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21.8.25

Máquinas de rastos . O que são e os riscos

 

Máquinas de rastos são aliadas no combate a fogos. O que são e os riscos

Com os fogos a fustigarem várias regiões do país, nas últimas semanas tem sido, muitas vezes, mencionado o recurso a máquinas de rastos - que na terça-feira causou a morte a um homem. Saiba de que tipo de viaturas se tratam.

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© Facebook/Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil

Bernardo Matias
20/08/2025 15:13 ‧ ontem por Bernardo Matias


Portugal atravessa uma vaga de grandes incêndios florestais que, nas últimas semanas, afetaram muitos pontos do país - sobretudo na região norte.
Nos teatros de operações, as máquinas de rastos são muitas vezes utilizadas no combate às chamas. Segundo a Infopédia, máquina de rastos é uma designação dada "a diferentes veículos equipados com lagartas, próprios para a realização de trabalhos (agrícolas, de construção, etc.) em terrenos acidentados".

O que são máquinas de rastos?

As máquinas de rastos são de várias tipologias, desde escavadoras a tratores, passando por bulldozers, que estão equipadas com esteiras ('lagartas') em vez das rodas convencionais.

Os bulldozers, ou tratores de esteira, são as máquinas de rastos que mais habitualmente surgem associadas ao combate a incêndios, estando munidos de grandes lâminas à frente e de 'rippers' atrás. Estes têm o formato de ganchos de grandes dimensões, 'rasgando' o terreno de modo a prepará-lo. Já a lâmina frontal move e nivela terrenos.

A título de exemplo, uma máquina de rastos recentemente vista numa imagem numa publicação nas redes sociais do Exército português é uma Komatsu D65EX. Este trator de rastos tem 220 cv de potência às 1.950 rotações por minuto, debitados por um motor turbocomprimido de seis cilindros. A caixa de velocidades é automática.

O seu raio mínimo de viragem, segundo as especificações do fabricante, pode atingir os 2,2 metros (consoante o tipo de lâmina). As lâminas podem exercer pelo menos de 0,53 kg por centímetro cúbico de pressão sobre o solo. Quanto ao peso, varia entre os 21.180 kg e os 23.040 kg. Atrás, há ‘rippers’ de três dentes controlados hidraulicamente.

Para que servem?

A Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil explicou o seu uso no contexto dos incêndios: "Permitem criar ou ampliar faixas de contenção, facilitando o acesso de outros meios de combate e contribuindo significativamente para a consolidação do perímetro de incêndio durante as fases de rescaldo".

Aquela entidade esclareceu que a utilização envolve "uma estratégia previamente definida, coordenada por profissionais com profundo conhecimento do terreno". São tidos em conta diversos critérios relativos ao ponto de situação do fogo, tal como da topografia e acessibilidade aos locais. Sendo veículos de grandes dimensões, não podem ir ou ser transportados a todos os locais.

Máquinas de rastos são perigosas

Esta quarta-feira de madrugada, um homem de 65 anos morreu ao ser atingido por uma máquina de rastos, confirmou ao Notícias ao Minuto fonte do Comando Sub-regional de Emergência e Proteção Civil das Terras de Trás-os-Montes. As notícias sobre fatalidades na operação deste tipo de veículos não são incomuns, havendo riscos associados à sua utilização.

Pesados e capazes de arrastarem grandes quantidades de materiais, estas máquinas envolvem riscos de acidentes graves caso a utilização e interação com as mesmas não seja respeitada.

O operador deve garantir que os terrenos são estáveis e que está bem fixo no veículo, além de ter equipamento de proteção e de evitar comportamentos que possam originar quedas (o próprio posto de operação está em posição alta).

Também podem acontecer incidentes como quedas no acesso ou saída, incluindo em situações nas quais a máquina não está assente num plano nivelado. E, como tudo, uma máquina de rastos deve ser utilizada respeitando as capacidades para as quais está concebida.

Se abandonar a máquina, deve certificar-se de que esta fica totalmente imobilizada e em segurança. Já quem está no exterior, deve manter uma distância de segurança razoável para prevenir incidentes.*

* Texto - Notícias ao minuto 

27.8.24

Sismo de 26 de agosto de 2024 a W de Sines

 


2024-08-26 (IPMA)

No dia 26 de agosto de 2024, pelas 05h11m (hora local), ocorreu um sismo de magnitude local M5,3 (escala de Richter), com epicentro a cerca 60 km a Oeste de Sines (Setúbal) e a 25 km de profundidade.

Este sismo, que não causou danos, foi sentido com intensidade máxima IV/V na Escala de Mercalli Modificada (MM56) na região de Setúbal, Lisboa, Beja, Faro, Santarém e Leiria, tendo sido sentido com menor intensidade no resto do território do continente.

Até ao momento foram registadas (e não sentidas) 6 réplicas de pequena magnitude:

    05:47 - 1.2 ML
    06:40 - 1.1 ML
    07:14 - 0.9 ML
    07:27 - 1.0 ML
    11:44 - 1.6 ML
    11:56 – 1.5 ML

Decorridas as primeiras horas pós-sismo tinham já sido rececionados no IPMA, através do questionário macrossísmico online, mais de 10000 testemunhos referenciando os efeitos deste sismo.

