UTILIZA ESTE LOCAL PARA RELATAR NOTÍCIAS OU EVENTOS ACTUAIS, E OUTRAS HISTÓRIAS DE INTERESSE HUMANO.
28.4.24
Para que servem as 12 teclas "F" que aparecem na parte superior do seu teclado?
8.4.24
Novas moedas de 5€
Nove perguntas e respostas sobre as novas moedas de 5€ (sim, moedas)
Veja os cuidados a ter para não ser enganado.
© Shutterstock
08/04/24 08:54 ‧ Há 3 Horas por Notícias ao Minuto
Economia Dinheiro
Este ano entram em circulação seis novas moedas de cinco euros, que são de coleção, lembrou a DECO PROteste. Sabe como vão funcionar e em que consistem? A organização de defesa do consumidor preparou um conjunto de nove perguntas e respostas que ajuda a esclarecer algumas dúvidas. Fique a par.
1. A nova moeda de 5€ vale o mesmo que a nota de 5€?
"Sim, as novas moedas de cinco euros que vão entrar em circulação até ao final do ano têm um valor facial de cinco euros, o que significa que valem tanto como notas de cinco euros."
2. O que faço se me pagarem com uma moeda de 5€?
"Se receber um pagamento ou um troco com as novas moedas, pode usá-las, desde que sejam aceites como meio de pagamento. O valor destas moedas é o mesmo que o das moedas e notas correntes."
3. Como sei que não se trata de uma moeda falsa?
"As características de cada uma destas moedas de coleção estão disponíveis no site do Banco de Portugal. Para detetar uma moeda falsa, verifique os vários elementos de segurança da moeda; não se baseie apenas num deles. Preste especial atenção aos relevos, aos bordos e às propriedades magnéticas de algumas moedas."
4. Posso recusar o pagamento com uma destas moedas?
"Os operadores económicos (supermercados ou outros estabelecimentos, por exemplo) não podem recusar as moedas de coleção, mas o consumidor individual não é obrigado a aceitá-las. O Banco de Portugal sugere que, caso não pretenda aceitar as moedas, peça educadamente para receber a mesma quantia de outra forma."
5. Podem recusar o meu pagamento com uma destas moedas?
"Desde que seja autorizada em Portugal, como é o caso da nova moeda de cinco euros, à partida, nenhuma nota nem moeda pode ser recusada, seja qual for a sua natureza. Apesar disso, ninguém é obrigado a receber, num único pagamento, mais do que 50 moedas."
6. Posso usar moedas comemorativas em máquinas de pagamento automático?
"As máquinas de pagamento automático estão calibradas de acordo com as notas e as moedas de uso corrente. Tendo em conta que não há moedas de cinco euros e de 7,5 euros de uso corrente, as moedas comemorativas destes valores não deverão poder ser usadas nas máquinas. Já as moedas comemorativas de dois euros, cujas características são muito semelhantes às das moedas de dois euros correntes, não deverão levantar problemas a este nível."
7. As novas moedas podem ser usadas para pagar noutros países?
"As moedas emitidas para fins numismáticos ou de coleção, como é o caso, apenas estão autorizadas em Portugal, pelo que não são de aceitação obrigatória no estrangeiro."
8. Podem pedir-me mais do que o valor facial por esta moeda?
"Apesar de o valor pecuniário destas moedas de coleção estar fixado em 5 euros e 7,5 euros, o Banco de Portugal determina que, em função dos diferentes tipos de acabamento, do eventual recurso a metais nobres, ou da embalagem, as moedas de coleção possam ser vendidas pelo valor facial ou por um valor superior a esse."
9. As notas de 5€ vão acabar?
"Não está previsto que as notas de cinco euros deixem de estar em circulação. Tratando-se de uma moeda de coleção, a nova moeda de cinco euros vai existir ao mesmo tempo que a nota com o mesmo valor."
