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25.12.23

VÓRTICE POLAR

 

Vórtice Polar: Possível quebra e consequências


Já muito se falou sobre o Vórtice Polar, mas é ainda um assunto muito complexo quer de explicar quer de entender.

Mas afinal do que é o Vórtice Polar?

Olhemos para um vórtice normal e que conhecemos do dia a dia, o Vórtice do escoamento da água da nossa banheira:

Vórtice na banheira

Um vórtice é uma área que “suga” para si um determinado elemento, afastando-o das extremidades e zonas mais afastadas e criando à sua volta uma circulação circular com velocidades de direção variável.

No ralo da banheira a água é conduzida para a saída, onde se forma o vótice. No caso da atmosfera, a chegada do Outono e do Inverno e a redução da atividade solar nos Polos, leva à criação de vórtices, mas de “mau tempo” nesses mesmos polos. Ou seja, os Polos são na prática o ralo da nossa banheira no Outono e Inverno.

Sendo sabido que tem chovido cada vez menos nos meses de Inverno, isso também se deve e muito à organização cada vez mais consistente dos Vórtices Polares. Na prática temos as depressões a serem “sugadas” para latitudes mais elevadas, em direção ao Vórtice, mantendo altas pressões em latitudes mais baixas, de forma mais consistente ao longo do Inverno. Daí, mas não só, o tempo mais seco que se tem verificado ao longo dos Invernos, bem como a dificuldades da neve chegar cá mais abaixo.

O Vórtice desenvolve-se em vários níveis da atmosfera

O Vórtice Polar começa a sua organização dos pontos mais elevados da atmosfera (designada estratosfera) e vem por abaixo, até à troposfera. Bem cedo, desde setembro (no Hemisfério Norte, no Sul é em Março) e por isso mesmo, setembro é o mês de transição para o outono, o Vórtice começa a sua organização a cerca de 30km de altitude (na estratosfera).

Obviamente que a organização não acontece de um dia para o outro! E a redução da atividade solar nos polos é decisiva para essa organização, primeiro em altitude e ao longo do Outono Climatológico, descendo para a troposfera.

A imagem seguinte mostra, pelas cores mais escuras (azul e lilás), a organização de um vórtice em duas camadas: Troposfera na primeira imagem e Estratosfera na segunda imagem:

A sua organização é mais significativa a partir de final de novembro, na entrada para o inverno Climático e, daí, ser cada vez mais recorrente (com as devidas exceções), o final de ano trazer tempo mais seco e com isso mesmo, as inversões térmicas, gelo, geada, sincelo, etc.

Se se organiza de cima para baixo na atmosfera, também se desorganiza assim…

Se há coisa que o Vórtice não gosta é de aquecimentos na sua envolvente e esse aquecimento começa por ocorrer na estratosfera (a cerca de 30km de altitude). O início da incidência solar na segunda metade do inverno (a partir de janeiro) leva a que o Vórtice comece a sofrer alguns “abanões”. Pequenos aquecimentos podem movê-lo para outros locais, saindo do Ártico e avançando, por exemplo, para a zona do Canadá. Ao passo que fortes aquecimentos podem mesmo partir o Vórtice em vários.

Voltemos à nossa banheira e pensemos que, em vez de um ralo tinhamos dois ralos! É na prática o que se sucede quando se fala de um grande aquecimento na estratosfera, ou melhor, aquecimento súbito da estratosfera (em inglês “Sudden Stratospheric Warming – SSW“).

Neste caso, o Vórtice está sujeito a uma destabilização tal que acaba por partir, sendo posteriormente cada parte encaminhada para outros locais. Geralmente um dos vórtices vai para a zona norte da América e outro para a zona norte da Europa. Mas podem surgir mais divisões… se o aquecimento for mesmo enorme!

Assim o aquecimento leva a que no local do Vórtice Polar vá estar uma alta pressão (ou tempo estável), representada pela zona de aquecimento e o Vórtice se divida, pelo menos em 2, como se vê nas zonas a preto.

Mas isto só poderá representar algum impacto para o tempo que sentimos cá em baixo se, como é óbvio, o Vórtice também se partir na troposfera. Não interessa partir na estratosfera, se na zona que comanda o estado do tempo ele continuar organizado e estável. Nesse cenário, na prática, pouca ou nenhuma influência terá essa mesma quebra.