Se a situação o justificar esta notícia será atualizada e serão emitidos novos comunicados.

A localização do epicentro de um sismo é um processo físico e matemático complexo que depende do conjunto de dados, dos algoritmos e dos modelos de propagação das ondas sísmicas. Agências diferentes podem produzir resultados ligeiramente diferentes. Do mesmo modo, as determinações preliminares são habitualmente corrigidas posteriormente, pela integração de mais informação. Em todos os casos acompanhe sempre as indicações dos serviços de proteção civil. Toda e qualquer utilização do conteúdo deste comunicado deverá sempre fazer referência à fonte.

A informação está atualizada em permanência também na app sismos@IPMA.

 

27.7.23

Incêndio em Cascais.

 

Incêndio em Cascais fez "temer o pior". Portugal tem 95% de eficácia

De acordo com o responsável pela pasta da Administração Interna, nos próximos dias poderá ser "possível ter alguns elementos indiciários" das causas do incêndio que, na terça-feira, deflagrou na zona de Alcabideche. Além disso, segundo José Luís Carneiro, Portugal conta com "o maior número de meios materiais, humanos e aéreos de sempre", o que, a par das condições climatéricas, tem contribuído para uma eficácia de 95% no que diz respeito a um "ataque rápido" aos incêndios.

Incêndio em Cascais fez "temer o pior". Portugal tem 95% de eficácia
Notícias ao Minuto

26/07/23 23:47 ‧ Há 11 Horas por Daniela Filipe

País Incêndios

O ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, salientou que o incêndio que deflagrou na tarde de terça-feira em Alcabideche, no concelho de Cascais, fez “temer o pior”, uma vez que os ventos poderiam ter encaminhado o fogo para a Serra de Sintra, o que seria “bastante trágico”. 

Conforme adiantou o responsável em declarações à RTP3, as causas deste incêndio estão a ser objeto de investigação por parte da Polícia Judiciária (PJ), em cooperação com a Guarda Nacional Republicana (GNR), sendo que, nos próximos dias, poderá ser “possível ter alguns elementos indiciários”.

José Luís Carneiro não deixou de prestar uma “palavra de agradecimento às mulheres e aos homens de todo o dispositivo da Proteção Civil, aos bombeiros, à Câmara Municipal de Cascais, e a todos os atores que contribuíram para que, tendo deflagrado às 17h00, e tendo ventos que nalguns momentos atingiram os 65 km/h, por volta das 4h00 da manhã estivesse em condições de estar dominado”.

Ainda que durante a manhã desta quarta-feira tenha sido possível “vencer” todas as frentes, o socialista admitiu que este “foi um incêndio que fez temer pelo pior”, uma vez que os ventos poderiam tê-lo “encaminhado durante a noite para a Serra de Sintra”.

“Isso seria, de facto, bastante trágico, a par das proximidades que teve com as habitações e com o próprio hospital”, complementou.

Portugal tem "maior número de meios" atualmente

De acordo com o responsável pela pasta da Administração Interna, um ataque rápido às frentes ativas é um fator “essencial” para a eficácia do combate aos incêndios, cuja estratégia foi, este ano, “melhorada com um maior número de meios”.

Estamos a falar do maior número de meios materiais, humanos e aéreos de sempre neste dispositivo, porque temos bem patente que o ataque inicial é mesmo essencial para evitar que uma ignição se possa vir a transformar num grande incêndio”, salientou.

José Luís Carneiro deu ainda conta de que, atualmente, Portugal tem uma taxa de eficácia de 95% no que diz respeito ao combate aos incêndios, para a qual muito tem contribuído a temperatura relativamente amena que se faz sentir, ao contrário do que ocorreu no ano passado e em períodos anteriores.

“Ou seja, entre a saída e a capacidade de debelar os incêndios até 90 minutos estamos a conseguir uma taxa de 95%. No ano que passou tivemos uma taxa de 90%, mas é evidente que há condições atmosféricas que também têm contribuído”, disse, exemplificando que os incêndios que estão a assolar a bacia do Mediterrâneo são ilustrativos daquilo que, em 2022, a tutela procurou transmitir.

Temperaturas acima de 30º, humidade abaixo de 30%, ventos acima de 30 km/h criam os chamados incêndios extremos. O que se está a viver na Grécia, em França, em Espanha e no Canadá são esses incêndios extremos, que têm momentos em que não é possível o combate. Portanto, trata-se de mitigar o risco e a proteção das pessoas e dos seus bens e, nas condições possíveis, poder enfraquecer estas frentes de incêndio e procurar aumentar os níveis de eficácia do combate”, esclareceu.

"Palavras de precaução são as melhores que podem ser deixadas"

Nessa linha, o ministro da Administração Interna atribuiu os melhores resultados sentidos até ao momento não só às condições climatéricas, mas também ao nível de eficácia do dispositivo da Proteção Civil, ao mesmo tempo que recordou que “há meses muito complicados”.

