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1.3.10

UM ILUSTRE HABITANTE DE CASCAIS NO PRINCÍPIO DOSÉCULO XX

                                  HOMENS DE LETRAS E FLORES

                                       PAULO DE MORAES

" Vejo-o muitas vezes,na caminhada do seu passeio higiénico da manhã,bastando que haja uma nesga de sol a dourar o céu azul.Páro,dou-lhe um abraço de respeitosa e sincera amizade,e pregunto-lhe com interesse de verdade:
- Como vai?
- Bem.
   E segue andando,um pouco curvado,naquela curvatura que da terra mãe apróxima o corpo mortal,mas desembaraçado,lesto,observador,como não sabem nem podem caminhar muitos homens novos,precocemente velhos
  E no entanto são noventa e um anos de vida que vão caminhando, todas as manhãs numa volta pelos Estoris,com ladeira,pela Bôca do Inferno,em que tambêm se sobe, pela Ribeira das Vinhas, em que as curvas e as pontes em degraus se sucedem,pelas estradas de Cintra e da Malveira ---por todos os arredores de Cascais, em suma, com panoramas diversos, de mar infinito, o trilho dos mundos,e das serras culminantes, que se avisinham dos céus.

  Quási um século, cheio de tantas cousas, e nêsse tempo de vida, uns setenta e cinco anos, pelo menos, de vida trabalhada e trabalhosa, de vida honesta,disseminando doutrinas boas,praticando o bem; trabalhando sempre,sempre, porque o antigo vogal do Conselho Superior de Agricultura, doutor em Filosofia,o sábio director do Museu Agricula e Florestal,o autor da Zoologia Elementar Agrícola,

Moraes, Paulo de - Zoologia Elementar Agrícola

Obra Ilustrada com mais de 700 gravuras. Constando de duas partes: Zoologia Geral e Zoologia Especial, segundo os métodos de S. Schilling, Dr. Noll, Lennis, H. Ludwig e Pockorny. dedicada à Mocidade Estudiosa das escolas Agrícolas de Portugal. Lisboa, Empreza Editora Francisco pastor, 1897. In-4.º de 821-X págs. Encadernação com lombada em pele. Profusamente ilustrado

O autorizado cronista técnico do Jornal do Comércio, o respeitado comissário régio da 7ª região agronómica, o elaborador do notabilíssimo relatório desta comissão,documento que certifica da superioridade do seu critério,ainda hoje trabalha,ainda hoje colabora no Correio de Europa,e nas minhas estantes, religiosamente,tenho inéditos seus,por me obsequiar com êles dispensando-se de os dar à publicidade -distinção que me condecora nos meus poucos desvanecimentos!

...Mas o floricultor?

Tambêm o é,baixando da teoria à pratica com os cuidados de devoção do seu espírito superior,que se compraz em cousas simples.
Eu lhes conto.

Em chegando à estação de Cascais, desçam pela Avenida Valbom, que aínda conserva  o nome antigo, quási  excepcionalmente...

 A direita, bem cuidados,mal cuidados, com gôsto e sem gôsto nenhum, encontram-se jardins,circundando chalets. 

Pois a última casa, a que termina a fila, modesta, sem ornatos nem brincados,em linhas rectas,é a do dr: Paulo de Moraes,com um pequeno terraço e, ladeando para uma travessa, com um pequenino pátio.

 Sustenham o passo: olhem, examinem. É tudo pequeno, mas é tudo perfeitíssimo, no cultivo das flores que se sucedem na dinastia florícola das estações. ( ... )


    Basta, porque o leitor conclúi  que não é sómente o descritivo de um professor; é tambêm,e principalmente, um quadro de poeta.
   E que pela denúncia nos desculpe o venerando amigo, tão respeitável pelo saber como pelo caractér.

 Cascais -- 1916 .    

Sérgio de Castro. -----( Homens de letras e  flores )