismo. Picasso também tentou, mas penso que quem dá o murro definitivo na mesa é o Pollock. A nível internacional, a América continua a dar cartas e há um europeu, o Richter, que já expôs no MoMA, e as cotações dele subiram ainda mais. Quem for ao MoMA, está salvo para o resto da vida.


 

Há obras de arte que valem milhões e milhões e milhões.

É uma loucura. Por exemplo, o Francis Bacon tem cotações altíssimas. Agora, os homens dos milhões são o Andy Warhol, o Pollock, praticamente incomparável, e o Mark Rothko.

 

E quais são as suas referências em Portugal?

Ai, o pintor português que mais gosto é o meu grande amigo (António) Costa Pinheiro, infelizmente já morreu. As obras dele foram uma lufada de ar fresco. Com a série de retratos imaginários dos Reis de Portugal, saíram grandes colecções na Suíça, na Alemanha, etc. E há muita gente que eu admiro tanto..., o João Hogan – não sei como é que estes indivíduos ainda não perceberam o valor do Hogan –, a Paula Rego, o Jorge Martins, há tanta gente de grande qualidade.

 

As suas imagens também estão no cinema. Nos anos 1970, realizou muitos filmes.

Foi um filme, os outros são pequeninos, em 8 mm, super 8 mm e 16 mm, mas o único que guardo mesmo como significativo é o "O Construtor de Anjos" (1978) – exibido na Cinemateca no dia 6 de Abril. Tinha um outro, chamado "D. Jaime ou a Noite Portuguesa" (1974), em super 8 mm, feito com o actor André Gomes e com a Rita Azevedo Gomes. E fiz mais uns quantos filmezitos. Depois continuei preguiçosamente a pintar, sou preguiçoso acima de tudo, sou preguiçoso ao máximo… e é isso. 



Saber mais Noronha da Costa Paula Rego Richter Pomar Heidegger Cunhal 25 de Abril PCP Veneza São Paulo Eduardo Lourenço Eanes Mário Soares 25 de Novembro comunistas Marx Manuel Tainha Andy Warhol Pollock Mark Rothko

28.1.22

UMA CARTA ...

 


 "Disseram -nos, ao abandonar o torrão natal, , que partíamos para defender os direitos  sagrados de tantos cidadãos lá ao longe estabelecidos, de tantos anos de presença e de tantos benefícios aportados a povos que necessitam da nossa  ajuda e  da nossa civilização.

Temos podido comprovar que tudo era verdade, e porque o era não vacilamos em derramar o tributo do nosso sangue, em sacrificar a nossa juventude e as nossas esperanças. Não nos queixamos, porém, enquanto aqui estamos animados por este estado de espírito,  dizem-me que em Roma se sucedem conjuras e maquinacões, que floresce a traição e que muitos, cansados e conturbados, prestam complacentes ouvidos ás  más baixas tentações de abandono, vilipendiando assim a nossa acção.

Não posso crêr que tudo isto seja verdade, e sem embargo, as guerras recentes  demonstraram até  que ponto pode ser perniciosa tal situação e até onde pode conduzir.

Rogo-te, tranquiliza-me o mais  rápidamente possível e diz-me que nossos concidadãos nos compreendem, nos sustêm e nos protegem, como nós protegemos a grandeza do Império.

Se há-de de ser de outro modo, se temos que deixar inutilmente os nossos ossos calcinados pelas sendas do deserto, então,  " Cuidado com a ira das Legiões ! "




MARCUS FLAVINIUS

Centurião da  2ª Coorte da  Legião Augusta, a seu primo Tertullus, de Roma.



Jean Lartéguy, 'Os Centuriões'

12.10.21

DOM CARLOS I

 

D. Carlos I (1863-1908) foi o primeiro rei de Portugal a morrer de morte violenta depois de D. Sebastião, em 1578. Tinha 26 anos quando foi aclamado rei, a 19 de Outubro de 1889, e apenas 44 quando morreu, a 1 de Fevereiro de 1908.
Era um homem independente, sensato e corajoso, capaz de suportar grandes pressões e de tomar decisões arriscadas quando se impunham. Morreu por causa das suas qualidades, não por causa dos seus defeitos.

 

 


26.11.20

JOSÉ MANUEL PRISTA ( Meteorologista ) )

 Foi com um sentimento de pesar que recebi esta notícia. Não conhecia o senhor pessoalmente, mas como alguns outros que pela televisão " convivem " connosco tinha por ele admiração. Repouse em paz.

Faleceu José Manuel Prista

José Manuel Prista2020-11-20 (IPMA)

O IPMA lamenta informar do falecimento de José Manuel Prista, vítima de doença prolongada. Parte assim do nosso convívio mais um meteorologista que, ao longo de décadas, informou, esclareceu e divulgou a meteorologia e o clima e foi uma das caras mais conhecidas e acarinhadas da meteorologia portuguesa, contribuindo para a construção da moderna meteorologia portuguesa.

