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29.8.20

JOSÉ ORTEGA Y GASSET

A VIDA ( Foto de J.P.L. )
A vida que nos é dada tem os seus minutos contados e, além disso, é-nos dada vazia.
 Quer queiramos quer não, temos de preenchê-la por nossa conta: isso é, temos de ocupá-la, de um ou de outro modo.
  Por isso, a substância  de cada vida reside nas suas ocupações. 
Ao animal não somente lhe é dada a sua vida, mas também o reportório invariável da sua conduta.
  Sem a sua intervenção, os instintos dão-lhe já decidido o que vai fazer e evitar. 
Por isso, não pode dizer-se do animal que se ocupa nisto ou naquilo. 
A sua vida não esteve nunca vazia, indeterminada. 
Mas o homem é um animal que perdeu o sistema dos seus instintos, ou, o que é igual deles conserva só resíduos e cotos incapazes de lhe impor um plano de comportamento.

   Ao encontrar-se existindo, encontra-se perante um pavoroso vazio. Não sabe o que fazer; tem ele mesmo que inventar os seus afazeres ou ocupações.
   Se contasse com um tempo infinito diante de si, não importaria grandemente: poderia ir fazendo o que lhe ocorresse, experimentando, uma após outra, as ocupações imagináveis.

 Mas aí está!
a vida é breve e urgente; consiste sobretudo em pressa, e não há outro remédio senão escolher um programa de existência, com exclusão dos restantes; renunciar a ser uma coisa para poder ser outra; em suma, preferir uma ocupação às restantes.

   O facto mesmo de que as nossas línguas empreguem a palavra  « ocupação » nesse sentido revela que os homens viram desde há muito, talvez desde o princípio, a vida como um « espaço  » de tempo que os nossos actos vão enchendo, incompenetráveis uns com os outros,tal como os corpos.

   Com a vida, é claro, é-nos imposta uma longa série de necessidades a que não é possível fugir, que temos de enfrentar sob pena de sucumbir.

 Mas não nos foram impostos os meios e modos de satisfazê-las, de sorte que também nesta ordem do inevitável temos que inventar - cada um por si ou aprendendo-o em usos e tradições - o reportório das nossas acções. ( 1 )




(1 ) José Ortega Y Gasset.
     " Sobre a Caça e os Touros "
     1989 Edições Cotovia, ldª



José Ortega y Gasset

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.


José Ortega y Gasset

Ortega y Gasset durante a década de 20
Nascimento 9 de maio de 1883
Madrid
Morte 18 de outubro de 1955 (72 anos)
Madrid
Nacionalidade Espanha Espanhol
Progenitores Mãe: Dolores Gasset Chinchilla
Pai: José Ortega Munilla
Cônjuge Rosa Spottorno Topete (1914-2007)
Filho(s) José Ortega Spottorno (1916-2002)
Soledad Ortega Spottorno(1910–1955)
Ocupação Filósofo, Historiador, Politólogo, Escritor, Ensaísta, Jornalista
Prémios Medalla Goethe de la ciudad de Fráncfort (1949)
Movimento literário Novecentismo
Magnum opus A Rebelião das Massas
Escola/tradição Escola de Madrid (fundador)
Perspectivismo
Pragmatismo
Neokantismo
Fenomenologia
Existencialismo
Vitalismo
Historicismo
Liberalismo
Ideias notáveis Hipótese de Ortega
Homem-Massa
Razão vital
Eu sou eu e minha circunstância
Religião Agnóstico
Assinatura
Firma de José Ortega y Gasset.svg