“Diria que, nestas matérias, palavras de precaução são mesmo as melhores que podem ser deixadas. Há meses muito complicados – agosto, setembro – o que significa que se pode prolongar até outubro. Recordo que, em 2017, um dos momentos mais críticos foi o mês de outubro”, lembrou, numa alusão aos incêndios na região Centro que provocaram 49 mortos e cerca de 70 feridos.

Além disso, José Luís Carneiro fez questão de reforçar que “dois terços dos incêndios têm causas negligentes no uso do fogo, das máquinas agrícolas, e das máquinas florestais”, dando também conta do perigo que viaturas em estradas representam no que diz respeito ao brotar de uma ignição, tal como sucedeu no incêndio que tem lavrado uma zona de mato durante esta quarta-feira, em Almodôvar.

“É muito relevante que, enquanto comunidade nacional, tenhamos a consciência de que dois terços dos incêndios têm a ver com ignições. Por mais meios, por mais conhecimento, por mais recursos que tenhamos, é mesmo importante evitar as ignições, porque é desse número reduzido que conseguimos maior eficácia no ataque inicial”, reiterou.

Vento tem dificultado combate aos incêndios

O ministro apontou ainda que, neste momento, há menos pessoas detidas por crimes associados a incêndios do que no ano de 2022. Isto porque, segundo o mesmo, “em meados de julho [do ano passado] estávamos com temperaturas de 47º e havia um quadro que obrigou a termos nacionais à adoção da declaração de alerta de contingência”.

“Felizmente, até agora, ainda não vivemos esse quadro atmosférico. O que tem tornado muito difícil o combate, e particularmente ontem, em Cascais, tem sido o vento: 65 km/h faz com que a intensidade do incêndio crie uma complexidade no combate, mesmo com temperaturas mais baixas”, ressalvou.

Recorde-se que o incêndio em Cascais foi dado como dominado pelas 04h00, estando no local 591 operacionais apoiados por 182 viaturas, de acordo com o site da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC).

Nove bombeiros sofreram ferimentos leves no combate às chamas, maioritariamente por "situações de exaustão", e quatro civis foram assistidos "por inalação de fumos", segundo revelou o comandante do Comando Sub-Regional de Emergência e Proteção Civil da Grande Lisboa, Hugo Santos, num ponto da situação realizado pelas 23h45 de terça-feira.

O incêndio florestal levou à retirada de perto de 90 pessoas "por precaução", incluindo dois grupos de escuteiros portugueses e espanhóis, adiantou à Lusa o presidente da Câmara de Cascais, Carlos Carreiras (PSD).

Foram ainda retirados moradores das localidades do Zambujeiro, Cabreiro ou Murches.

Por fim, cerca de 880 animais provenientes do canil municipal e da Associação São Francisco de Assis foram também transferidos para outro pavilhão municipal, sendo que "já estão todos de regresso aos seus locais de origem".

Leia Também: Meios continuam no terreno em trabalhos de consolidação em Cascais

 

 

"Como um maçarico". Fogo em Cascais em destaque na imprensa internacional

A informação sobre este grande incêndio, entretanto já dominado, 'ecoou' em vários meios internacionais.

"Como um maçarico". Fogo em Cascais em destaque na imprensa internacional
Notícias ao Minuto

10:50 - 26/07/23 por Ema Gil Pires

País Incêndio em Cascais

Porém, a informação não se circunscreveu aos meios de comunicação social portugueses e 'ecoou', nomeadamente, em vários meios internacionais.

Foi aconteceu, precisamente, com a Sky News, que num artigo de balanço sobre os fortes incêndios que se têm registado em vários países - como Itália, Croácia, Turquia e no norte de África -, escreveu que "600 bombeiros acorrem a incêndio português perto de cidade de férias".

"'Como um maçarico': O Mediterrâneo é assolado por incêndios florestais que se propagam na Croácia e em Portugal" foi, por sua vez, o título escolhido pelo britânico Guardian, enquanto a Reuters destacou que "Centenas de bombeiros esforçam-se por apagar o incêndio florestal em Portugal".

O tema chegou também a Espanha, com o El País a destacar que há já a registar "Pelo menos cinco mortos em incêndios em Itália, enquanto a Grécia, a Argélia, a Croácia e Portugal também combatem os incêndios".

A notícia também chegou ao outro lado do oceano Atlântico, nomeadamente ao Brasil, com o G1 a relatar - acompanhado por um vídeo - que os "bombeiros lutam contra incêndio em parque natural em Portugal". 

Segundo o mais recente balanço feito pela Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC), na manhã desta quarta-feira, o incêndio que deflagrou na tarde de terça-feira, no Parque Natural de Sintra-Cascais, "está dominado, mas não está na fase de rescaldo". Por essa razão, foram mantidos no local 500 operacionais, para tentar dar resposta aos "pontos quentes" ainda existentes.

No total, 13 pessoas ficaram feridas: nove bombeiros, que sofreram ferimentos leves nos combates às chamas, e quatro civis, que foram assistidos "por inalação de fumos".

