Vespa asiática, uma espécie a controlar (mas não para temer)
Sim, como espécie invasora e predadora de insetos, a vespa velutina está a conquistar território em Portugal e afeta, nomeadamente, a apicultura.
Mas só é perigosa para quem seja alérgico às picadas ou para quem tente destruir os ninhos sem respeitar as regras.
NINHO DE VESPA ASIÁTICA |
Um ninho de vespas asiáticas foi destruído em Lisboa, levando esta sexta-feira ao encerramento dos jardins das Quintas das Conchas e dos Lilases – para que todas as árvores sejam verificadas – mas, apesar da má fama da espécie, quem a conhece mais de perto garante que a notícia não justifica alarmismos nem representa necessariamente uma surpresa.
“Estamos a falar de uma espécie invasora, com capacidade para se deslocar sozinha e com a particularidade de, num ciclo anual, cada rainha conseguir formar uma nova colónia.
Ou seja, se apenas uma conseguir passar para um novo território, ela chegará para formar um novo ninho”, explicou ao Expresso Tiago Moreira, da Associação de Apicultores do Cávado e Ave (APICAVE).
É um facto. Como é um facto a vespa velutina (é este o seu nome científico) ter chegado a Portugal em 2011, estando ano a ano a conquistar novas zonas do país, de Norte para Sul.
Os dados mais recentes mostram que terá chegado ao território do Médio Tejo, mas, ainda assim, a sua caminhada acontece a um ritmo de progressão que Tiago Moreira considera estar “mais ou menos” de acordo com o expectável.
“Sabemos que esta vespa entrou na Europa através de um porto em França, em 2004, provavelmente vinda da China a bordo de um navio”, recorda, acrescentando que em França a velutina foi progredindo pelo país a uma média de 100 quilómetros por ano.
“Em Portugal, o ritmo tem sido de 70 ou 80 quilómetros por ano, algo que sabíamos ser quase inevitável, dado estarmos a falar de uma espécie que se adapta muito facilmente”, afirma o apicultor.
Maior do que a vespa comum, cabeça preta com face laranja ou amarelada, o corpo castanho escuro ou mesmo preto, um segmento no abdómen amarelo-alaranjado na parte dorsal, as asas escuras e as patas castanhas com extremidades amarelas, a vespa asiática é proveniente de regiões tropicais e subtropicais do norte da India, do leste da China, da Indochina e do arquipélago da Indonésia.
Agressivas apenas se se sentirem ameaçadas
Os especialistas contrariam a ideia de uma ‘vespa assassina’.No site do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) pode ler-se que a velutina representa uma ameça para a apicultura (“por se tratar de uma espécie carnívora e predadora das abelhas”), e também para a saúde pública, mas a nota informativa sublinha que estas vespas não são mais agressivas do que a espécie europeia – reagem, “incluindo perseguições até algumas centenas de metros”, mas apenas “no caso de sentirem os ninhos ameaçados”.
Outro impacto, não visível, resulta do facto de estas vespas não comerem apenas as abelhas, mas todos os outros insetos, o que afeta a polinização em geral.
Tiago Moreira conhece-as bem e nesta altura do ano é comum vê-las diariamente. “A minha atividade como apicultor implica andar em veículos que cheiram a mel, o que as atrai, por isso é normal vê-las aparecer. Nunca tive qualquer problema e mesmo nas cidades, como em Braga, por exemplo, as pessoas já se habituaram.
O risco é semelhante ao das outras vespas: é perigosa para quem for alérgico às picadas”.
Procedimentos bem sistematizados
Por precaução, e também porque distinguir um ninho de vespas asiáticas pode não ser uma tarefa tão evidente quanto isso, a regra de ouro é nunca tentar destruir um ninho pelos seus próprios meios. A operação requer especialistas e Portugal tem definido um plano de ação para a vigilância e controlo da espécie, onde os procedimentos a seguir estão bem sistematizados.
Comunicar a deteção ou suspeita em relação à existência de um ninho é o primeiro passo a adotar, o que pode ser feito através do portal sosvespa.pt (anexar fotografias é uma ajuda).
Também é possível contactar a linha SOS Ambiente (808200520), para saber o que fazer, sendo a informação encaminhada para as câmaras municipais das áreas correspondentes às notificações recebidas. São os departamentos de proteção civil das autarquias que coordenam as destruições dos ninhos, sempre com equipamento de proteção, de acordo com o Manual de Boas Práticas para o efeito.
Os custos envolvidos levaram o Governo a reforçar, em julho, o montante para apoiar os municípios, somando 400 mil euros à verba inicialmente destinada a esse fim e que fora fixada em um milhão de euros.
O mais importante, dizem os especialistas, será passar a uma ação mais preventiva, já que é difícil controlar a progressão da espécie quando estão já formados os ninhos, com milhares de vespas em cada um.
Identificar e destruir os ninhos primários deve ser uma prioridade, tarefa mais difícil por estes serem de pequena dimensão - cerca de 5 a 10 centímetros de diâmetro.
Parte do trabalho dos organismos envolvidos na vigilância e controle da vespa asiática tem sido o de dar formação.
O problema começou com algum descontrolo, após a identificação dos primeiros ninhos em Viana do Castelo, em 2011. Mas agora “temos a informação e já não há razão para não estarmos preparados”, defende Tiago Moreira.*
Vespa asiática
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Classificação científica | |||||||||||||||
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Nome binomial | |||||||||||||||
Vespa velutina Lepeletier, 1836 |
A espécie tem uma área de distribuição natural que se estende pelas regiões tropicais e subtropicais do norte da Índia ao leste da China, Indochina e ao arquipélago da Indonésia
Em alguns países trata-se de uma espécie invasora que constitui uma preocupação séria das autoridades devido à sua acção predadora que põe em perigo as abelhas autóctones.[1] É uma praga que pode dizimar um enxame das europeias em poucos dias.[2]
A Vespa velutina é ligeiramente mais pequena do que vespa europeia. Geralmente as rainhas medem 30 mm de comprimento, os machos cerca de 24 mm e as obreiras cerca de 20 mm.[3] A espécie apresenta patas amarelas características. O tórax é castanho ou preto e o abdómen castanho. Cada segmento abdominal apresenta uma borda posterior amarela e estreita, exceto o quarto segmento, que é cor-de-laranja. A cabeça é preta e a face amarela. As várias formas regionais diferem significativamente na cor, o que causa dificuldades na classificação.