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7.9.24

Há 58 anos a Serra de Sintra esteve em chamas

 



A Serra de Sintra

A Serra de Sintra situa-se no distrito de Lisboa, abrangendo parcialmente os concelhos de Sintra e de Cascais.
A serra é uma forma de relevo que se destaca das áreas circundantes, elevando-se mais de 300 metros em relação à envolvente, constituindo-se como um marca indelével na paisagem da região. Com uma estrutura em domo de forma aproximadamente elíptica, alongada na direcção este-oeste, estende-se por uma área de 10 por 5 km aproximadamente.

Hipsometria do PNSC - Fonte: Atlas do PNSC

A Serra de Sintra, que atinge os 528 m (Cruz-Alta), é o resultado da ascensão lenta e continuada de um maciço magmático, que teve o seu inicio há cerca de 82 milhões de anos.
Devido ás suas características orográficas e há proximidade ao oceano, a Serra de Sintra possui um clima peculiar e distinto das áreas circundantes, as neblinas e nevoeiros são frequentes (mesmo no verão), sendo que a humidade relativa é sempre razoavelmente alta e a temperatura é amena, isso propicia condições favoráveis ao desenvolvimento florestal.
Muitos foram os povos que passaram por esta região. Desde a Pré-História que grupos humanos a escolheram para desenvolver as suas actividades, como demonstram muitos dos vestígios presentes, como por exemplo os monumentos funerários do Monge e Adronunes.

Tholos do Monge

As primeiras comunidades humanas dedicavam-se essencialmente à caça e à colheita de frutos, encontrando na vegetação da serra, e na fauna suportada pela mesma abundancia de recursos.
Devido á diversidade edafoclimática  da serra, nas vertentes mais secas (sul e sudoeste) predominava a vegetação de características mediterrânicas, tais como o medronheiro, o sobreiro ou o zambujeiro, enquanto nas vertentes mais húmidas (norte e nordeste) predominava a vegetação de características mais atlânticas, onde dominavam os carvalhos e os castanheiros.
A fauna era abundante, existiriam desde animais de pequeno porte como os coelhos e lebres até aos cervídeos de maior porte, os predadores como o lobo, a raposa seriam igualmente abundantes.
Com o advento da agricultura e da pastorícia, as comunidades humanas começaram lentamente a alterar o uso dos solo, enquanto as terras baixas e o vales férteis passaram a ser cultivados, os terrenos pedregosos da serra serviam de pastagens para o gado. De modo a facilitar o acesso, bem como a disponibilidade de herbáceas para pastagens o homem começou a usar o fogo para "limpar" o terreno.
A área circundante da serra continuou a ser bastante atrativa para a fixação humana e os aglomerados populacionais não deixaram de crescer, a madeira e o carvão eram então a única energia disponível para cozinhar e para aquecimento, resultando numa elevada pressão sobre os recursos naturais da serra.
No final do Séc. XIII a vegetação endémica da Serra de Sintra estava praticamente dizimada e o aspecto seria o de uma paisagem pedregosa com muito poucas árvores.
No Séc. XIX a aristocracia Portuguesa (e europeia) redescobre Sintra e no alvor do Romantismo instalam um pouco por toda a serra jardins edílicos compostos essencialmente por espécie exóticas, são o expoente máximo dessa tendência os parques da Pena e de Monserrate.

Antes do incêndio

Como vimos anteriormente, a vegetação natural da Serra de Sintra praticamente desapareceu, no entanto a partir da segunda década do Séc. XX, com a crescente industrialização, as práticas agrícolas vão sendo abandonadas e com elas as terras, isso resultou num aumento considerável dos matos.
Na década de 40 o governo decide estimular a plantação de pinhal nos terreno incultos, assim e com excepção dos parques românticos todos os terrenos do estado na Serra de Sintra foram florestados com pinheiro bravo, os proprietários particulares imitaram o estado e a Serra de Sintra ficou quase exclusivamente coberta de pinhal.
Já nos anos 60 foi decretada a proibição da apanha de matos na serra, actividade que embora já residual ainda era uma prática comum nas comunidades rurais que bordejavam a Serra de Sintra.
O verão de 1966 foi excepcionalmente seco e quente e nos dias que antecederam o incêndio as temperaturas na região ultrapassaram os 35 graus Celsius.

