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29.11.22
28.11.22
GORONGOSA - 2022
Parque Nacional da Gorongosa
O Parque Nacional da Gorongosa MHM é uma área de conservação situada na zona limite sul do Grande Vale do Rift Africano, no coração da zona centro de Moçambique. O Parque, com um pouco mais de 4000 km², inclui o vale e parte dos planaltos circundantes. Os rios que nascem no vizinho Monte Gorongosa, que atinge os 1.863 metros de altura, irrigam a planície. Em 20 de Julho de 2010 o governo moçambicano decidiu alargar a área do parque para 4.067 km², bem como criar uma zona tampão de 3,30 km² à sua volta.Fauna aumenta para novos máximos na Gorongosa
No coração de Moçambique, 12 mil quilómetros quadrados de uma paisagem verdejante e habitats naturais fazem do Parque Nacional da Gorongosa um tesouro nacional.
A guerra civil que mergulhou o país em confrontos de 1977 a 1992, também fez baixas neste parque. A população de elefantes, por exemplo, foi praticamente dizimada pela carne e o marfim, que era trocado por armas.
Três décadas depois, a realidade de Gorongosa mudou. A biodiversidade está a aumentar e, de acordo com a última contagem de animais, feita em outubro deste ano, a fauna local atingiu um novo máximo, acima dos 102 mil animais.
Mark Stalmans, diretor do Departamento de Ciências do parque, explica o crescimento com a proteção das populações de animais, aliada à existência de "solos férteis que proporcionem boas pastagens".
No entanto, a incerteza quanto ao clima, está a deixar os funcionários do Parque Nacional apreensivos. O "desequilíbrio" na natureza, diz o administrador do parque, Pedro Muagura, é já "notável" em fenómenos tão vitais como a chuva.
"Às vezes cai muito cedo, às vezes já cai muito tarde e às vezes cai muito menos, ou não cai mesmo. Então, isso tudo vai impactar na reprodução animal, vai impactar na vegetação e a migração dos animais já não é aquela que devia ser. Isso não prejudica só a fauna, como também "descomanda" várias atividades", nomeadamente a agricultura.
A situação afeta não só fauna e flora, mas também as comunidades e os fornecedores locais do parque, aberto ao turismo, com unidades hoteleiras e mais de 1.200 funcionários.
As conclusões carecem ainda de estudos. Até a ciência dar respostas, a Gorongosa segue e adapta-se às mudanças
24.11.22
EXTINÇÃO EM MASSA
Sexta extinção em massa já está acontecendo – e mais rápido do que se pensava
Estima-se que 99% de todas as espécies que já existiram na Terra hoje estão extintas. Um número chocante, mas mais impressionante que isso é saber que essas espécies não foram sumindo aos poucos ao longo da história. Pelo contrário: as extinções foram concentradas em períodos relativamente curtos, em que grandes porcentagens de toda a vida existente sumiram em apenas alguns milhões de anos (o que, na linha do tempo da Terra, é muito pouco).
Um desses eventos de “extinção em massa” é bastante famoso: aquele causado pelo asteroide que acabou com (quase todos) os dinossauros. Mas esse episódio está longe de ser o único ou o mais letal da história – ao todo, pelo menos cinco eventos de extinção em massa aconteceram na Terra (veja todos no final desta matéria).
Já faz algum tempo que diversos cientistas vêm argumentando que a sexta extinção em massa está ocorrendo agora, no momento em que você lê esse texto. Não faltam evidências que mostram que o número de espécies extintas no Holoceno (o período atual que vivemos, que começou há cerca de 11 mil anos) está cada vez mais próximo do número de extinções dos eventos em massa citados – tudo por conta da ação da humanidade.
Só no século 20, por exemplo, centenas de espécies se foram para sempre, e, para as próximas décadas, a ONU afirma que quase um milhão de espécies de animais e plantas estão ameaçadas de extinção em algum grau por conta de atividades humanas. Em 2015, um estudo publicado na revista Science compilou evidências como essa para bater o martelo e chegar em uma conclusão bem aceita na comunidade científica: tudo indica que estamos de fato vivendo uma extinção em massa.