Apaixonado desde sempre pela meteorologia, conhecedor profundo dos fenómenos meteorológicos e climáticos, José Manuel Geoffroy Prista, nascido a 21 de março de 1940, foi previsor meteorológico durante toda a vida profissional, chefiando na divisão de informação a apresentação televisiva do "estado do tempo", e supervisionando a Meteorologia em Macau e nos Açores, entre a década de 70 e meados dos anos 2000, interessando-se em particular pelo papel da atmosfera no desencadeamento e propagação de incêndios rurais.

Tornou-se conhecido dos portugueses através das apresentações que fez na televisão ao longo de décadas, onde sempre combinou a grande capacidade de comunicador com a interpretação científica dos processos atmosféricos.

Até ao fim dos seus dias, foi um apaixonado pela meteorologia, colecionando adágios e provérbios populares relacionados com o tempo e os fenómenos atmosféricos, fotografando cataventos pelo país fora e, nos últimos tempos, efetuando pequenas previsões domésticas a partir de uma pequena estação meteorológica montada num terreno junto à sua casa.

O IPMA endereça à família e amigos as mais sinceras e sentidas condolências.

30.9.20

MORREU QUINO CRIADOR DE " MAFALDA "

 Uma notícia de hoje que não posso deixar de comentar. Quino e a sua Mafalda foram e serão sempre recordados com respeito e carinho. Por minha parte deixo aqui um sentimento de profundo pesar.


Filho de espanhóis, nascido em 1932, Joaquín Salvador Lavado desenhou e publicou vários livros de desenho gráfico para um público mais adulto, nos quais predomina um humor corrosivo e negro sobre a realidade social e política.

Ficou célebre, porém, por uma personagem que se tornou numa das mais improváveis comentadoras políticas da atualidade, Mafalda, uma menina que detestava sopa, adorava os Beatles e tinha monólogos preocupados e existencialistas, em frente a um globo terrestre.

Quino imaginou Mafalda para um anúncio publicitário a uma marca de eletrodomésticos, para o qual lhe pediram que desenhasse a história de uma família típica da classe média.

A banda desenhada não chegou a ser publicada, mas Quino recuperou a personagem Mafalda quando o convidaram para publicar no Primera Plana, na altura um jornal que procurava fazer uma reflexão crítica da atualidade argentina e internacional. Foi a 29 de setembro de 1964 que Mafalda surgiu.

Das tiras de Quino saíam comentários sobre a ordem do mundo, a luta de classes, o capitalismo e o comunismo, mas também, de forma mais subtil, sobre a situação política e social argentina.

Quino deixou de desenhar Mafalda em 1973, admitindo ter ficado extenuado, e continuou a desenhar e a publicar outros desenhos de humor, compilados em diversos álbuns, mas foi a criança contestatária que mais fez espalhar o seu nome e o seu trabalho pelo mundo.

Em 2014, o Festival Internacional de Banda Desenhada de Angoulême, em França, e o AmadoraBD dedicaram exposições a Quino, a propósito dos 50 anos da criação de Mafalda.

O diário El País descreve-o como "o cartunista mais internacional e mais traduzido em língua espanhola, e talvez o mais cativante", com centenas de tiras publicadas na imprensa de todo o mundo, e recorda que, em 2014, Quino foi distinguido com o Prémio Príncipe das Astúrias de Comunicação e Humanidades.

Hoje, o jornal espanhol recorda ainda a resposta de Quino quando lhe perguntaram como seria Mafalda, na atualidade. Segundo o El País, Quino contrapôs que provavelmente essa "menina sábia" estaria morta, porque seria um dos desaparecidos da ditadura militar argentina (1976-1983).

Em 2016, numa entrevista à agência Efe, por ocasião da Feira do Livro de Buenos Aires, Quino afirmava que o mundo atual seria para a personagem Mafalda "um desastre e uma vergonha".

"Olhando as coisas que fiz todos estes anos, percebo que digo sempre as mesmas coisas e que continuam atuais. É terrível... não?", referiu Quino, a propósito dos seus temas de sempre: "A morte, a velhice, os médicos e outras coisas", como as injustiças sociais, a pobreza.

Profundamente tímido e reservado, Quino reconheceu na mesma entrevista que gostaria de ser recordado como "alguém que fez pensar as pessoas sobre as coisas que acontecem".

 

Quino em Paris em 2004
Nome completo Joaquín Salvador Lavado Tejón
Nascimento 17 de julho de 1932
Mendoza, Argentina
Morte 30 de setembro de 2020 (88 anos)
Buenos Aires, Argentina
Nacionalidade argentino e espanhol
(dupla nacionalidade desde 1980)[1]
Ocupação Cartunista
Principais trabalhos Mafalda
Prêmios B'nai B'rith (1998)
Religião ateísmo
Assinatura
FirmaQuino.png
Página oficial
www.quino.com.ar

 

Mafalda

Mafalda
 
 
Mafalda foi uma tira escrita e desenhada pelo cartunista argentino Quino. As histórias, apresentando uma menina preocupada com a Humanidade e a paz mundial que se rebela com o estado atual do mundo, apareceram de 1964 a 1973, usufruindo de uma altíssima popularidade na América Latina e Europa.