Situação e previsão do estado do tempo nos dias 6 a 12 de Setembro de 1966 - Fonte: Diário de Lisboa

A Serra se Sintra não dispunha à data do incêndio de uma rede de vigilância fixa, a tarefa era realizada pelos guardas florestais a partir das suas casas na serra e através de patrulhas mais ou menos regulares.
Os equipamentos, os métodos e o conhecimento para combater incêndios florestais de grande dimensões, à data eram muito rudimentares, não existiam viaturas todo o terreno de combate e os equipamentos individuais de protecção resumiam-se a um capacete de latão (que aquecia incrivelmente) e umas botas de borracha que com a conjugação da água, do suor e do calor coziam literalmente os pés.

Combate a incêndios nos anos 60

O fogo combatia-se batendo as áreas em chamas com ramagens verdes ou com batedores de lona (molhados), ou com ferramentas de sapador: Enchadas, pás, picaretas e serras (algumas, já mecanizadas). A técnica mais eficaz que era utilizada era o "contra fogo", que consistia em criar uma faixa de mato queimado junto da frente do incêndio de modo a cortar-lhe o combustível, acontece que esta técnica é de difícil aplicação e requer muita experiência, sob o risco de se acrescentar mais focos ao incêndio.
Embora nos anos anteriores tenham ocorrido alguns incêndios florestais na serra, o maior deles tinha queimado por completo em 1962 o mato da encosta sul da Peninha, não existia na Serra de Sintra uma rede de pontos de abastecimento de água que permitisse um rápido abastecimento dos meios de combate.
Estávamos ainda a muitos anos do uso sistemático de máquinas de rasto e meios aéreos, embora neste incêndio tais meios tenham sido ensaiados.

A 6 de Setembro de 1966 deflagra o incêndio

O dia amanheceu quente, por volta do meio dia, deflagra um foco de incêndio na Quinta da Penha Longa, próximo da Lagoa Azul, atendendo às condições atmosféricas e do terreno, o fogo rapidamente  ganha grandes dimensões e começa a lavrar com grande intensidade encosta acima em direcção à Quinta de Vale Flor e do Parque da Pena.

Local aproximado do inicio do incêndio

Os primeiros meios de combate chegam cerca de uma hora depois, logo que se percebe a dimensão do incêndio e convoca-se o reforço de outros corpos de bombeiros da região de Lisboa.
O combate encontra enormes dificuldades, a intensidade do incêndio, o vento, a falta de água (só se conseguia abastecer na Quinta de Vale Flor ou na própria Vila de Sintra), as dificuldades de acesso e juntando a tudo isto o "tradicional" voyerismo Português que encheu as estradas da serra e as imediações de curiosos.
Ao fim do dia o incêndio chegou a estar circunscrito, mas o aumento vento deixou-o novamente fora de controlo, ardiam essencialmente matos e áreas de pinheiro bravo, espécie florestal dominante à época na Serra de Sintra.
O agravar das condições atmosféricas, principalmente o vento, que provocava reacendimentos e projecções, levou a que aparecessem diversos focos de incêndio por toda a Serra e mesmo a alguma distância, chegando a ser noticiada uma projecção de material incandescente que provocou um foco de incêndio no Magoito, já a alguma distância da serra.
Com o evoluir negativo da situação começaram a ser convocadas para o combate algumas unidades militares da região de Lisboa, a partir desse momento o governo decidiu que o combate a este incêndio passaria a ser uma operação militar. Foi montado o posto de comando no quartel dos Bombeiros Voluntários de Sintra, mesmo no centro da Vila.
A logística da operação: locais de repouso, refeições, etc. era fornecida por militares e essencialmente por voluntários civis, na sua maior parte mulheres que se disponibilizaram a ajudar, mas era necessário transportar as refeições para os locais onde se combatia o fogo, o que era difícil.
O maior esforço recaiu sobre os bombeiros, pois a rendição dos militares do exército era mais fácil, o resultado era a degradação da disponibilidade física dos bombeiros, que passavam largas horas sem descanso e a alimentarem-se a água e bolachas, os militares, embora rendidos com maior frequência, devido à inexperiência neste tipo de situações encontravam-se mais vulneráveis, tendo-se verificado entre os mesmos alguns pequenos ferimentos e intoxicações.
O esforço de combate foi imenso, no primeiro dia estiveram envolvidos na operação 900 bombeiros (sapadores e voluntários) e cerca de 1200 militares para além de membros da Cruz Vermelha Portuguesa, Legião Portuguesa, Serviços Florestais e Defesa Civil do Território. Foram também muitos os civis que se voluntariaram para ajudar.
Para além dos métodos tradicionais de combate, utilizou-se pelo menos uma máquina de rastos (bulldozer) militar, um expediente invulgar na época.
Foram várias as povoações serranas que estiveram ameaçadas pelas chamas: Eugaria, Malveira da Serra, Urca, Penedo, Colares e mesmo a Vila de Sintra chegaram a estar em perigo. Ameaçados estiveram também os palácios: Pena, Monserrate, Seteais e Quinta da Penha Verde, de onde chegaram a ser retiradas mobílias e objectos de valor.