O que poderá acontecer caso a quebra ocorra e caso passe para a troposfera?

Caso ocorra a quebra do Vórtice igualmente na troposfera, um dos efeitos mais conhecidos por todos é precisamente o dos fortes nevões nos EUA. Esse vórtice 1 da imagem acima costuma trazer fortes nevões e temperaturas muito baixas à região da América do Norte. Já no caso do Vórtice 2, é por vezes o responsável da famosa “Besta do Leste”, ou seja, a descida do Ártico para a Europa, com fortes nevões, temperaturas muito baixas, vindas de nordeste e afetando grande parte do Velho Continente.

Em Portugal, como estamos já na extremidade da Europa, os efeitos do frio intenso ou dos nevões não é tão evidente e esta mexida nas peças da atmosfera é geralmente acompanhada de mais chuva que neve, estabelecendo-se corredores atlânticos que são alimentados pelas massas de ar frio em altitude europeias e assim se mantém em regime de chuva mais continua, com neve a ocorrer na maior parte dos casos nos pontos médios e altos do território continental. Este corredor atlântico é igualmente criado para as ilhas.

2018 foi um dos melhores exemplos! Muitos não se recordam certamente, mas pouco ou nada choveu até dia 26 de fevereiro de 2018! Duas semanas antes o Vórtice sofreu um grande aquecimento súbito na estratosfera e os efeitos passaram para a troposfera (o vórtice era fraco, à semelhança do atual. Foram 45 dias praticamente seguidos de chuva e foi na prática a última vez que as albufeiras de sudoeste recuperaram significativamente os seus níveis!

A imagem seguinte mostra a grande recuperação das albufeiras em entre 27 de fevereiro e o final de abril de 2018:

Outra das situações possível de ocorrer é mesmo de frio intenso e mais seco, isto se o anticicone não migrar na íntegra para a Gronelândia, ou seja, se o anticiclone continuar a bloquear a circulação atlântica na nossa latitude. Esse é um cenário favorável a tempo menos chuvoso, mais seco, com fortes geadas e sincelo significativo, mas também, favorece mais a possibilidade de alguma depressão de características retrógradas poder vir a chegar à Península Ibérica, com potencial de neve a cotas baixas (e isso, para ocorrer, teria de ser entre 15 de janeiro e 10 de fevereiro essencialmente, que é o período mais favorável a neve ao nível do mar na nossa zona), caso contrário, as cotas começam a subir gradualmente.

Mas para que algo ocorra, ou seja, para que as peças do xadrez se mexam, é forçoso que o Vórtice instabilize nos níveis baixos da atmosfera e isso é o que é mais difícil de ocorrer… mais até que a quebra na estratosfera!

Quanto tempo leva para os efeitos surgirem?

10 a 15 dias depois da instabilização do Vórtice na Estratosfera, caso os efeitos se propagem para os níveis baixos, é o tempo que leva até o xadrez se mexer e os efeitos começarem a ser sentidos cá em baixo, por todos. Assim, se o Aquecimento começar a dia 1 de janeiro mais intenso, levando à quebra do Vórtice, geralmente temos de esperar 10 a 15 dias para termos efeitos.

Esse aquecimento tem alguma coisa a ver com Alterações Climáticas?

A resposta é Não! Se há coisa que pode ter algo a ver com as AC é efetivamente o que explicámos anteriormente, ou seja, a cada vez maior condução das depressões no Inverno para o Vórtice Polar, com o incremento de pressão na nossa latitude, secando mais o tempo por cá nos Invernos.

Está previsto ocorrer este ano de 2023?

O vórtice este ano é particularmente fraco e existem fortes sinais de que um SSW possa ocorrer entre final de 2023 e inícios de 2024, com quebra no Vórtice Polar Estratosférico. Sabendo que essa quebra é provável, temos de aguardar cerca de 10 dias para perceber se os efeitos podem passar para a troposfera e nessa altura sim, poderemos avançar com uma previsão mais concreta. A ocorrer e a propagar para a troposfera, este ano, terá efeitos na 2ª metade de janeiro e inícios de fevereiro e continuaremos a acompanhar com toda a atenção.

Obrigado pela leitura atenta e partilha deste artigo.

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