Acelerando a extinção
Agora, um novo estudo da mesma equipe não só reafirma a ideia como mostra que as extinções estão acontecendo ainda mais rápido do que se previa anteriormente. Ou seja: o fenômeno está acelerado. A equipe da Universidade de Stanford e da Universidade Nacional Autônoma do México usou 29.400 espécies de vertebrados terrestres como um indicador da velocidade das extinções que estamos vivendo. Deste total, 515 se encaixam no conceito de “à beira da extinção” (quando há menos de mil representantes da espécie vivos no mundo atualmente). Desse grupo, cerca de metade conta com menos de 250 espécimes vivos, o que é ainda mais grave.
Usando dados de 77 espécies de mamíferos e pássaros que estão no grupo de seriamente ameaçadas, os pesquisadores descobriram que 94% de todas as populações dessas espécies sumiram no último século. Generalizando essa porcentagem para as outras espécies do grupo de maior risco, eles estimaram mais de 237 mil populações desses animais sumiram desde 1900.
Supondo que essas espécies em alto risco só sobrevivam por mais algumas décadas, e somando essas espécies com as 543 de vertebrados já extintas no século 20, um total de 1.508 espécies de vertebrados terrestres estarão extintas até 2050. Calcula-se que, em condições normais, apenas nove espécies do tipo seriam extintas naturalmente. Ou seja, a taxa de extinção do período 1900-2050 será 117 vezes maior do que a taxa de extinção esperada. Um número tão grande em tão pouco tempo só é observado em eventos de extinção em massa.
O problema é ainda pior se colocarmos na conta as 388 espécies que possuem entrem 1.000 e 5.000 representantes vivos. O número de espécimes vivos é um pouco maior, mas a situação delas não é exatamente confortável. Além disso, 84% dessas espécies vivem nas mesmas regiões das 515 citadas anteriormente, que estão sob altíssimo risco de extinção – o que piora tudo. Isso porque, quando se trata de extinções, há de se considerar o efeito cascata: o sumiço de uma espécie prejudica as relações ecológicas de todo um habitat, e isso facilita que outras espécies também sigam pelo mesmo caminho.
“Interações ecológicas de espécies à beira da extinção tendem a levar outras espécies à aniquilação quando desaparecem – ou seja, a extinção gera extinções”, explicam os pesquisadores no estudo. Um exemplo claro disto é o da “vaca-marinha-de-steller”, uma espécie de mamífero marinho que foi extinto no século 18 devido à diminuição do número de lontras marinhas no mar de Bering por conta da ação de caçadores humanos.
Acontece que as lontras marinhas eram predadoras de ouriços-do-mar, que prosperaram quando elas sumiram. Os ouriços, por sua vez, se alimentavam de vegetação marinha, assim como as vacas de steller. Elas não conseguiram competir com o grande número de ouriços e acabou sendo extinta.
Engana-se quem pensa que o problema está só nos animais selvagens. A equipe lembrou que nossa relação com a natureza também será profundamente afetada caso tantas espécies sumam tão rapidamente. O estudo cita a atual pandemia de Covid-19 como uma consequência direta de nossa relação conturbada com a vida animal – afinal, é quase certo que o vírus chegou aos humanos graças ao comércio ilegal de animais selvagens.
Com isso, a extinção em massa atual é comparável com fenômenos como o aquecimento global em termos de riscos à humanidade, e “pode ser a ameaça ambiental mais séria contra a sobrevivência da civilização, porque é irreversível”, como escrevem.
No entanto, os cientistas afirmam que não é tarde demais para agir. “O modo como lidamos com a atual crise de extinção nas próximas duas décadas definirá o destino de milhões de espécies”, diz Gerardo Ceballos, um dos autores do estudo. Algumas medidas sugeridas na pesquisa incluem forte proibição e fiscalização do comércio de espécies silvestres, diminuição imediata do desmatamento e categorização de todas as populações animais com menos de 5 mil exemplares como “criticamente ameaçadas”.
