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17.6.25

Exmª Senhora Doutora ...

 

𝐶𝑎𝑟𝑡𝑎 𝑑𝑒 𝑀𝑎𝑛𝑢𝑒𝑙 𝑀𝑢𝑟𝑎𝑙ℎ𝑎𝑠, 𝑛𝑎𝑡𝑢𝑟𝑎𝑙 𝑑𝑎𝑠 𝑒𝑛𝑐𝑜𝑠𝑡𝑎𝑠 𝑑𝑎 𝐵𝑒𝑖𝑟𝑎 𝐴𝑙𝑡𝑎, 84 𝑎𝑛𝑜𝑠 𝑑𝑒 𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒, 𝑝𝑜𝑟𝑡𝑢𝑔𝑢𝑒̂𝑠 𝑑𝑒 𝑎𝑙𝑚𝑎 𝑒 𝑑𝑒 𝑒𝑛𝑥𝑎𝑑𝑎, 𝑎𝑜 𝑐𝑢𝑖𝑑𝑎𝑑𝑜 𝑑𝑎 𝐸𝑥𝑐𝑒𝑙𝑒𝑛𝑡𝑖́𝑠𝑠𝑖𝑚𝑎 𝑆𝑒𝑛ℎ𝑜𝑟𝑎 𝐷𝑜𝑢𝑡𝑜𝑟𝑎 𝐿𝑖́𝑑𝑖𝑎 𝐽𝑜𝑟𝑔𝑒.
𝐄𝐱.𝐦𝐚 𝐒𝐞𝐧𝐡𝐨𝐫𝐚 𝐃𝐨𝐮𝐭𝐨𝐫𝐚 𝐋𝐢́𝐝𝐢𝐚 𝐉𝐨𝐫𝐠𝐞,
Venho por esta carta, escrita com mãos calejadas mas cabeça bem erguida, responder, com humildade e pesar, ao seu discurso proferido ontem, Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas.
Fê-lo com pompa, com palavras estudadas, com recurso ao verbo polido das grandes cidades e aos corredores onde reina o eco dos salões luxuosos da Capital do Império.
Mas permita-me dizer: fê-lo descompassada da alma do povo que vive nos montes, nas planícies, nas vilas e nas aldeias que não têm comboio, nem médico, nem esperança.
A Senhora diz que Portugal nasceu com Camões. Não, minha senhora. Portugal nasceu em 24 de Junho de 1128, à ponta de uma espada afiada, num campo de batalha em S. Mamede, ali mesmo às portas de Guimarães, com Afonso Henriques a dizer à própria mãe que este chão era dele e de todos os que viriam a lavrá-lo e a respeitá-lo.
Portugal não nasceu da pena, desculpe que lhe diga, nasceu do sacrifício, da terra cavada, das mãos sujas de pó e do suor que se mistura à pedra para erguer muralhas.
Vivi 84 anos. Vivi-os sempre com muita honra, respeitando quem chegava à minha aldeia, fossem espanhóis, moçambicanos, chineses ou alemães.
Nunca me coube no peito o veneno do ódio, nem nunca vi tal praga entre os meus vizinhos. O que nos revolta, minha Senhora, não são os homens, nem os seus credos, nem as suas cores. É a injustiça. É a falta de respeito por tudo o que este povo construiu com sangue, suor e lágrimas.
Sei que mora em Alvalade, no coração de uma das cidades mais luxuosas da Europa, mas diga-me, onde estava Vossa Excelência, permita-me perguntar-lhe, quando fecharam os milhares de escolas das nossas aldeias e os miúdos passaram a andar carradas de quilómetros a pé para aprender a ler?
Onde estava Vossa Alteza Real quando milhares de centros de saúde e dezenas de hospitais foram encerrados e nos deixaram uma carrinha velha a dizer que era “unidade móvel”?
Onde estava Vossa Excelência quando o meu netinho, e outros milhares de netinhos, precisou de uma ambulância do INEM, para episódios de convulsões gravíssimas, e nunca apareciam, chegando ao Hospital, lá longe a trinta quilómetros, e lá estavam as viaturas do INEM ali paradas?
Onde estava a Doutora quando os meus filhos emigraram para o Luxemburgo porque aqui o ordenado não chegava para metade do pão?
Fala a Senhora com grande emoção sobre escravidão. Tem razão. Foi crime hediondo e deve ser lembrado, sempre, para que jamais volte a acontecer!
Mas nós também temos direito à memória.
Fui expulso de África depois de 30 anos a abrir estradas, a construir hospitais, pontes e escolas. Vim com a roupa do corpo e a dignidade nos ossos.
Nenhum governo me agradeceu. Nunca! Tudo que ali conquistei, com o meu suor, ali ficou. Mas vim sereno, sem raiva, e com um filho maravilhoso, sim negro, que me deu netinhos maravilhosos, que amo com todo o meu ser.
E agora, num dos dias mais sagrados da nossa Pátria, ouço dizer que devemos pedir desculpa por sermos quem somos? Que somos filhos de opressores? Que somos malignos por gostarmos do que construímos ao longo de séculos? Não somos. Somos filhos da fome, da dignidade, da luta e da perseverança.
A Senhora afirma que a imigração descontrolada é fruto de um novo ciclo. Talvez! Mas, depois de nos últimos quarenta anos a ASAE ter fechado milhares de restaurantes porque não cumpriam as mínimas regras da higiene, o que vemos nessas grandes cidades é restaurantes improvisados sem higiene, com ratos, baratas e coco onde se confecciona a comida, regras a serem violadas sem quaisquer fiscalização, leis que sempre se aplicaram ao português pobre e agora são ignoradas para agradar aos senhores da “diversidade”.
