Terminou Fevereiro sem uma gota de chuva para amostra aqui na região. Segundo li ( A.E.M.E.T. ) isto completou um ciclo de seca em toda a Península Ibérica de cerca de setenta anos. Caso voltemos ao regime climático regular talvez só algumas gerações no futuro se deparem com esta calamidade pois estivemos praticamente três meses sem precipitação. Em contrapartida sucederam-se as " vagas de frio ".
Oxalá então Março seja o tal de: " Março, marçagão, manhã de Inverno e tarde de Verão ". Como nos bons velhos tempos.
Oxalá então Março seja o tal de: " Março, marçagão, manhã de Inverno e tarde de Verão ". Como nos bons velhos tempos.
Riscos naturais de origem climática – as vagas de frio e as ondas de calor (Pág.112-118)
As vagas de frio e
as ondas de calor são fenómenos meteorológicos extremos, que ocorrem com
relativa frequência, e cuja a sua ocorrência está relacionada com
temperaturas anormais para um certo período de tempo e num determinado
lugar. Em ambos os casos apresentam-se como desvios às temperaturas
médias (motivados pela circulação geral da atmosfera) podendo causar
graves efeitos quer no meio físico quer na sociedade. Podem ocorrer em qualquer
altura do ano mas são mais notórias no inverno (ou na estação fria) no
caso das vagas de frio e no verão (ou na estação quente) no caso das
ondas de calor.
Vagas de frio
A Organização Meteorológica Mundial (OMM) considera que se está sob influência de uma
vaga de frio quando a temperatura mínima diária é inferior em pelo
menos 5ºC ao valor médio das temperaturas mínimas para uma determinada
época do ano, durante pelo menos seis dias consecutivos.
As vagas de frio
têm na sua origem um conjunto de condições meteorológicas muito
especificas nomeadamente o posicionamento de anticiclones numa posição
que permita a deslocação de massas de ar frio e húmido (ou ar frio e
seco, no caso desta ter proveniência numa massa continental, ou seja, no
interior de um continente). Por vezes, podem estar associadas a
tempestades de neve e de gelo que acompanham as massas de ar frias
provenientes das regiões polares.
Para além das
regiões frias (regiões de clima polar, clima subpolar e clima de
altitude) (Figura 1), onde as temperaturas médias são negativas a maior
parte do ano, o risco de ocorrência de vagas de frio nas regiões
temperadas é também elevado pois facilmente ocorrem desvios na
temperatura em relação aos valores médios.
Figura 1: Áreas climáticas mais suscetíveis à ocorrência de vagas de frio. Fonte: Escola Virtual.
Ondas de calor
Segundo a OMM as
ondas de calor ocorrem quando num período de pelos menos seis dias
consecutivos a temperatura máxima diária é superior em pelo menos 5ºC ao
valor médio das temperaturas máximas para uma determinada época do ano.
As ondas de calor estão associadas a anticiclones e a massas de ar
quente, provenientes, geralmente das regiões tropicais pelo que estas
ocorrem sobretudo em zonas quentes (regiões de clima equatorial, clima
tropical húmido, clima tropical seco e clima desértico quente). Todavia,
importa também salientar as regiões de clima temperado continental e
clima mediterrâneo (Figura 2).
Figura 2: Áreas climáticas mais suscetíveis à ocorrência de ondas de calor. Fonte: Escola Virtual.
Consequências das vagas de frio e das ondas de calor:
A intensidade, a
duração e a extensão das vagas de frio e das ondas de calor são
influenciadas por fatores físicos e geográficos, regionais e locais, e
acarretam impactes significativos em diversas dimensões:
■Saúde pública – mortalidade mais elevada nos grupos de risco como os idosos (> 65 anos), as crianças (<
1 ano), os doentes crónicos, os mais pobres ou os indivíduos
socialmente isolados (por ex. os sem abrigo) e ainda desidratação,
queimaduras (frieiras e/ou queimaduras solares) ou hipotermia bem como
uma maior afluência aos estabelecimentos de saúde;
■ Agricultura – destruição das culturas;
■Consumo energético – aumento do consumo de energia para aquecimento durante o inverno e arrefecimento durante o verão;
■Circulação rodoviária
– formação de gelo nas estradas, o que provoca o aumento da
sinistralidade (ocorrência de acidentes) e/ou condicionamentos de
trânsito;
■Infraestruturas – danos ou destruição de infraestruturas (por ex. coberturas de edifícios).
