Um dos maiores desastres aéreos em solo português aconteceu há 40 anos
O maior desastre aéreo da TAP e um dos maiores desastres aéreos ocorridos em solo português aconteceu há 40 anos, no dia 19 de Novembro de 1977. O voo TP425 da companhia aérea portuguesa não conseguiu travar na pista a tempo de evitar uma queda fatal para 131 das 164 pessoas a bordo.
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País
TP425
O aparelho despenhou-se no final da pista número 24 do aeroporto de Santa Catarina às 21h48. O trem de aterragem só tocou na pista 323 metros depois do ponto de toque de segurança e, devido à água que se acumulou no solo, não conseguiu travar. Derrapou para fora da pista e caiu na praia, junto ao mar, dividindo-se em dois, entre uma ponte de pedra e a água.
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Quatro décadas depois, restam as homenagens e a memória dos familiares e amigos das vítimas. Entre as 131 vítimas mortais do acidente, estava João Melo e a família, Lurdes, a esposa, e Mafalda, a filha do casal, ainda criança.
O Notícias ao Minuto falou com Dulce Trindade André, afilhada do casal, que residia em Cascais e com quem Dulce chegou a morar. Agora com 50 anos, Dulce era uma criança de 10 anos na altura e refere que a memória que guarda do acidente é mais sentimental do que exacta.
Algumas coisas ficaram para sempre, a Mafalda na véspera da viagem agarrar-se à avó para não a deixar viajar com os pais é uma delas“Coincidiu com os anos do meu pai, o acidente foi no dia em que o meu pai fazia anos. Lembro-me da tristeza que foi terem perdido os amigos. Lembro-me mais das emoções do que propriamente dos pormenores”, começou por contar-nos Dulce.
Os pais de Dulce e a família de João Melo, na altura um homem com pouco mais de 30 anos, mantinham uma amizade próxima, tendo Dulce, inclusive, chegado a morar com os padrinhos. No dia do acidente, no entanto, estava em França com os pais e a trágica notícia só chegou dias mais tarde via carta. De todas as memórias que guarda dos padrinhos, recorda com pesar um momento contado pela avó de Mafalda, já em Portugal.
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“A Mafalda viajava muito e adorava viajar de avião com os pais. Na véspera dessa viagem é que estava muito renitente em ir”, relata Dulce, recordando como a avó da criança contou que, na véspera do voo, a menina não queria ir com os pais para a Madeira.
“Algumas coisas ficaram para sempre, a Mafalda na véspera da viagem agarrar-se à avó para não a deixar viajar com os pais é uma delas”, partilha.
Corpos do comandante e do copiloto nunca foram encontrados
O voo tinha origem em Bruxelas com destino ao Funchal, tendo efetuado uma escala intermédia em Lisboa, de onde partiu com 164 pessoas a bordo. A aeronave ficou quase totalmente destruída devido à explosão e consequente incêndio, excetuando a secção da cauda, que permaneceu sobre a ponte.
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“De um total de 164 pessoas a bordo sobreviveram 33, morreram 122 e desapareceram nove, presumivelmente mortos”, pode ler-se no relatório final da Direção-geral de Aeronáutica Civil, atual Autoridade Nacional da Aviação Civil (ANAC).
Acidente Voo 425 TAP - Relatório Final
O relatório final da comissão de inquérito aberta ao acidente apontou como causa provável “a impossibilidade de desacelerar a aeronave até à paragem do comprimento da pista, devido, provavelmente, aos seguintes factores: condições meteorológicas muito desfavoráveis no momento da aterragem, existência possível de condições para hidroplanagem, velocidade de aterragem de mais de 19 nós, aterragem comprida motivada por um longo ‘flare’ e correção direcional brusca após toque na pista”.
A existência de hidroplanagem, ou seja, as rodas do avião terem deslizado por causa da água na pista, foi refutada por alguns sobreviventes e testemunhas, dizendo, até, que houve uma travagem antes da queda. A TAP, na altura, apontou também, através de relatório interno, as más condições da pista, incluindo as condições de escoamento de água, algo que não foi mencionado no relatório oficial.
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João Lontrão, o comandante, na altura com 34 anos, e o copiloto, Miguel Guimarães Leal, estavam ao serviço há mais de 13 horas, faziam o quinto voo do dia, sendo o cansaço também apontado como uma possível causa. Os corpos do comandante e do copiloto nunca foram encontrados, assim como os de outras sete vítimas.