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30.9.22

CICLONES / FURACÕES E A PENINSULA IBÉRICA.

 

 

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Ciclones / Furacões são tempestades tropicais de núcleo quente, com ventos contínuos a partir de 110 km/h podendo chegar a mais de 294 km/h. A formação dos furacões está ligada ao aquecimento dos oceanos nas regiões tropicais e ao movimento de Coriolis.

Demoraram, mas chegaram: os furacões estão aí e são mais intensos. E há uma razão para estarem a aproximar-se de Portugal

 

Danielle, Earl, Fiona e agora Ian. No espaço de apenas um mês, o Atlântico foi atingido por quatro furacões, depois de ter registado o seu primeiro verão em 25 anos sem qualquer fenómeno deste género. Os dados do Centro Nacional de Furacões dos Estados Unidos (NCH, na sigla original), que monitoriza estes acontecimentos, e que são seguidos pelo Instituto Português do Mar e da Atmosfera, mostram que o ano de 2022 está a ter muito menos tempestades do que os anos anteriores. O problema é que, quando chegarem - como esta quinta-feira, com o Ian nos Estados Unidos - serão mais fortes.

Precisamente a 29 de setembro do ano passado, começou a formar-se a tempestade tropical Victor, a 19.ª tempestade de 2021. No mesmo período de 2022 houve apenas 9 tempestades, e isto já contando com o furacão Ian, que já entrou na costa este dos Estados Unidos, depois de ter deixado um rasto de destruição em Cuba.

Uma tendência que se vem acentuando. É que em 2020 houve 31 tempestades – até foi necessário recorrer ao alfabeto grego para lhes dar nome -, enquanto 2021 se ficou pelas 20. Se as tempestades são em menor número, não o são em intensidade. A tempestade Danielle, que foi o primeiro fenómeno classificado como furacão no Atlântico este ano, e que chegou a Portugal como ciclone, provocou vários danos. Já no Canadá, a passagem do furacão Fiona deixou um cenário de “devastação total”, como disse um dos autarcas do país, naquilo que o governo classificou de “evento climático extremo”.

Carlos da Câmara diz que este cenário será um efeito provável das alterações climáticas. O climatologista explica à CNN Portugal que há três fatores relacionados com o aquecimento global e as tempestades: vão aumentar a intensidade, vão trazer mais água e vão mover-se mais lentamente.

O especialista afirma que é isso que está a acontecer, e que por isso se esperam fenómenos do género com mais intensidade no futuro. A principal causa, aponta, é o aquecimento dos oceanos, com o Atlântico a não ser exceção: "É preciso perceber que a energia de um furacão vem do movimento do ar. É preciso ser alimentado por qualquer coisa, e essa coisa é o vapor de água que condensa". O mesmo é dizer que águas mais quentes transportam mais energia, o que vai originar maior movimento de tempestades.

No fundo, compara Carlos da Câmara , é como uma panela de água a ferver: para entrar em ebulição precisa de muita energia, precisa do calor. Quando passa do estado líquido ao gasoso vai armazenando energia, que é libertada quando se dá o processo oposto, o que na atmosfera significa precipitação, neste caso em grandes quantidades.

"A energia dos furacões vem da passagem ao estado líquido, é como se fosse a gasolina do furacão, o que lhe dá movimento", sublinha, reforçando que "quando tenho águas mais quentes tenho mais vapor de água, e sabemos que com as alterações climáticas temos a temperatura dos oceanos mais quente em alguns graus".

O também professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa foca um dos fatores em concreto: a deslocação mais lenta das tempestades. Embora a Ciência ainda não tenha identificado uma razão concreta que leve estes sistemas a moverem-se mais devagar, é certo que isso vai acontecer com cada vez mais frequência, e com consequências desastrosas.

"Sabemos que estão a andar mais devagar, o que é um problema tremendo", diz Carlos da Câmara, explicando que "quando uma tempestade anda depressa, larga muita chuva, mas depressa".

Neste novo cenário, com tempestades a andarem mais devagar, vão ser fenómenos "mais destrutivos": "têm uma carga de água brutal que vai afetar a mesma zona muito tempo", o que pode levar a inundações e outros desastres naturais.

Furacões mais para norte, uma nova realidade

O furacão Fiona chegou até à Terra Nova, bem a norte do Atlântico, um fenómeno raro, mas que é explicado precisamente pelas temperaturas da água, que estão a aumentar. O mesmo aconteceu com a tempestade Danielle, que se formou mil quilómetros acima daquilo que seria previsível: começou ao largo dos Açores, quando o normal seria formar-se perto de Cabo Verde.

Trata-se de mais uma consequência das alterações climáticas, e que não tem impacto apenas nos ventos: os grandes mecanismos e sistemas climáticos estão a deslocar-se, a pouco e pouco, para norte. É por isso que há muito que se diz que Portugal vai ficar com um clima semelhante ao que Marrocos tem hoje.

"As alterações climáticas estão a fazer com que todas as caraterísticas da atmosfera sejam puxadas para norte, incluindo a temperatura dos oceanos. Existem outros fatores, mas estes grandes mecanismos são claramente afetados", afirma Carlos da Câmara, que, quando fala em "outros fatores", ressalva que vão continuar a existir verões e invernos considerados normais, mas que esse cenário vai deixar de ser tão frequente.

Tudo isto porque a Terra está à procura de um "equilíbrio", uma forma de lidar com as consequências do aquecimento da sua superfície. Carlos da Câmara faz uma comparação que ajuda a ilustrar a situação: "Nós ajustamo-nos ao calor suando. Na República Dominicana suamos mais do que no Canadá no inverno".

"Os gases com efeito de estufa retêm parte da energia infravermelha que deviam ir para o espaço. Como não acontece tanto, a Terra, à procura do equilíbrio, aumenta a temperatura. A Natureza está em busca do seu equilíbrio, só que agora vai ser um equilíbrio diferente. Estes furacões mais a norte são todos os mecanismos que a atmosfera inventa para se reajustar", conclui o climatologista.

Ora, o que a Terra está a fazer é o mesmo: está a suar, a libertar a energia acumulada em forma de calor. E muitas vezes essa libertação dá-se na forma de grandes tempestades.