 

29.8.20

JOSÉ ORTEGA Y GASSET

A VIDA ( Foto de J.P.L. )
A vida que nos é dada tem os seus minutos contados e, além disso, é-nos dada vazia.
 Quer queiramos quer não, temos de preenchê-la por nossa conta: isso é, temos de ocupá-la, de um ou de outro modo.
  Por isso, a substância  de cada vida reside nas suas ocupações. 
Ao animal não somente lhe é dada a sua vida, mas também o reportório invariável da sua conduta.
  Sem a sua intervenção, os instintos dão-lhe já decidido o que vai fazer e evitar. 
Por isso, não pode dizer-se do animal que se ocupa nisto ou naquilo. 
A sua vida não esteve nunca vazia, indeterminada. 
Mas o homem é um animal que perdeu o sistema dos seus instintos, ou, o que é igual deles conserva só resíduos e cotos incapazes de lhe impor um plano de comportamento.

   Ao encontrar-se existindo, encontra-se perante um pavoroso vazio. Não sabe o que fazer; tem ele mesmo que inventar os seus afazeres ou ocupações.
   Se contasse com um tempo infinito diante de si, não importaria grandemente: poderia ir fazendo o que lhe ocorresse, experimentando, uma após outra, as ocupações imagináveis.

 Mas aí está!
a vida é breve e urgente; consiste sobretudo em pressa, e não há outro remédio senão escolher um programa de existência, com exclusão dos restantes; renunciar a ser uma coisa para poder ser outra; em suma, preferir uma ocupação às restantes.

   O facto mesmo de que as nossas línguas empreguem a palavra  « ocupação » nesse sentido revela que os homens viram desde há muito, talvez desde o princípio, a vida como um « espaço  » de tempo que os nossos actos vão enchendo, incompenetráveis uns com os outros,tal como os corpos.

   Com a vida, é claro, é-nos imposta uma longa série de necessidades a que não é possível fugir, que temos de enfrentar sob pena de sucumbir.

 Mas não nos foram impostos os meios e modos de satisfazê-las, de sorte que também nesta ordem do inevitável temos que inventar - cada um por si ou aprendendo-o em usos e tradições - o reportório das nossas acções. ( 1 )




(1 ) José Ortega Y Gasset.
     " Sobre a Caça e os Touros "
     1989 Edições Cotovia, ldª



José Ortega y Gasset

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.


José Ortega y Gasset

Ortega y Gasset durante a década de 20
Nascimento 9 de maio de 1883
Madrid
Morte 18 de outubro de 1955 (72 anos)
Madrid
Nacionalidade Espanha Espanhol
Progenitores Mãe: Dolores Gasset Chinchilla
Pai: José Ortega Munilla
Cônjuge Rosa Spottorno Topete (1914-2007)
Filho(s) José Ortega Spottorno (1916-2002)
Soledad Ortega Spottorno(1910–1955)
Ocupação Filósofo, Historiador, Politólogo, Escritor, Ensaísta, Jornalista
Prémios Medalla Goethe de la ciudad de Fráncfort (1949)
Movimento literário Novecentismo
Magnum opus A Rebelião das Massas
Escola/tradição Escola de Madrid (fundador)
Perspectivismo
Pragmatismo
Neokantismo
Fenomenologia
Existencialismo
Vitalismo
Historicismo
Liberalismo
Ideias notáveis Hipótese de Ortega
Homem-Massa
Razão vital
Eu sou eu e minha circunstância
Religião Agnóstico
Assinatura
Firma de José Ortega y Gasset.svg



José Ortega y Gasset (Madrid, 9 de maio de 1883 — Madrid, 18 de outubro de 1955) foi um ensaísta, jornalista e ativista político, fundador da Escola de Madrid. Ortega é amplamente considerado o maior filósofo espanhol do Século XX.[1][2]
Ortega foi um dos primeiros autores a tratar do problema da historicidade fora dos padrões do evolucionismo, do marxismo ou do positivismo. Também foi um dos primeiros a valorizar a importância dos conceitos em matérias de história e a estender à filosofia as conclusões de Einstein, além de afirmar a necessidade de uma historicidade como modo de suplantar o esgotamento da metafísica e do idealismo.[3] Ortega atribui à história uma nova categoria do conhecimento, aos moldes de Martin Heidegger, seu contemporâneo.[3]
De acordo com Ortega, a realidade está em nossa vivência histórica. Autor da frase, ”eu sou eu e minha circunstância”, para ele viver não se trata de termos uma consciência intencional, aos moldes fenomenológico, mas sim a maneira como lidamos com a circunstância da qual não nos separamos: “A vida não é recepção do que se passa fora, antes pelo contrário, consiste em pura atuação, viver é interior, portanto, um processo de dentro para fora, em que invadimos o contorno com atos, obras, costumes, maneiras, produções segundo estilo originário que está previsto em nossa sensibilidade.”[4]
Seu pensamento impactou diversas áreas do saber. Em sua memória, o jornal espanhol El País concede o Prêmio Ortega y Gasset anualmente àqueles que se destacam no campo do jornalismo e da comunicação.[5]