José Ortega y Gasset (Madrid, 9 de maio de 1883 — Madrid, 18 de outubro de 1955) foi um ensaísta, jornalista e ativista político, fundador da Escola de Madrid. Ortega é amplamente considerado o maior filósofo espanhol do Século XX.[1][2]
Ortega foi um dos primeiros autores a tratar do problema da historicidade fora dos padrões do evolucionismo, do marxismo ou do positivismo. Também foi um dos primeiros a valorizar a importância dos conceitos em matérias de história e a estender à filosofia as conclusões de Einstein, além de afirmar a necessidade de uma historicidade como modo de suplantar o esgotamento da metafísica e do idealismo.[3] Ortega atribui à história uma nova categoria do conhecimento, aos moldes de Martin Heidegger, seu contemporâneo.[3]
De acordo com Ortega, a realidade está em nossa vivência histórica. Autor da frase, ”eu sou eu e minha circunstância”, para ele viver não se trata de termos uma consciência intencional, aos moldes fenomenológico, mas sim a maneira como lidamos com a circunstância da qual não nos separamos: “A vida não é recepção do que se passa fora, antes pelo contrário, consiste em pura atuação, viver é interior, portanto, um processo de dentro para fora, em que invadimos o contorno com atos, obras, costumes, maneiras, produções segundo estilo originário que está previsto em nossa sensibilidade.”[4]
Seu pensamento impactou diversas áreas do saber. Em sua memória, o jornal espanhol El País concede o Prêmio Ortega y Gasset anualmente àqueles que se destacam no campo do jornalismo e da comunicação.[5]

Biografia

Infância e juventude

José Ortega y Gasset nasceu em Madrid, no dia 9 de maio de 1883, em uma família pertencente à burguesia liberal do final do século XIX. A família de sua mãe era dona do jornal El Imparcial, de Madrid, e seu pai, José Ortega y Munilla, era jornalista e editor do jornal. 


Ortega y Gasset em 1920




O fato de ser criado por uma família tão intimamente ligada à atividade jornalística teve repercussões importantes no desenvolvimento de sua formação intelectual e de sua forma de expressão literária. De fato, uma grande parte de seus escritos filosóficos, e até mesmo uma grande parte de sua atividade profissional, foram desenvolvidos em contato com o jornalismo.
Depois de aprender jornalismo em Madri, com Manuel Martínez e José del Río Labandera, em 1891 o jovem Ortega foi enviado para estudar o bacharelado na escola que os jesuítas dirigiam no bairro de El Palo, em Málaga. O fato de Ortega ter recebido sua formação básica em uma escola jesuíta na cidade de Málaga também marcou sua vida intelectual.

Começo de carreira

Em 1897, depois de concluir seu bacharelado em Málaga, Ortega começou seus estudos universitários, primeiro em Deusto e logo depois em Madri. Aos os quinze anos o jovem Ortega testemunhou um evento histórico da maior importância, que levou toda uma geração de espanhóis a considerar o problema da Espanha. Este evento foi a perda dos últimos remanescentes do império colonial espanhol. Em 1898, pela Paz de Paris, que pôs fim à guerra hispano-americana, a Espanha teve de ceder aos jovens e poderosos Estados Unidos da América (que, um dia, havia ajudado a alcançar a independência) suas últimas possessões coloniais: Cuba, Porto Rico e Filipinas. Este evento trabalhou na Espanha como um revulsivo da consciência nacional, que levou as mentes mais lúcidas do momento (Miguel de Unamuno, Pío Baroja, Antonio Machado e o próprio Ortega) a considerar o problema do declínio físico e moral da Espanha. A geração marcada pelo desastre nacional, a Geração de 98, concentrou grande parte de seus esforços intelectuais na reflexão sobre a etiologia e o diagnóstico da "doença na Espanha". 




José Ortega y Gasset (c.1950).





Dentro do espírito de sua geração, Ortega tomou consciência do problema da Espanha e diagnosticou que tal problema residia no individualismo dos homens e regiões da Espanha, que não sentiam uma preocupação comum com os assuntos nacionais. Por isso, ele propôs que a regeneração da Espanha só poderia vir de uma consciência entusiasta de uma missão nacional. Para que esta missão fosse realizada com sucesso, Ortega propôs a necessidade da existência de uma elite intelectual – à qual ele próprio se sentia integrado – que, tirando o melhor do mundo ocidental, saberia como "promover a organização de uma minoria" que se encarregaria da educação política das massas".[6]
É assim que o pensamento do jovem Ortega se relaciona com o regeneracionismo e um dos aspectos do krausismo espanhol. Embora os pressupostos filosóficos de Ortega e os dos krausistas difiram marcadamente na realização política e cultural de tais pressupostos, ambos coincidem em vários pontos-chave: que a situação da Espanha na época era negativa e, portanto, deveria ser superada; que esta superação só poderia ser feita recorrendo à aclimatação do pensamento europeu à Espanha, e que para isso seria necessária a existência de grupos dirigentes para permitir a atualização da cultura espanhola.