Aspecto do incêndio

Destaca-se o facto de se terem conseguido salvar os parques da Pena e de Monserrate, locais de grande importância histórica e botânica, na Pena o fogo chegou à Cruz Alta e a segurança do Parque contou com uma secção de bombeiros e o apoio técnico do Professor Engª. Baeta das Neves, profundo conhecedor do parque e bisneto da Condessa D'Edla uma das "construtoras" do mesmo no Séc. XIX.
Devido às condições atmosféricas adversas, no mesmo período registaram-se outros fogos florestais na região de Lisboa: Serra da Carregueira, Quinta da Fontareira em Belas, Mata do Estádio Nacional, Odivelas, Santa Iria de Azoia e S. João da Talha, foram algumas das localidades afectadas, isso provocou a dispersão de meios e uma dificuldade acrescida.

Ao segundo dia a tragédia

Ao fim da tarde do dia 7, um grupo de militares encontrava-se desaparecido, mas atendo às notórias dificuldades de comunicação e uma vez que na maior parte das vezes os grupos trabalhavam autonomamente pensava-se que estivessem noutra área da serra em combate ou a descansar. Na altura chegou-se mesmo a avançar com a hipótese de terem desertado, uma vez que 22 deles estavam mobilizados para seguirem para a guerra em Angola no dia 16.
Na estrada que vai dos Capuchos para a Peninha, relativamente perto do cruzamento do Convento, foram encontrados 3 camiões calcinados pelo fogo, mas não foram de imediato relacionados com o grupo desaparecido, 25 homens, todos militares do Regimento de Artilharia Anti-aérea Fixa de Queluz (R.A.A.F)  alguns casados e com filhos menores.
Os corpos foram localizados por dois jovens irmãos (Duarte e Gonçalo Lima Mayer), conhecedores da serra que serviam de guias aos grupos de combate pelas 16:30 do dia 8 quando iam buscar água a uma mina próxima.
Os corpos apresentavam-se dispersos numa área de poucas dezenas de metros, nas mais variadas posições: de joelhos, como os braços a proteger a cara ou mesmo abraçados.
Os corpos foram levantados algumas (muitas horas depois, na madrugada de dia 9) na presença do subdelegado de saúde acompanhado por médicos militares e de um sacerdote.
Uma vez que ninguém do grupo escapou com vida, os contornos da tragédia foram reconstituídos a partir dos indícios no terreno, , teriam ficado cercados pelo fogo na encosta junto à estrada, tentaram em vão abrigar-se numa mina de água próxima, que se encontrava protegida por uma porta de ferro que tentaram arrombar, não o conseguindo abandonaram a ideia e ultrapassaram uma pequena barreira de fogo na parte superior da estrada, mas a meia encosta viram-se totalmente rodeados por fumo e chamas, e sem escapatória acabaram por perecer carbonizados, muito provavelmente no momento fatídico estariam já inconscientes por acção do fumo e do calor intenso.

Mina de água onde alegadamente teriam procurado refúgio

No entanto do grupo inicial de combate houve um sobrevivente, que se separou alguns minutos antes do grupo e em vez de subir a encosta, correu no sentido descente, conseguindo furar a barreira de chamas e alcançar a estrada onde foi posteriormente socorrido, com queimaduras graves mas livre de perigo, se os outros tivessem tomado a mesma iniciativa, ou se têm conseguido entrar na mina, certamente que o número de baixas teria sido inferior.
O incêndio devido às suas proporções e consequências suscitou a preocupação geral da população Portuguesa em geral e do governo e classe politica em particular, o Presidente da Republica, Américo Tomaz deslocou-se mesmo ao teatro de operações, para se inteirar in-loco das ocorrências.
Os funerais das vitimas realizou-se no dia 10, os corpos saíram da capela do Hospital Militar de Lisboa, onde foi celebrada missa de corpo presente pelo Cardeal Patriarca de Lisboa, D. Manuel Cerejeira estiveram representadas as mais altas entidade militares e civis. Foram a enterrar nas suas terras de origem.