Leia Também: Incêndio em Cascais dominado. Sete bombeiros permanecem no hospital

14.6.23

Incêndios no Canadá e Efeitos em Portugal

 

Incêndios no Canadá e Efeitos em Portugal

2023-06-14

Os incêndios florestais que há semanas assolam o Canadá, têm emitido para atmosfera quantidades significativas de gases e partículas que são transportados e dispersos pelos ventos.

Uma circulação ciclónica, associada a uma depressão centrada a noroeste dos Açores, terá promovido o transporte a larga escala destes poluentes, principalmente monóxido de carbono, ao longo do Atlântico Norte, tendo chegado a região dos Açores na passada terça-feira, 13 de junho (fig.1). Contudo, as concentrações destes poluentes são inferiores aos limites legais estabelecidos e, por isso, não deverão representar qualquer ameaça para a saúde humana.






No passado dia 8 de junho, o Instituto Norueguês de Investigação Ambiental e do Clima (NILU) confirmou a presença de partículas com origem nestes incêndios em amostras de ar recolhidas no anterior dia 7 de junho, no Observatório de Birkenes, a Sul da Noruega.

Estes poluentes continuarão a ser transportados pela referida circulação (fig.2), devendo chegar ao território da Península Ibérica a partir do próximo dia 18 de junho (fig.3), mas em concentrações menores que nos Açores.


O IPMA continuará a acompanhar esta situação e caso se justifique atualizará a informação.




7.2.23

PROJECTO HAARP

 

 
Será que o violento terremoto na Turquia e na Síria foi causado por um ser humano, teóricos da conspiração, e por causa do aviso emitido pela embaixada americana na Turquia aos seus cuidadores, dê-lhes o direito ??
Quando o tempo se transforma em uma arma Projeto Harpa - Harp
>.. O projeto americano HAARP Harp é um ramo da Star Wars, um projeto de manipulação da mudança climática e é uma das armas americanas de destruição em massa.
O projeto Harp foi criado no Alasca com co-financiamento da Força Aérea Americana e está a transformar o clima numa guerra espacial ou Star Wars.
Jornais japoneses acusaram os Estados Unidos e Israel do terremoto e tsunami de Tohoku que provocou vazamentos nucleares no Japão em 11 de março de 2014

4.9.22

Secas extremas seguidas de chuvas torrenciais: o ciclo vicioso provocado pelas alterações climáticas

 As inundações no Paquistão deixaram um terço do país debaixo de água, segundo disse o ministro paquistanês dos Negócios Estrangeiros. As vítimas mortais, numa contabilidade por baixo, já ultrapassaram as 1.200. Fazem-se contas a uns 15 mil feridos, mais de 200 mil casas destruídas, para cima de 6,4 milhões de pessoas afetadas de forma crítica - nomeadamente desalojados -, num total de mais de 33 milhões de pessoas cujas vidas foram perturbadas pelas chuvadas sem precedentes na história recente e pelas enxurradas que têm arrasado tudo no seu caminho: casas, estradas, pontes, pastos, negócios, campos agrícolas e gado.

  Mais de metade do Paquistão está a ser atingido por inundações. Já morreram quase mil pessoas Mais de metade do Paquistão está a ser atingido por inundações. Já morreram quase mil pessoas

Há milhões de pessoas sem acesso a comida, medicamentos e água potável e centenas de localidades isoladas do mundo sem ter sequer acesso a uma linha de telefone ou rede de telemóvel - um facto faz temer que as estimativas de vítimas possam estar subavaliadas. 

Além da necessidade de acudir à emergência imediata - enterrar os mortos, cuidar dos feridos, garantir comida, água potável e medicamentos, assegurar teto aos que o não têm -, haverá um longo caminho a percorrer após esta catástrofe, que começou a desenhar-se em junho com o início da época das monções. Não se trata apenas de reerguer habitações, negócios, fábricas, pontes, estradas, aldeias e cidades, mas também de garantir acesso a comida em localidades que viram o gado afogar-se e as plantações serem dizimadas pela fúria das águas e da lama. A perspetiva de um período de fome no futuro próximo é a ameaça mais imediata sobre as populações afetadas pelas chuvas neste país de 230 milhões de habitantes.

Antes de uma parte do país se ter afundado sob estas “monções em esteróides”, como lhes chamou António Guterres, o Paquistão enfrentou uma violenta vaga de calor, que também atingiu a vizinha Índia. Entre março e abril as temperaturas na Índia quebraram recordes que remontavam a 1901. No Paquistão, o calor chegou subitamente - e mais cedo do que era suposto. As temperaturas subiram para valores acima dos 40ºC, entre 6ºC e 7ºC acima das médias para a época, e a chuva de primavera praticamente não caiu. "Este é um fenómeno climatérico estranho que fez desaparecer completamente a primavera no Paquistão", constatou então a ministra para as Alterações Climáticas.

A vaga de calor e a seca de março/abril foram o primeiro golpe do ano sobre a produção agrícola de vastas regiões do país, secando culturas e matando animais. Muito do que se salvou da seca da primavera acabou por ser levado pelas enxurradas do verão.