Realidade a contradizer as previsões

E a menor ocorrência de tempestades acontece num ano em que as previsões até apontavam para 65% de probabilidades de a atividade ser mais intensa na região, algo que a realidade ainda não confirmou, mesmo tendo em conta que o mês de setembro teve seis dos nove eventos, sendo quatro deles furacões.

Um sinal de que as previsões poderiam não bater certo para este ano foi detetado ainda antes da chamada temporada de furacões, que decorre entre 1 de junho e 30 de novembro: desde 2014 que não havia um ano sem uma tempestade registada antes do início dessa mesma temporada. Apesar disso, e mesmo que os primeiros fenómenos se tenham registado apenas em agosto, aos quais se somam os de setembro, o NCH ainda prevê com uma probabilidade de 60% uma temporada acima do normal. Caso isso venha mesmo a acontecer, significa que teremos um final do ano tempestuoso no Atlântico.

Uma das razões das previsões era o fenómeno La Niña, que ocorre pelo terceiro ano consecutivo, e que se caracteriza por propiciar a formação de tempestades, uma vez que provoca um "arrefecimento das águas superficiais", produzindo "fortes mudanças na dinâmica geral da atmosfera", como refere o Instituto Português do Mar e da Atmosfera. A ajudar estariam mais dois fatores: um aumento da temperatura das águas, o que funciona como um combustível para a formação de tempestades, e uma maior atividade de ventos vindos de África, que costumam originar mudanças de clima no Atlântico.

Apesar disso, a temporada está a ser menos agressiva. O porta-voz da Agência Estatal de Meteorologia de Espanha refere ao El País que acabaram por se verificar "circunstâncias especiais" que levaram a que a atividade baixasse. Rubén Del Campo refere-se a "dois fatores imprevistos": a persistência de um cavado, uma área de baixas pressões com ar frio, nos trópicos, que trouxe ventos secos e com pó do Saara; e uma circulação atmosférica "muito anómala", que acabou por causar um bloqueio anticiclónico que afetou a Europa Ocidental.

28.9.22

Roteiro histórico quer revelar importância da Mata Nacional de Leiria

 

 

 O projeto, denominado Roteiro Histórico do Pinhal do Rei, "foi preparado para recuperar e preservar memórias da importância do pinhal na região e do seu impacto no desenvolvimento do território e das comunidades", adiantou a ADAE, numa informação enviada à agência Lusa.

"Este projeto será materializado através de um roteiro histórico e dinâmico, com pontos de interpretação ligados à história do Pinhal de Leiria, às atividades da madeira, resinagem e arte xávega, dominantes nos concelhos de Leiria e Marinha Grande", referiu a ADAE.

Segundo a associação, o objetivo é "retratar as interações que as comunidades estabeleceram com o seu território, ao longo da história, nomeadamente com as paisagens, os recursos, as produções locais, as técnicas e o saber-fazer, os hábitos e costumes, entre outros".

A iniciativa visa também "melhorar a oferta turística no território, atrair mais visitantes, prolongar a sua estada e, ainda, melhorar a experiência" de quem se desloca à região.

Fonte da ADAE explicou que o projeto, com a duração de dois anos, representa um investimento de

"É um roteiro que procura recuperar o impacto que as atividades ligadas ao pinhal tiveram na comunidade que dele dependia, desde a atividade da resina, da madeira e do carvão, entre outras", afirmou a mesma fonte.

Após a informação estar recolhida e tratada, "pretende-se a criação de um circuito de interpretação com a colocação de painéis em locais onde as atividades se devolveram", disse, salientando que esta é uma "forma de atrair turistas" num local que, há quase cinco anos, foi fustigado por incêndios

 

"Por exemplo, havia uma linha de caminho-de-ferro que atravessava a mata para facilitar o transporte da madeira. Este é um dos pontos que queremos dar a conhecer neste circuito de interpretação", adiantou.

Com o Roteiro Histórico Pinhal do Rei, vão ser divulgadas "outras vertentes da mata que não a natureza, contribuindo para preservar a cultura e a identidade deste território".

O Pinhal de Leiria, também conhecido por Mata Nacional de Leiria e Pinhal do Rei, é propriedade do Estado. Tem 11.062 hectares e ocupa dois terços do concelho da Marinha Grande. A principal espécie é o pinheiro-bravo.

De acordo com informação no sítio na Internet do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, a primeira arborização data do século XIII, tendo sido feitas as grandes sementeiras no reinado de D. Dinis.

No incêndio de 15 de outubro de 2017, ardeu 80 por cento da sua área.

A Associação de Desenvolvimento da Alta Estremadura, fundada em 1994, desenvolve a sua intervenção nos municípios da Batalha, Leiria, Marinha Grande e Porto de Mós, tendo surgido "com o objetivo de implementar novas formas de intervenção local, com incidência no mundo rural". 

 

Grande incêndio do Pinhal de Leiria terá sido planeado secretamente entre madeireiros

Grande incêndio do Pinhal de Leiria foi planeado um mês antes em reuniões secretas numa cave entre madeireiros. Preços da madeira foram combinados na altura, revela reportagem da TVI24.

Grande incêndio do Pinhal de Leiria terá sido planeado secretamente entre madeireiros
Pinhal de Leiria antes do incêndio

O incêndio que consumiu 86% do Pinhal de Leiria entre 15 e 16 de outubro do ano passado terá sido planeado no mês anterior por madeireiros, empresários e fábricas de compra e venda de madeira, avança uma reportagem da TVI24.


Grande incêndio do Pinhal de Leiria terá sido planeado secretamente entre madeireiros
Pinhal de Leiria depois do incêndio

O plano foi delineado numa série de reuniões numa cave, onde também foram estabelecidos os preços para a madeira consumida.

Grande incêndio do Pinhal de Leiria terá sido planeado secretamente entre madeireiros
Pinhal de Leiria antes do incêndio

A Polícia Judiciária já tinha assumido que o incêndio que deflagrou no Pinhal de Leiria em outubro tinha sido mão criminosa.
Grande incêndio do Pinhal de Leiria
Agora, a reportagem assinada pela Ana Leal revela que “o pinhal estava armadilhado” com vasos de resina com caruma no interior para iniciar as chamas, como contou a jornalista em entrevista na TVI24.