Biografia

Infância e juventude

José Ortega y Gasset nasceu em Madrid, no dia 9 de maio de 1883, em uma família pertencente à burguesia liberal do final do século XIX. A família de sua mãe era dona do jornal El Imparcial, de Madrid, e seu pai, José Ortega y Munilla, era jornalista e editor do jornal. 


Ortega y Gasset em 1920




O fato de ser criado por uma família tão intimamente ligada à atividade jornalística teve repercussões importantes no desenvolvimento de sua formação intelectual e de sua forma de expressão literária. De fato, uma grande parte de seus escritos filosóficos, e até mesmo uma grande parte de sua atividade profissional, foram desenvolvidos em contato com o jornalismo.
Depois de aprender jornalismo em Madri, com Manuel Martínez e José del Río Labandera, em 1891 o jovem Ortega foi enviado para estudar o bacharelado na escola que os jesuítas dirigiam no bairro de El Palo, em Málaga. O fato de Ortega ter recebido sua formação básica em uma escola jesuíta na cidade de Málaga também marcou sua vida intelectual.

Começo de carreira

Em 1897, depois de concluir seu bacharelado em Málaga, Ortega começou seus estudos universitários, primeiro em Deusto e logo depois em Madri. Aos os quinze anos o jovem Ortega testemunhou um evento histórico da maior importância, que levou toda uma geração de espanhóis a considerar o problema da Espanha. Este evento foi a perda dos últimos remanescentes do império colonial espanhol. Em 1898, pela Paz de Paris, que pôs fim à guerra hispano-americana, a Espanha teve de ceder aos jovens e poderosos Estados Unidos da América (que, um dia, havia ajudado a alcançar a independência) suas últimas possessões coloniais: Cuba, Porto Rico e Filipinas. Este evento trabalhou na Espanha como um revulsivo da consciência nacional, que levou as mentes mais lúcidas do momento (Miguel de Unamuno, Pío Baroja, Antonio Machado e o próprio Ortega) a considerar o problema do declínio físico e moral da Espanha. A geração marcada pelo desastre nacional, a Geração de 98, concentrou grande parte de seus esforços intelectuais na reflexão sobre a etiologia e o diagnóstico da "doença na Espanha". 




José Ortega y Gasset (c.1950).





Dentro do espírito de sua geração, Ortega tomou consciência do problema da Espanha e diagnosticou que tal problema residia no individualismo dos homens e regiões da Espanha, que não sentiam uma preocupação comum com os assuntos nacionais. Por isso, ele propôs que a regeneração da Espanha só poderia vir de uma consciência entusiasta de uma missão nacional. Para que esta missão fosse realizada com sucesso, Ortega propôs a necessidade da existência de uma elite intelectual – à qual ele próprio se sentia integrado – que, tirando o melhor do mundo ocidental, saberia como "promover a organização de uma minoria" que se encarregaria da educação política das massas".[6]
É assim que o pensamento do jovem Ortega se relaciona com o regeneracionismo e um dos aspectos do krausismo espanhol. Embora os pressupostos filosóficos de Ortega e os dos krausistas difiram marcadamente na realização política e cultural de tais pressupostos, ambos coincidem em vários pontos-chave: que a situação da Espanha na época era negativa e, portanto, deveria ser superada; que esta superação só poderia ser feita recorrendo à aclimatação do pensamento europeu à Espanha, e que para isso seria necessária a existência de grupos dirigentes para permitir a atualização da cultura espanhola.

