Svalbard Global Seed Vault
Svalbard Global Seed Vault
Tipo |
Banco de sementes, instalação (d), abrigo (en), estrutura subterrânea (en)
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Data |
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O Silo Global de Sementes de Svalbard (em norueguês: Svalbard globale frøhvelv), é um gigantesco silo para sementes construído em 2008[1] próximo da localidade de Longyearbyen, no arquipélago Ártico de Svalbard, a cerca de 1300 km ao sul do polo norte.
O governo norueguês financiou inteiramente a construção do cofre de aproximadamente 45 milhões de kr (US$ 8,8 milhões em 2008).[2]
O armazenamento de sementes no cofre é gratuito para os usuários finais; A Noruega e a Crop Trust pagam os custos operacionais.
O financiamento primário para a Trust vem de organizações como a Fundação Bill & Melinda Gates e de vários governos em todo o mundo.[3]
História
O silo foi oficialmente inaugurado em 26 de fevereiro de 2008,[5] embora as primeiras sementes tenham chegado um mês antes.[6]
Cinco por cento das sementes no cofre, cerca de 18.000 amostras com 500 sementes cada, vieram do Centre for Genetic Resources of the Netherlands (CGN), parte da Universidade de Wageningen, Holanda.[7]
Como parte do primeiro aniversário do silo, mais de 90.000 amostras de sementes de culturas alimentares foram armazenadas, elevando o número total de amostras de sementes para 400.000.[8]
Entre as novas sementes estão incluídas 32 variedades de batatas dos bancos de genes nacionais da Irlanda e 20.000 novas amostras do Serviço de Pesquisa Agrícola dos EUA.[9]
Outras amostras de sementes vieram do Canadá e da Suíça, bem como pesquisadores internacionais de sementes da Colômbia, México e Síria.[10]
Esta remessa de 4 toneladas (3,9 toneladas de comprimento; 4,4 toneladas de tonelada curta) elevou o número total de sementes armazenadas no cofre para mais de 20 milhões.[11]
A partir deste momento, o cofre continha amostras de aproximadamente um terço das variedades de alimentos mais importantes do mundo. Também como parte do aniversário, especialistas em produção de alimentos e mudanças climáticas se reuniram para uma conferência de três dias em Longyearbyen.[12]
O escultor japonês Mitsuaki Tanabe (田辺光彰) apresentou um trabalho para o cofre chamado "The Seed 2009 / Momi In-Situ Conservation".[13] Em 2010, uma delegação de sete congressistas dos EUA entregou uma série de diferentes variedades de pimenta.[14]
Em 2013, aproximadamente um terço da diversidade de gêneros armazenada em bancos de genes em todo o mundo estavam no silo.[15]
Em outubro de 2016, o cofre experimentou um grau anormalmente grande de intrusão de água devido a temperaturas acima da média e chuvas fortes.
Embora seja comum que um pouco de água penetre no túnel de entrada de 100 metros / 328 pés durante os meses mais quentes de primavera, neste caso a água invadiu 15 metros / 49 pés do túnel antes de congelar.[16]
A abóbada foi projetada para a intrusão de água e, como tal, as sementes não estavam em risco. Como resultado, no entanto, a agência norueguesa de obras públicas Statsbygg planeja fazer melhorias para prevenir qualquer intrusão no futuro, incluindo impermeabilizar as paredes do túnel, remover fontes de calor e escavar valas de drenagem externas.[17]
Para o 10º aniversário do silo, em 26 de fevereiro de 2018, uma remessa de 70.000 amostras foi entregue às instalações, elevando o número de amostras recebidas para mais de um milhão (sem contar as retiradas).[18]
Neste momento, o número total de amostras mantidas no cofre era de 967.216, representando mais de 13.000 anos de história agrícola.[19]
Construção
O silo foi projetado pelo arquiteto Peter W. Søderman [20] e construído no Monte Spitsein, em Esvalbarde, e é uma estrutura inteiramente subterrânea.O arquipélago de Esvalbardesitua-se a 1000 km ao norte da Noruega continental, e foi escolhido por ser um lugar a salvo das possíveis alterações climáticas causadas pelo aquecimento global e/ou quaisquer outras causas.
Em 19 de junho de 2006 os primeiros-ministros da Noruega, Suécia, Finlândia, Dinamarca e Islândia participaram em uma cerimônia de inicio das construções, "colocando a primeira pedra". As obras foram concluídas e o silo foi inaugurando em 26 de fevereiro de 2008.[1]
O silo tem capacidade para abrigar três milhões de sementes. O restante será preservado através de coleções de plantas vivas ou em laboratório. O "cofre" é aberto apenas quatro vezes por ano.[21]
As câmaras estarão a −18 °C, e se por alguma razão o sistema elétrico de refrigeração falhar, o montante de gelo e neve que naturalmente recobre o silo–o permafrost–manterá as sementes entre −4 °C e −6 °C.