  Secas extremas seguidas de chuvas torrenciais: o ciclo vicioso provocado pelas alterações climáticas 

Secas e enxurradas: o ciclo de destruição

A combinação de seca extrema, seguida de chuvas diluvianas e enxurradas destrutivas não é um exclusivo do Paquistão e tem-se verificado um pouco por todo o mundo. Sobretudo tem-se verificado com mais frequência do que era suposto acontecer com este tipo de fenómenos extremos.

Segundo os especialistas, o calor extremo e a chuva extrema estão diretamente relacionados e ambos são alimentados pelas alterações climáticas. As vagas de calor por todo o mundo estão a acontecer com mais frequência do que alguma vez foi registado, fazendo aumentar a evaporação de água, tanto nos oceanos como na terra. Mas como uma atmosfera mais quente permite uma maior concentração de humidade, o vapor de água acumula-se mais, até ao momento em que cai violentamente na forma de fortes chuvadas. Ora, como a terra está demasiado seca não absorve a água e esta corre em enxurradas violentas. E o ciclo vicioso continua…

No caso concreto do Paquistão, estará a sofrer as consequências do aumento das temperaturas no sul da Ásia - atingindo até 50ºC - e o aumento da temperatura do Índico, provocando as tais “moções em esteroides” de que falou Guterres: apenas em agosto caiu sobre o país três vezes mais chuva do que a média dos últimos 30 anos. Sindh, a província mais afetada, com uma população de 50 milhões, registou 466% mais chuva do que a média das últimas três décadas.

Este ano está a acontecer o mesmo fenómeno noutros pontos da Ásia e da América do Norte. Veja-se o Texas, nos EUA. Depois da seca nos primeiros meses do ano, Dallas registou um dilúvio em julho que fez cair 25 cm de chuva num único dia. A terra não foi capaz de absorver tanta água em tão pouco tempo. Até julho, mais de metade do estado do Texas estava em seca extrema - o algodão morreu nos campos e inúmeros produtores de gado tiveram de matar todos ou parte dos seus animais por não os conseguirem alimentar. A área em torno de Dallas estava completamente seca há mais de três meses, com o solo a mostrar aquele aspeto duro e rachado, de barro completamente ressequido. Este é o cenário perfeito para inundações repentinas e enxurradas - foi exatamente o que aconteceu em julho.

Segundo a Reuters, citando dados das autoridades norte-americanas, houve outras quatro grandes inundações repentinas nos Estados Unidos desde Julho - no Kentucky, no leste do Illinois, no Vale da Morte (deserto da Califórnia) e na cidade de St. Louis, no Missouri. Cada um destes casos registou chuva suficiente para ser considerado um evento de uma vez em 1000 anos, segundo as tendências históricas.

Esta semana, chuvas inesperadas também fizeram transbordar o Rio Mississipi, tendo as autoridades locais alertado muitas populações para que evacuem diversas localidades - mas este é um fenómeno diferente, em que o leito do rio vai subindo até transbordar, e essa evolução pode ser monitorizada e as consequências podem ser previstas e as populações alertadas. O problema das chuvas torrenciais sobre territórios que estavam em seca extrema é a sua imprevisibilidade e violência no espaço de muito poucas horas, tornando quase impossível minorar as suas consequências. 

  Secas extremas seguidas de chuvas torrenciais: o ciclo vicioso provocado pelas alterações climáticas

China: depois da seca… o medo de inundações 

As autoridades chinesas, a braços com uma seca que atinge boa parte do país com enorme severidade, já se estão a preparar para a possibilidade de grandes chuvas que possam provocar enxurradas que agravem ainda mais a situação de emergência que se vive em grande parte do país, sobretudo a sul. Dezenas de pequenos e médios rios já desapareceram este verão e o maior rio do país, o Yangtzé, está no nível mais baixo alguma vez registado.

As consequências estão a fazer-se sentir nas regiões próximas do Vale do Yangtzé, com a destruição de produções agrícolas e de pecuária, mas fazem-se sentir em boa parte da China até Xangai, pois o Yangtzé alimenta uma grande rede de barragens que produzem energia elétrica que chega a diversos pontos do país. Sem água, as centrais hidroelétricas não funcionam; sem eletricidade, as fábricas fecham e as famílias veem o seu consumo de energia afetado, precisamente quando mais precisam de ligar ventoinhas e ar condicionado para enfrentar a vaga de calor. Foi este o retrato da vida em várias províncias da China ao longo do mês de agosto, com a atividade industrial suspensa, racionamento de eletricidade, luzes de espaços públicos desligadas até no famoso skyline do Bund, em Xangai. As regiões industriais de Sichuan e Chongqing, no Sul da China, foram as mais afetadas - Chongqing continua sem permitir que as fábricas funcionem. A paragem da indústria pode ter consequências nas cadeias de produção globais de automóveis, telemóveis e computadores.

Porém, esta pode ser apenas uma parte da história. As autoridades chinesas já temem a parte que pode vir a seguir e estão a alertar milhares de pessoas para que sejam deslocadas assim que comecem as chuvas de fim de verão e de outono.

