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28.2.19

SALOIOS

(...) Vêm às feiras com qualquer produto, que afortunadamente não lhes ficou cativo, e logo lhes surge o aguazil a cobrar o imposto do ferrado, embora a Câmara não lhes dê a mínima comodidade, nem para si, nem para melhor exposição do que vendem.

 Ao fim de muitos trabalhos e não menores canseiras, vem a doença e prostra-os. No meio das serras, esquecidos nas suas choupanas, lá morrem à denegrência, porque levar um médico à sua cabeceira, é utopia em que Job não pode pensar.

   Os sacramentos da Igreja são o único socorro certo que têm para transpor o limiar da vida.
   Tudo isto faz andar o agro em constante revolta muda contra a cidade.

   Ah! mas a vingança é o prazer dos deuses e também dos mais simples mortais ! Acha-se o lavradorzinho liberto do jugo de uma tabela, e então é vê-lo no mercado a pedir por um quilo de presunto, 30 a 35 escudos; por uma galinha 25 a 30 esc. ; por uma dúzia de ovos, 10 esc.; uma arroba de batatas 40 esc.; uma molhadinha de grelos, 1$50 a 2$50; 3 nabos, 1 esc.; (...) etc...(...) .; e um porquito, pequeno, pouco mais avantajado que um leitão, 520 esc.;


OS SALOIOS ( Foto de J.P.L. )

   As boas donas de casa, ficam horrorizadas com estes preços, e oferecem o que a sua hética bolsa pode oferecer. A vendedeira resiste. Desabafam contra estas frases desprimorosas, como costumam só dizer-se pelos mercados.

   Então a lavradeira sorri olímpicamente e com natural sobranceria não diz mais que isto:
  - Deixe ficar.

   E o sorriso impertinente vinca-se-lhe mais no rosto.

   Ao fim, a necessidade de comer é imperativa, e o preço exigido vai-lhe ter à algibeira. Depois é que fala:

- É assim mesmo ! Nem sempre os " cartolas " da cidade haviam de fazer pouco dos labregos. Algum dia havia de chegar a nossa vez !

Texto de Tancredo, publicado na Gazeta das Aldeias no 1º de Maio de 1946.

Óleo s/ Tela
Autor. J.P.L.