As outras extinções em massa
Ordoviciano-Siluriano (443 milhões de anos atrás)
Foi o segundo maior evento de extinção da história em termos de porcentagem de espécies perdidas. Na época, toda a vida do mundo era marinha, e estima-se que 85% das espécies sumiram – corais e os chamados trilobitas foram especialmente afetados. O evento provavelmente foi causado por movimentos tectônicos que levaram à glaciação e queda no nível do mar.
Devoniano (383-359 milhões de anos atrás)
Em 20 milhões de anos, 75% das espécies existentes na Terra foram extintas, o que faz deste o terceiro maior evento de extinção conhecido. Novamente, os mais afetados foram os seres marinhos, incluindo os primeiros peixes primitivos. As causas ainda são debatidas, mas acredita-se que uma queda da oxigenação nas águas devido a asteróides e/ou fenômenos de vulcanismo criou um ambiente bastante inóspito à vida.
Permiano-Triássico (250 milhões de anos atrás)
A “mãe de todas as extinções em massa”, como o período é conhecido, foi o evento mais letal para a vida já registrado: 95% das espécies marinhas e 75% das terrestres desapareceram. O cataclisma foi causado pela erupção da rede de vulcões conhecida como “Trapps siberianos” no que hoje é a Rússia, liberando 14,5 trilhões de toneladas de gás carbônico na atmosfera, resultando num aquecimento global digno de ser categorizado como “infernal”.
Triássico-Jurássico (200 milhões de anos atrás)
De novo, erupções vulcânicas transformaram a Terra em um lugar nada agradável. Dessa vez, a culpada foi a Província Magmática do Atlântico Central, uma rede de vulcões que se concentrava no centro do continente da Pangeia (hoje, os remanescentes vulcões estão espalhados pela América e pela África devido à separação dos continentes).
Um fato curioso é que a extinção aniquilou várias espécies de répteis crocodilianos (parentes bem distantes dos crocodilos atuais), que dominavam o ambiente terrestre. Isso abriu espaço para os famosos dinossauros começarem a surgir e dominar o mundo como grandes predadores.
Cretáceo-Paleógeno (65 milhões de anos atrás)
A mais recente e famosa extinção em massa, que extinguiu todos os dinossauros não-aviários da Terra (sobraram apenas as espécies que, no futuro, dariam origem às aves modernas). O evento está quase certamente ligado à queda de um enorme asteroide na Península de Iucatã, no México.
Holoceno (atualmente)
É a que provavelmente estamos vivendo hoje. As taxas de extinção que observamos nos últimos séculos têm sido bem maiores que as esperadas em uma situação normal e estão cada vez mais perto das taxas de extinção dos eventos citados acima, grande parte por conta da ação dos seres humanos na natureza.
21.11.22
ESTÁ NA HORA DO DESPERTAR DOS LOBOS
A normalização da anormalidade
Chama-se “agenda Woke” e está aí em força. É um movimento “progressista” que surge de décadas de formatação social para que haja uma percepção distorcida do que é certo ou errado, do que é normal ou anormal, do que é ciência ou teoria. Não tem nada a ver com aceitação, igualdade de direitos, respeito pelas diferenças. É a normalização, por imposição, do feio, do absurdo, do grotesco e das teorias sem fundamento científico com um objectivo (dissimulado) bem definido: o controlo social.
Foram anos e anos de preparação, através das escolas públicas e dos “mass media”, para criar uma sociedade de idiotas úteis incapazes de pensar por si e submissos a toda a propaganda e doutrinação das agendas globalistas com vista a uma mudança profunda da sociedade para que uma elite autonomeada a possa dominar. A este movimento chamaram de “despertar” para o “respeito pela liberdade” para que ninguém tenha sequer a ousadia de criticar estes absurdos sem incorrer no risco de ser conotado de racista, conservador “radical”, extremista de direita ou homofóbico e ser, consequentemente, cancelado da sociedade. Veja-se o exemplo de como classificaram o comentário da actriz brasileira, Cássia Kis, depois de ter dito que “homem com homem não dá filho”.