Grande incêndio do Pinhal de Leiria terá sido planeado secretamente entre madeireiros
Pinhal de Leiria depois do incêndio

Esta terá sido a técnica que atingiu 36 concelhos da região centro. Embora não se tenham registado vítimas mortais na região do Pinhal de Leiria, os incêndios de outubro provocaram 49 mortos e cerca de 70 feridos no país, além de terem destruído 1.500 casas e 500 empresas.

Houve reuniões para planear incêndio e combinar preço da madeira

Grande incêndio do Pinhal de Leiria terá sido planeado secretamente entre madeireiros
Grande incêndio do Pinhal de Leiria terá sido planeado secretamente entre madeireiros

A fonte da TVI24 foi um homem que terá sido convidado para participar nessas reuniões, que ocorreram na cave de um restaurante e onde participaram pelo menos quatro das maiores empresas de madeira da região.
Grande incêndio do Pinhal de Leiria
O plano para incendiar o pinhal começou a ser criado em meados de setembro, mas só duas semanas antes é que os participantes se encontraram.

Grande incêndio do Pinhal de Leiria terá sido planeado secretamente entre madeireiros
Grande incêndio do Pinhal de Leiria terá sido planeado secretamente entre madeireiros

De acordo com o homem entrevistado, “houve uma reunião para combinar o preço da madeira e para não oferecer nada pelos lotes do Estado.
Grande incêndio do Pinhal de Leiria
Porque a madeira está muito cara, está a ver? Se não se comprar ao Estado, ele tem que vender a madeira quase dada. A fonte garante ainda que “todos os madeireiros estão feitos”, ou seja, participaram na reunião.

Grande incêndio do Pinhal de Leiria terá sido planeado secretamente entre madeireiros
Grande incêndio do Pinhal de Leiria terá sido planeado secretamente entre madeireiros

A liderar este plano estaria um empresário que “até anda a alargar o estaleiro”, conta a fonte da reportagem. Segundo ela, esse empresário terá em sua posse 100 mil toneladas de madeira queimada só em outubro.
Grande incêndio do Pinhal de Leiria
A reportagem fala ainda de uma empresa que, um mês antes, já estaria a fazer conta com o incêndio e por isso recebeu uma tranche de 500 mil euros para comprar madeira queimada.


Grande incêndio do Pinhal de Leiria terá sido planeado secretamente entre madeireiros
Grande incêndio do Pinhal de Leiria terá sido planeado secretamente entre madeireiros

De acordo com o documento da Caixa de Crédito de Leiria a que a TVI teve acesso, houve de facto uma transferência para essa empresa a 25 de outubro, que terão sido aplicados para comprar dois camiões, dois reboques e uma máquina de arrasto.
Grande incêndio do Pinhal de Leiria
Entre outubro e dezembro, essa empresa comprou 166 mil toneladas de madeira queimada. No mesmo período de 2016, o volume desce para os 55 mil.


26.9.22

Não tome banho durante uma trovoada. Eis porquê

 Trovoada (EPA)

 As árvores começam a balançar, o céu escurece e de repente ouve-se: o som distante de um trovão. Essa é a deixa para si de que o perigo potencial está a caminho. Na verdade, é provável que esteja a 16 quilómetros de si, de acordo com o Serviço Meteorológico Nacional dos Estados Unidos.

Não ignore esse som, porque quando há trovões há relâmpagos, e os relâmpagos podem matar ou mutilar de formas que não esperaria. Isso inclui quando estiver no duche, na banheira ou mesmo a lavar pratos.

Uma vez que os relâmpagos podem viajar através da canalização, “é melhor evitar toda a água durante uma trovoada. Não tome duche, não tome banho, não lave a louça, nem lave as mãos", avisam os Centros de Controlo e Prevenção de Doenças dos EUA.

“O risco de um raio viajar através da canalização pode ser menor com canos de plástico do que com canos de metal. No entanto, é melhor evitar qualquer contacto com canalizações e água corrente durante uma trovoada para reduzir o risco de ser atingido”, acrescentam os CDC.

Esse não é o único perigo quando se está dentro de casa. Fique longe de varandas e alpendres, não se aproxime de janelas e portas, e “NÃO se deite no chão de betão nem se encoste às paredes de betão”, diz a agência.

Além disso, "NÃO utilize nada ligado a uma tomada elétrica, como computadores ou outro equipamento eletrónico", diz o CDC. “Fique longe de telefones com fios. Os telemóveis e telefones sem fios são seguros .. se não estiverem ligados a uma tomada através de um carregador”.

Mais quente do que a superfície do sol

Uma trovoada acontece quando um relâmpago cai, aquecendo o ar à volta do raio até “50.000 graus Fahrenheit [27.760 graus Celsius], 5 vezes mais quente do que a superfície do sol", segundo o Serviço Meteorológico Nacional. “Imediatamente após o relâmpago, o ar arrefece e contrai-se rapidamente. Esta rápida expansão e contração (cria.) a onda sonora que ouvimos como um trovão".

Os relâmpagos podem matar de muitas maneiras. Um choque direto é na maioria das vezes fatal, diz o CDC, mas lesões tais como traumas contundentes, lesões cutâneas e queimaduras, bem como lesões cerebrais, musculares e oculares podem ocorrer por tocar num carro ou num objeto metálico atingido por um raio. A corrente pode também viajar através do solo, fazer ricochete numa pessoa ou num objeto, ou até mesmo correr por objetos próximos do solo.

Pode calcular a distância entre si e o raio, mas faça-o a partir de um local seguro, para que não seja atingido, aconselha o serviço meteorológico.

“Conte o número de segundos entre o relâmpago e o som do trovão, e depois divida por 5," com cinco segundos a equivaler a 1 milha, 15 segundos a equivaler 3 milhas, e zero segundos a muito perto, disse o serviço.

[Em Portugal, e usando o sistema métrico, o IPMA – Instituto Português do Mar e da Atmosfera explica: “a distância em metros ao local onde ocorreu a trovoada é obtida multiplicando 340 pelo intervalo de tempo, em segundos, entre o relâmpago e o trovão. Por exemplo: se o intervalo é de 10 segundos, a trovoada está a 3 400 m (3,4 km); se a trovoada estiver a 5 000 m (5 km), o intervalo de tempo é de 14,7 s.”]