Há trinta anos, fecharam-nos a produção artesanal do nosso Queijo da Serra. Hoje vendem carne podre ao lado dos Jerónimos. Isto não é progresso, Senhora. É abandono.
As leis do trabalho, que este país desenvolveu ao longo dos últimos cinquenta anos, e muito bem, para que todos tenham uma vida digna, são hoje completamente ignoradas ao abrigo da diversidade e dos braços abertos para todos.
Isto sim, é escravidão!
Milhares de pobres coitados amontoados em espaços minúsculos, milhares de escravos que chegam para trabalharem por uma côdea, sem qualquer controlo, tudo para que, meia dúzia de iluminados, como Vossa Alteza possa ler textos lindos a dizer que todos podem entrar!
E se o povo português é hoje tolerante ao ponto de a ouvir de pé, no Dia de Portugal, cuspir no orgulho nacional e comparar Camões a um corpo sem lençol ao lado dos cadáveres da escravatura, é porque este povo nunca foi racista, nem xenófobo, nem intolerante.
É porque este povo, minha Senhora, tem um coração maior do que o país que lhe deram. Mas cuidado: o coração também cansa. Cansa de ser sempre acusado, sempre explorado, sempre traído.
A Senhora fala de Lagos. De Sagres. De escravos. De remorsos. Eu falo de orgulho. De honra. De gente que reza antes de comer, que ajuda o vizinho a meio da noite, que espera cinco horas nas urgências sem bufar porque sabe o que é sacrifício. Falo de um povo que construiu escolas, igrejas, hospitais, barragens e autoestradas para os outros andarem.
No dia 10 de Junho, esperava ouvir palavras que nos unissem, enaltecessem e empolgassem.
Palavras sobre os nossos emigrantes que mandam dinheiro e saudade. Sobre Camões, sim, mas também sobre os milhares de idosos que vivem com 300 euros e que mesmo assim oferecem vinho aos que os visitam. Sobre os que morrem sozinhos em aldeias abandonadas e ainda assim votam, pagam os seus impostos e rezam pela Pátria.
Se Portugal ainda existe, é porque estas pessoas, que a Senhora ignorou, continuam cá. Com a espinha direita. Com o orgulho de serem portugueses.
Perdoe-me a franqueza mas alguém tem de a ter para lhe dizer que não vale tudo. Para lhe dizer que até pode valer tudo, se for dentro da lei e dos limites que definem a cultura de um povo.
Perdoe-me a franqueza mas não consego ficar calado.
A minha idade já me permite estes gestos obscenos de falar para alguém com a dimensão intelectual de Vossa Excelência!
Uma Senhora, qual Alteza Real, que ontem, no Dia de Portugal, nos fez sentir a todos um farrapo velho, dizendo-nos que na sua opinião somos um povo que deveria ter vergonha de si mesmo, um povo que não está à altura das gentes que vivem lá para os lados de Alvalade, como Vossa Excelência, ou para os lados de Belém, como o seu comparsa de palco, em Dia de Camões.
Perdoe-me a franqueza mas tive a felicidade de nascer português e, acredite, vou morrer português, esse povo que Vossa Excelência ontem, no Dia de Portugal, tentou diminuir a um pedaço de gente pobre, inculta e má. Não somos. Somos ricos pela nossa história. Somos cultos pelas nossas tradições. Somos bons por sabermos receber de braços abertos o mundo inteiro. E somos humildes para ouvir alguém destilar ódio disfarçado de discurso progressista e não ficarmos com rancor.
Sim, vou morrer português, não pela cor da minha pele, não pelo meu credo, mas sim pela grandeza da minha alma, que é verdadeiramente lusitana.
E já agora, deixe que lhe diga:
“Quem não se orgulha do seu povo, não merece os seus aplausos.”
Respeitosamente,
Manuel Muralhas
Um homem de 84 anos,
Neto de analfabetos,
Pai de emigrantes,
Filho de Portugal.
Depois dos discursos de Lídia Jorge — delirante — e do patarata do MRS, só se pode concluir que: Camões era do Burundi, Pessoa do Qatar, Jorge de Sena era albanês, Salazar do Panamá, Guterres é iraniano, Durão é da Goldman Sachs, Costa e Sócrates... enfim, nem se amofinem.
De Portugal, hoje, só resta a bola, os milhões de escravos desqualificados ao serviço do patronato PS/PSD (unha com carne), e — claro — o potencial LGBT dos jovens asiáticos, para gáudio dos olheiros de esquerda do Príncipe Real.