Por isso, foi com a passividade da maioria, que não se insurgiu contra o avanço desta desconstrução social, que chegamos até aqui, e onde foi possível ver, estes dias, uma pessoa trans, do sexo masculino, feio e gordo, ganhar um concurso de misses. Isto realmente nem mesmo inventado!
Os avisos estavam todos à nossa frente há muito tempo quando gradualmente foram adulterando o conceito de artes em que se chegou ao cúmulo de levar para um museu, quadros e esculturas invisíveis, urinois, excrementos enlatados e lixo espalhado numa sala, para que os totós doutrinados admirassem aquilo a que designaram de “arte” contemporânea. É chique. E ai de quem afirmar que isto não é arte!
Veja-se, também, o caso do artista que desatou aos berros no parlamento Europeu sob a complacência dos eurodeputados, todos com ar de parvos, a bateram palmas à “brilhante actuação”.
Seguiram-se mais aberrações como teatros assistidos por crianças, com casais ao vivo a praticarem sexo, ou homens nus, onde se convidam os menores a participar em palco. Isto tudo, promovido pelas escolas, claro, para dar um ar “educacional” ao evento.
Depois, as palestras de travestis nas bibliotecas escolares, para crianças. Repito: travestis para “ensino” a crianças. Tudo normal. Para de seguida abrir-se a porta à doutrinação LGBT através da famosa “Teoria da Ideologia de Género”, sem qualquer sustentação científica – como o denunciei aqui neste artigo “A Ideologia de Género não é Ciência é Doutrinação”– mas que mesmo assim entrou em força nos planos curriculares das escolas através dos Ministérios de Educação do mundo ocidental e graças a isso, hoje temos:
- WC públicos mistos;
- erotização precoce das crianças na pré-escola;
- ensino de linguagem estapafúrdia (inventada ) “inclusiva e neutra”;
- ensino de que nascemos sem sexo e ser o que quisermos;
- ensino de que homens menstruam e engravidam;
- ensino de que não há definição para mulher;
- normalização da prática do aborto como forma contraceptiva (está mesmo nos guiões do ME escritos por feministas e com programa feminista como se pode verificar pelo índice dos guiões aqui, aqui, aqui, aqui e aqui).
É um Teoria que virou “ciência” mas que salvaguardam em nota prévia de introdução, nos manuais, não vá o diabo tecê-las e um dia, os representantes da Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género, terem de sentar na barra dos tribunais.
Em consequência da abordagem incorrecta sobre o aborto, ensinado nas aulas de cidadania como sendo uma opção à contracepção, formou-se uma sociedade que aceita esta prática em bebés com meses de gestação e pós nascimento. Enquanto isso, banem e censuram filmes – como foi o caso de “UNPLANNED” – que despertam para a realidade sobre o tema do aborto. Medo de quê? Que as jovens depois de verem o que é realmente um aborto, deixem de o querer fazer? Onde está a liberdade individual de decidir, em consciência, quando se censura um dos lados?
Mas as aberrações deste novo “mundo woke” não ficam por aqui. Fazem-se parques infantis com órgãos sexuais gigantes com a maior naturalidade. Aqui um escorrega na Noruega:
Como se tudo isto não bastasse, normaliza-se a pedofilia através da Netflix, enquanto a Disney reinventa personagens que eram brancas e para passarem a ser negras como gesto de afirmação “anti-racista”. Mas não consta que personagens negras tenham sido revisionadas para serem brancas. Claro. A outras, mudam-lhes o sexo para as tornar “inclusivas” e chega-se ao ridículo de exigir que as vozes de filmes animados sejam de negros quando o personagem é negro. E nem a Branca de Neve escapou ficando sem os anões porque a história infantil, das mais lindas da Disney, os “ofende”. Dizem, estes apanhados do “wokismo”.
