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14.11.21

COP - 26. A NOSSA TRAGÉDIA.

 COP -26 .A 26ª Conferência das Partes das Nações Unidas sobre Mudança Climática, mais conhecida pela sigla COP26, é a principal cúpula da ONU para debate sobre questões climáticas. Será realizada de 1 a 12 de novembro de 2021, em Glasgow, na Escócia. A realização é conjunta do britânico com parceiros da Itália.

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No longo prazo vamos sendo cozidos vivos

Acordo mínimo da COP26, porque este é um daqueles assuntos em que os custos têm que ser assumidos hoje mas os benefícios só aparecem, no essencial, daqui a algumas décadas. Ou seja, os decisores políticos não têm um bom incentivo para agir agora. Pelo contrário. Se pensarem na sua carreira política, índices de popularidade, hipóteses de reeleição e todos os aborrecimentos que a mudança sempre implica, tenderão pragmaticamente a arrastar os pés, a estabelecer compromissos mínimos e a fazer ainda menos do que isso. As alterações climáticas são só mais uma vítima deste dilema entre curto prazo e longo prazo. Os problemas estruturais que vamos acumulando são também filhos desse conflito de interesses. Quando sabemos que temos problemas gigantes para resolver na demografia, na Segurança Social ou nas assimetrias regionais é disso também que estamos a falar. Desequilíbrios identificados há muito, que se vão agravando gradualmente ao longo de décadas mas que não têm merecido mais do que discursos bem intencionados, livros brancos e comissões, ou medidas pontuais e desgarradas de pouco impacto que não resolvem o essencial, quanto muito limitam-se a mascarar e adiar o desastre. Todos eles precisam de políticas públicas fortes e consistentes a longo prazo, capacidade para assumir custos no imediato em troca de benefícios futuros, mudanças que geram sempre resistências e vontade de estabelecer compromissos que reduzem o habitual espaço de disputa partidária. Ou seja, tudo aquilo que tem faltado na prática política.
 O resultado desta inacção é que vamos todos sendo cozinhados em lume muito brando, vítimas do síndrome do sapo fervido: se ele for atirado para uma panela com água a ferver salta imediatamente dali para fora; mas se for colocado numa panela com a água fria que vai aquecendo gradualmente deixa-se ficar até acabar cozido vivo. 
  Em todos os desequilíbrios que estamos a acumular já vamos sentindo a água a aquecer. 
 
Em Portugal, a quebra da população já é uma realidade consistente e as projecções que são feitas são assustadoras - seremos 6,6 milhões em 2100, diz o Eurostat. 
 
 Na Segurança Social, as projecções sobre o esgotamento do Fundo de Estabilização vão oscilando entre a década de 40 ou de 50, conforme se esteja na fase alta ou baixa do ciclo económico (flutuações que, só por si, mostram a falta de sustentabilidade do sistema).
 Ao mesmo tempo, essa longevidade do sistema já só é conseguida com condições de reforma que já são hoje piores do que eram há 20 anos e com aumentos de impostos.
 
 Na falta de coesão territorial também já se pagam os custos de um interior desertificado, com óbvias consequências na gestão da floresta e de actividades rurais, e na crescente falta de qualidade de vida e custos elevados das maiores cidades. 
 Tal como as alterações climáticas, são bombas ao retardador que irão rebentar nas mãos de um qualquer governo daqui a alguns anos, quando pouco ou nada já puder ser feito para além de apanhar os cacos, socorrer os feridos e enterrar os mortos.
 Podemos sempre procurar algum conforto pensando que no longo prazo estamos todos mortos. Mas até lá ainda vamos ter que sofrer em lume brando.