12.6.25

Junho quentinho.

 

IPMA noreply@ipma.pt através de meteo.pt 

11/06/2025, 19:11 (há 1 dia)


para mim

Subida de temperatura a partir de dia 15 de junho - Portugal continental

Informação Meteorológica Comunicado válido entre 2025-06-11 17:41 e 2025-06-19 23:59 

Subida de temperatura a partir de dia 15 de junho - 

Portugal continental A partir de dia 15 de junho e expectavelmente até dia 18, prevê-se sobre Portugal continental, a influencia conjunta conjunto de um anticiclone a sul das ilhas Britânicas e de um vale depressionário que se estende desde o norte de África até à Península Ibérica.

 Esta situação meteorológica é favorável ao transporte de massas de ar tropicais provenientes do sul da Península Ibérica ou do norte de África, as quais serão responsáveis por uma subida dos valores da temperatura máxima, em especial nos dias 15 e 16, que será acentuada em alguns locais, e que se deverá manter, salvo ligeiras variações, até dia 18.

 Não pode, no entanto, considerar-se uma situação anómala para esta época do ano.

Os valores da temperatura máxima no referido período deverão contribuir para onda de calor na maior parte das estações do IPMA, variando aproximadamente entre 33 e 40 °C na generalidade do território, embora com valores ligeiramente inferiores em alguns locais da faixa costeira, como resultado do efeito moderador da proximidade ao mar e entrada da brisa marítima durante as tardes.

 Prevê-se que os valores mais elevados da temperatura máxima ocorram na região do vale do Tejo, Beira Baixa e região Sul.

De acordo com a informação dos modelos disponibilizada hoje, dia 11, é provável que a situação de tempo quente se prolongue até dia 19, em especial nas regiões do interior.

Adicionalmente, prevê-se ainda uma subida dos valores da temperatura mínima nos dias 16 e 17, sendo prováveis noites tropicais em grande parte do território continental.