Para compor o ramalhete, temos indivíduos trans (mulheres com próstata) a competir e vencer nas provas de desporto ao lado de mulheres (sem próstata) que devem estar muito orgulhosas por verem a sua luta pelos direitos iguais aos homens, levado à letra.
E agora a cereja no topo: carne artificial impressa em 3D e a introdução gradual de insectos na alimentação para substituir a carne (que será, no futuro, uma iguaria exclusiva das elites, o próximo “caviar”) e andar de bicicleta ou trotinete ou carro eléctrico (que será acessível apenas aos mais endinheirados), em nome da defesa do clima (claro está), enquanto estes donos do mundo autonomeados, andam de jatinho particular e comem carninha e peixinho do melhor que há no planeta, nas suas mansões bilionárias à beira mar, rindo da nossa cara de “ovinos”.
Ah! e o poliamor, que no meu tempo se chamava de poligamia e orgia, e que regressa como o direito ao amor múltiplo. Ironicamente, quase sempre é constituído por um homem e várias mulheres e dizem que querem pôr fim ao patriarcado. Estes “piquenos” têm imenso sentido de humor.
Esta agenda woke (despertar) é maquiavélica. Na verdade não procura a igualdade de direitos e muito menos promover a liberdade individual. Estão a impor um padrão de comportamento, e sob falsas boas intenções, para enfraquecer/cancelar o sexo masculino, tornando-o afeminado e estéril, e assim poder mais facilmente, instituir uma sociedade dominável e submissa que não terá testosterona suficiente para lhes fazer frente na implementação das grandes agendas globais, “climáticas”, digitais e “covideiras”, que os tornam financeiramente ainda mais poderosos.
Está mais do que na hora do “despertar”, mas desta vez, dos lobos.
19.11.22
CONSTITUIÇÃO, E A SUA REVISÃO EMINENTE
Diga o que disser a Constituição
Telmo Azevedo Fernandes Nov 18 |
No meu artigo de hoje para a coluna da Oficina da Liberdade no Observador escrevo sobre a perversa revisão da Constituição, usada para amnistia de responsabilidades políticas e respaldo de tiranetes:
(...)
Mas depois do contundente raspanete dos tribunais, as ratazanas políticas entendem que numa futura emergência sanitária “é preciso ter tudo bem certinho” e por isso querem fazer uma revisão da Constituição para tornar constitucional tudo o que se passou, ou seja, em vez de conformar as leis e a prática política ao cumprimento da Constituição, altera-se a Constituição existente para dar suporte legal aos actos governativos e administrativos que forem convenientes a quem está no poder. Por isso o bastonário da Ordem dos Advogados alertou que se trata de uma “deriva muito preocupante” e o Presidente do Tribunal Constitucional uma “situação comatosa” do Estado de direito.
Tal como todos os partidos abriram no Parlamento a porta para a reinstalação da censura por via legal com a aprovação da «carta dos direitos digitais», também agora PSD e PS estão mancomunados para subverter a Constituição garantindo salvo-conduto a intromissões dos governos na liberdade das pessoas, desconsiderando direitos e garantias dos cidadãos contra abusos do Estado e conferindo enquadramento legal à possibilidade de permanente governação em estado de excepção a pretexto de emergências sanitárias. Prevê-se que o estado de emergência passe a ser declarado por burocratas ou técnicos, sem controlo e vigilância democráticas dos órgãos de soberania, quando antes era necessária uma proposta do Presidente da República, uma autorização da Assembleia da República, consulta ao Governo, e tinha duração máxima de quinze dias. A possibilidade de decreto de estado de exceção constitucional servia até agora precisamente para que o Estado não pudesse reclamar poderes que extrapolassem o âmbito de um regime democrático.
(...)