Obra de arte
Ao longo da cobertura do silo e de sua fachada exposta existe uma instalação luminosa chamada Perpetual Repercussion, realizada pela artista norueguesa Dyveke Sanne, que marca a localização do cofre à distância.[22]
Na Noruega, projetos financiados pelo governo que excedem certo orçamento devem conter uma obra de arte.
A KORO (Kunst i offentlige rom)[23] [24] agência governamental norueguesa responsável por administrar arte em lugares públicos, entrou em contato com a artista para instalar uma obra luminosa que ressaltasse a importância e a beleza da aurora boreal.
A cobertura e a entrada do cofre são cobertas por placas de aço inoxidável de alta reflexibilidade. No verão, a instalação reflete as luzes polares enquanto que, no inverno, uma rede de cerca de 200 cabos de fibra óptica dá à instalação uma cor esverdeada.[25]
Primeira retirada
Em setembro de 2015, houve a primeira retirada de sementes para repor um banco genético de Aleppo, na Síria, e que foi parcialmente danificado por conta da guerra civil no país.[26]
Prémios e honras
O Silo Global de Sementes foi classificado como número 6 nas Melhores Invenções de 2008 da Revista Time.[27] Ele recebeu o Norwegian Lighting Prize em 2009.[28]
Capacidade
Ano | Espécies | Total de amostras | Ref. |
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2008 (Fev) | 268 000 | [29] | |
2010 | 500 000 | ||
2013 (Fev) | 774 601 | [30] | |
2014 (Fev) | 820 619 | [31] | |
2015 (Mai) | 4 000 | 840 000 | [32][33] |
2016 (Out) | 880 000 | [34] | |
2017 (Fev) | 930 821 | [35] | |
2018 (Nov) | 983 524 | [36] |
Referências
- «Svalbard Global Seed Vault - Crop Trust». web.archive.org. 2 de janeiro de 2019. Consultado em 16 de julho de 2019
Ligações externas
- Acordo prepara fundos para conservar genética de plantas
- See Inside the Svalbard Global Seed Vault (em inglês)
- Biodiversity 'doomsday vault' comes to life in Arctic (em inglês)
- Svalbard Global Seed Vault (em inglês)
- IITA's African seed collection first in Norway (em inglês)
- Global Crop Diversity Trust (em inglês)
- The Nordic Gene Bank (em inglês)
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(ajuda)Jornal Expresso
Sementes portuguesas de trigo, feijão e milho já estão a caminho da Arca de Noé dos vegetais
Portugal vai voltar a enviar sementes para o Banco Mundial de Sementes, em Svalbard, no Círculo Polar Ártico, parte da Noruega. É uma forma de garantir que, em caso de catástrofe, há sementes preservadas para garantir a sustentabilidade e a biodiversidade.
Fecham-se as caixas azuis, verificam-se os rótulos, colam-se os autocolantes com a bandeira portuguesa. Proveniência: Banco de Germoplasma Vegetal, Portugal.
Destino: Banco Mundial de Sementes, Svalbard, Noruega. Lá longe, na última cidade habitada do norte do mundo, estão conservadas entre rocha gelada, dentro de um bunker de betão, quase um milhão de sementes que asseguram parte da biodiversidade vegetal de quase todos os países do mundo. Portugal já depositou sementes em Svalbard duas vezes - no dia 25 de fevereiro vai depositar mais uma encomenda de 972 amostras.
Já lá estão centenas de sementes de feijão, fava e milho. Segue agora mais milho (780 amostras), mais feijão (60 amostras) e uma coleção preciosa de trigo (92 amostras), cuja primeira semente foi recolhida em 1930.
“É muito interessante ver o interesse dos agricultores, muitos deles novos, nestas sementes ancestrais. Há muitos chefes que nos visitam, jovens interessados em começar a sua própria produção biológica, padarias que querem incluir estas sementes no fabrico”, diz a diretora do centro, Ana Maria Barata, e engenheira responsável pela alquimia genética que aqui se passa todos os dias.
Há um dizer antigo, herdado de quem cultiva a terra e recuperado pela engenheira: “Quem tem sementes, tem o poder. A nossa alimentação depende do que temos aqui guardado”.