Influências

É precisamente neste contexto de desejo de beber em fontes culturais europeias para aclimatá-los à Espanha, é aí que devemos enquadrar a viagem de estudo que, ao terminar seu doutorado em filosofia, com a tese intitulada “Os terrores do ano mil. Crítico de uma lenda”, Ortega faz a Alemanha. De fato, em 1905 ele foi para a Alemanha para continuar seus estudos e visitou as universidades de Leipzig, Berlim e Marburg. Precisamente nesta última universidade será onde ele conhece os neo-kantianos H. Cohen e P. Natorp, a quem ele sempre considerará seus professores. Também para esta viagem de Ortega à Alemanha pode-se estabelecer um certo paralelismo com a permanência de Julián Sanz del Río, fundador do krausismo espanhol, em Heidelberg. Com este Ortega continua uma certa tradição espanhola que durou até os anos cinquenta, quando a meca da filosofia passou para os espanhóis para os países anglo-saxões. Essa tradição consistia em que todo jovem espanhol que aspirasse a uma formação intelectual mais completa do que a que a universidade espanhola poderia fornecer teria que viajar para a Alemanha.
O panorama filosófico que o jovem doutor em filosofia da Universidade de Madri encontrou em Marburg foi presidido pelo neo-kantismo, ou seja, a doutrina filosófica que postulava o retorno a Kant como um caminho para superar as vielas às quais a filosofia idealista tinha chegado nas mãos de Hegel e seus seguidores. Mas, e aqui o paralelismo com Sanz del Río é quebrado, assim como o krausismo espanhol importou o pensamento de Krause de uma maneira monolítica e sem uma atitude excessivamente crítica, Ortega chegou à Alemanha com um espírito mais crítico e inteligente - não em vão mais de meio século de viagens de intelectuais espanhóis à Alemanha - e sua atitude para com os neo-kantianos não foi a da batedeira discipular, mas uma atitude ambivalente. Desta forma, embora reconhecendo a dívida impagável aos seus professores de Marburg, ele também adota uma atitude crítica em relação a eles e contra o próprio Kant. A dívida e a crítica a Kant e aos neo-kantianos resume-os magistralmente com as seguintes palavras: "Durante dez anos vivi no mundo do pensamento kantiano: respirei-o como atmosfera e tem sido tanto a minha casa como a minha prisão [ ...] Com grande esforço eu escapei da prisão kantiana e escapei de sua influência atmosférica ".[7]
Assim, Ortega ficou ciente de que o pensamento kantiano era tão necessário para ele quanto a atmosfera que qualquer homem respira, mas era também para ele uma prisão da qual ele tinha que se libertar para poder construir sua própria filosofia de maturidade. Além do significado que tinha para seu treinamento filosófico, sua estada na Alemanha também desempenhou um importante papel vital, pois os anos em que Ortega viveu, os anos em que ele iniciou sua maturidade humana, foram tão frutíferos que as lembranças dessa estada podem constituir algumas de suas melhores páginas literárias. Assim, quando ele tem que descrever El Escorial, em 1915, ele não pode tirar de si a imagem da cidade onde viveu o "equinócio de sua juventude", fornecendo uma descrição literária de uma beleza rara na guilda dos filósofos: "Permitam-me Neste ponto, trago-lhe uma lembrança particular, por causa de circunstâncias pessoais, nunca poderei olhar a paisagem do Escorial sem vagamente, como a filigrana de uma tela, vislumbrar a paisagem de outra aldeia remota e a mais oposta ao Escorial que pode ser imaginada. uma pequena cidade gótica situada ao lado de um rio escuro e escuro, cercada por colinas redondas que cobrem florestas totalmente profundas de abetos e pinheiros, árvores de faias claras e buxos esplêndidos.[8]
Apesar da profunda marca pessoal e intelectual que a Alemanha deixou nele, Ortega logo retornou à Espanha, tanto física quanto intelectualmente, pois, para ele, a viagem à Alemanha só deveria fazer sentido desde que sirva como subsídio para ele se voltar à Espanha. Nesse ponto houve uma osmose intelectual, de tal forma que a Espanha ficaria impregnada da Europa e, por sua vez, a Espanha permeia a Europa. Desta forma, já em 1910, ele exclamou: "Queremos uma interpretação espanhola do mundo [...] A Espanha é uma possibilidade europeia, só da Europa é a Espanha possível".[9] Após seu retorno, em 1910, ele venceu a Cátedra de Metafísica na Universidade de Madri, onde sucedeu a N. Salmerón e iniciou sua carreira universitária como professor antes de publicar qualquer livro de filosofia. Nesse mesmo ano, ele se casa com Dona Rosa Spottorno e, a partir de então, começa sua vida pública.

Vida pública

Se até 1910 a vida de Ortega permanece na esfera privada, a partir dessa data começa a vida pública de Don José Ortega y Gasset, dividida entre ensino universitário e atividades culturais e políticas extra-acadêmicas. Após uma breve segunda permanência na Alemanha, em 1911, Ortega se entregou à sua cadeira na antiga casa de San Bernardo. Mas as preocupações políticas do jovem professor de metafísica logo vêm à luz, e em 1914 ele fundou a Liga Espanhola de Educação Política, com a qual ele tentará realizar seus projetos regeneracionistas a partir de posições democráticas. Nesse mesmo ano publicou Meditaciones del Quijote, seu primeiro livro. Em 1916 ele é co-fundador do jornal El Sol ; e em 1923, apenas no ano do início da ditadura do general Primo de Rivera, fundou e dirigiu a Revista de Occidente