Para contornar a ilegalidade de todas as medidas políticas adoptadas com argumentário sanitário desde 2020, o PSD e o PS estão articulados para consagrar que possa ser o Governo a declarar uma emergência de saúde pública de modo unilateral, passando apenas por uma resolução do Conselho de Ministros. Isso permitiria adoptar, sob a capa de uma legalidade contrafeita, as medidas que mereceram total repúdio do Tribunal Constitucional como isolamentos, quarentenas, testagem generalizada e confinamentos preventivos baseados em conceitos vagos e falíveis de «risco», «necessidade» e «ameaça iminente» que radicariam em pareceres especulativos e preditivos de uma futura «Comissão Científica» a ser nomeada para o efeito pelo próprio Primeiro-Ministro. É um pouco como escolher o carrasco de um condenado à morte para seu advogado de defesa.
De uma assentada, a revisão constitucional que se quer fazer ilibará de responsabilidades políticas e até criminais os protagonistas de todas as decisões anteriores. Pior ainda: a Constituição deixa de ser uma defesa do cidadão perante os abusos do Estado e dos governos e passa a ser uma justificação para a sonegação dessa proteção legal de acordo com os estados de alma de quem está no poder.
O texto completo, aqui:
BLASFÉMIAS |
18.11.22
CÂMARA MUNICIPAL DE CASCAIS. "Uma Família às Direitas"
A sogra, o marido, o genro, o filho, a nora e o enteado. Família lucrou vários milhares de euros com a Câmara de Cascais
O Sr. Presidente. |
A Câmara Municipal de Cascais fechou mais de uma dezena de contratos públicos, a maioria por ajuste direto, num montante total de cerca de 600 mil euros, com uma empresa fundada pelo marido da atual administradora executiva da empresa municipal que gere o aeródromo de Tires, que chegou a ser adjunta do autarca Carlos Carreiras.
Ao todo são dez contratos públicos por ajuste direto e cinco contratos por consulta prévia celebrados entre a Câmara e diversas empresas municipais e a empresa DualAlarm - Sistemas de Segurança Lda, fundada em 2011 por António Manuel Agostinho Garcia, casado com Maria do Céu Garcia. Os negócios começaram em 2012 e continuaram até 2022, rendendo à empresa, que fornece, instala e faz a manutenção de sistemas de vigilância, 583.064,70 euros.
Em resposta à CNN Portugal, a Câmara Municipal de Cascais diz não ter conhecimento de “qualquer incompatibilidade entre os intervenientes nos contratos referidos e as entidades contratadas”. A autarquia garante que cumpriu a legislação em vigor e que os “procedimentos que precederam à celebração dos contratos foram desencadeados no cumprimento das normas legais aplicáveis, como são todos os contratos e procedimentos deste município”.
Também Maria do Céu Garcia diz nunca ter tido “qualquer intervenção em decisões do município relacionadas com pessoas da minha [sua] família”.
Contrato a contrato, o que aconteceu desde 2011
Entre 2011 e fevereiro de 2013, altura em que a empresa passou a ser detida por António Maria Garcia, enteado de Maria do Céu, e por um sócio, a Câmara Municipal de Cascais fez dois contratos por ajuste direto com a DualAlarm. Ambos foram celebrados em setembro de 2012 e totalizavam 19.927,93 euros. Segundo o Diário da República, Maria do Céu Garcia era adjunta do presidente Carlos Carreiras neste período.
Em outubro de 2013, na mesma altura em que Maria do Céu era nomeada adjunta do gabinete de apoio à presidência da Câmara de Cascais depois de uma breve passagem pela Cascais Dinâmica, foi o próprio Carlos Carreiras quem assinou um contrato por ajuste direto com o enteado dela no valor de 41.364 euros. O objetivo, segundo o portal Base, era a “aquisição de serviços de manutenção à central de monitorização de videovigilância à central recetora de alarmes de intrusão instalada na Polícia Municipal”.
Após esta data e até Maria do Céu Garcia assumir a direção executiva da empresa municipal Cascais Dinâmica, que gere o aeródromo de Tires, a empresa fundada pelo marido e agora detida pelo enteado fez mais sete ajustes diretos com a autarquia e com a empresa municipal Cascais Próxima.
