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25.12.14

ZÉ POVINHO. O NOSSO E O DOS OUTROS

   Nasceu da concepção de Rafael Bordalo Pinheiro, nesse ar simultâneamente pimpão e  Nossa Senhora Não - Te - Rales, que todos lhe conhecemos, a figura simbólica de « Zé Povinho »

ZÉ POVINHO

   « Zé Povinho » procura personificar as virtudes do bom povo lusíada, sonhador, resignado, sofredor e aventuroso.

 Nos olhos pinta-se-lhe sempre uma boa conta de esperteza, certa dose de malícia azougada e trocista, mas o ar bonacheirão do conjunto dá o resto, que possa ser o bastante para traduzir candura, credulidade, mansidão e paciência.

Não o tomem por tolo ou parvo - isso não é -, mas não se admirem de o ver deixar fazer o ninho atrás da orelha.


Ele dá por isso, muito bem o percebe, mas faz que não se importa, como se ele mesmo, na sua argúcia verdadeira, achasse muita graça aos que se supõem suficientemente argutos para lhe meter os pés nas algibeiras...












   Não se julgue, porém, que é exclusivo nosso esta representação iconográfica do povo.

 Pelo contrário, há muitas há muitas outras réplicas, bastante curiosas, tão populares como o nosso « Zé ».

 Não tem a Espanha o seu equivalente absoluto, mas lá está o famosíssimo binómio de " Don Quichote " e " Sancho Pança ", nascido na literatura, como símbolo vincado, por um lado, de espírito sonhador, sem controle nem fito certo, e de bom senso, às vezes de aparência ridicula, mas objectiva e pertinaz.

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O REPRESENTANTE DE ESPANHA


   Os franceses têm o seu  " Jacques Bonhomme ".

 É perfeitamente o seu « Zé Povinho » e, em data, muito anterior ao nosso, pois nenhuma dúvida se tem de que a designação já existia no século XIV.

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O REPRESENTANTE FRANCÊS


 A revolta dos camponeses, dessa época, ficou conhecida na História pelo nome de " Jacquerie ", ou seja a insurreição dos " Jacques ". Este " Jacques Bonhome ", cuja representação iconográfica não conhecemos, é tido como de carácter doce, mas astuto, alegre, talvez leviano, muito económico, vivaz, simultâneamente rotineiro e amigo da novidade.

 Capaz de suportar longo peso de contrariedades, quando se lhe quebra a muralha da paciência, as suas paixões desencadeiam-se como torrente impetuosa e levam tudo adiante pelo seu caminho...

   O grande desenhador Raemaerkers, cujos trabalhos antes da segunda guerra, quase diàriamente ilustravam a primeira página de" Le Soir ", de Bruxelas, simbolizava o Reich na figura de " Der  Deutsche  Michel " ( Miguel Alemão ). um camponês de calção, meia alta, com uma peninha espetada, à tirolesa.

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O REPRESENTANTE ALEMÃO


Atribuem-se-lhe as qualidades de um tanto bronco, pesadão, mas honesto e bom; não passa por muito manhoso, nem sovina, mas por ser capaz de suportar boa dose de injustiça.
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O REPRESENTANTE INGLÊS



   O inglês " John Bull ", traduzido à letra, em português quer dizer: João Touro.

Num povo onde o culto pelos animais sobe a um nível elevadíssimo, não admira, realmente que o inglês tenha deixado simbolizar-se por um animal cujas caracteristicas principais são a solidez, a rectidão, a lealdade e a força.


 Ignora-se a origem de tal designação, mas do escritor John Arbuthnot, falecido em 1735, ficou um livro intitulado  " História de John Bull ". É a mais antiga referência que se conhece. A figura está presente: sólido, atarracado, bota alta, corrente de ouro, o famoso chapéu igual ao que deve ter feito as delícias de Churchill, o estranho chapéu alto...baixo.


   Finalmente, na América do Norte há o  " Uncle Sam ", o  " Tio Sam ". Todos o conhecem: alto, esguio, com a sua barbicha rala ao vento, calças raiadas. O nome provém, ao que se supõe, das iniciais usadas para designar o país norte- americano: U.S. ( United States ).

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Dizem uns que foi um gracioso, dizem outros que foi um ignorante. Algumas vezes, até se tem entendido que a abreviatura de onde vem o nome de " Uncle Sam " é expressa deste modo : U.S. AM. ( United States America ).


   Todos estes afastados parentes têm, como se vê, uma ascendência comum: o propósito de em cada um deles fazer coincidir os defeitos e virtudes de cada povo, sem recear as deformações pitorescas da critica e da caricatura, antes as aceitando alegremente, como título de nobreza que com orgulho se possa ostentar...

