Este blogue é pessoal e sem fins lucrativos. Se sentir que eu estou a infringir os seus direitos de autor(a) agradeço que me contacte de imediato para eu corrigir o referido conteúdo: / This blogue is a non-profit and personal website. If you feel that your copyright has been infringed, please contact me immediately: pintorlopes@gmail.com

27.2.22

Memorando de Budapeste

 


 


Em 1994, a Ucrânia detinha um gigantesco arsenal nuclear até assinar o Memorando de Budapeste e entregou cerca de 1600 armas nucleares remanescentes da antiga União Soviética à Rússia, em troca de um tratado de paz e da garantia de nunca ser invadida ou ameaçada.
Hoje a Rússia invade a Ucrânia demonstrando o resultado de entregar sua capacidade de defesa a alguém contando com sua benevolência.
O desarmamento sempre será uma estratégia oferecida para te dominar. Nunca conte com a bondade dos outros, esteja sempre preparado para se defender e defender sua família.
 
 
Site de notícias
Nosso foco é produzir e distribuir informação para melhorar a vida das pessoas, contribuindo com

24.2.22

CASCAIS. QUE FUTURO ?

 

ANATOMIA DE UM ECOCÍDIO: O Parque Natural Sintra-Cascais


19 fevereiro 2022 | 19h12
Qualquer pessoa que frequente o Parque Natural Sintra-Cascais na zona entre a Malveira e a Peninha sabe que, nos últimos anos e, nomeadamente, nos últimos meses, têm sido praticados cortes absolutamente inqualificáveis de extensas áreas, sendo arrasados, designadamente, cupressos e pinheiros com dezenas e centenas de anos.



Há mais de uma semana, um conjunto de associações ambientais e movimentos cívicos (entre os quais o Grupo de Amigos das Árvores de Sintra, o Grupo Ecológico de Cascais, o Fórum por Carcavelos, o Fórum Cidadania Lisboa, a Associação de Defesa da Aldeia de Juso, o QSintra e o SOS Parque Natural Sintra-Cascais) apresentaram a diversas entidades (Ministério do Ambiente e da Ação Climática, Ministério da Agricultura, CMC, ICNF, APA, SEPNA, IGAMAOT) provas fotográficas disso mesmo e uma queixa pelo corte de árvores de espécies não-invasoras numa vasta área do Parque Natural Sintra-Cascais, na freguesia de Alcabideche, pedindo explicações para o facto. As explicações oficiais continuam sem ser dadas. Porém, como é costume, a CMC apressou-se a vir dizer aos meios de comunicação social a lenga-lenga do costume: que tudo não passava de ignorância e que apenas estavam a ser cortadas acácias, espécie invasora. Mentira pura. Têm sido cortadas acácias? Têm. Devem ser cortadas as acácias? Nalguns locais, sem dúvida. Mas o corte das acácias não justifica o corte das outras espécies. A menos que as mesmas estejam a ser cortadas por razões económicas, ligadas ao valor da sua madeira. Que é alto, muito maior do que o das acácias. A que se destinam estas toneladas de madeira? E as de madeira exótica? Quem as compra? Quem as vende? Por quanto? O que é feito ao dinheiro? 

Diga-se que nas áreas em que a CMC levou a cabo semelhante ecocídio em anos anteriores, são agora predominantes…as acácias! Com efeito, pela forma como a intervenção foi realizada, as acácias voltaram a nascer; as outras grandes árvores não. E a maior parte dos exemplares plantados pela CMC morreu.

A CMC e o ICNF – que gerem o Parque Natural como se fosse um feudo deles e não ouvem as organizações ambientais, ao contrário do que estão obrigadas – estão, pois, a tornar o Parque Natural um campo deserto e sem vida, ameaçando flora e fauna protegida por tratados internacionais.

17.2.22

CÂMARA DE CASCAIS AUTORIZA O ABATE INDISCRIMINADO DE ÁRVORES ! ?