No total, a DualAlarm, que passou a chamar-se DualSecur em 2014, recebeu 200.331 euros em ajustes diretos. Desde a sua constituição, segundo informações que constam no portal Base, a firma apenas celebrou contratos públicos com a Câmara Municipal de Cascais e com as empresas municipais tuteladas pela autarquia.
Também entre junho de 2018 e maio deste ano, a empresa faturou 359.776 euros em contratos feitos através de Consulta Prévia com a autarquia e empresas municipais de Cascais. Com o Município de Cascais, registou dois contratos em junho de 2018 e setembro de 2020, ambos no valor de 73.200 euros, sendo que o último voltou a ser assinado pessoalmente por Carlos Carreiras.
Pelo meio, a empresa do enteado de Maria do Céu Garcia, fez também outros três contratos por Consulta Prévia com a Cascais Próxima e a Empresa Municipal de Ambiente de Cascais, todas tuteladas pela autarquia.
Nora também foi nomeada para cargos na Câmara
A nora de Maria do Céu Garcia, Catarina Mona, também deteve cargos dentro da Câmara Municipal de Cascais pelo menos desde outubro de 2017.
Segundo despachos do presidente da Câmara publicados em Diário da República, Catarina Mona, casada com um dos filhos de Maria do Céu Garcia, foi Secretária de Apoio à Vereação na autarquia, entre outubro de 2017 e agosto de 2019. Em setembro de 2019, foi nomeada adjunta desse gabinete.
Para além da nora, também a empresa do genro de Maria do Céu Garcia assinou três contratos por ajuste direto no valor de cerca de 60 mil euros por serviços de consultoria aeronáutica com a empresa municipal Cascais Dinâmica, que gere o aeródromo de Tires e onde Maria do Céu Garcia é administradora executiva.
Sobre este caso, revelado pela CNN Portugal há uma semana, a Câmara Municipal de Cascais negou ter existido favorecimento familiar. “Absolutamente não”, referiu na altura fonte oficial, garantindo que Maria do Céu Garcia pediu escusa no momento da assinatura dos contratos com a empresa do genro.
Além dos contratos com a empresa do genro, Maria do Céu Garcia está envolta num outro caso em que a administração da Cascais Dinâmica é acusada de privilegiar a empresa de aviação privada Valair - Aviação, Lda, onde trabalha o seu filho José Garcia, num dos hangares do Aeródromo de Tires.
Há mesmo um processo na Justiça, que decorre no Tribunal Administrativo e Fiscal de Sintra, em que quatro operadores de aviação moveram uma ação contra a administração da Cascais Dinâmica por estarem a ser alvo de ordens de despejo no hangar n.º4. Os operadores alegam que foram vítimas de “tratamento discriminatório” já que a empresa Valair - Aviação, Lda que também ocupa o mesmo hangar não recebeu qualquer ordem de despejo.
14.11.22
O PARAÍSO NA BEIRA INTERIOR
Paulo Catry, biólogo, delicia-se com estes dias solarengos de outono e com a passagem de grandes bandos de pombos-torcazes, ali pela Beira raiana. “Chegam da Europa distante, da Alemanha, da Escandinávia, da Finlândia, vêm à procura das bolotas de sobreiros e de azinheiras no Sul.”
Beira Interior, Novembro 2022
Sabe bem andar ao sol no campo verde. Há cestos com romãs e marmelos e há quem apanhe azeitona. Diospiros dependurados nos ramos finos. Pilriteiros carregados de bagas vermelhas. Tudo brilha, mas os dias deste verão são demasiado curtos… resta anotá-los, para que não escorram só entre os dedos logo ficando esquecidos.
Montámos redes de captura de pequenos pássaros (para anilhagem) no quintal, com resultados mais magros do que habitualmente. Este ano há pouca azeitona, será por isso? Ou será pela seca que por aqui foi avassaladora? Só há coisa de duas semanas choveu mesmo a valer pela primeira vez. Um alívio de erva tenra e de musgo intumescido. Despontam cogumelos discretos. Ainda não há flores.