Leia Também: Vem aí mais uma moeda de coleção e vale 7,50€ (sim, leu bem)
6.4.24
2023. CLIMA
O mais quente a nível Global
2024-04-05 (IPMA)
O relatório State of the Global Climate2023 , da Organização Meteorológica Mundial (WMO), apresenta uma síntese do estado dos indicadores climáticos em 2023, dos quais podemos destacar a temperatura do ar à superfície, temperatura da superfície e da superfície do oceano à escala global, concentração de gases com efeito de estufa, quantidade de calor dos oceanos, nível do mar, acidificação dos oceanos, gelo marinho do Ártico e da Antártico, placa de gelo da Gronelândia, glaciares, cobertura de neve, precipitação e ozono estratosférico, bem como a análise dos principais fatores de variabilidade climática interanual, incluindo o El Niño - Oscilação Sul.
Em relação aos fenómenos extremos destacam-se os relacionados com
ciclones tropicais, tempestades de vento, cheias, secas e extremos de
calor e frio. Este relatório apresenta também as mais recentes
conclusões sobre riscos e impactos relacionados com o clima, incluindo a
segurança alimentar e a deslocação das populações.
Em termos de resultados, o ano de 2023 foi o mais quente desde que há
registos.A temperatura média do ar global em 2023 foi 1.45 ± 0.12 °C
acima da média de 1850–1900, valor muito perto do limite inferior de
1.5° C do Acordo de Paris sobre as alterações climáticas.
Destaca-se neste relatório os seguintes indicadores:
• Temperatura do ar: 2023 foi o ano mais quente dos últimos 174 anos
(registos de observação), ultrapassando claramente o anteriorano mais
quente, 2016, 1.29 ± 0.12 °C acima da média de
1850–1900 (Fig. 1). Os últimos nove anos, 2015–2023, foram os mais quentes desde que há registos.
• Gases de efeito estufa:a concentração dos três principais gases de
efeito estufa – dióxido de carbono, metano e óxido nitroso –atingiu
níveis recordes observados em 2022, o último ano para o qual os valores
globais consolidados estão disponíveis (1984–2022). Dados em tempo real
de locais específicos mostram que os níveis dos três gases de efeito de
estufacontinuaram a aumentar em 2023.
• Oceanos:o conteúdo de calor dos oceanos atingiu o seu nível mais
alto nos últimos 65 anos (registos de observação).Um período prolongado
de La Niña, desde meados de 2020 até o início de 2023, deu lugar a
condições de El Niño que se estabeleceram até setembro de 2023, o que
contribuiu para o aumento da temperatura média global da superfície do
mardurante 2023.
• Nível médio do mar: em 2023, o nível médio do mar a nível global
atingiu um máximo histórico nos registos de satélite (de 1993 até ao
presente), refletindo o aquecimento contínuo dos oceanos, bem como o
derretimento de glaciares e mantos de gelo.A taxa de aumento médio
global do nível médio do mar nos últimos dez anos (2014-2023) é mais do
dobro da taxade aumento do nível médio do mar na primeira década dos
registos de satélite (1993–2002).
• Gelo marinho do Ártico: a extensão do gelo marinho no Ártico
continua muito inferior ao normal em 2023(Fig. 2), com a extensão máxima
anual e a extensão mínima anual a serem respetivamente o 5º e 6º
valores mais baixos desde 1979 (inicio dos registos de satélite). A
Antártida também atingiu um mínimo absoluto recorde no mês de fevereiro e
um mínimo histórico desde junho ao início de novembro.
• Cobertura de gelo Gronelândia: foi o verão mais quente já registado
na estação Summit, 3.4 °C mais quente que a média 1991–2020e 1.0 °C
mais quente que o anteriorrecorde.
• Glaciares: os glaciares da parte oeste da América do Norte e nos
Alpes Europeus tiveram umperíodode diminuição extrema. Na Suíça, os
glaciares perderam cerca de 10% do seu volume restante nos últimos dois
anos.
• Eventos extremos: as condições meteorológicas extremas continuaram a
causar graves impactossocioeconómicos.O calor extremo afetou muitas
partes do mundo, incêndios florestais no Havaí, Canadá e Europa levaram à
perda de vidas, destruição de casas e poluição atmosférica em grande
escala. Inundações associadas a chuvas extremas do ciclone Daniel no
Mediterrâneoafetou a Grécia, a Bulgária, a Turquia e a Líbia comperdas
de vidas em particular na Líbia.