Influências

É precisamente neste contexto de desejo de beber em fontes culturais europeias para aclimatá-los à Espanha, é aí que devemos enquadrar a viagem de estudo que, ao terminar seu doutorado em filosofia, com a tese intitulada “Os terrores do ano mil. Crítico de uma lenda”, Ortega faz a Alemanha. De fato, em 1905 ele foi para a Alemanha para continuar seus estudos e visitou as universidades de Leipzig, Berlim e Marburg. Precisamente nesta última universidade será onde ele conhece os neo-kantianos H. Cohen e P. Natorp, a quem ele sempre considerará seus professores. Também para esta viagem de Ortega à Alemanha pode-se estabelecer um certo paralelismo com a permanência de Julián Sanz del Río, fundador do krausismo espanhol, em Heidelberg. Com este Ortega continua uma certa tradição espanhola que durou até os anos cinquenta, quando a meca da filosofia passou para os espanhóis para os países anglo-saxões. Essa tradição consistia em que todo jovem espanhol que aspirasse a uma formação intelectual mais completa do que a que a universidade espanhola poderia fornecer teria que viajar para a Alemanha.
O panorama filosófico que o jovem doutor em filosofia da Universidade de Madri encontrou em Marburg foi presidido pelo neo-kantismo, ou seja, a doutrina filosófica que postulava o retorno a Kant como um caminho para superar as vielas às quais a filosofia idealista tinha chegado nas mãos de Hegel e seus seguidores. Mas, e aqui o paralelismo com Sanz del Río é quebrado, assim como o krausismo espanhol importou o pensamento de Krause de uma maneira monolítica e sem uma atitude excessivamente crítica, Ortega chegou à Alemanha com um espírito mais crítico e inteligente - não em vão mais de meio século de viagens de intelectuais espanhóis à Alemanha - e sua atitude para com os neo-kantianos não foi a da batedeira discipular, mas uma atitude ambivalente. Desta forma, embora reconhecendo a dívida impagável aos seus professores de Marburg, ele também adota uma atitude crítica em relação a eles e contra o próprio Kant. A dívida e a crítica a Kant e aos neo-kantianos resume-os magistralmente com as seguintes palavras: "Durante dez anos vivi no mundo do pensamento kantiano: respirei-o como atmosfera e tem sido tanto a minha casa como a minha prisão [ ...] Com grande esforço eu escapei da prisão kantiana e escapei de sua influência atmosférica ".[7]
Assim, Ortega ficou ciente de que o pensamento kantiano era tão necessário para ele quanto a atmosfera que qualquer homem respira, mas era também para ele uma prisão da qual ele tinha que se libertar para poder construir sua própria filosofia de maturidade. Além do significado que tinha para seu treinamento filosófico, sua estada na Alemanha também desempenhou um importante papel vital, pois os anos em que Ortega viveu, os anos em que ele iniciou sua maturidade humana, foram tão frutíferos que as lembranças dessa estada podem constituir algumas de suas melhores páginas literárias. Assim, quando ele tem que descrever El Escorial, em 1915, ele não pode tirar de si a imagem da cidade onde viveu o "equinócio de sua juventude", fornecendo uma descrição literária de uma beleza rara na guilda dos filósofos: "Permitam-me Neste ponto, trago-lhe uma lembrança particular, por causa de circunstâncias pessoais, nunca poderei olhar a paisagem do Escorial sem vagamente, como a filigrana de uma tela, vislumbrar a paisagem de outra aldeia remota e a mais oposta ao Escorial que pode ser imaginada. uma pequena cidade gótica situada ao lado de um rio escuro e escuro, cercada por colinas redondas que cobrem florestas totalmente profundas de abetos e pinheiros, árvores de faias claras e buxos esplêndidos.[8]
Apesar da profunda marca pessoal e intelectual que a Alemanha deixou nele, Ortega logo retornou à Espanha, tanto física quanto intelectualmente, pois, para ele, a viagem à Alemanha só deveria fazer sentido desde que sirva como subsídio para ele se voltar à Espanha. Nesse ponto houve uma osmose intelectual, de tal forma que a Espanha ficaria impregnada da Europa e, por sua vez, a Espanha permeia a Europa. Desta forma, já em 1910, ele exclamou: "Queremos uma interpretação espanhola do mundo [...] A Espanha é uma possibilidade europeia, só da Europa é a Espanha possível".[9] Após seu retorno, em 1910, ele venceu a Cátedra de Metafísica na Universidade de Madri, onde sucedeu a N. Salmerón e iniciou sua carreira universitária como professor antes de publicar qualquer livro de filosofia. Nesse mesmo ano, ele se casa com Dona Rosa Spottorno e, a partir de então, começa sua vida pública.

