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5.3.14

CULTOS. O CONCEITO ACTUAL DA ARTE


                           DAS DIFERENTES FORMAS PORQUE SE RENDIA O CULTO


   Os romanos honravam os deuses por actos internos e externos de culto, que são os seguintes:

  1º  Adoração  ( Adoratio ) - Consistia em levar a mão à boca ( ad os, ou ad ora ) e beijá-la; o adorador  colocava-se de pé, de joelhos ou prostava-se, depois de ter volteado em roda do altar e da imagem; levava a cabeça coberta, com um véo sobre o rosto pelo receio de ser distraido por algum objecto inoportuno; ou  para não ser interrompido por algum agouro sinistro.

 Adoração (do termo latino adoratione) é o ato de amar de modo intenso, podendo ter ou não conotação religiosa. Está relacionado a respeito, reverência, forte admiração ou devoção em relação a determinada pessoa, lugar ou coisa.[1][2]. Na arte, o termo costuma se referir a uma pintura que a represente


  2º Votos  ( Vota ) - Eram as promessas  feitas aos deuses para aquisição de alguma graça, ou para algum sucesso feliz; o que fazia o voto, dizia-se  voti reus, e o que o cumpria  voti damnatus.

Deuses romanos - Quais os principais e quem foram na mitologia romana
ALGUNS DOS DEUSES DA MITOLOGIA ROMANA


 3º  Orações  ( Preces ) - Eram  quaisqueres suplícas dirigidas aos deuses, n'este acto tocava-se frequentes vezes com as mãos nos altares.

O que é Oração:
Oração é uma prece ou reza dirigida a Deus ou a outro ser espiritual e que está integrada nos rituais de grande parte das religiões.

Trata-se de um ato religioso no qual o homem procura manter uma ligação com seres divinos através da súplica, da ação de graças, do louvor, da adoração, entre outros propósitos.

A oração pode ser feita de forma individual ou em grupo, em um meio público ou privado. Também pode seguir um modelo formal ou ser feita de forma espontânea.



  4º  Acções de Graças  ( Supplicatio ) - Tinham lugar para honrar o general que tinha  obtido alguma grande vitória, a quem o senado dava o titulo de imperador; era uma  manifestação de regozijo publico em que se abriam os templos para dar graças aos deuses.

Na Roma Antiga, antes do surgimento e crescimento do cristianismo, as pessoas seguiam uma religião politeísta, ou seja, acreditavam em vários deuses.

Estes, apesar de serem imortais, possuíam características de comportamentos e atitudes semelhantes aos seres humanos.

Maldade, bondade, egoísmo, fraqueza, força, vingança e outras características estavam presentes nos deuses, segundo os romanos antigos.

De acordo com este povo, as divindades decidiam a vida dos mortais. Netuno era o de maior importância, considerado a divindade suprema do panteão romano.

Cada entidade divina representava forças da natureza ou sentimentos humanos. Esta religião foi absorvida do panteão grego durante a invasão e conquista da Grécia pelo Império Romano. Os romanos modificaram apenas os nomes dos deuses.


  5º  Preces publicas  ( Obsecrationes  ) - Tinham lugar quando a república era oprimida por alguma calamidade. Abriam-se os templos, tiravam-se as imagens dos altares, e colocavam-se sobre uns coxins  ( pulvinaria ) ;  a que se seguia um banquete em honra dos deuses, e para o qual eles se supunham convidados.

BANQUETE ROMANO

   Esta cerimónia de deitar os deuses sobre os coxins chamava-se  lectisternium, e na ocasião solene em que ela tinha lugar, punham-se mesas cobertas de iguarias em todos os bairros da Cidade, nas quais admitiam todos os cidadãos indiferentemente; era um dia de reconciliação em que se tratavam os inimigos como amigos, e em que se dava liberdade aos prisioneiros.

   Pretendem alguns arqueólogos que o lectisternium também tinha lugar nas acções de graças.


pre·ce
(latim prex, precis, oração, súplica, desejo, voto, imprecação, praga)

nome feminino

1. Súplica dirigida a uma divindade ou a um santo (ex.: momento de prece; as nossas preces foram atendidas). = ORAÇÃO, REZA

2. [Por extensão]  Súplica a qualquer pessoa (ex.: murmurou-lhe uma prece ao ouvido). = PEDIDO, ROGO

"preces", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2020, https://dicionario.priberam.org/preces [consultado em 28-06-2020].

6º  Sacrifícios  ( Sacrificia, ou Sacra  )  - Eram todas as cerimónias para honrar os deuses, em que se ofereciam vitimas cruentas, ou incruentas: n'eles consistia, pela maior parte, o culto romano.
 