A maioria dos mortos e feridos ocorre quando as pessoas estão no exterior, especialmente durante os meses de Verão à tarde e à noite, de acordo com o CDC. Cerca de 180 pessoas por ano são feridas por um raio nos EUA, e 10% das pessoas atingidas por um raio morrem todos os anos. Aqueles que trabalham no exterior, especialmente no Sudeste dos EUA, estão em maior risco. A Florida e o Texas têm o maior número de mortes relacionadas com relâmpagos, acrescenta o CDC.

Se for apanhado no exterior, "NÃO se deite no chão". Os raios provocam correntes elétricas ao longo da superfície do solo que podem ser mortíferas a mais de 100 pés [cerca de 30 metros] de distância. Entre num local seguro; nenhum lugar exterior é seguro", diz o CDC.

“Evite qualquer coisa que aumente o risco de ser atingido por um raio, como estar perto ou debaixo de árvores altas. Se não houver abrigos seguros à vista, agache-se numa posição de bola: junte os pés, agache-se, abaixe-se, baixe a cabeça e cubra as orelhas. Mas lembrem-se, este é um último recurso. Procurem primeiro um abrigo seguro".

 

Nota: este texto foi publicado originalmente na CNN, relevando dados norte-americanos. A CNN Portugal fez adaptações a Portugal, identificadas entre parêntesis retos.

 

25.9.22

SANTANA, NO CONCELHO DE NISA.

 

Aldeias sem esperança: nestas terras só há uma criança

Joana Ascensão, José Cedovim Pinto, Rui Duarte Silva

ISOLADA Maria Inês, de 12 anos, é a única criança a viver em Santana, uma freguesia de Nisa

ISOLADA Maria Inês, de 12 anos, é a única criança a viver em Santana, uma freguesia de Nisa © José Cedovim Pinto

 

  Num interior abandonado, há três aldeias portuguesas em que só vive uma criança. Em Santana, Macedo do Mato e Vinhas os dias agigantam e as geografias deixam isolados os últimos redutos da juventude

Rua por onde se entra em Santana é a rua por onde se sai de Santana. Naquela rua, o mundo todo. Naquele mundo, apenas uma rua desemboca noutros mundos. Na aldeia sem saída, curvada para um vale onde se perfila o rio Tejo, um sopro tórrido circunda os caminhos e raciona as raras vivalmas pelas casas brancas. À hora de almoço ouve-se o assobio da carrinha dos gelados. No mais sobressai o silêncio, só rasgado pelo chilrear dos pássaros. Salta à vista um mapa etiquetado a verde na pitoresca junta de freguesia, rente à única caixa de multibanco. Revela as coordenadas para os trilhos pedestres. Por ali sobrevive uma reserva natural que ainda vai levando pessoas de visita à terra. Mas naquele Alentejo, a ruralidade escorre pelos passeios como sangue nas veias. Onde sobressai a beleza da paisagem, falta gente. Naquele mundo feito de ausências, agigantam-se os dias. Sobra sempre tempo. No parque infantil impera a quietude. Onde havia uma escola primária ergueu-se um museu.

De pés descalços e fita métrica tombada no sofá, Isaura orgulha-se de manter em casa o último reduto da juventude da aldeia. A neta Maria Inês, há 12 anos sob a sua guarda, é a única criança que ainda ali habita, a respirar os ares de uma vivência em solidão. Santana, no concelho de Nisa, é uma das únicas três freguesias portuguesas onde só mora uma criança. O retrato é triste e alheio à terra presente na memória de Isaura. No seu tempo, “era alegre”, fervilhada de ferroviários e de pescadores. “Havia muita gente”, evoca. Sem que a televisão tivesse ainda lá domicílio, os jovens juntavam-se na taberna da tia a jogar à malha aos domingos. Nas noites de sábado, volta e meia soava a concertina do baile. “Só aqui na zona onde moro, moravam duas raparigas e dois rapazes. Na rua ao lado, mais duas. Éramos umas 20 ou 30 moças todas da mesma idade”, suspira. E nesse suspiro adivinha-se o peso de um silêncio só interrompido pela neta. “Agora sou uma mascote no meio deles”, irrompe Maria Inês, numa jovialidade que os avós lhe reconhecem desde os 15 dias de vida, quando passou a integrar aquele agregado familiar. À miúda, as memórias dos conterrâneos não lhe trazem outro cenário que não este.

 

 

Para ler este artigo na íntegra clique aqui

23.9.22

MOEDA RARA.

 

Moeda portuguesa de ouro rara encontrada no Reino Unido

Um exemplar raro da moeda de ouro portuguesa do século XV que Vasco da Gama levou para a Índia foi encontrada no Reino Unido por um praticante amador de 'detetorismo', e vai ser vendida em leilão. 

Moeda portuguesa de ouro rara encontrada no Reino Unido
Notícias ao Minuto

23/09/22 19:58 ‧ Há 3 Horas por Lusa

Mundo Descoberta

A moeda foi encontrada no início de julho por Mick Edwards, de 62 anos, num turismo rural em Etchilhampton, cerca de 150 quilómetros oeste de Londres, proximo da cidade de Bath, onde estava a celebrar os 35 anos de casamento.

Este funcionário público estava a testar o detetor de metais num campo antes do pequeno-almoço, às 06:00, quando recebeu um sinal e após escavar um buraco de 25 centímetros encontrou a moeda de ouro, que tem 36 milímetros de diâmetro e pesa cerca de 35 gramas. 

"Fiquei estupefacto e fiquei sentado a olhar para a moeda incapaz até de respirar. Consegui ver a cruz na moeda e pensei que era provavelmente espanhola, mas mais tarde descobri que era portuguesa do rei chamado Manuel", contou, citado num comunicado da leiloeira.

Segundo a Casa da Moeda, o Português de D. Manuel I foi a moeda portuguesa de maior circulação mundial devido à importância do país em termos comerciais na época. 

Cunhado em ouro quase puro, o Português terá sido uma das moedas que Vasco da Gama levou nas naus para a Índia e provavelmente também foi produzida com ouro trazido para Portugal das viagens a África e Índia. 

Nigel Mills, especialista da Noonans, disse que "em Inglaterra, nessa altura, a maior moeda de ouro era um Soberano que pesava 15,3 gramas, pelo que esta moeda é mais do dobro do peso, pelo que teria um valor superior a duas libras".