4.4.24
TORNADOS EM PORTUGAL CONTINENTAL
Tornados, 28 de março
2024-04-04 (IPMA)
No
passado dia 28 de março o bordo sul da depressão “Nelson”, com
ondulações frontais associadas, afetava o território do continente,
promovendo, a partir da manhã, um fluxo de oes-sudoeste moderado a forte
sobre o território (figura 1). Nas regiões do centro e do sul, à
passagem de uma ondulação frontal de noroeste para sueste,
encontravam-se reunidos os ingredientes necessários à formação de nuvens
com desenvolvimento vertical, por vezes com natureza de supercélula
(SC). Estas perturbações são caraterizadas pela presença de um
mesociclone (MC), que corresponde a um movimento de rotação na nuvem,
organizado, mas que se estabelece apenas em altitude. Só em condições
muito particulares é possível a formação de um tornado, a partir do
referido MC. Tornado implica, por definição, a presença de um vórtice em
contacto com a superfície. O ambiente atmosférico ao final da manhã e
tarde deste dia era, igualmente, caraterizado por um escoamento muito
forte aos vários níveis, em que células convectivas coexistiam, por
vezes, com bolsas de ar relativamente mais seco. Nestas condições é
favorecido o transporte, vertical, de parcelas de ar com momento linear
de grande magnitude, de modo que as correntes de ar associadas à
precipitação, podiam causar a ocorrência de rajadas muito fortes de
vento, em níveis baixos. Estes fenómenos, denominados por rajadas
convectivas são, em geral, muito repentinos e localizados.
Durante a tarde deste dia foram reportados episódios de vento e
precipitação forte, em diversos locais da área metropolitana de Lisboa e
do sul do território do continente. A maior parte destes episódios de
vento forte terá estado associada a rajadas convectivas. Alguma da
documentação consultada permite concluir que, por vezes, a magnitude das
rajadas terá excedido os 100 km/h.
Sobre o rio Tejo foi observado um vórtice de tornado, ao início da
tarde. Na figura 2 é possível seguir o padrão de dipolo na velocidade
Doppler correspondente à SC que veio a produzir o fenómeno. Pelas 13:57
UTC (UTC = hora local nesta data) a SC situava-se a oeste da foz do rio
Tejo (figura 2a). Com uma advecção de 23 m/s (83 km/h) na direção
es-nordeste, a SC cruzou todo o sul da cidade de Lisboa, entre a zona de
Belém (figura 2b) e a zona oriental da cidade (figura 2c), onde se
situava pelas 14:17 UTC, já próximo da Ponte Vasco da Gama. Dez minutos
após, a assinatura do dipolo era ainda perfeitamente visível,
encontrando-se a SC já sobre os terrenos sedimentares do estuário do
Tejo (figura 2d). Pela análise dos elementos disponíveis até ao momento,
o tornado ter-se á iniciado sobre a água do estuário, provavelmente já a
este da Ponte Vasco da Gama, no período compreendido entre as 14:21 e
as 14:24 UTC. Não são conhecidos efeitos de destruição associados ao
tornado, pelo que não é possível estimar a sua intensidade.
Para o final da tarde, no Barlavento algarvio, foi reportado um episódio
de vento forte em Benaciate (freguesia de S. Bartolomeu de Messines,
concelho de Silves). Pela análise das observações com radar,
documentação e relatos, confirmou-se que a ocorrência esteve associada a
um tornado. Na figura 3 pode seguir-se a evolução da SC que gerou o
fenómeno. Pelas 17:07 UTC a SC situava-se ainda sobre o mar (figura 3a),
localizando-se nas proximidades de Lagoa (concelho de Lagoa) dez
minutos após (figura 3b). Com uma advecção de 22,5 m/s (81 km/h) na
direção es-nordeste, pelas 17:27 UTC esta SC situava-se próximo do local
de onde foi reportada a ocorrência (figura 3c) e, dez minutos mais
tarde, já se encontrava após a auto-estrada A2 (figura 3d). Este tornado
destruiu duas casas pré-fabricadas, danificou outras habitações e
causou a queda de árvores de grande porte que danificaram viaturas, a
queda de postes de telecomunicações e de energia. Ignora-se a extensão e
largura do trajeto de destruição deste fenómeno.
