Aos olhos de Dante, Beatriz aparece como a mais encantadora das criaturas. Embriagado de gozo por haver obtido um cumprimento seu em plena rua, aspira a que ela lhe conceda o mesmo favor segunda vez e trata de a ver na igreja e em casa de seu pai onde o Poeta tinha entrada. Afim de pôr à prova o amor de Beatriz, Dante simula interessar-se por outra jovem e Beatriz irrita-se até ao ponto de lhe negar a saudação. Dante não volta a atrever-se cumprimentá-la. Contenta-se no entanto com elogiá-la em seus versos, convertendo a sua amada na personificação do Amor e da Beleza. Quando Beatriz morre subitamente, a adoração do Poeta adquire uma exaltação mística e a sua pena canta Beatriz do modo mais belo, mais inspirado, com que pode cantar-se um ser humano. Embrenhando-se na filosofia, o lirismo de Dante cristaliza num imortal poema cuja forma consiste na glorificação da sua Beatriz.
Poema de Dante a Beatriz
Tão longamente me reteve Amor
E acostumou-se à sua tirania,
(Dante Alighieri)
Poema de Dante a Beatriz
Tão longamente me reteve Amor
E acostumou-se à sua tirania,
Que, se a princípio parecia rude,
Suave agora me habita o coração.
Assim, quando me tira tanto as forças
Que os espíritos vejo me fugirem,
Então a minha frágil alma sinto
Tão doce, que o meu rosto empalidece,
A MAIS ENCANTADORA DAS CRIATURAS |
Pois Amor tem em mim tanto poder
Que faz os meus suspiros me deixarem
E saírem chamando
A minha amada, para dar-me alento.
Onde quer que eu a veja, tal sucede,
E é coisa tão humil que não se crê.