Foi a primeira vez que um exemplar de um Português de Manuel I foi encontrada no Reino Unido, o que também surpreendeu Javier Salgado, numismata e fundador da Nunisma Leilões há 47 anos. 

"É muito rara. Não tenho informação de ter aparecido outra assim fora de Portugal", disse à Agência Lusa, prevendo que atraía licitações de colecionadores acima da estimativa mais alta, devido ao bom estado de conservação. 

Uma ressalva é feita devido a uma cavidade que afeta os dois lados da moeda, que a leiloeira britânica acredita ser uma marca feita por punção para atestar se era feita de ouro puro. 

A moeda vai a leilão em 29 de setembro, no âmbito de uma venda de moedas e medalhas históricas da Noonans, e o 'detetorista' Mick Edwards pretende partilhar a receita com o proprietário da quinta onde a encontrou.

22.9.22

PORTUGAL. PODRIDÃO DOURADA A SOL

 

Se é jovem fuja de Portugal

Sair é fundamental, significa esperança e futuro, não irão para o paraíso, mas não viverão nesta podridão dourada a sol.

Se é jovem fuja de Portugal

Já pagou a despesa dos bancos privados? Lembre-se, há um palavrão para labregos: ‘riscos sistémicos’. Pague e não faça perguntas, deixe isso aos especialistas. Repita: ‘a via do crescimento’ são cortes de pensões, salários e componentes sociais. Obedeça aos mercados. Quando ouvir a palavra ‘social’ significa que estão a dar 10, mas a tirar 20.

Quem manda são os mercados e a democracia é produto fora de prazo. Se em países que já não são soberanos acrescentarmos maus políticos mas espertos, só podemos avançar para formas renovadas de pobreza. Aprenda a suportar isto tudo, faça de conta que não é nada consigo, olhe, faça umas compritas e veja muita televisão.

Sabia que em sete anos vão vender a TAP pela segunda vez? Em 20 anos quantas vezes o Estado socialista venderá a TAP? Sabe que entretanto saíram do seu bolso perto de 4 mil milhões de euros? Esses milhões são vitais, num país tão pobre, para serviços e bens públicos de que as pessoas precisam. No país do faz de conta, tudo é uma fachada, menos as habilidades e o sarro da pobreza remediada.

Lembra-se dos ‘choques tecnológicos’, dos ‘simplex’, programas de informatização e digitalização e essa conversa toda. Foram – são – centenas de milhões de euros. Onde estão os resultados? Tretas.

Um exemplo, o jovem estudante em Lisboa com menos 23 anos que queira ter o passe para viajar nos transportes públicos necessita de comprovar a idade, que vive em Lisboa e está inscrito num estabelecimento de ensino. Ora, se esse jovem se apresentar nos guichets de atendimento com o comprovativo do domicílio fiscal, o cartão de cidadão e o certificado de matrícula, estes não são aceites como prova. No país dos biliões em computadores são necessários carimbos, fotocópias e filas de dias. Falta uma folha específica, onde depois de dois carimbos da universidade/escola, o impresso preenchido pelo aluno com o nome, a idade, o que estuda; depois de três dias em filas, terá acesso a esse transporte gratuito. O cartão de cidadão e o documento da escola não servem.

Diz-me um amigo, Portugal é para espertos e para os do partido: «Em Portugal digitalizou-se a burocracia, dando milhões às consultoras, mas não se digitalizam os processos, eliminando a maior parte deles, pois senão como é que a imensidão do aparelho prestaria vassalagem aos mestres?... Não existem repartições de Finanças em Inglaterra… foram eliminadas e tudo funciona com um profissionalismo e eficiência incríveis!».

Some os milhões de exemplos lusos de como cada um de nós perde dezenas de dias por ano em burocracia inútil e funcionalismo público redundante e terá a soma de anos do nosso atraso. Lembre-se, um funcionário público que trabalhe bem ou mal, ganha o mesmo, os critérios de promoção são os critérios portugueses….

Neste país os jovens saem de casa só aos 35 anos – quem sai – e ganharão menos de 900 euros, mas um T1 custa 400 mil euros e um carro em segunda mão 18 mil euros.

Qualquer pai tem uma obrigação fundamental, se ama verdadeiramente os seus filhos e estes não são de uma juventude partidária, de convencê-los a sair deste buraco que nos torna pequeninos e pobres.

 Sair é fundamental, significa esperança e futuro, não irão para o paraíso, mas não viverão nesta podridão dourada a sol.

Vejo o rosto dos socialistas a rirem-se no parlamento e os seus irmãos social-democratas a espreitarem e a esperarem a sua vez.

17.9.22

Força Aérea esconde idade de helis ‘novos’ para combate aos fogos, que podem ter 35 anos

 

Os seis helicópteros Black Hawk para fogos comprados aos EUA custaram €42,9 milhões, mas não são novos

A Força Aérea Portuguesa (FAP) comprou seis helicópteros médios Sikorski UH-60 Black Hawk, adaptados para combate a incêndios, aos norte-americanos da Arista Aviation Sevices, por um pacote de 42,9 milhões de euros — financiado a 81% pelo Programa de Recuperação e Resiliência (PRR). A poupança é considerável, se for tido em conta o preço base de licitação do concurso, que era de €57,8 milhões de euros. No entanto, o baixo preço (menos cerca de 15 milhões de euros) pode ter a ver com outro fator: a idade avançada dos meios.

 Força Aérea esconde idade de helis ‘novos’ para combate aos fogos, que podem ter 35 anos

O caderno de encargos do concurso admitia a aquisição de helicópteros médios com o máximo de 35 anos, como o Expresso noticiou há seis meses, o que levou alguns militares a criticarem o risco de se estar a comprar “sucata”. Agora, no entanto, a Força Aérea não revela a verdadeira idade dos meios adquiridos através de um contrato celebrado a 12 de agosto. Questionado pelo Expresso, o porta-voz do Estado-Maior da Força Aérea, apenas respondeu — sem revelar a verdadeira idade dos Black Hawk —, que “os meios adquiridos terão uma idade igual ou inferior à definida em caderno de encargos”. Ou seja, os helicópteros podem ter até um máximo de 35 anos. Em fevereiro, a FAP tinha respondido, para justificar os termos do caderno de encargos, que os helicópteros ligeiros atualmente usados no dispositivo de combate aos fogos rurais ”têm uma média de idade de 16 anos” e os helis médios “têm idade média de 44 anos”.