Estes fenómenos
mais extremos podem ainda contribuir para o agravamento e/ou
manifestação de outros riscos, como o aumento da ocorrência de incêndios
florestais, o maior consumo de água.
No entanto, a intensidade destes acontecimentos acabará sempre por ser fortemente
influenciada pelas caraterísticas físicas do relevo, o “grau” de
continentalidade ou proximidade do oceano, ou o uso do solo, que, de
modo diferenciado, atenuam ou intensificam as condições meteorológicas
vigentes.
Medidas de proteção contra as vagas de frio e as ondas de calor:
As diversas
entidades responsáveis pela monitorização (fazer acompanhamento) e
lançamento de alertas relacionados com a ocorrência destes fenómenos
extremos (em Portugal são o Instituto Português do Mar e da Atmosfera
(IPMA) e a Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANPC) os organismos
responsáveis pela emissão desses mesmos avisos) emitem, regra geral, um
conjunto de medidas de proteção a serem adotadas (Figura 3).
Figura
3: Alguns exemplos de medias de proteção a adotar no caso de ocorrência
de vagas de frio e ondas de calor. Fonte: Escola Virtual.
As vagas de frio e as ondas de calor em Portugal
A frequência destes
fenómenos não é muito evidente sobretudo devido ao anticiclone (centros
de altas pressões) subtropical do Atlântico Norte (também conhecido por
anticiclone dos Açores), por se manter numa posição que impede,
frequentemente, que as perturbações da frente polar ou as massas de ar
quente provenientes das regiões intertropicais atinjam Portugal.
Todavia, quando estes fenómenos ocorrem, a sua intensidade não é
idêntica em todas as regiões de Portugal continental, devido, em parte,
ao efeito amenizador (tornar ameno) do Oceano Atlântico.
Ainda assim, é na
região interior (particularmente a região nordeste) e nos lugares de
grande altitude (como a Serra da Estrela) que ocorrem, sobretudo no
inverno, as vagas de frio por aí se encontrarem as temperaturas médias
mais baixas (Figura 4). No que diz respeito às ondas de calor, são as
regiões do interior e do Alentejo as mais afetadas devido a uma
influência menos evidente (ou seja, menos notória) do efeito moderador
do oceano, mas também (sobretudo no caso do Alentejo) pela maior
proximidade das zonas tropicais e portanto mais quentes (Figura 5).
Figura 4 e 5: Áreas de Portugal mais suscetíveis à ocorrência de vagas de frio e ondas de calor. Fonte: Escola Virtual.
Tendo em
consideração que o ar se desloca dos centros de altas pressões
atmosféricas para os centros de baixas pressões podemos constatar,
através da figura 6, que as posições depressionárias, sensivelmente a
oeste de Portugal (ou quando estas se deslocam sensivelmente para
noroeste), “atraem” a ocorrência de uma eventual vaga de frio. Isto
porque permitem, atendendo à sua posição, que as massas de ar frio
provenientes das regiões polares (ou eventualmente do interior do
continente europeu, onde se encontram também centros de altas pressões)
se desloquem até ao território de Portugal continental.
Figura 6: Situação sinótica do território de Portugal continental e insular. Fonte: Adaptado de IPMA.
Todavia, e tendo em
consideração que os centros de pressão atmosférica se encontram em
constante movimento, o posicionamento de anticiclones (centros de alta
pressão) a oeste de Portugal funcionam como uma “barreira” à aproximação
das massas de ar frio vindas das regiões frias a norte pois o ar
desloca-se, precisamente, em sentido contrário (Figura 7).
Figura 7: Situação sinótica do território de Portugal continental e insular. Fonte: Adaptado de IPMA.
As ondas de calor
estão, normalmente, relacionadas com circulações anticiclónicas de sul e
de este que possibilitam a aproximação de massas de ar muito quente
provenientes do norte de África e/ou da Europa continental, e afetam
sobretudo o território nos meses de verão.
Créditos do texto, fotos e demais conteúdos excepto a parte inicial em itálico: wo love geography