Estamos a poucos quilómetros do centro de Braga, num dos maiores bancos de sementes do mundo. Apenas 10% dos cerca de 1750 bancos mundiais de armazenamento de sements têm mais de 10 mil amostras, aqui há perto de 48 mil, provenientes de cerca de 120 espécies diferentes. Só de milho existem mais de 2.000 amostras, outras 1.700 são de feijão.
Em caixinhas pequenas, na sala de limpeza e separação de sementes, vemos feijão preto, feijão branco com pintas castanhas - “papo de rola”-, feijão-frade, feijão pequenino e com vários tons de castanho - “feijão carica” -, feijão castanho com a casca brilhante - “feijão farrobo”.
Logo ao lado está o milho, a semente mais importante deste centro - e a mais importante do país já que, em caso de emergência climática, guerra ou catástrofe natural, Portugal é responsável pelo fornecimento de sementes de milho para a replantação das culturas de todos os países da bacia mediterrânea.
“O nosso milho tem características que se adaptam perfeitamente a vários climas. Não foi melhorado geneticamente para tal, é mais robusto já de origem”, explica a engenheira.
O milho de Tavira é gordo e de um amarelo forte, o milho negro é mais pequeno e tem a ponta vermelha. Há milho totalmente branco, parece pintado - “milho branco pérola”, e milho “normal” aqui com a etiqueta de “milho de pipoca”. Aqui trabalha-se com coisas vivas - o trabalho germina e cresce e isso vê-se: ao microscópio, em tubos de ensaio ou na terra.
Amélia Coutinho é uma das primeiras pessoas a ver as sementes, depois de recolhidas junto dos agricultores que se disponibilizam para receber os representantes do banco e doar alguma da diversidade das suas terras. Está a separar sementes de cenoura silvestre: com um cartão coloca de um lado as viáveis e mais longe a matéria não-viva e as que estão estragadas.
“Está a ver estes pauzinhos? Esses não são precisos, o que é preciso é o que lá vem agarrado. Há 45 anos que faço este trabalho, é preciso conhecer bem cada semente e é preciso uma enorme minúcia”. O banco abriu em 1976, e no início o foco era apenas a conservação das várias espécies de milho, agora há quase tudo: alho, pereiras, macieiras couves, linho, cevada, ervilha.
Depois da limpeza segue-se a secagem, a embalagem e a conservação num enorme frigorífico com constante temperatura negativa. Em paralelo, as engenheiras do banco vão também fazendo controlos periódicos de viabilidade das sementes, através de um processo de germinação para ver se as sementes estão em bom estado ou é preciso regressar à terra para recolher exemplares mais fecundos.
O crescimento populacional mundial, que se prevê que vá atingir 9 mil milhões em 2050, exige mais alimentos, maior produção, maiores rendimentos. Em simultâneo, a urbanização está a roubar espaço ao cultivo, ao mesmo tempo que gigantes monoculturas, muitas vezes de sementes geneticamente modificadas, vão tirando hectares às pequenas plantações onde estas sementes mais antigas, mas economicamente menos apelativas, podiam sobreviver.
Se a isto juntarmos o desafio ambiental das alterações climáticas, é fácil ver porque é que a biodiversidade está ameaçada. Maria do Céu Albuquerque, ministra da Agricultura, veio fechar as caixas que seguem para a Noruega - e traçou as prioridades para a legislatura nesta matéria: “Estamos a criar condições para a biodiversidade mundial e para garantir que as nossas próprias espécies originais não se perdem”.
A sustentabilidade e as alterações climáticas, dois assuntos que vão ocupar as páginas do Expresso nos próximos 100 dias, são, garante a ministra, uma preocupação: “As alterações climáticas vão causar cada vez mais desastres naturais que podem levar à perda desta biodiversidade. No caso de haver um problema, este germoplasma vegetal pode ser disponibilizado para podermos continuar a ter uma alimentação segura”.
Segundo a lista de espécies vegetais “Plant List”, as plantas correspondem a 80% da dieta humana. Há 350 mil espécies vegetais reconhecidas, 30 mil das quais são comestíveis, sendo 7.000 cultivadas ou colhidas na natureza como alimento.
Mas 95% das calorias que consumimos provêm de apenas de apenas 30 dessas espécies - e 60% dessas estão concentradas no milho, trigo, arroz, o trigo e batata.
Se não preservamos várias espécies de cada um destes alimentos, capazes de resistir a “maus tratos” climáticos, episódios como uma praga de insectos, um ano de seca extrema ou a subida do nível das águas do mar a alimentação de milhões de pessoas pode estar em risco - principalmente se se alimentarem de um número muito reduzido de tipos de vegetais ou tubérculos.
A grande fome de 1845, na Irlanda, por escassez de batata, é um exemplo dos perigos da monocultura.