 

 

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Sikorsky UH-60

Helicóptero utilitário
 
 O Sikorsky UH-60 Black Hawk é um helicóptero de dois motores e quatro hélices, fabricado pela Sikorsky Aircraft. A Sikorsky submeteu a ideia do S-70 para o Exército dos Estados Unidos, como parte de um novo sistema de aeronave utilitária de transporte, em 1972. O exército designou o primeiro protótipo de YUH-60A e selecionou o Black Hawk como vencedor do programa de novos helicópteros em 1976, ao vencer o Boeing Vertol YUH-61.

16.9.22

O TEMPO

 


Análise Climatológica 15/set

Depressão Danielle 2022-09-13 às 07:45 UTC.Imagem satélite METEOSAT alta resolução (HRV Cloud RGB). 2022-09-16 (IPMA)

O IPMA efetuou a análise climatológica da primeira quinzena de setembro de 2022 e apresenta as principais conclusões.

  • Total de precipitação país 52 mm: 123 % em relação à normal mensal.
  • Até à data corresponde ao 4º setembro mais chuvoso desde 2000 (valores mais altos em 2014, 2002, 2006, 2021)
  • Precipitação Covilhã, Guarda, Fundão e Beja: 3 vezes valor normal mensal.
  • Valores de precipitação acumulada em 3 horas acima de 30 mm em Beja, Covilhã, Guarda, Arouca, Rio Maior e Fóia .
  • Precipitação ocorrida em 6 horas nas estações de Covilhã, Guarda e Beja foi igual ou superior ao valor normal para o mês.
  • Desagravamento significativo da seca meteorológica em todo o território e em especial nos distritos da Guarda, Viseu e Castelo Branco. Percentagens por classes: 3.1 em seca fraca, 50.2 % em seca moderada, 45.9 % em seca severa e 0.8 % em seca extrema.
  • Aumento do índice de água no solo mais significativo no litoral Norte, em toda a região Centro e no Alto Alentejo. Mantêm-se valores muito baixo no Nordeste.

Para informação completa aceda ao documento.

 

15.9.22

BLEDO

 


 O Bledo: O super alimento e oxigenante cerebral que passa despercebido para muitos. É comum andar pelas ruas, e ver esta planta crescendo teimosamente sem que ninguém a tenha plantado, assim, como se fosse monte. Essa erva é subestimada desde os tempos coloniais, mas possui uma quantidade altíssima de nutrientes. Seu nome científico é amaranthus, e traz na alimentação: ácido fólico, cálcio, fósforo, ferro, magnésio, potássio, ferro, zinco, cobre, vitamina B1 ou tiamina, B2 ou rivoflavina, B3, A e C (mais do que laranja). Também é uma fonte de aminoácidos como a lisina, encontrada na carne, peixe, ovos. Possui calorias, proteínas, carboidratos, fibras e cinzas, tem baixo colesterol e tem fibra maior do que milho, arroz e trigo. Assim também serve para limpar o aparelho digestivo, para combater diarreia, hemorragias internas, menstruação excessiva, úlceras na pele, febre, irritação na garganta, parasitas, tosse e depressão. Além disso, é utilizada na estimulação neural e oxigenação cerebral, assim melhorando a memória e a concentração.

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11.9.22

AS VINDIMAS DURIENSES DOS ANOS 50

 AENSE

Em imagens: A doçura amarga das vindimas durienses dos anos 50

 



Texto Carolina Figueiredo

Edição Teresa Abecasis

Com o início das vindimas do Douro, recordamos a tradição nos anos 50. Foram tempos difíceis e exigentes, em que quase todo o trabalho era exclusivo da mão humana, mas sempre pontuado por cantares, partilhas e celebrações. Quem os viveu recorda-os com um misto de saudosismo e pesar

A primeira nuance de claridade rompe pela tela sideral do Douro. Enquanto as ruas ainda exalam o aroma seco e ameno da madrugada, com notas a uva, um novo dia vai-se encetando discretamente. As fachadas das casas abrigam-se no brilho púrpura do mais primordial amanhecer, com o rio lá ao fundo por ora manso e preguiçoso. Pouco passa das cinco da manhã, e o Sr. Joaquim sai de casa inalando profundamente. Exalando. É uma vida inteira a conhecer o nascer do sol; a contemplá-lo como se ainda alguma novidade fosse surgir ali, no horizonte, para além do velho sol. Os candeeiros por fim quiescentes; os laivos românticos extinguindo-se no céu até toda a paisagem ser delirantemente áurea. No Alto Douro Vinhateiro, nasce Tabuaço, a vila de ouro.

As temperaturas são amenas ao raiar da manhã, e é por isso a hora mais propícia ao trabalho. O corpo mexe-se ainda sem o sufoco do sol, sem as arfadas desesperadas por ar fresco num ar estagnado sem brisas. No Douro, tudo é excessivo – quando o inverno traz o frio, o frio gela os pulmões e dissipa a paisagem em diante com nevoeiro espesso; quando o verão chega, o verão reina. A luz é intensa como se nada mais existisse no mundo para além de claridade, e o calor quase fumega da pele trigueira, das videiras pesadas, do solo xistoso. Em todo o lado, abunda cor: as uvas verdes e roxas, as encostas verdes moldadas em socalcos estendidas por aí além como mantos. O azul do rio que as atravessa, o azul do céu como cúpula. O azul-escuro do olhar do Sr. Joaquim, perdido a contemplar a paisagem que sempre conheceu – mas que por vezes não reconhece.

“Agora tudo é diferente”, repete, uma e outra vez. Dedica-se às vindimas aos 80 anos e desde os 12, quando terminou os estudos. É um trabalho de ano inteiro, bem o sabe, mas setembro é sempre incerto. Aprendeu a olhar para o céu, a ponderar os períodos de seca e pluviosidade das últimas semanas e a calcular a data provável – este ano, “para a semana já se vai começar a cortar o branco e depois para a outra é o tinto”. Já sabe o que esperar e conta-o numa tarde lenta de final de agosto, em 2022, mas reitera: tudo era diferente na década de 50, quando começou. Apoia-se na enxada como se lhe pesassem também as memórias da infância nas margens do Douro, por entre videiras e pés tingidos de escarlate. Os recursos eram diferentes, a remuneração era diferente, a vida era diferente. E tinha 12 anos: claro que tudo era diferente.