 É ainda de salientar que neste período, é provável um novo episódio de poeiras em suspensão com origem no norte de África.

Este comunicado será atualizado no dia 12 de junho até às 19h.Para mais detalhes sobre a previsão meteorológica para os próximos dias consultar: https://www.ipma.pt/pt/otempo/prev.descritiva/ http://www.ipma.pt/pt/otempo/prev.significativa/ Para mais detalhes sobre os avisos meteorológicos emitidos consultar:http://www.ipma.pt/pt/otempo/prev-sam/ Qua, 11 Jun 2025 17:50:47

11.6.25

LISBOA. NOVEMBRO DE 1755

 

As perdas

Em 1755, Lisboa era a quarta maior cidade europeia, sendo conhecida pela sua riqueza, prosperidade e sofisticação. Era uma das cidades mais bonitas da Europa, com uma população estimada em 200 000 habitantes. Palácios e igrejas impressionavam os visitantes pela sua opulência e pelo seu esplendor monumental - era o centro do comércio mundial de ouro. Pessoas de todas as nações  passavam por Lisboa em trabalho, negócios ou viagem. Mas o destino de Lisboa ficou marcado por um grande terramoto que arrasou a sua grandeza aparentemente inabalável. Pelas 09h40 da manha, no dia 1 de Novembro, três abalos sacudiram a cidade, seguidos de um tsunami e um incêndio devastador. Análises científicas e geológicas atuais apontam para que o sismo tenha atingido 8,5 na escala de Richter: em cerca de nove minutos o  grande terramoto destruiu grande parte da cidade: os edifícios, claro, mas também os tesouros que Lisboa e as suas gentes tinham acumulado. 

Embora os ministros do rei tenham tentado obter uma estimativa das perdas relacionadas com este acontecimento, os números ainda hoje são vagos. As mortes causadas pelo terramoto, pelos incêndios e pelo tsunami foram muitas vezes estimadas em mais de 100 000. Contudo, a maioria dos estudos concorda que o número de mortes se tenha situado muito provavelmente entre as 12 000 e as 40 000. Imagine que das pessoas que conhecia, perdia uma em cada quatro! Nem sequer lhe era fácil encontrar consolo espiritual, pois das 200 igrejas que existiam em Lisboa à data do terramoto, só restaram 20. Já em relação às casas, apenas 15 % se mantiveram intactas, embora esta estimativa possa incluir as demolições que tiveram de ser feitas para reconstruir Lisboa. As fontes da época apontam para cerca de 30 000 a 35 000 habitações, correspondentes a 20 000 edifícios. Depois do terramoto, só restaram cerca de 3000 edifícios sem danificações sérias. Onde poderia dormir? Nenhuma parede era segura e qualquer telhado poderia ruir a qualquer momento. 

O valor total dos prejuízos causados pelo terramoto é praticamente impossível de determinar. Contudo, há números incontornáveis que falam por si, como a perda de 53 palácios, 60 capelas e 46 conventos. O número de bibliotecas e livros antigos perdidos no desastre foi igualmente assombroso. Além dos 55 000 volumes da biblioteca do Conde da Ericeira, perderam-se as livrarias do duque de Lafões e do marquês de Valença, bem como as riquíssimas bibliotecas dos conventos de S. Domingos, Espírito Santo, Carmo, S. Francisco, Trindade e Boa Hora. Até a bem-amada Biblioteca Real foi consumida pelo fogo. Acabaram destruídos os inúmeros relógios, os instrumentos matemáticos e sobretudo os 70 000 livros e manuscritos foram reduzidos a pó, apagando-se assim uma grande parte da história, da cultura e do património do país. A capital portuguesa parecia reduzida a uma espessa camada de cinzas. 

