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26/02/2021 - Ídolos pré-históricos da ERA em exposição a realizar no Museu Nacional de Arqueologia
O Museu Nacional de Arqueologia (MNA) está a
preparar a exposição 'Ídolos - Olhares Milenares', sobre as
representações humanas criadas há 5.000 anos por comunidades que
habitaram o sul da Península Ibérica. Trata-se de uma colaboração com o
Museu Arqueológico de Alicante e a Universidade de Alcalá de Henares.
A mesma exposição esteve patente até janeiro de 2021 no Museu
Arqueológico Nacional de Madrid, dela constando a exibição de peças
ibéricas do referido período. Entre elas, cerca de 50 são portuguesas,
37 da coleção do MNA e as restantes sob responsabilidade da ERA
Arqueologia.
Este nosso extraordinário conjunto foi recolhido nas escavações
arqueológicas que realizamos desde 1997 no Complexo Arqueológico dos
Perdigões, com colaboração da Esporão, SA.
Em tempos de aniversário e de tréguas, acompanhamos Miguel Dantas
da Gama numa inesquecível travessia por um excepcional rincão de
natureza.
Hoje ficam de lado os pesadelos que impedem que esse lugar que há
muitos anos se entranhou, cenário de um sonho por concretizar, se
transforme num reduto de natureza exemplar onde de forma harmoniosa e
pacífica se acolham pequenas comunidades humanas e onde todos possamos
continuar a aprender como convivem plantas e animais selvagens na
complexa cadeia de compromissos de que eles e nós, humanos, dependemos.
Pesadelos que há muito motivam tantos debates sobre conflitos,
interesses e até vaidades.
Por um momento esqueço os fogos e a caça, a insaciedade com que nós,
vivendo dentro, fora, ou fora e dentro de uma área classificada,
queremos consumir a sua natureza. Esqueço o recorrente, cobarde,
inqualificável e impune abate de lobos, azevinhos e outros seres
(também) vivos que já aqui moravam antes do homem moldar o território à
sua maneira, quase sempre de uma forma em que parece que apenas ele
existe e só ele tem o direito de ditar todas as regras. Desta vez ficam
de fora a revolta de proprietários de gado que se sentem injustiçados,
frequentemente sem razão, e o discurso de alguns amantes dos «bichos
daninhos» cegos por paixões e que por desconhecimento de uma realidade
ou inibidos por interesses próprios, tão diversos quanto particulares,
promovem debates, azedos e vazios de conteúdo.
Por norma coloca-se o dedo apenas nas feridas que em cada caso convêm
e não na globalidade das abertas por todos nós. E a regra é estar-se
contra, mas essencialmente contra quem se manifesta contra os
respectivos interesses. Quantos estão realmente a favor deste território
e do que importa salvaguardar por ser do interesse comum?
Um aniversário de cinquenta primaveras justifica uma trégua, uma
travessia, que apesar de breve, pode ser um sonho desperto se levarmos
em conta que o que percorremos é um excepcional rincão de natureza.
Foto: Miguel Dantas da Gama
No extremo ocidental do território, do topo de um proeminente
penhasco, um planalto alto-minhoto de horizontes distantes expande-se
para norte e nascente. Com a chegada da primavera que já se anuncia, vai
cobrir-se de flores exuberantes. São pequenas na dimensão mas muitas
delas são grandes preciosidades a que se irão juntar aves também
valiosas, algumas provenientes de paragens longínquas.
Para poente, entre cumeadas sucessivas, medram carvalhos-negrais em
manchas interrompidas por reduzidos aglomerados urbanos, antigas
brandas, algumas bem conservadas. Na progressão para poente, em terreno
acidentado ganha-se altura até às encostas mais elevadas. A partir daí,
progredindo para sul, percorre-se a espinha dorsal de uma das maiores
serras deste paraíso. Entre dois vales muito cavados.
No do lado nascente corre um rio raiano e para lá do que fica a
poente, terra de povoados dispersos e de um inóspito santuário,
acompanha-nos uma cumeada ainda mais alta, coroada por vários domos que
se divisam de longe. Os vales vão convergindo até se encontrarem sob uma
parede lisa, muito vertical, de cujo extremo, olhando o abismo, vemos
águas que ganharam nome porque se misturam. Ainda são livres e têm força
selvagem.
Um pouco a jusante a mudança é brusca. O rio, assim formado,
desemboca num outro que nasce galego, mas ambos estão apresados por um
gigantesco muro, um dos muitos com que o homem neste paraíso barrou
muitas águas que se queriam bravias.