Alguns dos locais que neste momento sofrem com falta de água podem em breve sofrer com água a mais. "Com um clima mais quente, é expectável que os mesmos lugares experimentem tanto inundações como secas", diz o cientista climático Deepti Singh, da Universidade Estadual de Washington, citado pela Reuters.

Mais de 119 mil pessoas já foram retiradas ou estão prontas para isso em regiões do sudoeste da China que são consideradas em risco de inundação assim que as chuvas comecem a cair com força. E na segunda-feira passada, o ministro chinês da Energia avisou que partes da China vão mesmo “alternar entre secas e inundações”, pedindo vigilância apertada assim que a chuva comece - os maiores receios são sobre as margens e os leitos dos rios ressequidos, que serão incapazes de absorver chuva intensa. Ao mesmo tempo que alertou para o risco de cheias e enxurradas, o ministro da Energia avisou as autoridades locais que devem ter capacidade de armazenar a água da chuva para precaver futuras secas e para ajudar a aliviar a seca noutras partes do país.

Portugal também não é alheio a este ciclo

: períodos de pouca ou nenhuma chuva, que deixam a terra ressequida e incapaz de absorver a água, e é como se todo o território estivesse coberto de alcatrão impermeável, como acontece nas ruas das cidades. Depois, chuvas intensas que se transformam em correntes, como se fossem rios de água e lama. Muitas vezes com a agravante de a época de calor ter possibilitado fogos que desflorestaram boa parte do território, acentuando ainda mais o impacto das chuva excessiva e das enxurradas instantâneas.

Um ciclo, dizem os cientistas, irá continuar a acontecer, possivelmente com mais intensidade e mais frequência, devido ao aquecimento global. 

Secas extremas seguidas de chuvas torrenciais: o ciclo vicioso provocado pelas alterações climáticas 

O azar do Paquistão

 

O caso do Paquistão é particularmente notável, pois o país é um dos mais afetados pelas alterações climáticas apesar de pouco contribuir para o aquecimento global. Segundo dados citados pela CNN Internacional, o Paquistão contribui com a emissão de apenas 1% dos gases responsáveis pelo aquecimento do planeta mas está em oitavo lugar na lista dos países mais fustigados por fenómenos climatéricos extremos. O Global Climate Risk Index analisou o impacto das alterações climáticas em todos os países, entre 2000 e 2019, e concluiu que Porto Rico é o país mais castigado por esta nova realidade, seguido de Myanmar, Haiti e as Filipinas. Moçambique surge em quinto lugar, seguindo-se as Bahamas e o Bangladesh. O Paquistão é o oitavo país mais afetado e o top dez fica fechado com a Tailândia e o Nepal.

A recuperação do Paquistão pode demorar anos e necessitará de verbas que as autoridades estimam em 10 mil milhões de dólares - se, entretanto, não ocorrerem mais fenómenos extremos que causem mais danos. 

A questão é: quem deve pagar a conta do dano causado por alterações climáticas para as quais o país quase não contribuiu? “Vemos consistentemente devastação climática na forma de inundações, monções, secas extensas, ondas de calor extremas. E, francamente, o povo do Paquistão, os cidadãos do Paquistão, estão a pagar o preço nas suas vidas, no seu sustento, pela industrialização dos países ricos que resultou nesta mudança climática", disse o ministro dos Negócios Estrangeiros paquistanês, Bilawal Bhutto Zardari, à CNN Internacional.

Como se as chuvas intensas não bastassem, o Paquistão está a braços com outro fenómeno, igualmente provocado pelo aquecimento global: o degelo de glaciares. 

O Paquistão é país do mundo com mais glaciares fora das regiões polares, mas conforme o clima aquece, e os glaciares derretem, mais provável é a queda de grandes quantidades de gelo, que se transforma numa “explosão” de água capaz de levar tudo à sua frente. O principal responsável da agência meteorológica do país advertiu que, só este ano, o Paquistão assistiu ao triplo da quantidade habitual de explosões de lagos glaciares - uma súbita libertação de água de um lago alimentado pelo degelo dos glaciares - que pode causar inundações catastróficas.

"Estes incidentes ocorrem após os glaciares derreterem, devido ao aumento da temperatura", disse Sardar Sarfaraz à Reuters, acrescentando: "As alterações climáticas são a razão básica disto".

22.9.21

FOGO JUNTO A MURCHES

BOMBEIROS salvam do fogo parque urbano em Murches


FOGO começou junto ao passadiço (Créditos: BvAlcabideche)


Por REDAÇÃO
21 setembro 2021 | 19h47

Um incêndio, que deflagrou, esta terça-feira, à tarde, na encosta de acesso ao parque urbano das Penhas do Marmeleiro, em Murches, mobilizou 61 Bombeiros e um helicóptero vindo de Mafra, tendo sido controlado rapidamente devido à intervenção musculada dos operacionais. 

INTERVENÇÃO musculada dos Bombeiros impediu que as chamas alastrassem
_______________________________

O fogo ter-se-á iniciado, em circunstâncias que deverão ser agora averiguadas pelas autoridades, junto ao passadiço, que dá acesso ao parque urbano, que não foi atingido devido à pronta intervenção dos Bombeiros. 