Uma análise preliminar dos efeitos da destruição reportada no local,
aponta para que o fenómeno tenha alcançado uma intensidade de, pelo
menos, F1/T2 (escala clássica de Fujita/escala de Torro), correspondendo
a vento na gama 33-41 m/s, ou seja, 119-148 km/h (rajada, média de 3s).
Estes valores devem ser considerados como provisórios, podendo vir a
ser confirmados ou alterados proximamente.
Imagens associadas
3.4.24
O REI SEM ABRIGO.
"O facto de uma amante não ter sido só e apenas isso foi um problema"
O
diplomata José de Bouza Serrano publicou este ano a obra 'O Rei Sem
Abrigo - Don Juan Carlos I de Espanha', na qual fala sobre a vida do
antigo soberano espanhol, desde a infância até aos dias de hoje. Em
entrevista ao Fama ao Minuto, o autor partilhou o que o motivou a contar
esta história agora e falou sobre o episódio mais trágico da vida do
rei emérito e aqueles que considera terem sido os maiores acertos e
erros do seu percurso enquanto Chefe de Estado, que durou quase 40 anos.
© Sara Matos / Global Imagens
03/04/24 09:20 ‧ Há 8 Horas por Inês de Brito Martins
Em janeiro de 2024 escreveu o livro 'O Rei Sem Abrigo - Don Juan Carlos I de Espanha', no qual conta a história de vida do rei emérito, desde a infância até aos dias de hoje, sem esquecer a conjuntura política que acompanhou todo este período.
Da ditadura franquista à monarquia constitucional, José de Bouza Serrano fala sobre a infância de Juan Carlos no exílio, a trágica morte do irmão mais novo, Don Alfonso, as amantes e as dívidas fiscais, entre outros temas que marcam a vida do rei emérito.
‘Sem abrigo’, é um título muito forte. Mas como é que se classifica uma pessoa a quem não é permitido dormir no seu país, onde foi rei durante 40 anos?
Porque é que decidiu escrever este livro agora?
Este ano assinalam-se dez anos da abdicação do rei Juan Carlos, mas nem foi tanto por causa disso. Era uma coisa que eu queria ter feito há já algum tempo, por ser uma pessoa que admiro muito. Um dia, quando puserem os dois pesos na balança e virem bem o que ele fez pelo país, o seu fim de reinado acabará por ser, não esquecido, mas, no mínimo, desvalorizado. Não terá a importância que hoje em dia lhe damos.
Optou por um título forte - ‘O Rei Sem Abrigo - Don Juan Carlos I de Espanha’. Porquê esta escolha?
‘Sem abrigo’, é um título muito forte. Mas como é que se classifica uma pessoa que, por exemplo, vai à festa dos 60 anos da filha mais velha [a infanta Elena, celebrados no passado dia 23 de dezembro] e não lhe é permitido dormir no seu país, onde foi rei durante 40 anos?
Agora, olhando para trás, é fácil perceber que foi um erro (...) E é também difícil, quanto mais tempo passa e mais confiança se vai dando à pessoa, acreditar que ela nos vai atraiçoar desta forma
O rei teve várias amantes ao longo da vida, sendo a mais conhecida Corinna Larsen, não só por ter sido um caso relativamente recente, como também pelo facto de a empresária ter sido paralelamente um apoio para o antigo soberano nos negócios. Considera que foi um erro Juan Carlos ter ‘misturado’ o lado sentimental com o profissional?
O facto de uma amante não ter sido só e apenas isso foi um problema. O mais que poderia ter acontecido era essa mulher ter sido revelada como amante do rei, mas ele teve várias e nunca isso foi um problema.
O problema está em tudo o resto. Ela criou duplo papel. No fundo, ele admirava-a muito fisicamente. Por outro lado, ela era uma mulher muito esperta, uma mulher de negócios, muito hábil e ele ficou seduzido por tudo isso. Além disso, ela assume um papel de destaque numa altura em que o rei tinha ficado sem o gestor dele e ela era ótima para o cargo, muito organizada, sabia muito bem apresentar as coisas. E entrou numa série de funções, incluindo junto dos ‘irmãos árabes’, como Juan Carlos chamava a alguns líderes dos Emirados. Talvez tenha sido esse o erro, ela acabou por saber demais.