21.12.14

JOSÉ d´ENCARNAÇÃO

  José d'Encarnação (José Manuel dos Santos Encarnação, São Brás de Alportel, 1944) é um professor universitário, arqueólogo e historiador português que se tem dedicado especialmente às temáticas da presença romana em Portugal e à epigrafia latina.

Biografia

José d'Encarnação licenciou-se em História pela Faculdade de Letras de Lisboa, em 1970. Concluiu, no Museu Nacional de Arte Antiga (Lisboa), o Curso de Conservador de Museus, em 1971-72. Neste mesmo ano, completou o Curso de Ciências Pedagógicas, na Faculdade de Letras de Lisboa. Doutorou-se em História na Universidade de Coimbra, na especialidade de Pré-História e Arqueologia, em 1984.

Cargos e funções

Foi nomeado Professor Catedrático da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, em 1991. Encontra-se na situação de aposentado desde Julho de 2007.

 Naquela universidade exerceu várias funções: Presidente do Conselho Pedagógico da Faculdade de Letras (1984-1986); Presidente da Comissão Científica do Grupo de História (1992-93); membro do Secretariado do Curso de Especialização em Assuntos Culturais no Âmbito das Autarquias (desde 1989); Coordenador geral, na Faculdade de Letras, dos programas SOCRATES/ERASMUS.

Foi director do Instituto de Arqueologia (2002-2004), da Universidade de Coimbra.

Dirigiu a revista Conimbriga e continua a orientar a publicação do Ficheiro Epigráfico, suplemento desta revista, editado desde 1982.

Integra o conselho redactorial ou consultivo de publicações periódicas, nacionais e estrangeiras, como Akhros (Melilla), Archivo Español de Arqueología (Madrid), Espacio, Tiempo y Forma (Madrid), Hispania Epigraphica (Madrid), Phoînix (Rio de Janeiro), Palaeohispanica (Saragoça), Salduie (Saragoça) e Veleia (Vitória, País Basco).

É responsável, juntamente com Guilherme Cardoso, pelo estudo da villa romana de Freiria (S. Domingos de Rana, Cascais), e pela investigação da ocupação romana no Concelho de Cascais.
É membro da Comissão Internacional que preside à organização dos colóquios sobre Línguas e Culturas Paleo-Hispânicas.

 É administrador das listas de correio (mailing lists): ArchPort (Arqueologia), HistPort (História de Portugal) e Museum (Museus, Património e História da Arte). Além das suas actividades científicas, é ainda jornalista, dedicado principalmente à área cultural.

A sua biografia consta do I volume de livro Personalidades da Costa do Estoril, Cascais, 1995, p. 277-284.

Prémios e distinções

Foi agraciado com a medalha de mérito municipal de Cascais, em Julho de 1994.

 Recebeu do Rotary Club de Cascais/Estoril o diploma de Mérito Profissional Rotário, em 2000.

Foi nomeado doutor honoris causa pela Universidade de Poitiers (França), em 2001.

É académico de mérito da Academia Portuguesa da História (desde 16 de Julho de 2010);

 académico correspondente da Reial Acadèmia de Bones Lletres (Barcelona, desde 9 de outubro de 1997) e, desde 17 de dezembro de 1999, da Real Academia de la Hisória (Madrid);

 académico correspondente da Academia das Ciências de Lisboa, desde 2015.

 Foi agraciado, a 1 de Junho de 2015, com a insígnia de mérito cultural do Município de S. Brás de Alportel.

Obras publicadas

Tem mais de quatro centenas de trabalhos arqueológicos e historiográficos publicados, entre os quais se destacam os seguintes livros:
  • Divindades Indígenas sob o Domínio Romano em Portugal (Subsídios para o seu Estudo), Lisboa, 1975. 2ª edição: 2015
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  • Divindades Indígenas sob o Domínio Romano em Portugal (Subsídios para o seu Estudo), Lisboa, 1975.
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  • Inscrições Romanas do Conventus Pacensis - Subsídios para o Estudo da Romanização, 2 volumes, Coimbra, 1984. Disponibilizado on line.
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  • Introdução ao Estudo da Epigrafia Latina, Coimbra, 1979, 1987, 1997.
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  • Roteiro Epigráfico Romano de Cascais, Cascais, 1994 [2.ª edição revista e aumentada em 2001].
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  • Para uma História da Água no Concelho de Cascais, 1995. Em colaboração com Guilherme Cardoso.
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  • Estudos sobre Epigrafia, Coimbra, 1998.
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  • Cascais e os Seus Cantinhos, Lisboa, 2002.
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  • As Oficinas da História, Lisboa, 2002.
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  • A História Tal Qual se Faz, Lisboa, 2003.
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  • Festas de Tradição no Concelho de Cascais, Mafra, 2004. Autor do texto. Fotos de Francisco de Almeida Dias.
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  • Epigrafia, as Pedras que falam, Coimbra, 2006. 2ª edição: 2010
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  • Recantos de Cascais. Lisboa, 2007.
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  • Dos Segredos de Cascais, Lisboa, 2010.
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  • Cascais - Paisagem com Pessoas dentro. Cascais, 2011.