Foto: Miguel Dantas da Gama
Para sul, uma nova serra se ergue. No percurso até ao seu cume, por
uma das linhas de festo, deslumbramo-nos com uma mata acoitada numa das
mais profundas ravinas de Entre Douro e Minho, um dos santuários que no
paraíso devia ser venerado. Nos seus redutos mais inacessíveis, em
resquícios de uma vegetação primitiva albergam-se animais esquivos. No
topo da serra, desse Muro, junto a muitos outros, de fojos e de demais
limites criados pelo homem, olhamos o sul e o que vemos é a melhor
mancha lusa de carvalho-alvarinho. Palco de muitas histórias, algumas
extraordinárias, que importa enaltecer neste percurso de tréguas em
tempo de aniversário. Um mundo de árvores antigas de inúmeras espécies,
originárias de épocas diversas, aliadas em coexistências raras e por
isso lar de animais e outras plantas numa profusão que não se repete
noutras paragens.
Já bem no seio desta mata maior, impele-nos uma vontade imensa de
rodarmos para nascente, um ímpeto extremo que nos faz subir para os
cabeços altaneiros do paraíso, na serra que com mais nome o glorifica.
Desses picos e cornos graníticos nada se interpõe contra o céu. Daqui
partem as águas mais puras e frias, outrora aprisionadas em glaciares.
Se rumássemos a sul embrenhávamo-nos numa montanha guardiã de ravinas,
medas, grandes penhascos, cursos de água bravios em corgas sombrias,
íngremes e sinuosas. Entre os mais recônditos interstícios de um relevo
caótico encontram-se resquícios de tesouros que constantemente
atormentam, porque lembram a urgência em defender, recuperar e preservar
o que resta. Hoje não há tempo para os nomear. Nem é ocasião para
renovar lamentos.
Cabra-montês. Foto: Miguel Dantas da Gama
Prosseguindo pelo tecto do paraíso para nascente alcança-se o outro
planalto, o transmontano, de novo uma terra de horizontes a perder de
vista, importante para plantas e animais e para cuja beleza contribui o
enorme contraste que gera com as agrestes, recortadas e altivas
serranias há pouco transpostas.
Foi uma travessia apressada porque o paraíso entre o Laboreiro e a Mourela, para ser bem contado, não cabe numa crónica breve.
Desta vez, a evocação do aniversário de meio século é dedicada aos
que deste paraíso «apenas» reclamam o direito ao silêncio, só quebrado
por brisas e águas revoltas, berros de corço, uivos de lobo, pancadas
secas entre hastes reixelas e cantos de aves de montanha. E também pelo
relinchar das burras, o mugir das vacas e o berro de cabras e ovelhas
propriedade apenas dos que vivem num paraíso que por isso devem achar-se
privilegiados.
Lembrando que aqui pode subsistir um espaço para se sentir como era
antes, antes deste louco frenesim em que o ser humano tudo reclama e
quer consumir, numa corrida rápida e devastadora. E sem nunca esquecer
que o que neste e noutros paraísos, também os adoradores do silêncio –
uma tribo a que pertenço – procuram, tem que perdurar para além do tempo
em que lhes é concedido tão grande privilégio.
O Parque Nacional da Peneda-Gerês foi criado há 50 anos e as
celebrações decorrem até 8 de Maio de 2021. Até lá, Miguel Dantas da
Gama, profundo conhecedor desta área protegida, vai aproximar-nos deste
recanto único no nosso país.
Hoje, este Parque Nacional abrange os concelhos de Arcos de
Valdevez, Melgaço, Montalegre, Ponte da Barca e Terras de Bouro. As
matas do Ramiscal, de Albergaria, do Cabril, todo o vale superior do rio
Homem e a própria serra do Gerês são um tipo de paisagem que
dificilmente encontra em Portugal algo de comparável.
Assim batizei este meu quadro. Representei um encontro entre duas aves diametralmente opostas. A presa e o predador. No caso, a presa, é a tão conhecida ( por alguns ) Galinhola ave de hábitos nocturnos embora não descure o dia. O predador aqui " retratado " é o Bufo Real, este exclusivamente frequentador da noite, onde procura alimento. Quem sairá em melhor posição desta dança ?
Habita
todo o tipo de formações florestais, desde carvalhais, pinhais,
eucaliptais, montados e matas ripícolas, particularmente aquelas que
apresentam uma manta morta espessa, húmida e facilmente penetrável pelo
bico da ave.
Bufo-real (Bubo bubo)
Habitat: Habita em desfiladeiros, montanhas e vales profundos de rios,
como o Douro e o Sabor. É uma espécie muito rara na Europa; em Portugal
apenas devem existir algumas centenas de casais.