 

Organizações ambientalistas denunciaram hoje o abate de centenas de árvores no Parque Natural Sintra-Cascais, considerando que se trata de "crime ambiental", mas a Câmara de Cascais assegurou que a intervenção florestal visa controlar e erradicar espécies invasoras exóticas.
Câmara de Cascais assegura que abate de árvores visa erradicar espécies invasoras

Em causa está o “abate de centenas de árvores de grande porte numa área significativa do Parque Natural Sintra-Cascais”, na freguesia de Alcabideche, concelho de Cascais, distrito de Lisboa, situação para a qual foi apresentada queixa a várias entidades, inclusive ao ministro do Ambiente e da Ação Climática, informou o Grupo dos Amigos das Árvores de Sintra, uma das organizações ambientalistas que denunciaram o caso.

A queixa foi apresentada por um grupo de vários cidadãos e de várias organizações ambientalistas, nomeadamente SOS Parque Natural Sintra-Cascais, Grupo dos Amigos das Árvores de Sintra, QSIntra, Fórum Cidadania Lisboa, Fórum por Carcavelos, Grupo Ecológico de Cascais ONGA e Associação de Defesa da Aldeia de Juso.

Divulgando fotografias e vídeos do corte de árvores, as organizações ambientalistas afirmam que se tratam de “espécies não-invasivas” e que “a extensão do abate é grande”, exigindo “medidas imediatas” para “impedir a continuação da destruição de um património natural numa zona protegida por lei no Parque Natural Sintra-Cascais, o primeiro parque natural nacional, com biodiversidade única ao nível de flora e fauna, insubstituível e de extrema importância para o meio ambiente e para o país, em particular perante o cenário de emergência climática”.

13.2.22

A paixão de dar voz a rádios antigos a válvulas

 © Carla Quirino - RTP 

 
 Apesar de se viver um mundo digital há quem se dedique a recuperar o passado analógico dos rádios antigos. A paixão pelo design dos aparelhos a válvulas fez com que José Duarte iniciasse uma coleção com o desafio de lhes dar uma nova vida…

Em criança, na casa do avô, durante as tardes de transmissão do relato de futebol, José Duarte recorda-se, "vezes sem conta, de espreitar por trás do rádio procurando o dono da voz, mas o aparelho só me dava calor e uma luz fraca que vinham das válvulas acesas".

José Duarte partilhou com a RTP o entusiasmo da arte de restaurar rádios antigos, quase sempre avariados e esquecidos. Se a uns teve de reparar o exterior, a outros precisou de investigar e mergulhar no mundo das válvulas e circuitos electrónicos.

Tem cerca de uma centena de rádios a válvulas mas destaca perto de 40 aparelhos, todos restaurados por ele. Se por um lado as linhas dos modelos o seduziu em primeira instância, a missão de lhes devolver a voz conquistou-o de vez. Praticamente todos os aparelhos antes da década de 60 funcionavam em onda média e onda curta. Depois veio o FM e mais recentemente o sinal digital e os emissores de onda média deixaram de ser usados.

Excelsior 55 EZ80

O projeto mais recente de José Duarte é um rádio francês da década de 50.

O colecionador destaca a criatividade deste molde, "inspirado nas frentes dos carros norte americanos da época". O modelo conhecido por Excelsior 55 EZ80 teve uma produção breve, não havendo segunda série no fabrico da SNR, Société Nouvelle de Radiophonie, ganhando assim um valor de coleção por serem raros.

Adquirido há meia dúzia de anos por cerca de 120 euros, o aparelho precisava de uma reparação eletrónica, entretanto já concluída sem dificuldade.

Rádios Históricos

José Duarte vai buscar a uma das muitas estantes onde se espalha a coleção, um rádio de baquelite escura, lustrosa, de formato retangular com linhas simples.

As águias de asas abertas agarrando a suástica envolta em louros não enganam. É um aparelho de 1938, mais precisamente um Volksempfänger (Receptor do povo), rádio para as massas desenvolvido pelo regime nazi, barato para todos os poderem comprar e com pouca capacidade de captação para não apanhar programas estrangeiras.

Adquirido numa feira, precisou de o reparar: "Tinha uma válvula avariada juntamente com outros componentes electrónicos". Do analógico saltou para o digital procurando na internet solução. Encontrou esquemas e válvulas para dar vida ao velho rádio nacional socialista.

