Tempestade Gabrielle - Continente
2025-09-29 (IPMA)
Após ter afetado o arquipélago dos Açores, a depressão pós-tropical Gabrielle,
em movimento para es-nordeste, localizava-se próximo da costa norte do
território do Continente pelas 18 UTC de dia 27 de setembro,
encontrando-se o respetivo núcleo cerca de 220 km a oeste da cidade do
Porto (figura 1). A tempestade encontrava-se, então, na sua fase final
de transição extra-tropical, por ter perdido as suas caraterísticas
tropicais predominantes. Ainda assim, tratava-se de uma perturbação que
transportava na sua circulação uma massa de ar bastante quente e húmido,
sendo visíveis na imagem de satélite algumas bandas de precipitação
espiraladas em torno do núcleo (figura 1), que a observação com radar
confirmava poucas horas depois (figura 2, painéis A e B).
Trajetória da tempestade sobre o território do Continente
Com base na análise de imagens de satélite, radar, observação de
superfície e apoio de elementos de previsão numérica, foi possível
seguir o núcleo depressionário nas horas seguintes (figura 2) e
identificar a trajetória aproximada da depressão pós-tropical Gabrielle à
sua aproximação e passagem pelo território. Pelas 00 UTC o núcleo
localizava-se ligeiramente a oeste da cidade do Porto (figura 2, painel
A), estimando-se que tenha iniciado a sua propagação sobre terra junto à
cidade de Aveiro, pelas 0300 - 0330 UTC (figura 2, painel B). Entre as
06 e 09 UTC a depressão, em acentuada fase de dissipação e circulação
mal definida em torno do núcleo, propagou-se sobre a região Centro
(figura 2, painéis C e D), encontrando-se já próximo da fronteira com
Espanha no final do período.
Precipitação mais significativa no litoral norte e centro
Como frequentemente ocorre com este tipo de sistemas meteorológicos,
verificou-se que a propagação sobre terra, em parte devido ao efeito do
atrito com a superfície, foi relativamente lenta (cerca de 25 km/h).
Esse fator, aliado ao posicionamento de cada área face às bandas de
precipitação, determinou a distribuição da precipitação acumulada. Neste
sentido foi nas regiões do Minho, Douro Litoral e Beira Litoral, que
estes valores foram mais expressivos. O maior valor em período de 1
hora, a baixa altitude, foi observado na estação de Porto-São Gens, com
15.5 mm (entre 01 e 02 UTC de dia 28 No período de 6 horas, de maior
precipitação, entre as 22 UTC de dia 27 e as 04 UTC de dia 28, os
valores foram de quase 70 mm na região do Porto. Esta perspetiva foi
capturada pelas observações do radar de Arouca (figura 3), embora estes
valores sejam, classicamente, inferiores aos observados à superfície. No
restante território a precipitação foi mais fraca, em particular nas
regiões do sul.
Vento
A origem tropical desta tempestade suportou, naturalmente, um regime de
vento turbulento, com rajadas que se aproximaram e, por vezes, excederam
100 km/h em locais situados a grande altitude. A proximidade ao núcleo
teve um efeito relativo neste episódio, uma vez que a tempestade se
encontrava, como se referiu, em fase de enchimento. Os maiores valores
de vento máximo instantâneo no dia 27, ainda com a depressão situada
sobre o Atlântico, foram observados nas estações de Pampilhosa da Serra
(97.9 km/h, às 20 UTC) e do Cabo da Roca (82.1 km/h, às 13:20 UTC), no
primeiro caso pela exposição e maior altitude e, no segundo, pela
proximidade ao mar e efeitos locais. No dia 28, com a tempestade
deslocada mais para sueste, os valores mais elevados foram observados na
estação da Fóia (105.5 km/h, às 1550 UTC) e, novamente, em Pampilhosa
da Serra (96.5 km/h, às 0020 UTC), ambas situadas em locais elevados.
Noutros locais do território foram observadas, em ambos os dias, valores
de rajada significativos, mas em geral inferiores a 75 km/h.