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30.11.14

CASCAIS E A CANALHA NAPOLEÓNICA

( ... ) Em 30 de Novembro de 1807, à noite, entram na vila, famintos e em desordenada formação, 400 soldados franceses, comandados pelo general Maurin.
À invasão segue-se a pilhagem, o saque impiedoso.
       Dias depois, estabelecem-se em Cascais, onde se aboletaram já o almirante Cotton ( que para tal fim desembarcou neste porto ) e Junot, as primeiras conversações para a famigerada Convenção de Sintra.
      No palácio onde está instalada a Câmara Municipal, que então era de Dona Inês da Cunha e depois pertenceu aos Condes da Guarda, foram preparados os alojamentos  para o almirante inglês;
      No solar dos Falcões, hoje Estalagem D. Carlos, ficou hospedado o general Junot. (*1 )

( * 1 ) Monografia de Cascais









Para quando a reparação por 1807 ?

O problema é que os bastardos da canalha napoleónica andam por aí: Devolvam-nos aquilo que nos roubaram. Por MCB.
Neste ano em que se celebram os duzentos anos da primeira invasão francesa – foi aqui que o trono de Napoleão abriu as primeiras fissuras – importaria que o Estado português abrisse ou agendasse a discussão sobre o paradeiro de largos milhares de objectos – mobiliário, tapeçarias, pintura, ourivesaria, arte sacra, cartografia, manuscritos e impressos – que aqui foram pilhados pela soldadesca de Junot.

O trabalho não exige grande esforço, pois bastará compulsar um dos centos de volumes do inventário patrimonial francês, encomendado por Malraux enquanto ministro da cultura, para saber onde está – em que museus, galerias e instituições – esse fartote de vilanagem que foi o saque desapiedado aqui praticado pelos “libertadores”.


O tema apaixona museólogos, arqueólogos e historiadores da arte. Da Grécia, do Egipto, da Síria, Camboja, Guatemala, Perú e México chovem abaixo-assinados e pedidos sobre o Louvre, o British Museum e o Pergamon Museum exigindo a devolução de obras de arte subtraídas por caçadores de tesouros, militares, traficantes e marchands em toda a geografia colonial e militar de Oitocentos e Novecentos.

A posse de tesouros artísticos, a sua exibição e estudo exprime a independência, o orgulho e o direito à memória nacionais, pelo que o tema do património artístico e monumental constitui um adereço fundamental da política cultural dos Estados.

Sei que Portugal jamais o fará.

Somos demasiado obedientes, submissos e temerosos para arrostar tais perigos, mas num momento em que por todo o lado se começam a desenhar políticas de permuta e serena discussão sobre o direito à posse de tesouros roubados e desaparecidos no curso acidentado da história recente - quanto tesouro se encontra escondido nos mundos subterrâneos das colecções norte-americanas, russas, francesas e britânicas - não seria por demais colocar a questão ao governo francês.


Quadro de Francisco José de  Goya  " La Factoria Historica "



Goya eternizou esse momento terrível de violação da península pela canalha napoleónica – dizem os demógrafos que nos custou 10% de vidas – mas essa carnificina envolveu também uma mutilação tão ou mais grave que a hacatombe de 1755.

Aqueles bens foram roubados, embarcados e expedidos por um Estado que usou a força para os retirar do povo e da terra em que estes haviam sido criados.

Cumpre aos ofendidos e lesados o direito ao protesto e consequente pedido por depredações causadas por terceiros.

Para quando a reparação por 1807 ?