ARTE. Conceitos.

    As  duas grandes fontes do belo  são a natureza e a arte; e, desde Platão, filósofos e artistas tentaram assinar a cada uma delas os próprios limites, a própria missão.

   Erraram todos aqueles que, num álveo comum, quiseram reunir os dois grandes rios estéticos; e erraram igualmente todos os outros, que os quiseram separar com diques insuperáveis, que impedissem o mínimo contacto entre as duas águas.

   Parece-me, ao revés, que natureza e arte, antes de se separarem uma da outra, teem uma nascente comum, como dois rios que do mesmo glaciar, mas por diverso declive, levam suas águas ao oceano.
  O belo da arte não é, não deve ser diverso do da natureza, porque é uma escolha deste, é um dos seus elementos, uma das suas faces.

   Erra Platão, quando reduz a arte a uma simples imitação da natureza; erram ainda mais todos os outros que crêem a arte essencialmente criadora, e lhe concedem todas as temeridades, dizendo que só o possível marca os seus confins.

   A arte não é mais que uma filha da natureza, porque o próprio artista é homem, e, portanto, filho também ele, da grande Mãe, que gera todas as criaturas terrestres. Nós fazemos parte da natureza, da qual, pelo menos no nosso planeta, somos o organismo mais elevado e mais complexo.

   Ora o artista, depois de ter visto, admirado e estudado as coisas belas que o circundam, escolhe o que lhe parece mais belo, e o reproduz com o teque, com o pincel ou com a pena, dando-nos uma estátua, ou um quadro, ou uma descrição em prosa ou em verso.

  Em toda a obra de arte há, pois, o belo da natureza, mais o engenho do artista, que o escolheu e reproduziu.
  O belo da arte é, portanto, a harmonia de duas belezas diversas, uma que nos vem da natureza, e que podemos dizer que lhe constitui quase o esqueleto; outra que nos vem do génio e da mão do artista, e que lhe forma as carnes, a pele o vestuário.

   Estes dois elementos variam assaz nas proporções recíprocas; pelo que ora uma iguala a outra, ora uma é muito pequena e a outra muito grande.
   Quando queremos fazer a critica duma obra de arte com justiça, devemos fazer sempre a análise quantitativa destes dois elementos, pesando-os na balança do bom gosto.

  Quando um pintor copia uma rosa, e não lhe junta de seu nem uma pétala, nem uma cor, nem uma folha, pode-nos dar uma obra  egrégia pela fidelidade  da imitação, pela ilusão perfeita que apresenta aos nossos olhos.

   Assim o escultor que modela uma bela mulher, da qual tem diante de si o corpo nu. Nestes dois casos, e em outros semelhantes, o artista põe muito pouco da sua lavra, e a natureza domina quási exclusivamente o campo estético.

   Outra vezes, pelo contrário, é um pintor que nos pinta o Calvário com o Cristo agonizante e um voo de anjos contristados, que fazendo das asas uma viseira ao rosto, fogem pelo ar, carregado de escura tristeza; ou é um escultor, que nos representa Lúcifer, que tenta um santo à beira dum abismo, onde quere precipitá-lo.

   Nestes dois casos a natureza entra por pequena parte, e o génio criador do artista campeia e domina o campo estético. Pintor e escultor não viram nunca nem o Cristo, nem o santo, nem os anjos, nem o abismo; mas para todas estas coisas tiraram, todavia, elementos da natureza, fundindo-os juntos no cadinho do génio.

   Quer, porém, o artista copie ou crie, quer se faça um modesto imitador, ou pretenda dominar e conquistar a natureza, põe sempre na sua obra a própria individualidade, o próprio estilo, palavra maravilhosa, que, sem querer, assemelha o escritor aos outros artistas do teque e do pincel, e que significa pròpriamente o instrumento estético, com o qual cada um de nós entende, interpreta e reproduz as belezas naturais.


   Este estilo, que Hirt  ( 1 )  chama  carácter, é tão diverso dum pintor para outro, dum para outro escultor, que permite a um crítico inteligente descobrir o autor, ainda quando este não tenha assinado as suas obras; e o  ilustre João Morelli  ( 2 )  nos seus maravilhosos trabalhos de crítica, tem mostrado até onde pode chegar esta potente faculdade de diagnose. 


 1 - HIRT ; Uber, das Kunstschone, Horm, 1797.


                    É um livro antigo e pouco conhecido, mas profundo, e em que o autor expõe mui judiciosos conceitos sobre o belo na arte, e, especialmente, sobre o caracter do belo na arte.


2 - Insígne crítico de arte, italiano, ( 1816 - 1891 ), autor do célebre livro  Della pittura italiana, que adquiriu fama universal.