Outra das consequências decisivas, para a história da cidade e do reino, consistiu na perda de diversos edifícios políticos e administrativos, entre os mais importantes da Coroa, onde se guardavam milhões de documentos, com o registo de toda a história do império colonial, incluindo cartórios, arquivos inteiros com os registos das mercadorias e das tripulações das frotas, mapas raros e instrumentos náuticos. Foram destruídos a Alfândega, a Casa da Índia, o Terreiro do Trigo, os Armazéns da Ribeira das Naus, as Secretarias de Estado da Guerra e da Marinha e Ultramar, parte dos arquivos e edifício do Desembargo do Paço (o mais importante Tribunal do reino) e o palácio onde estava alojada a Inquisição. Foram ainda seriamente danificadas as principais Cadeias da cidade, o Aljube e o Tronco. 

Dos magníficos palácios que se perderam, há a assinalar a destruição das residências reais, o Paço da Ribeira, o Paço da Quinta de Alcântara, o Paço da Alcáçova, o Palácio Corte-Real e o Palácio da Bemposta, para além da destruição de 33 residências das famílias principais da Corte: as casas dos Condes de Redondo, do Marquês de Gouveia, do Duque de Cadaval, do Conde de Castelo Melhor, do Duque de Lafões, dos Marqueses de Távora. A maior parte destes edifícios nunca chegou a ser reconstruída, nem os seus jardins, muitos deslumbrantes, e as perdas em recheio – pinturas, tapeçarias, livros, baixelas, mobílias preciosas - são incalculáveis. 

Os seis hospitais da cidade arderam, tornando ainda mais difícil o socorro às vítimas. Entre as perdas da Igreja, destacam-se o desaparecimento das igrejas e conventos de S. Domingos, do Carmo, de S. Francisco, do Espírito Santo e da Trindade. Das 45 igrejas paroquiais desmoronaram-se 35, e dos 65 conventos só 11 ficaram habitáveis embora com danos. Quando se referem os desaparecimentos das Igrejas, temos de considerar que grande parte das sacristias eram autênticos tesouros: incluindo cálices, lâmpadas, cruzes, relicários, coroas, crucifixos, imagens de prata e ouro, adornadas com pedras preciosas. 

As medições rigorosas das perdas na catástrofe são, como vimos, impossíveis de efectuar. Mas os historiadores têm procurado estimar o impacto económico do Terramoto. Se considerarmos o PIB do reino em 1755, segundo os cálculos recentes, em cerca de 150 000 a 200 000 contos, temos uma ideia de grandeza para estimar os custos do Terramoto. Um testemunho da época aponta para 365 440 contos de perdas. Portanto, cerca do dobro do PIB do reino. Outras fontes falam em 229 520 contos de perdas, o que apontaria, no mínimo, para uma destruição do valor praticamente equivalente ao PIB desse ano. Que as perdas foram colossais, não restam dúvidas e aponta-se por exemplo, também em manuscritos da época, para uma perda de 18 000 contos só em diamantes. Temos outra ideia do valor destruído, quando se estimam as perdas por edifício: Palácio Real, Patriarcal, Teatro Real e Alfândegas (4 000 contos); dinheiro metálico de ouro e prata (4 000 contos) e bens móveis (joias, ouro e prata em objectos, recheios de palácios, bibliotecas, igrejas, mobiliário, peças de arte, tapeçarias (210 000 contos). As fontes da época são muito diversas na sua avalição dos estragos. Os historiadores económicos têm publicado estimativas mais cautelosas. Neste caso, quer se aceitem as estimativas mais conservadoras (32% a 48% do PIB) ou as mais especulativas (75% do PIB) consoante se contabilizem mais ou menos tesouros e mercadorias perdidas, não restam dúvidas do enorme impacto económico do Terramoto. 

Se considerarmos o PIB um valor demasiado abstrato, podemos dizer, baseados em registos fiscais do século XVIII, que a média das receitas da Coroa entre 1762 e 1776 foi de 5 596 contos e a média do outro brasileiro chegado a Lisboa para o rei nesse período, 615 contos (os famosos Quintos). Deste modo, mesmo nas estimativas mais conservadoras sobre perdas no Terramoto, feitas pelos historiadores (cerca de 63 693 contos) teríamos uma destruição, causada pelo Terramoto, calculada em 11 vezes toda a receita fiscal anual da Coroa e mais de 100 vezes a receita média, de todo o ouro do Brasil, chegado para a Coroa a cada ano.  