Logo ao nascer do dia apanhámos dois tordos de plumagem sedosa ao tato, segurá-los por momentos é um prazer físico; libertá-los e vê-los voar é graça divina. E pensar que há quem ande por aí atrás deles aos tiros.
Durante a manhã o céu esteve encoberto, sem pinga de vento, cinzentos de todos os tons, névoa nos vales a trepar pelos declives, nuvens finas como fumo branco esfarrapado sobre um fundo de estratos escuros. Um breve chuvisco, quase impercetível.
A meio do dia surge o sol radiante. As nuvens brancas são agora sólidas, espalham sombras enormes na paisagem. Espaço amplo com molduras de montanhas distantes, aldeias esparsas, vistas desimpedidas, adoro a expressão em inglês para isto: “big skyes”.
O dia aquece um pouco. Soa o canto dos chapins-reais, típico do tempo solarengo mas pouco quente. Chamamentos curtos de estorninhos, toutinegras, tentilhões, o conforto das aves habituais. Começa a dança outonal dos almirantes-vermelhos, borboletas de nome feio e de cores de encantar.
Depois do almoço sentamo-nos no alpendre a adiantar trabalho, mas logo vem um som de vento no ar parado, levanto-me de um salto, a tempo de ver um bando de duzentos pombos-torcazes voando bem altos, direitos a su-sudoeste, como sempre fazem nesta época do ano. Depois outro, e mais ainda, os bandos têm frente ampla, mais largos do que compridos. Voam rápidos no ar parado, a uns 60 km/h segundo medições feitas noutras paragens. Todos seguem a mesma rota, como se guiados pelas memórias das viagens de anos passados, dos antepassados.
É fácil observar aves migradoras, grande parte das espécies que frequentam o nosso país migram. Mas não é tão frequente assim ver aves a voar e ter a certeza clara de que vão em viagem (e não simplesmente num movimento das lides diárias, entre locais de repouso e de alimentação). Gosto especialmente de ver a passagem dos pombo-torcazes por isso. Chegam da Europa distante, da Alemanha, da Escandinávia, da Finlândia, vêm à procura das bolotas de sobreiros e de azinheiras no Sul.
Todos estes pombos passam pelos Pirenéus ocidentais, afunilando-se nos colos das montanhas, e depois dirigem-se para a Extremadura espanhola e para o Alentejo*. Nas áreas de invernada comem nos montados e em campos agrícolas, num raio de dezenas de quilómetros em volta dos dormitórios onde se juntam para passar a noite. Nalguns dos locais de descanso chegam a agrupar-se às dezenas de milhares. No sudoeste peninsular passam o inverno dois ou três milhões destes bichos.**
Aqui na Beira raiana, junto ao Erges, os bandos de torcazes não são uma certeza. Quando as condições meteorológicas de alguma forma empurram o fluxo mais para poente, veem-se milhares a passar por dia, congregados em grandes bandos, normalmente com cem a trezentos (às vezes quinhentos) pombos cada um. Noutros dias, nas mesmas épocas, não passa nenhum.
Chegou a estar quente por um momento e o céu encheu-se de grifos, mas o sol cai cedo e ainda antes de passar pelo horizonte já o calor se dissipa. O verão fica logo esquecido, os sons e o ar lembram outros invernos e anunciam este que aí vem. Uma braçada de giesta para o arranque da lareira. Nos olivais e nos montados é a hora dos piscos, tic-tic-tic-tic até à última luz do dia.
Vermelho denso acima do horizonte negro mesmo antes de a noite fechar-se. Frio, mas ainda se aguenta. Nas ruas de granito cheira a fogo de azinho. Sento-me outra vez no alpendre a querer agarrar o dia. O bufo-real não se cala, ouve-se também um ladrar distante e a passagem ao luar de uma laverca fugidia. Céu amplo, Júpiter, Saturno e as constelações da época. Ar quieto, rotas migratórias desimpedidas.
* Tellería JL 2009. Bird Cons Int.
** Bea A et al. 2003. Ornis Hung.