Referências

                      "  Tempo, serenidade, esquecimento…

           «Boas festas», «Festas felizes», «Próspero Ano Novo» – votos que, na quadra natalícia, se multiplicam ao infinito. Confesso, porém, que, inevitavelmente, me ponho a pensar: que é isso de boas festas? Que significa ter «festas felizes»? E «Próspero Ano Novo» que conotação tem? De abundância na riqueza? De um bem-estar maior?...
            E desato a ver aquilo de que todos nós mais precisamos, de «bom», de «feliz», de «próspero». Olho à minha volta, recordo as frases do dia-a-dia, aquelas que mais me tocam, que mais me chocam, que mais abanam comigo pelas consequências que têm:
            «Não tenho tempo para nada!»
            «Isto é uma inquietação pegada todos os dias!»
            «Olha, esqueci-me!»
            Dei comigo, portanto, desde há uns anos a esta parte, a desejar aos meus amigos, pelo Natal, pelo Ano Novo, nos aniversários, «serenidade e tempo». E recordo amiúde a frase de Michel Quoist: «Tens muito tempo à tua disposição, mas passas o tempo a perder o teu tempo».
            A serenidade. Que nada acontece por acaso e, em cada momento, há que encarar a situação de frente, pesar prós e contras e decidir como se acha melhor. Porque não aprendes a respirar fundo, a caminhar devagar? É ainda Michel Quoist: «Os grandes homens fazem dez vezes mais trabalho do que nós, em dez vezes menos tempo. Porquê? Sabem organizar-se: protegem, defendem ou são capazes de readquirir a sua calma, dando-se inteiramente a uma tarefa de cada vez».
            O esquecimento – porquê? Porque não disciplinamos o nosso pensamento, saltamos de uma tarefa para outra, sem terminarmos a primeira nem a segunda, como aquele senhor que pega nas chaves para as ir arrumar, depois vê uma carta e abre-a, pousa as chaves e tocam à campainha e vai atender, e lembra-se de ir tomar o café e, à noite, as chaves continuam fora de sítio e ele já nem sabe onde as deixou. «Olha, esqueci-me!» será, por vezes, desculpa; mas, se reflectirmos bem, é esquecimento mesmo, porque… andamos de cabeça no ar!
            O meu voto, pois, leitor amigo: que, nesta quadra e em 2015, a serenidade impere na sua vida; saiba organizar bem o seu tempo, de modo que o esquecimento não seja, em nenhum dia, o seu inquietante companheiro! "

Publicado em Renascimento (Mangualde), nº 652, 15-12-2014, p. 20.

4.12.14

SINTRA VISTA POR FILIPE II DE ESPANHA. Iº DE PORTUGAL

... Caminhando nas suas cercanias, pousando nos seus paços, podiam afirmar, como Filipe II de Espanha ( I de Portugal ) quando em 1581 passou o Outono em Portugal:


SERRA DE SINTRA ( Foto de J.P.L. Ano de 2014  )

... Y después nos baxámos à este lugar ( Sintra ), qu'es muy fresco y dicen que muy bueno de verano, y báxasse más de media legoa. Llegámos ya tarde, que no pude ver sino un poco de la casa ( o Paço ).
Oy no he sallido d'ella, por despachar este correo y por ver esta casa que, aunque es antígua, tiene muy buenas casas y algunas que no me parece que en ninguma parte las he vista tales; y holgara yo harto de veros en ella, porque creo que holgarades, que tiene jardines y fuentes ( ... ).

 Y avia visto antes los jardines y huertas, y yo los vi después, y son buenos y muchos, y muy buenas fuentes ... *

* Carta de Filipe II de Espanha às filhas, cit. in Vitor Serrão
Sintra, Presença, 1989,p 58

 ... E ainda nessa altura, confessava o mesmo rei que tinha duas jóias nos seus reinos: Escorial em Espanha, e o Convento dos Capuchos em Portugal. *

* Sérgio Luís de Carvalho. História de Sintra



CONVENTO DOS CAPUCHOS ( Foto Wikimapia ano 2014 )

 ESCORIAL ( Foto Guiarte )