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11.12.21

Traumas de jornalista - Miguel Szymanski

 


Salgado queixou-se à administração. Sentia-se retratado no meu artigo "como se fosse um gatuno". Fiquei sem emprego e os meus colegas também.

Artigo de Miguel Szymanski

A propósito de Berardo, lembro-me de alguns dos 'poderosos' e 'intocáveis' com os quais, para meu azar, me cruzei em Portugal ao longo de 25 anos de jornalismo.

Ricardo Salgado/BES: depois de dois artigos publicados na revista Fortunas & Negócios sobre os 'donos da banca' em 2001, Salgado queixou-se à administração. Sentia-se retratado no meu artigo "como se fosse um gatuno" (quem transmitiu esta citação de Salgado é hoje director de informação de um canal de televisão).

Fiquei sem emprego e os meus colegas também - a administração fechou a revista para não perder a publicidade no Diário Económico e no Semanário Económico.

Jorge Jardim Gonçalves/Millennium: depois de uma crónica numa revista enviou-me um bilhete, manuscrito, assinado e não muito subtil, a ameaçar com processos judiciais.

André Jordan/magnata do imobiliário: não gostou de um artigo que escrevi sobre ele para a 'Sábado' e o, na altura, director da revista veio dizer-me que a minha colaboração não podia continuar: "Lamento, passaste a persona non grata; o Jordan deve ter oferecido uns cartões gold para jogar golfe a alguém da administração".

Outras 'figuras do regime', da área política, que se queixaram de artigos meus e levaram um director de jornal a despedir-me: Santana Lopes e Dias Loureiro.

Depois houve o jornal, de primeira linha (Expresso), com o qual deixei de poder colaborar, subitamente e depois de meses de elogios aos meus artigos, porque alguém, imagino eu, mas não sei ao certo quem, não gostava da minha abordagem aos temas.

Houve ainda, também essa uma forma de censura, várias publicações que deixaram de me encomendar artigos porque, simplesmente, deixaram de ter verbas para pagar (recentemente o DN, por exemplo).

Enfim, nunca isto me deitou abaixo por muito tempo. Quando deixei de ter trabalho em Lisboa, que me permitisse sobreviver, fui durante uns anos trabalhar como jornalista para - excelentes publicações - em Berlim e Frankfurt.

Tenho a enorme sorte de poder trabalhar para órgãos de comunicação social na Alemanha e na Áustria. Mas tenho muita pena de alguns excelentes e incorruptíveis jornalistas que, aqui em Portugal, ficaram pelo caminho.

Miguel Szymanski (twitter)
Jornalista/autor, correspondente em Portugal

 

«A independência das redacções é anedótica»

A comunicação social portuguesa vista pelo correspondente estrangeiro, Miguel Szymanski.

Em Portugal a independência das redacções é anedótica

Sou jornalista há 30 anos e já trabalhei para jornais, revistas, rádios e televisões em quatro países. 

Uma conclusão: em Portugal a independência editorial das redacções - face aos accionistas e ao poder político - é, salvo raríssimas excepções, pouco mais do que anedótica. 

E esse é o principal problema. Porque a independência das redacções é o que distingue o jornalismo das relações públicas. 

Miguel Szymanski
correspondente estrangeiro em Portugal

 

 

TALVEZ ESTEJA NA HORA ...

 


Imagine nascer em 1900.
 
 Quando está com 14 anos a Primeira Guerra Mundial começa e termina quando você completa 18 anos, resultando em mais de 22 milhões de mortos.
 
Logo após isso, uma pandemia mundial, uma gripe chamada ′′ Espanhola ", vitimiza 50 milhões de pessoas. Aos 20 anos, você consegue sobreviver e continuar sua vida.
 
Então, aos 29 anos, sobrevive à crise económica global que começou com o colapso da Bolsa de Valores de Nova Iorque causando inflação, desemprego e fome.
 
Os nazistas chegam ao poder quando você completa 33. Aos 39, a 2ª Guerra Mundial começa e termina quando você já tem 45 anos. Durante o Holocausto  (Shoah), 6 milhões de judeus morrem.
 
Haverá um total de mais de 60 milhões de mortos. Quando você atinge os 52, a Guerra Coreana começa.
 
Quando completa 64 anos, a guerra do Vietnam começa e termina quando atinge os 75 anos. Um bébé nascido em 1985 acredita que os avós não fazem ideia de como a vida é difícil e sobreviveu a várias guerras e desastres.
 
Um bébé nascido em 2005, acredita que é fim do mundo quando seu pacote Amazon demora mais de três dias para chegar ou se ele não ultrapassa 15 " gosto " por sua foto postada no Facebook ou Instagram...
 
Em 2021, muitos de nós vivemos  confortáveis, temos acesso a várias fontes de entretenimento em casa e muitas vezes temos mais do que necessário e, apesar dos problemas, podemos dizer que temos uma vida infinitamente melhor que nossos antepassados. 
 
Mas mesmo assim, as pessoas reclamam de tudo. Elas têm eletricidade, telefone, comida, água quente e um telhado sobre as suas cabeças, mas ainda estão infelizes, incompletas.
 
Mas a humanidade sobreviveu a circunstâncias muito mais sérias e nunca perdeu a alegria da vida.
 
Talvez esteja na hora de ser menos egoísta, parar de reclamar e começar a viver.