"El pueblo de Jódar", Jaén, a Ortega y Gasset. Outubro de 2012





Seu confronto doutrinário com a política da ditadura leva Ortega, em 1929, a renunciar ao seu cargo de professor universitário e a continuar suas aulas na "profanidade de um teatro", classes que mais tarde serão publicadas sob o título O que é filosofia? Assim, forçado pelas circunstâncias, Ortega se torna um dos primeiros filósofos espanhóis que transmite sua filosofia ao público em geral. Uma tarefa que, por outro lado, talvez ele fosse o filósofo mais adequado a realizar, porque nele eram dados os dons de um grande filósofo e a capacidade de disponibilizar a filosofia a qualquer homem culto.
Em 1930, coincidindo com a "dictablanda" do general Berenguer, contra quem escreveu seu famoso artigo intitulado "O erro de Berenguer", que termina com a famosa frase "Delenda est Monarchia!", Ortega recupera sua cadeira e sua participação na política ativa Está aumentando, a ponto de se tornar o centro de um grupo de intelectuais que defendem o advento da Segunda República Espanhola. Assim, em 1931, quando a República chegou, fundou, juntamente com Gregorio Marañón e Pérez de Ayala, o Agrupamento ao Serviço da República. Graças à Associação é eleito deputado para as Cortes Constituintes para a província de León; mas, mais uma vez, o paradoxo de todo filósofo "envolvido na política" é repetido, porque nas Cortes ele é ouvido, mas não ouvido ou seguido. A desilusão que a vida do deputado lhe causa logo o leva a retirar-se da política ativa e a dissolver a Associação. Ortega, que deveria ter aprendido com o que aconteceu com Platão, teve que ver sua voz ignorada para entender que, infelizmente, nem sempre as doutrinas políticas de um filósofo são servidas por legisladores ou pelos governantes.
Com isso, Ortega retorna à atividade acadêmica e pública novamente, em 1934, En torno a Galileo. Em 1935 ele recebeu uma homenagem da universidade que já é a figura mais destacada na cena filosófica espanhola da época. Também em 1935 ele publica outro livro importante: História como um sistema.

Exílio

Com o início da guerra civil espanhola, em julho de 1936, Ortega iniciou uma fase de angústia vital que o levou a percorrer o mundo. Primeiro ele viaja para Paris e Países Baixos, onde dá palestras em Leiden, Haia e Amsterdã. Mais tarde ele viajou para a Argentina, e lá viveu até que, em 1942, estabeleceu-se em Portugal, onde escreveu sua obra Origem e Epílogo da Filosofia, que em princípio foi uma reflexão feita para servir de epílogo à História da Filosofia. de seu discípulo Julián Marías.
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, Ortega regressa a Espanha, mas nos dez anos que vai levá-lo a morrer, a sua atividade pública é reduzida a um mínimo, dadas as circunstâncias políticas espanholas. Em 1946 ele deu uma série de palestras no Ateneo de Madrid e nesse mesmo ano seus trabalhos completos começaram a ser publicados. Desde que ainda está separado de sua cátedra, em 1948, junto a um grupo de colaboradores e discípulos, fundou o Instituto de Humanidades, com o qual, mais uma vez, o grande professor que era Ortega retorna para exercitar seu ensino diante do público fora do salas de aula universitárias e convidar "alguns para trabalhar em qualquer canto".[10]
Embora ele possa viver na Espanha, ele não se sente confortável em seu próprio país, que ele tanto amava e pelo qual lutou tanto. A partir de 1950, ele viajará novamente para a Alemanha de sua juventude, onde, naquele mesmo ano, realizou um debate filosófico com M. Heidegger, em Baden Baden, sobre o homem e sua língua. Ele continuou seu trabalho sem descanso e, em 1955, voltou definitivamente para a Espanha. Diagnosticado de câncer gástrico, e após uma operação sem esperança, ele morreu em Madri em 18 de outubro de 1955.[11]

Filosofia


O objetivo da filosofia de Ortega é o de encontrar o ser fundamental do mundo. Este "ser fundamental" é radicalmente diferente de qualquer ser contingente ou intramundano; e também é diferente de "o dado" (expressão com a qual Ortega se referiu ao conteúdo de nossa consciência = "o dado" em nossa consciência). Todo conteúdo de consciência é, por definição, fragmentário e não serve para oferecer o significado do mundo e da existência. Esse sentido só é encontrado no "ser fundamental" ou no todo. Filosofia é o conhecimento que é responsável por abordar essa questão.[12] A “Filosofia” em Ortega está ligada à palavra circunstância, de onde ele tira sua famosa expressão: eu sou eu e minha circunstância, e se eu não salvá-la eu não posso me salvar. (Meditaciones del Quijote, 1914) . Ele mantém os princípios essenciais de seu perspectivismo em períodos posteriores de seu pensamento.[13]
A partir do tema do nosso tempo desenvolve-se a teoria do "raciovitalismo" que funda o conhecimento na vida humana como a realidade radical, em que um dos componentes essenciais é a própria razão.[14] Para Ortega, a vida humana é a realidade radical, isto é, aquela em que todas as outras realidades aparecem e emergem, incluindo qualquer sistema filosófico, real ou possível. Para cada ser humano, a vida assume uma forma concreta.[15] A essa palavra "vida", não se compreende a vida tomada como algo geral, como espécie de ser transcendental. Ela é minha realidade radical na medida em que ela é condição sine qua non, ou seja, necessária, para que todas as outras realidades humanas se desenvolvam. Sendo assim, a filosofia do raciovitalismo é justamente o encontro da realidade radical na vida de cada qual, na vida mesma de cada indivíduo, em todas as suas nuances e peculiaridades. O exemplo orteguiano não poderia ser mais esclarecedor: só a mim dói minha dor de dentes. A partir daí, a Filosofia deve investigar o fenômeno vital com vistas a desvendar a realidade. Essa realidade, cujo fundamento é a a própria vida está imersa, rodeada por circunstâncias. Estas circunstâncias não dizem respeito somente ao país em que se nasceu, ao momento histórico em que se vive, mas a própria organização psicológica de alguém, sua personalidade, se é mais extrovertido, tímido, calmo ou extravagante. Sendo assim, a frase que resume a filosofia orteguiana é dita em sua primeira obra, Meditaciones del Quijote: "Eu sou eu e minha circunstância". 