Não considera essa atitude do rei um pouco ingénua?
Completamente. Ele sempre acreditou na sua ‘boa estrela’ e achou que ela se tinha apaixonado perdidamente por ele, com aquela idade… como se ele fosse eternamente jovem! Considerou que ela nunca iria ‘pôr a boca no trombone’ e contar o que sabia [sobre os negócios com a Arábia Saudita, que valeram a Juan Carlos uma avultada dívida às Finanças e a saída de Espanha]. Agora, olhando para trás, é fácil perceber que foi um erro, mas na altura talvez não fosse assim tão óbvio. E é também difícil, quanto mais tempo passa e mais confiança se vai dando à pessoa, acreditar que ela nos vai atraiçoar desta forma.
Ele nasceu no exílio e, neste momento, ninguém diz que ele está nessa condição. Mas no fundo é um exílio
Diz-se que o rei a certa altura quis divorciar-se da rainha Sofía para se casar com esta amante…
Claro, mas ela nunca, nunca se iria divorciar. E muito menos depois das traições e de tudo o que aguentou ao longo de tantos anos. E ela, sendo grega, goza de popularidade entre os espanhóis, que é coisa, por exemplo, que com a Rainha Letizia, que é espanhola, já não acontece tanto.
Porque é que Juan Carlos terá decidido abdicar do trono ainda antes de celebrar 40 anos de reinado?
O rei nem abdicou logo, porque achava que o casamento dos então príncipes de Astúrias – Felipe e Letizia - não estava ao nível de solidez e popularidade do dele com a rainha Sofía. Por outro lado, o seu apego ao poder também contou. Ele passou por muito, teve de ‘comer cobras e lagartos’ para chegar ao trono, queria muito celebrar os 40 anos de reinado e isso não lhe foi permitido.
Depois, foram uma série de acontecimentos que precipitaram o fim, incluindo aquela caçada no Botswana. Numa altura em que o país enfrentava dificuldades - tal como Portugal – o rei ausentar-se para fazer uma caçada sem avisar ninguém… Poderia ter passado despercebido, não fosse o terrível acidente que sofreu [caiu e fraturou a anca], que o obrigou a ser transportado para Madrid para ser operado.
Estou convencido de que, apesar das divergências dos últimos anos, a vontade do filho [Felipe VI] é que o pai regresse. Se nas próximas eleições houver uma viragem à Direita – qualquer Direita -, acho que o rei voltará
Desde agosto de 2020 que o rei reside fora de Espanha, nos Emirados Árabes Unidos...
Ele nasceu no exílio e, neste momento, ninguém diz que ele está nessa condição. Mas no fundo é um exílio.
O que é que teria de acontecer para Juan Carlos poder deixar Abu Dhabi e regressar a Madrid?
Basta este governo sair, basta Pedro Sánchez sair. Estou convencido de que, apesar das divergências dos últimos anos, a vontade do filho [Felipe VI] é que o pai regresse. Se nas próximas eleições houver uma viragem à Direita – qualquer Direita -, acho que o rei voltará.
Qual considera que foi o maior erro no percurso do rei ao longo das quase quatro décadas em que reinou?
Ter acreditado demasiado na sua ‘boa estrela’ e na sua intuição. E depois, ter tido uma grande necessidade de ser feliz. Ou seja, de ter uma série de coisas de que se privou durante muito tempo, nomeadamente durante a infância e adolescência, em que imperou a ditadura de Franco.
Ele achou sempre que ia escapar dos problemas, até porque durante muito tempo havia um certo pacto com a imprensa [de não atacar a imagem da monarquia]. Mas os tempos mudaram. As traições são mal vistas, muito pior do que antigamente e claro, compreende-se, é uma questão de moral.
E o maior acerto?
Sem dúvida, levar a democracia para Espanha, após o regime franquista, algo que parecia impensável. E, além disso, conseguir mantê-la.