A roga, composta por homens, mulheres e crianças, parte em direção aos vinhedos do Alto Douro, em 1951. Foto: Hulton-Deutsch Collection/CORBIS/Corbis via Getty Images

Só as fotografias são a preto e branco, porque também há 70 anos a paisagem vibrava com cor e calor. Vinham mulheres, homens, e crianças, com a poeira a levantar-se com a passagem da multidão. As senhoras usavam lenços na cabeça e baloiçavam cestas de vime com mudas de roupa e alguma comida, o inevitável “mata-bicho”; os homens cantarolavam para amenizar o percurso; algumas crianças seguiam de perto a alçada da mãe e outras davam a mão e corriam descalças.

A sensação de leveza e brincadeira não perdurava. Nas vindimas, até os mais pequenos tinham trabalho de gente crescida. O Sr. Joaquim recorda o corte das uvas, o carregar das cestas (e dos cestos, mais pesados) e reconhece, ainda assim, que era “trabalho mais leve” do que aquele que veio a conhecer em adulto. Mas não existe realmente trabalho leve nas vindimas para os corpos franzinos das crianças. Não é apenas a colheita de uvas – é a colheita de uvas em vertentes de vales encaixados onde o vento atlântico não visita, com muros de xisto a ferver nos pés. Algumas destas crianças, meninos e meninas, chegavam às quintas e acumulavam ainda mais horas de trabalho nos lagares, a pisar as uvas ao lado dos homens adultos, num turno total que ultrapassava os dois dígitos.

A multidão avança alegremente, cantando e dançando. Foto: Hulton-Deutsch Collection/CORBIS/Corbis via Getty Images

Sim, agora as coisas são diferentes: atualmente, a repartição de tarefas por sexos não é tão acentuada. O corte das uvas era feito tradicionalmente por mulheres, observadas rigorosamente pelo feitor e incentivadas a cantar, cantar, cantar: enquanto cantavam, não atrasavam o trabalho ao falar umas com as outras. E não comiam sorrateiramente uma ou outra uva apetitosa, tornada manjar dos deuses quando o suor deslizava pela testa.

As mulheres cortavam os cachos e despejavam-nos em pequenas cestas de vime, depois mudadas para cestos maiores e aí acumuladas, cada vez mais pesadas, até os homens as levarem para o lagar. O responsável pela supervisão dos trabalhos contabilizava com uma vara os cestos que dali partiam e ficava encarregado de informar o feitor ao final do dia. Cada risco na vara, um cesto.

O responsável usa uma vara para contar os cestos levados para o lagar. Foto: Hulton-Deutsch Collection/CORBIS/Corbis via Getty Images

A pisa de uvas era essencialmente masculina. “Havia lagares onde punham concertinas ou realejos lá fora a tocar” para animar a roga, já exausta ao final do dia, e outros usavam a própria voz. Improvisava-se e entoava-se cantigas muitas vezes inventadas no momento – “para animar e nos deixar mais contentes”, relembra o Sr. Joaquim, mas também para manter o ritmo da tarefa. Cantavam e, ao mesmo tempo, um pé esmagava as uvas, outro pé, um pé, outro pé, um pé, outro pé. Pisavam-nas como uma espécie de dança, com as sombras animadas refletidas nas paredes em frente, engrandecidas pela luz das velas. E o cheiro, o cheiro que se impregnava nos pés e nas pipas e na memória, intenso e persistente numa combinação de uva, açúcar, aguardente, fermentação.

Há relatos de uma e outra dissidente que se atrevia a sujar os pés na companhia dos homens, mas as convenções sociais ditavam que mulheres e homens se segregassem nas vindimas. Para evitar namoriscos, porque as diferenças entre os sexos assim o exigiam, porque a menstruação da mulher poderia comprometer a qualidade do vinho. As justificações eram várias, e quase todas se desmoronaram com o passar dos anos. As quintas de maior dimensão tinham dormitórios separados por sexo, mas nas “vinhas pequenas” onde o Sr. Joaquim amadureceu era tudo feito com trabalhadores locais que pernoitavam em casa e regressavam no dia seguinte. Melhor assim: os dormitórios eram quase invariavelmente montes de palha e farrapos improvisados no chão, amontoados, nunca se assemelhando ao conforto de uma boa cama.

A carga dos cestos era feita por homens, mais encorpados, embora as mulheres e crianças participassem por vezes em alturas de maior produção. Mas mais prático do que os cestos às costas, que chegavam a pesar 70 quilos, era o recurso aos animais. Carros de bois arrastavam balseiros, pipas e lenha e seguiam viagem penosa por colinas íngremes acima e estradas a perder de vista. “Agora já não há disso, nem cavalos – é tudo tratores e camionetas”, explica o Sr. Joaquim. “O meu pai às vezes, com três ou quatro cavalos, demorava meia hora a chegar ao destino. Agora vem uma carrinha e, em cinco minutos, põe-se tudo no sítio”.

As pipas eram levadas em carros de bois até às margens do rio Douro. Foto: Hulton-Deutsch Collection/CORBIS/Corbis via Getty Images

Grande parte do que constituía as vindimas dos anos 50 viu-se substituída por processos mecânicos. Talvez menos mágicos, místicos; algo empalidecidos quando comparados com o fascínio das fotos e testemunhos históricos do que foi outrora esta tradição. Mas a tecnologia é bem-vinda, sobretudo no que respeita aos barcos que percorriam a distância entre a zona produtora e o destino final, as caves. A enorme espadela, quase tão comprida como o próprio barco, originou uma designação mais arcaica, “rabudos”, que posteriormente evoluiu para “rabelos”. Eram barcos instáveis e com poucas condições de segurança, que o Sr. Joaquim conheceu apenas por testemunhos de outrem. Em meados da década de 60, os caminhos-de-ferro e o transporte rodoviário ditaram a sua extinção.