José Ortega y Gasset em 1951.



Essa primeira parte da expressão aponta a presença da influência da fenomenologia de Husserl no pensamento do espanhol e significa que, para ele, o sujeito se define a partir de um envolvimento com o mundo objetivo e, ao mesmo tempo, o mundo objetivo é alterado e definido a partir da presença ativa do sujeito. Mas a expressão tem uma segunda parte: "... e se não salvo, não salvo também a mim". O que Ortega y Gasset quer dizer é que para que o "eu" seja de fato "eu", singular, encontre-se em situação a não confundir-se com o mundo que o rodeia, ele precisa constantemente alterar as circunstâncias que englobam sua vida. Alterar as circunstâncias com vistas à constante excelência do viver é ponto alto da ética orteguiana e de toda sua filosofia.
Podemos citar um exemplo: imagine que uma pessoa nascida em uma pequena e desconhecida cidade de Minas Gerais queira tornar-se um bailarino do Bolshoi. Esse primeiro desejo, Ortega chama de vocação: um inclinação que cada pessoa guarda em si em direção à determinada atividade. As circunstâncias iniciais dessa pessoa são a falta de dinheiro, a impossibilidade de estudos em uma grande escola que lhe permita se destacar para atingir o objetivo, a falta de professores capacitados. Para que sua humanidade possa desenvolver-se à excelência, para que essa pessoa realize sua vocação, ela precisa deixar sua cidade de origem com vistas a uma condição financeira e formativa que lhe permita preparar-se em uma boa escola. Provavelmente, em seu caminho, muitos desafios irão se apresentar e estes desafios, grosseiramente falando, são o que Ortega y Gasset chama de circunstância: não se pode não fazer nada diante deles, pois se eu decido não agir eu me afogo nela, pereço diante da circunstância e meu projeto vital fracassa. Portanto, para salvar a circunstância, o sujeito precisa agir sempre, decidir sempre. De certa maneira, é uma resposta ao chamado de Kant no texto "Resposta à pergunta: o que é esclarecimento?". Para uma vida que valha a pena ser vivida é preciso ter coragem e energia para decidir.[carece de fontes]
Chamado de "razão vital" um novo tipo de razão, em rigor, o mais antigo e primário e "raciovitalismo" a mentalidade de que confia em seu novo conceito de razão. A razão vital é uma razão que está sendo constantemente percebida na vida à qual ela é inerente.
O pensamento de Ortega é geralmente dividido em três etapas:
  • Estágio objetivista (1902-1914): influenciado pelo neo-kantismo alemão e pela fenomenologia de Husserl, chega a afirmar a primazia das coisas (e ideias) sobre as pessoas.
  • Estágio Perspectivista (1914-1923): começa com Meditações de Quixote. Neste momento, Ortega descreve a situação espanhola em Espanha invertebrada (1921).
  • Estágio Raciovitalista (1924-1955): Considera-se que Ortega entra em seu estágio de maturidade, com obras como O tema de nosso tempo, História como um sistema, Ideias e crenças ou A Rebelião das Massas.

