A cada par de anos descobrem-se fósseis importantíssimos para a história mundial do nosso país. Conheça os fósseis de Portugal com maior importância.
FÓSSEIS HUMANOS: UM RETRATO DA MISCIGENAÇÃO
Em Portugal foram descobertos dois fósseis humanos muito importantes para toda a história da paleontologia, são eles o fóssil do menino do Lapedo, que faz agora 20 anos, e o crânio da Aroeira, encontrado em 2013. Os achados, com idades muito diferentes, apontam para a mesma coisa: houve uma miscigenação entre o homem Neandertal e o homem moderno.
Serão estes os fósseis do humano moderno mais antigos do mundo?
A criança do Lapedo, com perto de 25 mil anos, que jazia no Vale do Lapedo, perto de Leiria, é o fóssil humano mais completo alguma vez encontrado no território Português. O crânio da Aroeira, tem uns impressionantes 400 mil anos, fazendo dele dos mais antigos fósseis de Portugal, e foi encontrado no complexo arqueológico do Almonda, em Torres Novas.
As descobertas acima devem-se a João Zilhão, um paleontólogo português, de renome mundial. Mas, desengane-se se acha que estes dois foram os únicos. Mais vestígios humanos, especificamente de Neandertais, foram encontrados em território Português, se bem que reduzidos e escassos. É o caso de um fragmento de Neandertal na gruta da Oliveira, no Almonda, um dente com cerca de 37 mil anos na gruta Nova da Columbeira, e um outro, mais recente, com 30 mil anos, na gruta da Figueira Brava.
FÓSSEIS DE DINOSSAUROS: DE PEGADAS A ESQUELETOS COMPLETOS
Portugal é rico em vestígios de dinossauros, quer da sua passagem ou restos fossilizados – sabia que somos o sétimo país com mais géneros identificados, num total de 25? A Lourinhã, chamada a “Terra dos Dinossauros”, é especialmente rica em ovos fossilizados, pegadas, ossos, esqueletos e outros. De facto, é na Lourinhã que se encontra o único Dino Parque de Portugal, onde se pode ver (até!) embriões fossilizados!
Na Formação Lourinhã, que remonta ao Jurássico Superior (entre 140 a 170 milhões de anos atrás), já foram encontrados vestígios de mais de uma dezena de dinossauros. Entre eles, alguns só identificados em Portugal, como o Allosaurus europaeus, Dinheirosaurus lourinhanensis, Lourinhasaurus alenquerensis, Lourinhanosaurus antunesi, Draconyx loureiroi, Draconyx loureiroi ou Lusotitan atalaiensis.
Um dinossauro semelhante a um pato? Sim!
Mas não só pela Lourinhã andaram os gigantes do Jurássico, não. Ourém, por exemplo, tem o maior trilho de pegadas de dinossauros do mundo! São mais de mil pegadas com cerca de 175 milhões de anos. Já viu as pegadas de dinossauro da costa escocesa? E, mais para Sul, no Algarve, também se podem ver pegadas na praia da Salema.
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FÓSSEIS DO TRIÁSSICO SUPERIOR: PELA ALTURA DA PANGEIA
Loulé é atualmente a principal jazida do Triássico Superior em Portugal, que nos leva diretamente para a altura em que os atuais sete continentes eram um só, a Pangeia.
Aqui, nesta vila com uma concentração de fósseis muito elevada, já se identificaram dez Metoposaurus algarvensis (uma espécie de salamandra gigante), vários bivalves e escamas de peixe ganóides, alguns fitossauros (antepassados do crocodilo) e placodontes (répteis aquáticos). Os descobertos em Loulé são os primeiros fósseis de Portugal de placodontes.
FÓSSEIS DE TRILOBITES: AS MAIORES DO MUNDO
Há cerca de dez anos uma notícia animava os entusiastas de paleontologia: as maiores trilobites do mundo foram encontradas em Portugal! E nada mais, nada menos, que em Arouca, perto de Aveiro.
Mas vamos por partes: o que são trilobites? São animais marinhos, pré-históricos, artrópodes. Exemplos de artrópodes atuais incluem os caranguejos, as aranhas e centopeias, e os gafanhotos. As trilobites datam, dos períodos Câmbrico – entre 542 a 488 milhões de anos atrás – e Ordovício – 488 a 443 milhões de anos.