Vida pública

Se até 1910 a vida de Ortega permanece na esfera privada, a partir dessa data começa a vida pública de Don José Ortega y Gasset, dividida entre ensino universitário e atividades culturais e políticas extra-acadêmicas. Após uma breve segunda permanência na Alemanha, em 1911, Ortega se entregou à sua cadeira na antiga casa de San Bernardo. Mas as preocupações políticas do jovem professor de metafísica logo vêm à luz, e em 1914 ele fundou a Liga Espanhola de Educação Política, com a qual ele tentará realizar seus projetos regeneracionistas a partir de posições democráticas. Nesse mesmo ano publicou Meditaciones del Quijote, seu primeiro livro. Em 1916 ele é co-fundador do jornal El Sol ; e em 1923, apenas no ano do início da ditadura do general Primo de Rivera, fundou e dirigiu a Revista de Occidente




"El pueblo de Jódar", Jaén, a Ortega y Gasset. Outubro de 2012





Seu confronto doutrinário com a política da ditadura leva Ortega, em 1929, a renunciar ao seu cargo de professor universitário e a continuar suas aulas na "profanidade de um teatro", classes que mais tarde serão publicadas sob o título O que é filosofia? Assim, forçado pelas circunstâncias, Ortega se torna um dos primeiros filósofos espanhóis que transmite sua filosofia ao público em geral. Uma tarefa que, por outro lado, talvez ele fosse o filósofo mais adequado a realizar, porque nele eram dados os dons de um grande filósofo e a capacidade de disponibilizar a filosofia a qualquer homem culto.
Em 1930, coincidindo com a "dictablanda" do general Berenguer, contra quem escreveu seu famoso artigo intitulado "O erro de Berenguer", que termina com a famosa frase "Delenda est Monarchia!", Ortega recupera sua cadeira e sua participação na política ativa Está aumentando, a ponto de se tornar o centro de um grupo de intelectuais que defendem o advento da Segunda República Espanhola. Assim, em 1931, quando a República chegou, fundou, juntamente com Gregorio Marañón e Pérez de Ayala, o Agrupamento ao Serviço da República. Graças à Associação é eleito deputado para as Cortes Constituintes para a província de León; mas, mais uma vez, o paradoxo de todo filósofo "envolvido na política" é repetido, porque nas Cortes ele é ouvido, mas não ouvido ou seguido. A desilusão que a vida do deputado lhe causa logo o leva a retirar-se da política ativa e a dissolver a Associação. Ortega, que deveria ter aprendido com o que aconteceu com Platão, teve que ver sua voz ignorada para entender que, infelizmente, nem sempre as doutrinas políticas de um filósofo são servidas por legisladores ou pelos governantes.
Com isso, Ortega retorna à atividade acadêmica e pública novamente, em 1934, En torno a Galileo. Em 1935 ele recebeu uma homenagem da universidade que já é a figura mais destacada na cena filosófica espanhola da época. Também em 1935 ele publica outro livro importante: História como um sistema.