"Arderam cerca de mil metros quadrados", disse, a Cascais24h José Palha Gomes, comandante dos Bombeiros de Alcabideche, que comandou as operações no local. 

COMANDANTE José Palha Gomes: "Arderam cerca de mil metros quadrados de mato" 
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No combate às chamas, rapidamente debeladas devido à pronta intervenção das equipas dos Bombeiros, estiveram empenhados 61 operacionais, apoiados por 15 veículos, dos Corpos de Bombeiros de Alcabideche, Cascais, Estoril e Almoçageme e, ainda, pelo meio aéreo operado pela  Unidade de Emergência de Proteção e Socorro (UEPS)  da GNR, estacionado no heliporto de Mafra.

Também o Serviço Municipal de Proteção Civil e a GNR de Alcabideche estiveram no local.

BOMBEIROS evitaram o pior esta terça-feira, à tarde, em Murches






16.10.19

O INCÊNDIO NO PINHAL DE LEIRIA em 1916 e em 2017.

Há 101 anos, um grande incêndio consumiu o Pinhal de Leiria.

 Foi assim.

Em 1916, 150 hectares de pinhal arderam em Leiria e levantaram dúvidas sobre as políticas de proteção da floresta.

 Cento e um anos depois, tudo parece repetir-se.




 Na época, foi assim que aconteceu.


  • Em 1916, Portugal tinha uma luta em mãos: o país, especialmente a região centro, estava constantemente a ser fustigada por incêndios de grandes dimensões.
     Acácio de Paiva — poeta e jornalista leiriense que também contribuía para jornais como o “Diário de Notícias” e “O Mensageiro” — dizia que “os repetidos incêndios no pinhal de Leiria, a maior e melhor mata do Estado, constituindo uma verdadeira riqueza natural, tem chamado a atenção de toda a imprensa, que reclama, com os habitantes da região, providências urgentes dos poderes públicos”.
     E depois opinava: “Estes ouviram as reclamações, mas triste foi que se tivessem de formular, porque remediar vale muito menos do que prevenir.
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    As perguntas que Acácio de Paiva assinava numa crónica da Ilustração Portuguesa eram muito semelhantes às que hoje ainda se formulam: “Serão [os planos para diminuir os incêndios] ao menos eficazes? 
     Conseguir-se-á uma vigilância suficiente e permanente? Não se voltará, passada a impressão da catástrofe, à indiferença do costume?
      Será necessário fundar uma Sociedade dos Amigos do Pinhal de Leiria, como se fundou a dos Amigos do Jardim Zoológicos, a dos Amigos do Castelo de Leiria, a dos Amigos da Amadora, etc., e todas elas mais cuidadosas do que as repartições cujo fim é, precisamente, a defesa do património geral?”

    A revolta de Acácio Paiva tinha raízes num incêndio que consumiu grande parte do Pinhal d’El Rei, mandado construir por D. Afonso III e aperfeiçoado por D. Dinis, no início de setembro daquele ano.
     O mesmo que este domingo ( 15 de Outubro de 2017 )foi ameaçado pelas chamas, obrigando a evacuar aldeias e vilas no distrito de Leiria. 

    A 4 de Setembro de 1916 na Ilustração Portuguesa suplemento que acompanhava o jornal “O Século”, enchia quatro páginas de jornal com um texto assinado por Floreano sobre o que havia acontecido dois dias antes no pinhal da Marinha Grande e de como a população lutou contra o fogo. Pode lê-lo na íntegra aqui em baixo.

    O fogo extinguira-se dois dias antes. Que pena não ter passado por ali naquela ocasião! Devia ser um espetáculo assombroso! Parecia que o chão ainda escaldava debaixo dos pés e que no ar mal de dissipavam os últimos novelos de fumo e de cinzas.

    Trepei ao alto de uma duna fixada e convertida pelo precioso trabalho dos pinheiros num monte sólido e fértil. Era simplesmente desolador! Estendia-se diante de mim, a perder de vista, um trato de muitos hectares de pinhal novo, com as suas ramas torrificadas, mas ainda aderentes pela sua resistência excecional.
     Ao de cima dessa extensa massa carbonizada erguiam-se tristonhos, aqui e além, os pinheiros velhos, de cuja semente haviam nascido os outros. 
     Apesar de uma altura de 20 metros ou mais, as suas comas haviam sido alcançadas pelas labaredas! Mortas e bem mortas, aquelas gigantes sentinelas das dunas! Recordavam as heróicas sentinelas de Pompeia, surpreendidas e incineradas nos seus postos pela lava do Vesúvio, conservadas na mesma forma e na mesma atitude, através de séculos, ao abrigo das abóbadas sob que ficaram sepultadas.
     Desfizeram-se com a primeira lufada de ar fresco que lhes trouxeram as excavações dos arqueólogos. 
    Também os primeiros sopros ásperos de outono hão de reduzir às linhas hirtas e falhadas do seu esqueleto tantos milhares de árvores, há poucas horas ainda tão verdes e orgulhosas do seu porte, se antes disso o machado do lenheiro não fizer desaparecer a obra infame do incendiário.