Então, em 2009, uma equipa internacional descobriu, em Arouca, fósseis de trilobites que, apesar de não serem espécies novas, são enormes, comparativamente às encontradas no resto do mundo. As trilobites de Arouca têm quase todas mais de 30 cm de comprimento, quando o normal são cerca de 10, e a maior de todas tem cerca de 86cm.
Também em Mação, Santarém, na Formação Cabeço do Peão, há notícias excitantes sobre trilobites. Em 2015 descobriu-se um fóssil de trilobite novo, ao qual foi dado o nome Radnoria guyi – em homenagem ao seu descobridor, o francês Pierre-Marie Guy.
Até então, o registo mais antigo do género Radnoria remontava a 450 milhões de anos atrás, à China. A trilobite de Mação tem, no entanto, cerca de 455 milhões de anos, fazendo dela mais antiga que a da China. Desde então, já mais exemplares de Radnoria guyi foram encontrados na zona.
FÓSSEIS DE PLANTAS: LAGERSTÄTTE EM ERMESINDE ?
Sabe o que é um lagerstätte? Esta palavra alemã é usada, em paleontologia, para designar uma jazida onde se encontram (ou abundam) fósseis extraordinários em estado excecional de preservação, incluindo até tecidos moles. E será que existe um em Ermesinde? Pode ser.
Há uns anos, o historiador e patrimoniólogo José Manuel Pereira, encontrou em Ermesinde vestígios de uma jazida fossilífera vegetal que remonta à Era Paleozóica – isto é, a cerca de 300 milhões de anos atrás. Com oito metros de altura por cem de comprimento, apresenta vários fósseis de pteridófitas – ou fentos – que são bastante raros em Portugal. Ali mesmo ao lado, em Valongo, existe ainda o Parque Paleozóico que também conta com inúmeros espécimes, tanto a nível da fauna como a nível da flora.
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Mas é nos Açores, essas pérolas do Atlântico, que a paleobotânica em Portugal dá mais frutos. Os fósseis de plantas dos Açores incluem folhas, hastes, troncos e sementes preservadas como impressões, compressões, moldes de lava e mumificações.
UMA COSTA PREENCHIDA DE JAZIDAS QUE PRECISAM DE SER PROTEGIDAS
É na costa de Portugal que há mais incidências de jazidas fósseis, especialmente entre Aveiro e Lisboa, inclusive. Há, no entanto, na zona do centro interior, abrangendo o distrito de Coimbra, uma grande incidência de jazidas paleontológicas para descobrir.
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Há, porém, um pequeno problema a afetar o património de fósseis de Portugal - o que já foi descoberto, e o que está por descobrir. Não existe, ainda, nenhuma lei que proteja os fósseis e formações geológicas de serem levados do território, para serem estudados ou vendidos noutros países.
E porque é que Portugal é vítima de tal “saque”? Os cientistas e paleontólogos explicam: Portugal tem condições excecionais (reconhecidas internacionalmente) para o estudo da evolução da fauna e flora fóssil. Em território português é possível encontrar rochas que datam do Proterozóico Superior, entre mil e quinhentos milhões de anos atrás.
NOS MUSEUS, COMO DEVE SER
Entretanto, se não conseguiu ver nenhum fóssil numa rocha, não desespere: há muitos sítios, de Norte a Sul, onde pode admirar, conhecer e compreender os fósseis de Portugal.
Estão bem guardados em museus como o Museu das Trilobites, no Arouca Geopark, o Museu da Lourinhã, do qual faz parte o Dino Parque, o Museu de Leiria, o Museu Nacional de Arqueologia, o Museu de História Natural de Sintra, a Casa-Museu de Fósseis de Sicó, o Museu de Valongo e o Parque Paleozóico, ou o Museu Geológico de Lisboa.
Se, por acaso, tropeçar numa amonite, ou trilobite, uma pegada de dinossauro, um dente ou até um ovo, não queira ficar com ele para si: contacte as autoridades do local e contribua para o puzzle que é a história da Terra, contada pelos fósseis de Portugal.