 

Trabalhos

A maior parte do trabalho de Ortega y Gasset consiste de palestras e aulas publicadas anos após o fato e muitas vezes postumamente. Esta lista tenta colocar em ordem cronológica de quando foram escritas e não quando publicadas.
  • Meditaciones del Quijote (Meditações do Quixote, 1914)
  • Vieja y nueva política (Velha e nova política, 1914)
  • Investigaciones psicológicas (Investigações psicológicas, curso dado em 1915-16 e publicado em 1982)
  • Personas, Obras, Cosas (Pessoas, Obras, Coisas, artigos e ensaios escritos em 1904-1912: "Renan", "Adán en el Paraíso" -- "Adão no Paraíso", "La pedagogía social como programa político" -- "A pedagogia como programa político", "Problemas culturales" -- "Problemas culturais", etc., publicados em 1916)
  • El Espectador (O Espectador, 8 volumes publicados em 1916-1934)
  • España Invertebrada (Espanha Invertebrada, 1921)
  • El tema de nuestro tiempo (O tema do nosso tempo, 1923)
  • Las Atlántidas (As Atlântidas, 1924)
  • La deshumanización del Arte e Ideas sobre la novela (A Desumanização da Arte e Ideias sobre a novela, 1925)
  • Espíritu de la letra (The spirit of the letter 1927)
  • Mirabeau o el político (Mirabeau or politics, 1928-1929)
  • ¿Qué es filosofía? (What is philosophy? 1928-1929, course published posthumously in 1957)
  • Kant (1929-31)
  • ¿Qué es conocimiento? (What is knowledge? Published in 1984, covering three courses taught in 1929, 1930, and 1931, entitled, respectively: "Vida como ejecución (El ser ejecutivo)" -- "Life as execution (The Executive Being)", "Sobre la realidad radical" -- "On radical reality" and "¿Qué es la vida?" -- "What is life?")
  • La rebelión de las masas (The Revolt of the Masses, 1930)
  • Rectificación de la República; La redención de las provincias y la decencia nacional (Rectification of the Republic: Retention of the provinces and national decency, 1931)
  • Goethe desde dentro (Goethe de dentro, 1932)
  • Unas lecciones de metafísica (Algumas lições de metafísica, curso dado em 1932-33, publicado em 1966)
  • En torno a Galileo (Sobre Galileu, curso dado em 1933-34; partes foram publicadas em 1942 sob o título "Esquema de las crisis" -- "Esquema da Crise")
  • Prólogo para alemanes (Prolog for Germans, prologue to the third German edition of El tema de nuestro tiempo. Ortega himself prevented its publication "because of the events of Munich in 1934". It was finally published, in Spanish, in 1958.)
  • History as a system (First published in English in 1935. the Spanish version, Historia como sistema, 1941, adds an essay "El Imperio romano" -- "The Roman Empire").
  • Ensimismamiento y alteración. Meditación de la técnica. (Ensimesmamento e alteração: Meditação sobre a técnica, 1939)
  • Ideas y Crencias (Ideas and Beliefs: on historical reason, a course taught in 1940 Buenos Aires, published 1979 along with Sobre la razón histórica)
  • Teoría de Andalucía y otros ensayos: Guillermo Dilthey y la Idea de vida (The theory of Andalucia and other essays: Wilhelm Dilthey and the idea of life, 1942)
  • Sobre la razón histórica (Sobre a razão histórica, curso dado em Lisboa, 1944, publicado em 1979 juntamente com Ideas y Crencias)
  • Idea del Teatro. Una abreviatura (The idea of theater, a shortened version, lecture given in Lisbon April 1946, and in Madrid, May 1946; published in 1958, La Revista Nacional de educación num. 62 contained the version given in Madrid.)
  • La Idea de principio en Leibniz y la evolución de la teoría deductiva (The Idea of the Beginning in Leibniz and the evolution of deductive theory, 1947, published 1958)
  • Una interpretación de la Historia Universal. En torno a Toynbee (An interpretation of Universal History. On Toynbee, 1948, published in 1960)
  • Meditación de Europa (Meditação da Europa), aula dada em Berlim em 1949 com o título em latim De Europa meditatio quaedam. Publicada em 1960 conjuntamente com trabalhos anteriores.
  • El hombre y la gente (Man and the populace, course given 1949-1950 at the Institute of the Humanities, published 1957)
  • Papeles sobre Velázquez y Goya (Papéis sobre Velázquez e Goya, 1950)
  • Pasado y porvenir para el hombre actual (Passado e futuro para o homem atual, publicado em 1962, agrupa uma série de palestras dadas na Alemanha, Suíça, e Inglaterra no período 1951-1954, publicado junto com um comentário sobre o Simpósio de Platão.)
  • Goya (1958)
  • Velázquez (1959)
  • Origen y epílogo de la Filosofía (Origem e epílogo da Filosofia, 1960),
  • La caza y los toros (A caça e os touros, 1960)

Em Português

  • A Rebelião das Massas, Editora Cortez
  • Origem e Epílogo da Filosofia, Editora Vide
  • Meditações do Quixote, Editora Livro Ibero Americano
  • O Homem e os Outros, Editora Vide
  • O que é Filosofia?, Editora Vide
  • Ideias e Crenças, Editora Vide
  • A Ideia do Teatro, Editora Vide
  • Ensaios de estética: Mona Lisa, Três quadros do vinho e Velázquez, Editora Cortez
  • A Desumanização da Arte, Editora Cortez
  • Adão no Paraíso e Outros Ensaios de Estética, Editora Cortez