"Consegui encontrar em Portugal todos os componentes para o pôr a funcionar. Mas como a captação é em onda média, e estes equipamentos estavam preparados para receber emissões de curtas distâncias, atualmente é difícil a sintonização", explica.

Estes rádios baratos difundidos pela população tinham como missão receber a mensagem do III Reich. Quantas pessoas terão escutado os discursos de Adolf Hitler neste aparelho, reflete José Duarte, acrescentando que estando ao serviço "de um regime opressor ", o Volksempfänger "veiculava a propaganda nazi e controlava a restante informação".

Ao lado do Volksempfänger, José Duarte apresenta-nos mais um aparelho da coleção. Também da década de 30 do século passado, outro rádio produzido para as massas e por onde, desta vez, o regime português de António Salazar se fazia ouvir.

É um RCA de quatro válvulas, decorado com um emblema da Emissora Nacional acompanhado pela inscrição de uma estrofe dos Lusíadas de Luís de Camões: "Cantando espalharei por toda parte" (Se a tanto me ajudar o engenho e arte).

Se o alemão Paul Goebbels, ministro da Propaganda do III Reich, promoveu a difusão dos recetores de rádio em terras germânicas, em Portugal, Henrique Galvão defendeu o projeto da Emissora Nacional "para bem da nação".

Os RCA faziam parte de uma política de expansão da Rádio em Portugal durante o Estado Novo e eram vendidos pela Emissora Nacional às famílias, com facilidades no pagamento.

"Em Portugal, nos anos da II Guerra, a onda média e curta foi muito importante para quem queria ouvir os relatos de alguns episódios da guerra", explica José Duarte.

A rádio também servia para saber as notícias que se passavam noutros países. "A censura cortava a informação e as pessoas, através das estações estrangeiras, em onda curta, ouviam os relatos e notícias" vindas de outras paragens, como que "uma janela para o mundo". Para fiscalizar o uso do espectro radiofónico português em possíveis transmissões clandestinas, o Estado Novo criou os "Serviços Rádios- eléctricos para fazerem essas escutas", acrescentou.

O colecionador encontrou o rádio português num antiquário, avariado e com a estrutura exterior de madeira, estragada. Sobre a arte de restauro, detalha a precisão do trabalho que pretende que seja "criterioso, no sentido de preservar ao máximo as características originais de cada aparelho", e defende que só assim se preserva a memória de toda uma época.

Na recuperação no RCA, para além da reparação electrónica, Duarte investigou uma prática de envernizamento que se fazia hà época e que utilizava excrementos de um insecto.

Dia Internacional da Rádio

E se "perdendo a memória, perde-se o ensinamento", como defende José Duarte, é essa memória da rádio que os Estados Membros da UNESCO decidiram exaltar, quando criaram o Dia Internacional da Rádio.

Após o fim da II Guerra Mundial, o serviço internacional de radiodifusão das Nações Unidas foi iniciada a13 de fevereiro de 1946, e foi precisamente essa data, a escolhida,

para preservar o meio de comunicação intemporal e consciêncializar as pessoas da importância do rádio.

Proclamando em 2011 e adotado pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 2012, o dia 13 de fevereiro tornou-se o Dia Internacional da Rádio.

A radiodifusão continua a ser um dos meios de comunicação mais confiáveis e acessíveis do mundo e por isso a edição de 2022 tem o tema "Rádio e Confiança".

José Duarte, em jeito de homenagem, relembra que a rádio só se faz porque milhares de trabalhadores anónimos estão todos os dias e noites mundo fora a garantirem tecnicamente as emissões.

E também com o foco nos 120 anos de rádio, Duarte destaca, "o esforço de muitos que estudaram eletrónica por correspondência, em Portugal, durante décadas e conseguiram melhorar a produção dos aparelhos radiofónicos".

 

10.2.22

Retrato de Portugal por Guerra Junqueiro (1896)

 


Retrato com mais de 120 anos, mas espantosamente actual. "Um povo imbecilizado e resignado (...) Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, sem vergonha, sem carácter."

Retrato de Portugal por Guerra Junqueiro (1896)

Um Povo resignado e dois Partidos sem ideias.

Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas.

Um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta.
[...]
Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não discriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira a falsificação, da violência ao roubo, donde provem que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro. 

Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País. A justiça ao arbítrio da Política, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas. 

Dois partidos sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se malgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar.
 
Guerra Junqueiro, in Pátria (1896)
 
 Guerra Junqueiro (Freixo de Espada à Cinta, 15 Setembro 1850 — Lisboa, 7 Julho 1923), foi alto funcionário administrativo, político, deputado, jornalista, escritor e poeta português. Poeta panfletário, confidencial, satírico e também religioso, a sua poesia ajudou a criar o ambiente revolucionário que conduziu à implantação da República.
 República que nada acrescentou ao triste quadro.  

8.2.22

EM 1754 ...

 Ver a imagem de origem

Em 1754, Rousseau escreveu um livro com o título “Discurso Sobre a Desigualdade” em que afirmou que:

 “o “homem é naturalmente bom e só as instituições [da sociedade] o tornam mau”.

O primeiro homem que vedou um terreno e disse: ‘isto é meu’, e achou pessoas bastantes simples para acreditar nisso, foi o verdadeiro fundador da sociedade civil”. [Rousseau]

Rousseau vai ao ponto de deplorar a introdução da metalurgia e da agricultura.

" O trigo é símbolo da nossa infelicidade. A Europa é um continente infeliz por ter o máximo do trigo e do ferro. Para abandonar o mal, basta abandonar a civilização, porque “o homem é naturalmente bom, e o selvagem depois de jantado está em paz com toda a natureza e é amigo de todas as criaturas.”

Rousseau enviou uma cópia do seu livro a Voltaire que, depois de o ler, escreveu-lhe em 1755 uma carta em que dizia o seguinte:

“Recebi o seu novo livro contra a raça humana, e agradeço. Nunca se utilizou tal habilidade no intuito de nos tornar estúpidos. Lendo este livro, deseja-se andar de gatas; mas eu perdi o hábito há mais de sessenta anos, e sinto-me incapaz de readquiri-lo. Nem posso ir ter com os selvagens do Canadá porque as doenças a que estou condenado tornam-me necessário um médico europeu, e por causa da guerra actual naquelas regiões; e porque o exemplo das nossas acções fez os selvagens tão maus como nós.”

2.2.22

A SECA EXTREMA

A SECA EXTREMA QUE NOS VEM ATINGINDO TEM POSTO A DESCOBERTO ALDEIAS INTEIRAS QUE AS BARRAGENS SUBMERGIRAM. 
 
AQUI FICA O SENTIR DE JOÃO DE ARAÚJO CORREIA, NUMA CRÓNICA DOS ANOS 60.
 
A COMIDA DA ÁGUA
 
[...]Água de albufeira também come. Não se lhe dá de sepultar, no fundo do seu ventre, casas que foram vida, árvores em que a vida resplandeceu, estradas e caminhos trabalhados de mil vidas durante mil gerações e até monumentos que testemunharam a passagem do homem num minuto de sonho. Mas, ao passo que a água, tombada do céu, tem o poder de digerir o pão que leva à boca, a água artificiosa, represada, não o digere. É terreno que não desfaz cadáveres. É cemitério de santos, se é que os santos permanecem inteiros depois de sepultados. Igrejas, se algum refluxo as desafoga, chamam de novo à oração.
Tem ar de cemitério uma albufeira. E, quanto maior for, mais cemitério é. Cemitério líquido...
Não me sai do pensamento uma represa que absorveu metade de um país. Passei, confrangido, ao longo das suas margens como entre campas, recordando mortos. É que só ouvi silêncio... Só ouvi silêncio e só vi água. Não vi lenho, nem vela, nem rede de pescador. Não vi nada ... Nem saia de lavadeira, com a luz do sol desfeita em cores, nem roupa de moleiro, toda enfarinhada. Não ouvi nenhum som, nem eco de nenhum som. Nem o murmúrio das águas, nem a voz do barqueiro... Nem cântico de passarinho... Passeei, nas margens da albufeira, como se pisasse o saibro de campo santo abandonado. Apenas lobriguei, debaixo de água, um campanário intacto. e creio que ouvi o sino. Foi quanto me valeu para não morrer fulminado com semelhante mutismo. [...]
 
13jun1968.
in ECOS DO PAÍS