Ele teve tudo, chegou até mais longe do que sonharia ter chegado, conseguiu uma popularidade extraordinária e mudou o radicalmente o país. Mas nada disso lhe tira aquela mágoa que ele tem
Há um capítulo no livro no qual refere que existem pessoas que acreditam que são amigas dos reis, por se moverem nos mesmos círculos, mas que isso não podia estar mais longe da verdade. Quer explicar?
Claramente não são. Os amigos do rei são os seus parentes, aqueles que são iguais a ele. Os restantes são pessoas que podem ser úteis num certo momento do reinado, mas que depois... Os reis são educados para serem bem educados. Portanto, são pessoas atenciosas, o que faz com que quem se relaciona com eles, mas não pertença à sua família, acredite sempre que está mais próximo do que realmente está. É apenas uma relação de conveniência.
Na obra diz que Juan Carlos não gosta de ser tratado por ‘rei emérito’. Porquê?
De facto, não gosta. Porque dá uma ideia de fim, de um reinado que já acabou, e isso não é uma ideia que lhe agrade. Mas tem de ser, até para o distinguir do filho, que é quem agora reina.
Considera que, atualmente, o povo espanhol é um pouco ingrato em relação a Juan Carlos, desconsiderando a conjuntura política que o levou a ascender e a manter-se no trono?
As novas gerações talvez, porque nunca viveram no franquismo. Não sabem o que se passou. Já nasceram em democracia e acham que foi sempre assim. O grande problema hoje em dia, principalmente das novas gerações, é uma certa falta de perspetiva histórica. Mas vejo acontecer o mesmo em Portugal.
É possível que toda a gente faça pouco dela. Onde já se viu a neta do rei a fazer essas figuras?
Quando era ainda adolescente Juan Carlos encontrava-se com o irmão, Alfonso, quando uma desgraça aconteceu. Ambos tinham uma pistola, que disparou acidentalmente e matou o mais novo dos filhos dos condes de Barcelona. Diz-se – ainda que nunca tenha sido comprovado – que era Juan Carlos quem segurava a arma…
Aquele episódio marcou-o para a vida toda. Mas ele soube sempre esconder bem isso. No entanto, o rei tem um olhar triste, um olhar melancólico. Ele teve tudo, chegou até mais longe do que sonharia ter chegado, conseguiu uma popularidade extraordinária e mudou o radicalmente o país. Mas nada disso lhe tira aquela mágoa que ele tem.
Regressando agora à atualidade, Victoria Federica – neta de Juan Carlos e filha da infanta Elena – decidiu há cerca de dois anos ‘abraçar’ a vida de influenciadora digital e vai até, em breve, entrar num reality show, 'El Desafío'. Como é que vê isso?
Vejo pessimamente. Não pode chegar a isso, de maneira nenhuma. As pessoas têm de guardar o seu círculo. Não é que não se possam dar com toda a gente, claro que podem, mas não foram criadas para isso [participar em programas televisivos e ter uma vida demasiado exposta]. Lamento, mas não se pode misturar desta forma. É possível que toda a gente faça pouco dela. Onde já se viu a neta do rei a fazer essas figuras?
Juan Carlos diz que gostaria de ser lembrado por ter cumprido o seu dever e por ter sido honesto. E isto não será possível
Acredita que Juan Carlos, olhando para todo o seu percurso enquanto monarca, terá alguma grande mágoa?
Acho que ele tem. Por estes últimos anos mais tristes. Juan Carlos diz que gostaria de ser lembrado por ter cumprido o seu dever e por ter sido honesto. E isto não será possível, não só pelos escândalos que salpicaram os seus últimos anos de reinado e de vida, como também pelo facto de ser preciso sempre um rei manter uma certa distância e alguma discrição e segredo. Tudo isso faz com que seja difícil que venha a ser recordado pela honestidade.
Qual o seu próximo projeto?
Para já não tenho nada em mãos. Gostava muito de escrever um romance, mas não sei se serei capaz! [risos] Seria uma obra com base nos meus 40 anos no Ministério dos Negócios Estrangeiros.
Leia Também: Infanta Elena em Abu Dhabi para passar a Páscoa com Juan Carlos