Fonte: Diário de Lisboa
Fonte: Diário de Lisboa

Nos dias seguintes os reacendimentos iam acontecendo e a situação operacional ia-se degradando, principalmente no seio dos Bombeiros Voluntários que para além de todas a provações físicas, tinham de faltar ao trabalho (habitual) para poder combater o fogo, o que resultava em grande prejuízo uma vez que esses dias não eram remunerados. Continuavam no terreno vários milhares de homens.

Fonte: Diário de Lisboa
A partir do dia 11 e apesar de alguns reacendimentos, pouco já havia para arder e com as condições do tempo a ficar mais favoráveis o dispositivo começa a desmobilizar, mantendo-se no terreno cerca de 1500 homens (1000 bombeiros e 500 militares do exército).
Talvez pela primeira vez, utilizaram-se em portugal meios aéreos numa operação de combate a fogos florestais, não directamente no combate mas na detecção de reacendimentos e novos focos de incêndio.

Finalmente a chuva

Na madrugada do dia 12 de Setembro quando se combatia um reacendimento de grandes dimensões na Tapada do Mouco, a ajuda chegou do céu sob a forma de uma chuva miudinha (tão característica da Serra de Sintra) que rapidamente apagou os últimos focos de incêndio colocando um ponto final no incêndio.

Depois do incêndio

Apagado o incêndio chegou a hora do balanço, a área ardida era imensa, ia da Lagoa Azul aos Capuchos e do Guincho à Vila de Sintra, os Serviços Florestais estimavam que se teriam perdido um terço da área florestada da Serra, cerca de 50 km2 essencialmente pinhal.

Extensão (estimada) da área ardida.
Estiveram envolvidos no combate às chamas e nos serviços de apoio cerca de 4000 homens e 39 viaturas, tendo-se verificado um balanço trágico de 25 mortos.
A origem do fogo terá sido investigada pela policia judiciária, e embora desde o inicio se tenha suspeitado de fogo posto, nunca se conseguiu encontrar o autor ou provar intencionalidade, sendo como mais provável que tenha resultado de uma acção negligente.
Chegaram a ser detidos no dia 11 dois indivíduos cadastrados, residentes na Ribeira de Sintra suspeitos de atear fogos na Serra, no entanto não foi possível provar a sua intervenção na origem do incêndio. foram depois detidos mais dois,que viriam igualmente a ser libertados alguns dias depois por não se conseguir relacioná-los com o sinistro.
Não existindo nenhum sobrevivente do grupo que pereceu na encosta do Monge, os contornos da tragédia ficaram no campo das suposições, existindo mesmo quem pusesse em causa a tentativa de refugio na mina de água, alegando-se com alguma razão que desconhecendo o terreno em pormenor seria impossível dar com a mina no meio do fumo intenso, e que se tivessem chegado à mina com as ferramentas que transportavam, facilmente teriam conseguido arrombar a pequena porta de ferro, e alcançado um refugio seguro. As marcas da tentativa de arrombamento teriam sidos provocados por outra pessoa ou grupo, pior apetrechado. Seja como for, prevaleceu a teoria que tentaram encontrar refugio, talvez por acrescentar (desnecessariamente)  mais um elemento de resistência e de heroísmo.

Fonte: Diário de Lisboa
Os Serviços Florestais, secundados pelos poderes políticos declararam a intenção de limpar a área ardida e de reflorestar com as mesmas espécies.

50 anos depois

A prometida reflorestação acabou por nunca ser feita, ou pelo menos nos moldes prometidos, talvez por não fazer sentido reflorestar a Serra de Sintra integralmente com pinheiros, Entretanto foram tentadas inúmeras acções de reflorestação com árvores e outras plantas autóctones, mas cujo sucesso tem ficado sempre aquém do esperado e desejado. Vão ganhando terreno as espécies invasoras, encabeçadas pela Acácia, neste momento a maior parte da área ardida em 1966 encontra-se colonizada por acácias com grave prejuízo para os habitats serranos.
Algum tempo depois foram plantados na encosta onde os malogrados militares tombaram, 25 ciprestes, devidamente alinhados, um por cada vida humana perdida; Foram ainda erigidas duas placas evocativas com todos os nomes dos que ali faleceram, uma junto da mina de água que fica na estrada que liga os Capuchos à Peninha e outra num afloramento rochoso um pouco mais acima, numa clareira da estrada florestal (de terra batida) que liga os Capuchos ao Monge, local que desde então assumiu o topónimo de "Alto da Memória" e onde invariavelmente todos os anos por ocasião da data do incidente se realiza a devida homenagem com direito a honras militares e civis,