Além dos custos estimados pelas fontes portugueses, somaram-se as perdas, também incalculáveis, dos comerciantes estrangeiros em Lisboa: segundo um manuscrito, cerca de 40 000 contos, mais de 80% em mercadorias de comerciantes ingleses. Como se não bastassem os estragos na cidade, as avultadas perdas de negociantes estrangeiros ajudaram a difundir a comoção causada pelo terramoto. 

Mesmo assim, a resposta ao terramoto a nível internacional foi surpreendente. As notícias de mortandade e horror espalharam-se Europa fora, em forma de cartas, gazetas, panfletos, incendiando as discussões sobre as causas e as razões de tal desgraça, opondo os que defendem causas divinas e causas naturais...  

Muitos monarcas e soberanos escrevem ao rei de Portugal a apresentarem-lhe as suas condolências, e a oferecer ajuda. Portugal era um pais incontornável da política e economia mundiais, e essas ofertas de ajuda vinham carregadas de empatia, mas também de intenções políticas. O rei, e o seu Ministro, são cuidadosos na aceitação de presentes...  

No entanto, pela sua dimensão e alcance, pode-se dizer que esta foi provavelmente a primeira ação de Ajuda Humanitária Internacional: navios chegam de Espanha, Hamburgo, Holanda... Mas a maior ajuda vem curiosamente de um país protestante, a Inglaterra - o mais antigo aliado do reino de Portugal, que envia uma frota, trazendo 300 000 cruzados em dinheiro, 60 000 barricas de carne, 4 000 de manteiga, 1 200 sacos de arroz, 15 000 quintais de farinha, 15 000 de trigo, e ferramentas como pás, martelos, serras, pregos, e...  sapatos. 

”Alegoria ao Terramoto de 1755”, João Glama Strobërle, @ MNAA

João da Glama teria sobrevivido ao terramoto, saindo a tempo da Igreja das Chagas onde tinha ido à missa, e observando todo o horror do alto de Santa Catarina. Nesse dia tirou notas, diz-se, para mais tarde fazer esta pintura. Nela se podem ver vários elementos alegóricos, como o anjo segurando uma espada de fogo (em cima, à direita), alusivos à ideia de castigo divino – uma teoria popular na altura. Glama terá pintado este quadro durante mais de 30 anos, conservando-o na sua posse, inacabado, até à data da sua morte em 1792.

Após o terramoto, ficaram destruídos em Lisboa 46 conventos, perderam-se mais de 70.000 volumes da biblioteca real, entre livros e documentos preciosos e arderam todos os hospitais da cidade, 6 à época, sendo o Hospital de Todos os Santos, localizado no Rossio, o maior e mais importante. Construíram-se então tendas na praça, onde se deitaram os feridos em camas de folhas e aí permaneceram mais de três semanas *


4.6.25

O Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) e a Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP)

 

IPMA e ANMP assinam protocolo de colaboração

2025-06-03 (IPMA)

O Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) e a Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP) celebraram hoje, dia 3 de junho, um inédito protocolo de colaboração, que visa apoiar a instalação e desenvolvimento das redes municipais de estações meteorológicas e sísmicas, bem como a partilha e calibração de dados e equipamentos. 

Esta parceria procura densificar a rede e os dados de observação meteorológica e sísmica, a fim de permitir uma escala de maior precisão ao nível municipal, essencial para a salvaguarda de pessoas e bens, apoio às atividades económicas e alerta precoce para fenómenos climáticos extremos, bem como de risco de incêndio rural, entre outras potencialidades.

Prevendo ainda a realização de ações de informação, divulgação e capacitação de recursos humanos nos municípios, o documento foi firmado em Coimbra, na sede da ANPM, pela sua Presidente, Luísa Salgueiro, e pelo Presidente do Conselho Diretivo do IPMA, José Guerreiro.