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10.3.24

Humanos já causaram a extinção de 1430 espécies de aves

 


Os seres humanos causaram a extinção de um total de 1430 espécies de aves, um número duas vezes maior do que aquele que se pensava, revelou um novo estudo publicado na revista científica Nature Communications.

Muitas das ilhas do planeta eram paraísos intocados. Mas a chegada dos seres humanos a locais como os Açores, Tonga ou o Havai tiveram, ao longo do tempo, grandes impactos como a desflorestação, sobre-caça e a introdução de espécies invasoras. Como consequência, muitas espécies de aves desapareceram.

Se o desaparecimento de muitas aves desde os anos 1500 já está registado, o nosso conhecimento sobre o destino das espécies dependia, até agora, de fósseis. Acontece que estes registos são limitados porque os ossos das aves, muito leves, se desintegram com o passar do tempo. Este facto tem mascarado a verdadeira extensão da extinção mundial das aves.

Arau-gigante (Pinguinus impennis). Ilustração: Autor desconhecido

Os investigadores acreditam agora que 1430 espécies de aves, quase 12%, desapareceram durante a história moderna, desde o final do Pleistoceno há cerca de 130.000 anos. A grande maioria dessas aves extinguiu-se directa ou indirectamente por causa da actividade humana.

O estudo, coordenado pelo Centro britânico para a Ecologia e Hidrologia (UKCEH, sigla em Inglês), usou modelos estatísticos para estimar as extinções de aves até agora desconhecidas.

Rob Cooke, principal author do estudo e investigador do UKCEH, disse, em comunicado, que este estudo “demonstra que houve um impacto humano muito superior na diversidade das aves do que o que era reconhecido até agora”.

“Os humanos devastaram rapidamente populações de aves através da perda de habitat, sobre-exploração e introdução de ratos, porcos e cães que destruíam os ninhos das aves e competiam com elas por alimento. Mostramos que muitas espécies se extinguiram antes de haver registos escritos delas; não deixaram nenhum rasto, perderam-se na História.”

Estas extinções históricas têm hoje “grandes implicações na actual crise da biodiversidade”, alertou Søren Faurby, da Universidade de Gotemburgo e um dos autores da investigação.

“O mundo pode não apenas ter perdido muitas aves fascinantes mas também os seus papéis ecológicos que poderiam ter tido funções cruciais como a dispersão de sementes e a polinização. Isto terá efeitos negativos em cascata nos ecossistemas. Por isso, além das extinções das aves teremos perdido muitas plantas e animais que dependiam daquelas espécies para sobreviver.”

Observações e fósseis mostram que 640 espécies de aves foram empurradas para a extinção desde o final do Pleistoceno, 90% destas em ilhas. Estas incluem espécies como o icónico dodô (Raphus cucullatus) das ilhas Maurícias ou ainda o arau-gigante (Pinguinus impennis) do Atlântico Norte.

Dodô (Raphus cucullatus) taxidermizado no Museu de História Natural de Londres. Foto: Emőke Dénes

Mas os investigadores estimaram que houve mais 790 extinções até agora desconhecidas, elevando para 1430 o número de espécies perdidas, deixando apenas menos de 11.000 nos nossos dias. Cooke alerta que é provável que apenas 50% destas espécies se tivessem extinguido naturalmente.

Os cientistas afirmam que o seu estudo revelou a maior extinção de vertebrados causada por humanos da História quando, durante o século XIV, 570 espécies de aves desapareceram com a chegada dos primeiros povos ao Pacífico Leste, incluindo ao Havai e às Ilhas Cook. Esse número é quase 100 vezes maior do que a taxa natural de extinção.

Acreditam ainda que houve um grande evento de extinções no século nove, causado pela chegada do ser humano ao Pacífico Oeste, incluindo às Ilhas Fiji e às Ilhas Mariana, bem como às Ilhas Canárias.

Os investigadores apontam ainda o evento de extinções que hoje vivemos e que começou em meados do século XVIII. Desde então, além do aumento na desflorestação e da disseminação de espécies invasoras, as aves estão ameaçadas por ameaças adicionais como as alterações climáticas, agricultura intensiva e poluição.

Trabalhos anteriores destes autores sugerem que nos arriscamos a perder entre 669 e 738 espécies de aves no próximo século.

“Está nas nossas mãos se mais espécies de aves se irão extinguir ou não. Recentes projectos de conservação salvaram algumas espécies e devemos agora aumentar os esforços para proteger as aves com o restauro de habitats liderado pelas comunidades locais”, defendeu Cooke.