A tripulação era de número variável, com uma hierarquia bem definida que ia desde o cozinheiro ao dono do barco, passando pelos bravos marinheiros a quem incumbia a árdua tarefa de estabilizar a embarcação ao descer e remar contra a corrente na subida do rio. As velas e os remos nem sempre ajudavam a fazer frente a estas condições; quando tal acontecia, recorria-se à força humana ou animal para puxar o rabelo e prendê-lo à sirga. Era um Douro hostil, de disposição instável, com Adamastores em cada trouço e passagens tão difíceis que alguns juravam, em sussurros, estar amaldiçoadas. Nesses locais, construíam-se pequenas capelas de devoção a santos como Nossa Senhora de Cardia e que são ainda hoje testemunhos estáticos, imortalizados em pedra, do terror que aquelas águas invocavam. Os naufrágios aconteciam, vidas perdiam-se. O risco era conhecido e os rabelos preparavam-se desde o início da viagem com esta ideia de esperança cautelosa. Nada a fazer quanto aos tripulantes naufragados e às embarcações para sempre perdidas; as baixas mais evitáveis eram as pipas de vinho. Assim, jamais se enchiam até à totalidade – bastava até meio, para conseguirem flutuar se as águas indisciplinadas voltassem o barco. Em caso de naufrágio, caso não conseguissem ser recuperadas imediatamente nas margens do rio, haveriam de desaguar em qualquer outro ponto do Douro, em qualquer outro momento.

Homens carregando os barcos rabelos com pipas de vinho. Foto: Hulton-Deutsch Collection/CORBIS/Corbis via Getty Images

Se a vinicultura e o cheiro persistente a álcool adocicado nas plantações do Tabuaço remontam ao culto a Dionísio, o que dizer das celebrações finais? Durante meses, a alimentação era insuficiente tanto em quantidade como em qualidade nutricional. O “mata-bicho” pretendia, quase somente, enganar o bicho: aquietar a fome e manter o corpo oleado. “Naquele tempo, já se sabe como era: ou uma lasca de bacalhau, ou sardinha”, suspira o Sr. Joaquim. “Era o que calhava”. De resto, as calorias necessárias ao esforço físico do dia eram obtidas com o que mais havia em abundância: vinho, vinho, vinho.

Parecia tardar, mas finalmente chegava a época de festejo. O final das vindimas traduzia-se no alívio unânime pelo encerrar da parte mais dura de todo o processo, no direito da pele enrugada por banhos de sol e vinho à merecida sombra. Conhecia-se os proprietários da quinta e fazia-se “um símbolo, uma cortesia, uma coisa à antiga”: a entrega do ramo, oferecida à mulher do proprietário pela rapariga mais formosa da roga. Bastava “ir a uma oliveira, cortar um ramito, pôr lá um cacho”, já está. Mas o expoente dos festejos era mesmo o jantar, irrigado em comida, álcool e música. Tocavam-se instrumentos musicais e cantava-se à desgarrada, de faces ruborizadas pelo vinho produzido e consumido. Uma euforia de barriga cheia pelo repouso que tardara em vir, e pela remuneração que sabiam estar iminente. Era uma verdadeira festa de homenagem à divindade grega do hedonismo, antes de se limpar o rosto e começar a preparar o ano seguinte. Porque, como diz o ditado popular, até ao lavar dos cestos é vindima.

As celebrações que finalizam as vindimas incluem cantares e dançares. Foto: Hulton-Deutsch Collection/CORBIS/Corbis via Getty Images

“Anda aqui alguém que ganha sete euros por hora”, confidencia o Sr. Joaquim, de leve sorriso no rosto. “Naquele tempo era uma semana para ganhar este dinheiro em escudos”. Faz cálculos rápidos e constata, de ironia triste acentuada na voz: “não, nem numas semanas se ganhava isso”.

O regresso ao tempo presente, agosto de 2022, meio da tarde, quase que é vertiginoso. O menino de 12 anos está ali, tornado adulto, caminhando pelas mesmas ruas onde se apaixonou, trabalhou, construiu a sua existência. “A minha vida sempre foi isto”, entre cachos de uvas e solos tão quentes que a linha do horizonte parece pairar e estremecer. Agora, dedica-se em exclusivo à sua vindima – “não é que me dê muito lucro, mas pronto, ando cá entretido”. E entretém-se, dentro e fora das vindimas. Ergue-se cedo, mas não se deita cedo: às 5:00 da manhã está fora de casa, mas só regressa para dormir quase no limiar do dia seguinte. Faz sempre “qualquer coisa” até às 11:00, e com a chegada do calor pausa para almoçar. De barriga satisfeita, após o meio-dia, deita-se na cama com a janela aberta e pingos de sol derramados sobre os lençóis de agosto. O jantar é em casa da filha, onde prolonga o serão a conversar e a ver programas de televisão até retomar o caminho para casa às 23:00. Entretém-se, numa vida que sempre foi isto. E arrependimentos, tem? Hesita.

As vindimas dos anos 50 foram a principal fonte de sobrevivência da população rural do Douro e (ainda) o maior motor da vida económica da região. Mas como falar de prosperidade? “Eram tempos difíceis, para esquecer. Poderia ter ido para outro lado. Andei na tropa, lá fora, em Moçambique. Quando vim meti o requerimento para os correios, mas afinal não quis ir, e olhe…” Os olhos estreitam-se, talvez por culpa do sol. “Agora, passou, passou. Já tenho 80 anos.” Di-lo como se fosse uma sentença, condenando-o a um eterno repetir de amanheceres indiferenciáveis. As videiras enredadas a si desde os 12 anos, sem outra opção. “Passou, passou”.

Videiras em folha, cuidadosamente plantadas ao longo do terreno. O solo do Douro é pobre em água e pouco propício ao florescimento de vida, apesar da sua produção vinícola incomparável e mundialmente renomeada. São os interstícios dos pedaços laminados de xisto que permitem a absorção de humidade suficiente à cultura da vinha, apesar das condições hostis dos verões quentes e secos do microclima duriense, à qual poucas espécies sobrevivem. Mas a videira, planta resiliente de raízes profundas, consegue cavar até dezenas de metros no solo em busca de água e sobreviver à aridez que prevalece no verão. Raízes que penetram, fortificam-se debaixo do solo, perenemente enterradas no sítio a que chamam lar apesar das vicissitudes. O Sr. Joaquim também o sabe. E faz notar, consciente ou inconsciente do paralelismo entre si e as folhas que acaricia com um dedo: é esta resiliência perante a adversidade que dá origem às uvas intemporais dos vinhos do douro.

Sr. Joaquim, Tabuaço, agosto de 2022. Foto: DR