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COP -26 .A 26ª Conferência das Partes das Nações Unidas sobre Mudança Climática,
mais conhecida pela sigla COP26, é a principal cúpula da ONU para
debate sobre questões climáticas. Será realizada de 1 a 12 de novembro
de 2021, em Glasgow, na Escócia. A realização é conjunta do britânico
com parceiros da Itália.
No longo prazo vamos sendo cozidos vivos
Paulo Ferreira
Acordo mínimo da COP26, porque este é um daqueles assuntos em que os
custos têm que ser assumidos hoje mas os benefícios só aparecem, no
essencial, daqui a algumas décadas. Ou seja, os decisores políticos não
têm um bom incentivo para agir agora. Pelo contrário. Se pensarem na
sua carreira política, índices de popularidade, hipóteses de reeleição e
todos os aborrecimentos que a mudança sempre implica, tenderão
pragmaticamente a arrastar os pés, a estabelecer compromissos mínimos e a
fazer ainda menos do que isso. As alterações climáticas são só mais
uma vítima deste dilema entre curto prazo e longo prazo. Os problemas
estruturais que vamos acumulando são também filhos desse conflito de
interesses. Quando sabemos que temos problemas gigantes para resolver na
demografia, na Segurança Social ou nas assimetrias regionais é disso
também que estamos a falar. Desequilíbrios identificados há muito, que
se vão agravando gradualmente ao longo de décadas mas que não têm
merecido mais do que discursos bem intencionados, livros brancos e
comissões, ou medidas pontuais e desgarradas de pouco impacto que não
resolvem o essencial, quanto muito limitam-se a mascarar e adiar o
desastre. Todos eles precisam de políticas públicas fortes e
consistentes a longo prazo, capacidade para assumir custos no imediato
em troca de benefícios futuros, mudanças que geram sempre resistências e
vontade de estabelecer compromissos que reduzem o habitual espaço de
disputa partidária. Ou seja, tudo aquilo que tem faltado na prática
política. O resultado desta inacção é que vamos todos sendo cozinhados
em lume muito brando, vítimas do síndrome do sapo fervido: se ele for
atirado para uma panela com água a ferver salta imediatamente dali para
fora; mas se for colocado numa panela com a água fria que vai aquecendo
gradualmente deixa-se ficar até acabar cozido vivo. Em todos os
desequilíbrios que estamos a acumular já vamos sentindo a água a
aquecer. Em Portugal, a quebra da população já é uma realidade
consistente e as projecções que são feitas são assustadoras - seremos
6,6 milhões em 2100, diz o Eurostat. Na Segurança Social, as projecções
sobre o esgotamento do Fundo de Estabilização vão oscilando entre a
década de 40 ou de 50, conforme se esteja na fase alta ou baixa do ciclo
económico (flutuações que, só por si, mostram a falta de
sustentabilidade do sistema). Ao mesmo tempo, essa longevidade do
sistema já só é conseguida com condições de reforma que já são hoje
piores do que eram há 20 anos e com aumentos de impostos. Na falta de
coesão territorial também já se pagam os custos de um interior
desertificado, com óbvias consequências na gestão da floresta e de
actividades rurais, e na crescente falta de qualidade de vida e custos
elevados das maiores cidades. Tal como as alterações climáticas, são
bombas ao retardador que irão rebentar nas mãos de um qualquer governo
daqui a alguns anos, quando pouco ou nada já puder ser feito para além
de apanhar os cacos, socorrer os feridos e enterrar os mortos. Podemos
sempre procurar algum conforto pensando que no longo prazo estamos todos
mortos. Mas até lá ainda vamos ter que sofrer em lume brando.