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Novo estudo da União Internacional para a Conservação da Natureza
avalia todas as espécies de árvores nativas da Europa e chama a atenção
para situação “alarmante”.
Depois do grande fogo que atingiu a Madeira em 2010, o número de tramazeiras-da-Madeira (Sorbus aucuparia subsp. maderensis) em toda a ilha – único local do mundo onde a espécie ocorre naturalmente – caiu de 51 para 11 árvores.
Esta árvore de flores brancas e bagas vermelhas que ocorre apenas em
dois locais da ilha da Madeira – e num deles só é conhecido um exemplar –
está por isso classificada como Em Perigo Crítico de extinção, o grau mais grave de ameaça de acordo com a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN).
Em situação semelhante à da tramazeira-da-Madeira, calcula-se que as
espécies de árvores ameaçadas de extinção representam 42% das 454
espécies nativas da Europa, avaliadas no âmbito da nova Lista Vermelha das Árvores Europeias,
coordenada pela UICN. Como espécies ameaçadas, consideram-se as que
foram consideradas Em Perigo Crítico, Em Perigo ou Vulneráveis.
O caso é ainda pior para as 265 espécies endémicas que ocorrem apenas no continente europeu: 58% correm o risco de desaparecer.
Flores da tramazeira-da-Madeira. Foto: Lyonothamnus/Wiki Commons
O alerta para esta situação “alarmante” foi lançado no final de
Setembro, quando foram divulgados os resultados desta reavaliação do
estatuto de conservação das árvores europeias.
“É alarmante que mais de metade das espécies de árvores endémicas da
Europa estejam agora ameaçadas de extinção”, disse Craig Hilton-Taylor,
responsável máximo da Lista Vermelha da UICN, citado em comunicado.
“As árvores são essenciais para a vida na Terra e as árvores europeias,
em toda a sua diversidade, são uma fonte de comida e abrigo para
inúmeras espécies de animais como aves e esquilos, e têm um papel-chave
em termos económicos”, sublinhou.
As árvores do género Sorbus, às quais pertence a
tramazeira-da-Madeira, são as mais afectadas, com três quartos das
espécies deste género sob ameaça. Aliás, das 168 árvores europeias
ameaçadas, 130 incluem-se nesse género científico.
Mas quais são os maiores perigos? Em primeiro lugar, espécies
invasoras ou problemáticas, como plantas vindas de fora da Europa que
retiram espaço e recursos às árvores nativas. Nesse grupo de invasoras
incluem-se também espécies responsáveis por pragas e doenças – como por
exemplo a bactéria Xylella fastidiosa, de origem americana, que em Portugal e noutros países europeus está a atacar oliveiras e amendoeiras.
Tronco de oliveira. Foto: Helena Geraldes
“A ameaça de organismos como estes está sempre a crescer, em grande
parte como resultado do aumento na globalização do comércio
(particularmente de plantas vivas) que cria novas rotas para a
introdução de organismos prejudiciais”, alertam os autores do relatório
agora divulgado. Alterações climáticas pouco estudadas
Estes autores chamam também a atenção para as alterações climáticas,
pois criam condições mais favoráveis a pragas e doenças e causam um
stress acrescido às plantas. No entanto, indicam que esta é uma ameaça
ainda pouco estudada.
Preocupantes são também as actividades de desflorestação em geral e o
abate de árvores para obtenção de madeira, tal como o crescimento das
urbanizações, o abandono de terras e o aumento de incêndios, seja por
causas humanas ou naturais.
“A variação natural da disponibilidade de água e os fogos resultantes
podem estar ligados às alterações climáticas, com períodos de seca
crescentes e uma intensidade que irão provavelmente causar mais
incêndios na região europeia”, avisa o documento.
Das árvores europeias avaliadas, nenhuma foi considerada extinta, mas
os cientistas não conseguiram informação suficiente quanto a 57 destas
espécies. Foi o caso da oliveira (Olea europaea), por exemplo,
cultivada há milhares de anos, e sobre a qual é difícil perceber onde
haverá árvores em verdadeiro estado selvagem (não cultivadas).
A Lista Vermelha das Árvores Europeias insere-se num esforço da UICN
para avaliar a situação das espécies menos estudadas a nível europeu.
Soube-se também agora que mais de um quinto dos moluscos terrestres e
das briófitas (plantas não vasculares) e quase metade dos arbustos da
Europa estão ameaçados de extinção. No total, mais de 15.000 espécies
foram até agora avaliadas na Europa.
Medidas recomendadas? Um maior controlo e avaliação de espécies que
entram nesta região, mais investigação sobre as alterações climáticas e
sobre as árvores para as quais a informação ainda é insuficiente e a
actualização desta Lista Vermelha, pelo menos de 10 em 10 anos. A
organização apela também para que sejam aplicadas, em cada país,
estratégias ligadas à conservação das árvores ameaçadas de extinção.