Localização dos memoriais

Placa evocativa colocada no Alto da Memória

Cerimonia Militar (colocação de coroas de flores) no Alto da Memória

Cerimonia Militar junto dos 25 ciprestes

Memorial junto da mina de água

Mas nem tudo são más noticias, de um modo geral a valorização e protecção da Serra de Sintra tem avançado inequivocamente, destacando-se:
  • A 15 de Outubro de 1981 é criada a Área de Paisagem Protegida de Sintra - Cascais
  • Passagem à categoria de Parque Natural em 11 de Março de 1984
  • Inclusão a 6 de Dezembro de 1995 de Sintra (incluindo uma boa parte da serra) na Lista de Sítios de Património Mundial da UNESCO com a categoria de Paisagem Cultural
  • Inclusão na Rede NATURA 2000

Actualmente existe um rigoroso plano de protecção da serra contra incêndios florestais, os meios técnicos e os métodos de detecção e combate evoluiram extraordinariamente, a Serra de Sintra encontra-se mais protegida que nunca, mas há ainda muito trabalho para fazer neste magnifico lugar que é de todos nós e que é da responsabilidade de todos nós cuidar e proteger, para que tragédias como a de 1966 não se voltem a repetir.



"Memorias de Fogo"
Documentário que destaca as memórias de antigos Mestres florestais que dedicaram a sua vida à defesa da floresta.
Realização de Frederico Miranda no âmbito do projecto FIRE PARADOX




Testemunho - Incêndio da Serra de Sintra em 1966
O incêndio de 1966 na Serra de Sintra na primeira pessoa, relato dos acontecimentos por um interveniente directo, o Comandante José França Sousa, à data oficial da GNR e responsável máximo pelos Bombeiros Voluntários Lisbonenses.




Referências Bibliográficas


 por: Luís Baltazar

Fonte do texto e das imagens : Ambitare Scriptum

 

A TRAGÉDIA DA SERRA DE SINTRA

 

incendio

Passam em setembro 58 anos sobre o trágico e dramático incêndio da Serra de Sintra. Aconteceu a 7 de Setembro de 1966, e demorou uma semana a combater. No rescaldo, perderam a vida 25 soldados.

O incêndio alarmou toda a população de Sintra, e tem-se conhecimento de que foi um guarda florestal a primeira pessoa a comunicar à administração florestal, por volta das 12 horas do dia 6 de Setembro, que havia fogo na propriedade da Penha Longa. Para o local seguiram os bombeiros de S. Pedro de Sintra, “apenas às 12h57m” e os Bombeiros de Colares, “duas horas depois, foram alertados”.

Embora à noite tudo levasse a crer que o fogo estava praticamente dominado, a verdade é que, apesar de todos os esforços desenvolvidos para extinguir o incêndio ao romper da madrugada seguinte, as chamas começaram a descer a encosta virada a norte, tendo devorado toda a zona verde da Quinta do Saldanha, Penha Longa, Lagoa Azul, Quinta de Vale Flor (conhecida pela mata da Malhada e pelo Cabeço do Forcado), Mata Ruiva e Parque da Mata de Dª. Maria, Rio da Mula e Quinta dos Pisões.

A meio da tarde, é lançado através das rádios, um apelo a todas a entidades civis e militares, que possuíssem autotanques, para colaborarem no combate ao fogo, mandando concentrar todos os veículos na Lagoa Azul e no Largo da Palácio Nacional da Vila (Sintra).

Na tarde de 7 de Setembro de 1966 morrem nas chamas 25 militares do Regimento de Artilharia Antiaérea Fixa (RAAF) de Queluz.

Os dias 10, 11 e 12 de Setembro corresponderam à fase de rescaldo, havendo, ainda a salientar que no último dia os bombeiros tiveram a ajuda da chuva, o que veio resolver de uma vez por todas aquele flagelo.

No combate às chamas ficaram feridos e intoxicados vários bombeiros, soldados e populares que receberam tratamento no Hospital de Sintra e nos postos clínicos instalados na Serra, sendo os casos mais graves tratados no hospital de São José, em Lisboa.

O Diário de Notícias, de 10 de Setembro de 1966 fala de 25 cadáveres, enquanto o Diário Popular de 9 de Setembro, em entrevista ao soldado Alberto António Silva, que viveu a tragédia de Sintra, não confirma o “número exacto de camaradas que faleceram”, acrescentando que “o grupo do aspirante Barros Tavares, deslocou-se para a direita da encosta. Não se sabe quanto homens levaria consigo”.

Uma tragédia a recordar. Sempre