Exílio

Com o início da guerra civil espanhola, em julho de 1936, Ortega iniciou uma fase de angústia vital que o levou a percorrer o mundo. Primeiro ele viaja para Paris e Países Baixos, onde dá palestras em Leiden, Haia e Amsterdã. Mais tarde ele viajou para a Argentina, e lá viveu até que, em 1942, estabeleceu-se em Portugal, onde escreveu sua obra Origem e Epílogo da Filosofia, que em princípio foi uma reflexão feita para servir de epílogo à História da Filosofia. de seu discípulo Julián Marías.
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, Ortega regressa a Espanha, mas nos dez anos que vai levá-lo a morrer, a sua atividade pública é reduzida a um mínimo, dadas as circunstâncias políticas espanholas. Em 1946 ele deu uma série de palestras no Ateneo de Madrid e nesse mesmo ano seus trabalhos completos começaram a ser publicados. Desde que ainda está separado de sua cátedra, em 1948, junto a um grupo de colaboradores e discípulos, fundou o Instituto de Humanidades, com o qual, mais uma vez, o grande professor que era Ortega retorna para exercitar seu ensino diante do público fora do salas de aula universitárias e convidar "alguns para trabalhar em qualquer canto".[10]
Embora ele possa viver na Espanha, ele não se sente confortável em seu próprio país, que ele tanto amava e pelo qual lutou tanto. A partir de 1950, ele viajará novamente para a Alemanha de sua juventude, onde, naquele mesmo ano, realizou um debate filosófico com M. Heidegger, em Baden Baden, sobre o homem e sua língua. Ele continuou seu trabalho sem descanso e, em 1955, voltou definitivamente para a Espanha. Diagnosticado de câncer gástrico, e após uma operação sem esperança, ele morreu em Madri em 18 de outubro de 1955.[11]

Filosofia


O objetivo da filosofia de Ortega é o de encontrar o ser fundamental do mundo. Este "ser fundamental" é radicalmente diferente de qualquer ser contingente ou intramundano; e também é diferente de "o dado" (expressão com a qual Ortega se referiu ao conteúdo de nossa consciência = "o dado" em nossa consciência). Todo conteúdo de consciência é, por definição, fragmentário e não serve para oferecer o significado do mundo e da existência. Esse sentido só é encontrado no "ser fundamental" ou no todo. Filosofia é o conhecimento que é responsável por abordar essa questão.[12] A “Filosofia” em Ortega está ligada à palavra circunstância, de onde ele tira sua famosa expressão: eu sou eu e minha circunstância, e se eu não salvá-la eu não posso me salvar. (Meditaciones del Quijote, 1914) . Ele mantém os princípios essenciais de seu perspectivismo em períodos posteriores de seu pensamento.[13]
A partir do tema do nosso tempo desenvolve-se a teoria do "raciovitalismo" que funda o conhecimento na vida humana como a realidade radical, em que um dos componentes essenciais é a própria razão.[14] Para Ortega, a vida humana é a realidade radical, isto é, aquela em que todas as outras realidades aparecem e emergem, incluindo qualquer sistema filosófico, real ou possível. Para cada ser humano, a vida assume uma forma concreta.[15] A essa palavra "vida", não se compreende a vida tomada como algo geral, como espécie de ser transcendental. Ela é minha realidade radical na medida em que ela é condição sine qua non, ou seja, necessária, para que todas as outras realidades humanas se desenvolvam. Sendo assim, a filosofia do raciovitalismo é justamente o encontro da realidade radical na vida de cada qual, na vida mesma de cada indivíduo, em todas as suas nuances e peculiaridades. O exemplo orteguiano não poderia ser mais esclarecedor: só a mim dói minha dor de dentes. A partir daí, a Filosofia deve investigar o fenômeno vital com vistas a desvendar a realidade. Essa realidade, cujo fundamento é a a própria vida está imersa, rodeada por circunstâncias. Estas circunstâncias não dizem respeito somente ao país em que se nasceu, ao momento histórico em que se vive, mas a própria organização psicológica de alguém, sua personalidade, se é mais extrovertido, tímido, calmo ou extravagante. Sendo assim, a frase que resume a filosofia orteguiana é dita em sua primeira obra, Meditaciones del Quijote: "Eu sou eu e minha circunstância". 






José Ortega y Gasset em 1951.



