'Estripador de Lisboa' está vivo e mora perto de locais dos crimes
O analista
criminal Barra da Costa afirma ter encontrado o "estripador de Lisboa",
que "está vivo" e mora perto de um dos locais onde matou três
prostitutas nos anos 90, mas acredita que este não voltará a matar.

A descoberta do autor da
morte de três prostitutas, entre 1992 e 1993, foi a consequência da
elaboração do perfil deste assassino, que Barra da Costa realizou
durante a investigação que fez no contexto da sua tese de doutoramento,
que resultou no livro «Perfis Psicocriminais - Do Estripador de Lisboa
ao Profiler», que conta com o prefácio da procuradora-geral adjunta
Maria José Morgado.
Em entrevista à agência Lusa, o investigador contou que, durante a
consulta do processo do "estripador de Lisboa", se deparou com alguns
aspetos até então desconhecidos, pelo menos para este antigo
inspetor-chefe da Judiciária, como a existência de uma impressão digital
com 13 pontos característicos (com mais de 12 há uma certeza absoluta
da impressão em relação à pessoa).
Segundo este 'profiler criminal', trata-se de uma impressão
recolhida de uma caixa de cartão com pacotes de leite, no local do
último crime, na Póvoa de Santo Adrião. Uma outra era conhecida, mas com
insuficientes pontos característicos para a obtenção de uma
identificação.
"Ninguém fala nesta impressão digital [com 13 pontos
característicos], que consta do processo. Foi essa impressão digital que
eu recolhi quando fiz a consulta do processo e que pedi a um colega meu
que a relevasse em termos técnico-científicos para ser comparada",
afirmou.
Mais tarde, prosseguiu, encontrou alguém que entroncou no perfil que
construiu: "Sexo masculino, branco, na altura com 30-35 anos, reservado e
solitário, vivendo perto do local [de um dos crimes], distante, fumando
o tal cigarro [foi encontrada uma beata no corpo de uma das vítimas]".
O perfil apontou para alguém "com sentimentos profundos de raiva,
ódio e rancor, direcionados para as mulheres, em especial aquelas que
recaiam no seu tipo ideal de vítima, desenvolvidos durante anos, no
decorrer dos quais foi criando e aperfeiçoando as suas fantasias".
"De média-baixa condição sócio-económica, estima-se que
possua um coeficiente de inteligência dentro da média. A sua solidão
encontra-se relacionada com sentimentos de inadequação que ele próprio
sente perante si mesmo. Provavelmente é visto pelos demais como um
sujeito reservado, estranho, mas incapaz de atos tão cruéis.
Desconfiado, impulsivo e agressivo, sem capacidade para sentir qualquer
empatia, tornou-se impermeável aos sentimentos e à dor dos outros. A sua
crueldade, visível na forma como cometeu os crimes, é própria de alguém
frio e indiferente", disse.
Depois, "limitei-me a dar-lhe um dia um copo com água, comparámos as
impressões digitais que ficaram no copo com a tal impressão digital e...
bingo".
O indivíduo que Barra da Costa acredita ser o "estripador de Lisboa"
tem o mesmo nome que uma testemunha que consta do processo disse ter
ouvido na noite de um dos crimes.
"Uma testemunha terá ouvido a última das três vítimas gritar, com a
voz abafada, «ò fulano, não me faças mal» e "isso até está no processo e
o nome está lá", adiantou.
Sobre as razões que terão levado aos crimes, Barra da Costa desvia-se
um pouco das conclusões da sua tese, recuperando a morte do pai do
estripador.
"Penso que pode ter havido uma colagem afetiva, que este problema não
lhe diz respeito essencialmente a ele, mas a alguém da família,
nomeadamente o pai. E que em consequência dessa colagem ele tenha
descarregado em outras pessoas a raiva que sentia pela natureza dessa
morte. É essa ambivalência, entre o perfil realizado e os novos dados
entretanto obtidos, que procuro ainda esclarecer", disse.
Barra da Costa acredita que esta pessoa "não vai permitir contactos", pois "socialmente não é muito atreita a isso".
"Voltará ele a atacar? É muito difícil, porque já não tem as mesmas
características. Nem a idade, nem condições físicas para o fazer. As
pessoas podem de alguma maneira ficar descansadas", concluiu.
Os crimes do "estripador de Lisboa" já prescreveram, pelo que este homem não pode ser preso.