“Bandidos da pior espécie, (…) gatunos com o seu
quanto de ideal verdadeiro, anarquistas natos com grandes patriotismos
íntimos — de tudo isto vimos na açorda falsa que se seguiu à implantação
do regime [republicano].”
“A monarquia havia abusado das ditaduras; os
republicanos passaram a legislar em ditadura, fazendo em ditadura as
suas leis mais importantes, e nunca as submetendo a Cortes constituintes
ou a qualquer espécie de Cortes.”
“A monarquia havia desperdiçado, estúpida e
imoralmente, os dinheiros públicos. O país, disse Dias Ferreira, era
governado por uma quadrilha de ladrões. E a república que veio
multiplicou por qualquer coisa — concedamos generosamente que foi só por
dois (e basta) — os escândalos financeiros da monarquia.”
“A monarquia, desagradando à Nação, e não saindo
espontaneamente, criara um estado revolucionário. A república veio e
criou dois ou três estados revolucionários. (…) A monarquia não
conseguira resolver os problemas da ordem pública; a república instituiu
a desordem pública.”
“É alguém, capaz de indicar um benefício, por
leve que seja, que nos tenha advindo da proclamação da república? Não
melhoramos em administração financeira, não melhoramos em administração
geral, não temos mais paz, não temos sequer mais liberdade. Na monarquia
era possível insultar por escrito e impresso o rei; na república não
era possível, porque era perigoso, insultar até verbalmente o Sr. Afonso
Costa.”
“O regime [republicano] está, na
verdade, expresso naquele ignóbil trapo que, imposto por uma
reduzidíssima minoria de esfarrapados morais, nos serve de bandeira
nacional — trapo contrário à heráldica e à estética, porque duas cores
se justapõem sem intervenção de um metal e porque é a mais feia coisa
que se pode inventar em cor. Está ali contudo a alma do republicano
português — o encarnado do sangue que derramaram e fizeram derramar, o
verde da erva de que, por direito mental, devem alimentar-se.”
“Este regime [republicano] é uma conspurcação espiritual.
A monarquia, ainda que má, tem ao menos, de seu, ser decorativa. Será
pouco socialmente, será nada nacionalmente. Mas é alguma coisa em
comparação com o nada absoluto em que a república veio a ser.”
[citações de Fernando Pessoa: “Balanço Crítico”, textos em prosa].