Essa primeira parte da expressão aponta a presença da influência da fenomenologia de Husserl no pensamento do espanhol e significa que, para ele, o sujeito se define a partir de um envolvimento com o mundo objetivo e, ao mesmo tempo, o mundo objetivo é alterado e definido a partir da presença ativa do sujeito. Mas a expressão tem uma segunda parte: "... e se não salvo, não salvo também a mim". O que Ortega y Gasset quer dizer é que para que o "eu" seja de fato "eu", singular, encontre-se em situação a não confundir-se com o mundo que o rodeia, ele precisa constantemente alterar as circunstâncias que englobam sua vida. Alterar as circunstâncias com vistas à constante excelência do viver é ponto alto da ética orteguiana e de toda sua filosofia.
Podemos citar um exemplo: imagine que uma pessoa nascida em uma pequena e desconhecida cidade de Minas Gerais queira tornar-se um bailarino do Bolshoi. Esse primeiro desejo, Ortega chama de vocação: um inclinação que cada pessoa guarda em si em direção à determinada atividade. As circunstâncias iniciais dessa pessoa são a falta de dinheiro, a impossibilidade de estudos em uma grande escola que lhe permita se destacar para atingir o objetivo, a falta de professores capacitados. Para que sua humanidade possa desenvolver-se à excelência, para que essa pessoa realize sua vocação, ela precisa deixar sua cidade de origem com vistas a uma condição financeira e formativa que lhe permita preparar-se em uma boa escola. Provavelmente, em seu caminho, muitos desafios irão se apresentar e estes desafios, grosseiramente falando, são o que Ortega y Gasset chama de circunstância: não se pode não fazer nada diante deles, pois se eu decido não agir eu me afogo nela, pereço diante da circunstância e meu projeto vital fracassa. Portanto, para salvar a circunstância, o sujeito precisa agir sempre, decidir sempre. De certa maneira, é uma resposta ao chamado de Kant no texto "Resposta à pergunta: o que é esclarecimento?". Para uma vida que valha a pena ser vivida é preciso ter coragem e energia para decidir.[carece de fontes]
Chamado de "razão vital" um novo tipo de razão, em rigor, o mais antigo e primário e "raciovitalismo" a mentalidade de que confia em seu novo conceito de razão. A razão vital é uma razão que está sendo constantemente percebida na vida à qual ela é inerente.
O pensamento de Ortega é geralmente dividido em três etapas:
  • Estágio objetivista (1902-1914): influenciado pelo neo-kantismo alemão e pela fenomenologia de Husserl, chega a afirmar a primazia das coisas (e ideias) sobre as pessoas.
  • Estágio Perspectivista (1914-1923): começa com Meditações de Quixote. Neste momento, Ortega descreve a situação espanhola em Espanha invertebrada (1921).
  • Estágio Raciovitalista (1924-1955): Considera-se que Ortega entra em seu estágio de maturidade, com obras como O tema de nosso tempo, História como um sistema, Ideias e crenças ou A Rebelião das Massas.

 