    Que dor de alma ver tanta floresta destruída numa época tão angustiosamente falha de madeira e de lenha! Aquele crime enormíssimo nem parece ter sido cometido por portugueses contra sua própria terra, contra a sua própria vida e a da sua família; porque, devorado pelo fogo o Pinhal de Leiria, essa majestosa floresta de 25 quilómetros por 9, deixou de ter razão a existência de todos os povos que vivem à sua sombra saudável e hospitaleira.

    E como essa dor se refletia nos olhos e nas palavras de um pobre velho, que ainda hoje é dos primeiros a acudir os fogos do Pinhal, que lhe doem, que o afligem como se da sua casinha em chamas! Não tinha memória de outro em semelhantes circunstâncias.
     Sempre foram 150 hectares, ou seja um milhão e quinhentos mil metros quadrados de pinhal, novo e velho, absolutamente perdidos.
     As chamas rebentaram em três pontos ao mesmo tempo. Tocadas pelo vento e alimentadas pelo mato miúdo e pela caruma seca que cobriam o solo, não tardaram a cruzar-se num grande mar de fogo. Uma coisa sublimemente horrível!

    Buzinas, apitos, toques de sino, gritaria, alvoroçaram as povoações convizinhas, das quais a principal é a vila da Marinha Grande. Nas fábricas, nos campos, em casa não ficou ninguém.
      Todos munidos de enxadas, machados, pás, forquilhas, ancinhos, do primeiro instrumento que topavam à mão, abalaram desordenadamente para atacar o fogo; e centenas de mulheres também se puseram a caminho, com cântaros de água da cabeça para matar a sede aos homens, que devia ser insaciável no meio da faina debaixo daquela torreira.

    Na fúria com que toda a gente se atirava ao fogo não havia visivelmente um plano de ataque, executando a uma voz imperiosa de comando; mas havia uma perícia e uma tática individuais que davam ao conjunto dos esforços uma admirável unidade de ação.
     Abrem-se aceiros, compridos e largos, machadando sem piedade belas árvores para atalhar a marcha galopante do fogo, que as devoraria, a elas e a muitas mais, sendo admirável como essa gente se estendia numa linha rigorosa de combate, sem se estorvar uma à outra.

    Já se sentia o bafão estiolante do fogo, o crepitar do lenho verde abarcado pelas labaredas, o rugir surdo da fornalha rolante, em que esses valentes se podiam ver, de um momento para o outro e irremediavelmente, envolvidos; mas eles continuavam a manejar o machado, com o rosto afogueado, escorrendo em suor e arfando fortemente como os antigos ciclopes na forja abrasadora.
     Outros roçavam o mato e procuravam arredá-lo do caminho do fogo; estes deitavam pás de terra sobre a vegetação miúda para o abafar; aqueles abriam arrifes à enxada tentando atalhar-lhe a marcha de todas as formas possíveis.
     Daqui como se despegavam chamas para ir levar o incêndio muitos metros além, cercando por vezes os homens com tal surpresa que dificilmente saíam ilesos.

    São tão rápidos estes saltos do fogo, tão caprichosas e vivas as voltas que ele dá, que nem aos bichos que vivem acoitados na floresta lhes vale o instinto e a agilidade para escaparem.
      Raposas, coelhos, lebres, cobras, ouriços, texugos, parecem todos tomados de loucura e, na sua fuga, esbarram nos homens, metem-se debaixo das enxadas e dos machados, caem carbonizados dos matagais ardentes! As próprias aves, como as rolas — as pobrezinhas! — nem se desenvecilham num voo alto por entre os pinheiros espessos a tempo de se salvar.
    Também se lhes encontram os restos nas cinzas do imenso braseiro.

    Mas a fase culminante da batalha é o contrafogo. Abre-se um aceiro largo. Lança-se lumo, bem entendido, do lado onde lavra o incêndio. Este novo fogo vai ao encontro do outro.
     Avançam ambos velozes, rosnam cóleras tremendas, chocam-se com estranho estampido e ambos expiram numa explosão medonha, indo as últimas línguas de fogo e rolos de fumo desfazer-se bem alto na atmosfera.

    Segue-se então brusco um silêncio de morte. Se o mar encrespado, bramindo furioso, se estagnasse de súbito num lago dormente, não nos chocaria mais brutal impressão de contraste. Até o vento se acalmou.
     A forte exclamação de vitória, de alívio, saiu uníssona de tantas bocas, sucedeu o arfar surdo do cansaço e o sorvo ansioso de muitos cântaros de água, atirando-se toda essa gente, extenuadíssima, para o chão, onde não andara o lume, e contemplando com os olhos embaciados de água tão hediondo quadro de devastação.

    E o que iria talvez a essa hora, de remorso no espírito dos bárbaros incendiários ao contemplarem, sabe Deus de onde, os horrorosos efeitos da sua obra nefasta? Daí…
    Ou Nero mandasse deitar, ou não, fogo a Roma para deliciar a sua alma negra com os horrores de tão estranho espetáculo; o que é facto é que ele pôs-se, todo enlevado, a entoar ao som da lira um hino ao célebre incêndio de Tróia!”