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25.9.22

SANTANA, NO CONCELHO DE NISA.

 

Aldeias sem esperança: nestas terras só há uma criança

Joana Ascensão, José Cedovim Pinto, Rui Duarte Silva

ISOLADA Maria Inês, de 12 anos, é a única criança a viver em Santana, uma freguesia de Nisa

ISOLADA Maria Inês, de 12 anos, é a única criança a viver em Santana, uma freguesia de Nisa © José Cedovim Pinto

 

  Num interior abandonado, há três aldeias portuguesas em que só vive uma criança. Em Santana, Macedo do Mato e Vinhas os dias agigantam e as geografias deixam isolados os últimos redutos da juventude

Rua por onde se entra em Santana é a rua por onde se sai de Santana. Naquela rua, o mundo todo. Naquele mundo, apenas uma rua desemboca noutros mundos. Na aldeia sem saída, curvada para um vale onde se perfila o rio Tejo, um sopro tórrido circunda os caminhos e raciona as raras vivalmas pelas casas brancas. À hora de almoço ouve-se o assobio da carrinha dos gelados. No mais sobressai o silêncio, só rasgado pelo chilrear dos pássaros. Salta à vista um mapa etiquetado a verde na pitoresca junta de freguesia, rente à única caixa de multibanco. Revela as coordenadas para os trilhos pedestres. Por ali sobrevive uma reserva natural que ainda vai levando pessoas de visita à terra. Mas naquele Alentejo, a ruralidade escorre pelos passeios como sangue nas veias. Onde sobressai a beleza da paisagem, falta gente. Naquele mundo feito de ausências, agigantam-se os dias. Sobra sempre tempo. No parque infantil impera a quietude. Onde havia uma escola primária ergueu-se um museu.

De pés descalços e fita métrica tombada no sofá, Isaura orgulha-se de manter em casa o último reduto da juventude da aldeia. A neta Maria Inês, há 12 anos sob a sua guarda, é a única criança que ainda ali habita, a respirar os ares de uma vivência em solidão. Santana, no concelho de Nisa, é uma das únicas três freguesias portuguesas onde só mora uma criança. O retrato é triste e alheio à terra presente na memória de Isaura. No seu tempo, “era alegre”, fervilhada de ferroviários e de pescadores. “Havia muita gente”, evoca. Sem que a televisão tivesse ainda lá domicílio, os jovens juntavam-se na taberna da tia a jogar à malha aos domingos. Nas noites de sábado, volta e meia soava a concertina do baile. “Só aqui na zona onde moro, moravam duas raparigas e dois rapazes. Na rua ao lado, mais duas. Éramos umas 20 ou 30 moças todas da mesma idade”, suspira. E nesse suspiro adivinha-se o peso de um silêncio só interrompido pela neta. “Agora sou uma mascote no meio deles”, irrompe Maria Inês, numa jovialidade que os avós lhe reconhecem desde os 15 dias de vida, quando passou a integrar aquele agregado familiar. À miúda, as memórias dos conterrâneos não lhe trazem outro cenário que não este.

 

 

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