Trabalhos

A maior parte do trabalho de Ortega y Gasset consiste de palestras e aulas publicadas anos após o fato e muitas vezes postumamente. Esta lista tenta colocar em ordem cronológica de quando foram escritas e não quando publicadas.
  • Meditaciones del Quijote (Meditações do Quixote, 1914)
  • Vieja y nueva política (Velha e nova política, 1914)
  • Investigaciones psicológicas (Investigações psicológicas, curso dado em 1915-16 e publicado em 1982)
  • Personas, Obras, Cosas (Pessoas, Obras, Coisas, artigos e ensaios escritos em 1904-1912: "Renan", "Adán en el Paraíso" -- "Adão no Paraíso", "La pedagogía social como programa político" -- "A pedagogia como programa político", "Problemas culturales" -- "Problemas culturais", etc., publicados em 1916)
  • El Espectador (O Espectador, 8 volumes publicados em 1916-1934)
  • España Invertebrada (Espanha Invertebrada, 1921)
  • El tema de nuestro tiempo (O tema do nosso tempo, 1923)
  • Las Atlántidas (As Atlântidas, 1924)
  • La deshumanización del Arte e Ideas sobre la novela (A Desumanização da Arte e Ideias sobre a novela, 1925)
  • Espíritu de la letra (The spirit of the letter 1927)
  • Mirabeau o el político (Mirabeau or politics, 1928-1929)
  • ¿Qué es filosofía? (What is philosophy? 1928-1929, course published posthumously in 1957)
  • Kant (1929-31)
  • ¿Qué es conocimiento? (What is knowledge? Published in 1984, covering three courses taught in 1929, 1930, and 1931, entitled, respectively: "Vida como ejecución (El ser ejecutivo)" -- "Life as execution (The Executive Being)", "Sobre la realidad radical" -- "On radical reality" and "¿Qué es la vida?" -- "What is life?")
  • La rebelión de las masas (The Revolt of the Masses, 1930)
  • Rectificación de la República; La redención de las provincias y la decencia nacional (Rectification of the Republic: Retention of the provinces and national decency, 1931)
  • Goethe desde dentro (Goethe de dentro, 1932)
  • Unas lecciones de metafísica (Algumas lições de metafísica, curso dado em 1932-33, publicado em 1966)
  • En torno a Galileo (Sobre Galileu, curso dado em 1933-34; partes foram publicadas em 1942 sob o título "Esquema de las crisis" -- "Esquema da Crise")
  • Prólogo para alemanes (Prolog for Germans, prologue to the third German edition of El tema de nuestro tiempo. Ortega himself prevented its publication "because of the events of Munich in 1934". It was finally published, in Spanish, in 1958.)
  • History as a system (First published in English in 1935. the Spanish version, Historia como sistema, 1941, adds an essay "El Imperio romano" -- "The Roman Empire").
  • Ensimismamiento y alteración. Meditación de la técnica. (Ensimesmamento e alteração: Meditação sobre a técnica, 1939)
  • Ideas y Crencias (Ideas and Beliefs: on historical reason, a course taught in 1940 Buenos Aires, published 1979 along with Sobre la razón histórica)
  • Teoría de Andalucía y otros ensayos: Guillermo Dilthey y la Idea de vida (The theory of Andalucia and other essays: Wilhelm Dilthey and the idea of life, 1942)
  • Sobre la razón histórica (Sobre a razão histórica, curso dado em Lisboa, 1944, publicado em 1979 juntamente com Ideas y Crencias)
  • Idea del Teatro. Una abreviatura (The idea of theater, a shortened version, lecture given in Lisbon April 1946, and in Madrid, May 1946; published in 1958, La Revista Nacional de educación num. 62 contained the version given in Madrid.)
  • La Idea de principio en Leibniz y la evolución de la teoría deductiva (The Idea of the Beginning in Leibniz and the evolution of deductive theory, 1947, published 1958)
  • Una interpretación de la Historia Universal. En torno a Toynbee (An interpretation of Universal History. On Toynbee, 1948, published in 1960)
  • Meditación de Europa (Meditação da Europa), aula dada em Berlim em 1949 com o título em latim De Europa meditatio quaedam. Publicada em 1960 conjuntamente com trabalhos anteriores.
  • El hombre y la gente (Man and the populace, course given 1949-1950 at the Institute of the Humanities, published 1957)
  • Papeles sobre Velázquez y Goya (Papéis sobre Velázquez e Goya, 1950)
  • Pasado y porvenir para el hombre actual (Passado e futuro para o homem atual, publicado em 1962, agrupa uma série de palestras dadas na Alemanha, Suíça, e Inglaterra no período 1951-1954, publicado junto com um comentário sobre o Simpósio de Platão.)
  • Goya (1958)
  • Velázquez (1959)
  • Origen y epílogo de la Filosofía (Origem e epílogo da Filosofia, 1960),
  • La caza y los toros (A caça e os touros, 1960)

Em Português

  • A Rebelião das Massas, Editora Cortez
  • Origem e Epílogo da Filosofia, Editora Vide
  • Meditações do Quixote, Editora Livro Ibero Americano
  • O Homem e os Outros, Editora Vide
  • O que é Filosofia?, Editora Vide
  • Ideias e Crenças, Editora Vide
  • A Ideia do Teatro, Editora Vide
  • Ensaios de estética: Mona Lisa, Três quadros do vinho e Velázquez, Editora Cortez
  • A Desumanização da Arte, Editora Cortez
  • Adão no Paraíso e Outros Ensaios de Estética, Editora Cortez

BRICOLAGE

PARA GRANDES MALES...GRANDES REMÉDIOS ( Foto de J.P.L. )


Bricolagem

Bricolagem
 
 
O termo bricolagem ou bricolage/bricolagem têm origem que vem do francês bricolage e é usado nas atividades em que você mesmo realiza para seu próprio uso ou consumo, evitando desse modo o emprego de um serviço profissional.
 Surgiu na França após a II Guerra Mundial, não havendo na época fábricas de produtos cotidianos, pois todas as indústrias estavam voltadas para o mundo bélico, armas, uniformes etc. 
A tradução de bricolage mais próxima seria "biscate, pequeno trabalho, trabalho de amador". Depois de 1945, chegou aos EUA.