«A Sotheby’s orgulha-se de oferecer o Codex Sassoon:
A Bíblia Hebraica Mais Antiga e Completa durante as vendas deste ano em Nova Iorque», anunciou na quarta-feira a leiloeira sediada em Londres.
Batizado em homenagem ao seu mais conhecido proprietário, David Solomon
Sassoon, o maior colecionador de manuscritos hebraicos e judaicos do
século XX, que morreu em 1942, o Codex Sassoon remonta a uma data em
torno do ano 900, o que faz dele «a mais completa bíblia hebraica». Além
disso, com um valor estimado entre os 30 e os 50 milhões de dólares,
pode tornar-se «o manuscrito mais caro alguma vez vendido», sublinhou à
agência France-Presse (AFP) Richard Austin, responsável de livros e
manuscritos antigos da Sotheby’s. Lugar que é agora ocupado por uma
primeira edição da Constituição Americana, adquirida em 2021 por 43,2
milhões de dólares (cerca de 38 milhões de euros).
Dentro do Manuscrito
Datado do final do século IX ou início do século X, o Codex Sassoon contém todos os 24 livros da Bíblia Hebraica – faltando apenas 12 folhas – e precede a primeira Bíblia Hebraica inteiramente completa, o Codex de Leningrado, em quase um século.
Segundo a página oficial da casa de leilões, o manuscrito contém notas fiéis da massorá – conjunto de comentários críticos e filológicos ao texto hebraico do Velho Testamento, compilados por doutores judeus entre os séculos VI e X e tradicionalmente considerados como fonte de autoridade exegética, nomeadamente em matérias gramaticais e de pronúncia –, ou seja, «comentários que garantem a inscrição e recitação apropriadas do texto bíblico». Uma dessas notas refere-se ao «grande professor, Aaron ben Moses ben Asher» e o seu trabalho sobre al-taj, «o título honorífico tradicional do Codex de Aleppo, sugerindo que o escriba massoreta que copiou o Masorah do Codex Sassoon pode ter consultado o volume reverenciado quando residia em Tiberíades ou Jerusalém no século X ou XI».
Embora os investigadores estejam cientes da sua importância desde o
final dos anos 1960, o Codex Sassoon permaneceu fora da vista do público
durante séculos. A última vez que esteve em exposição foi em Londres,
em 1982, no Museu Britânico.
O «magnífico» volume voltará agora a poder ser visto, primeira na sede da Sotheby’s em Londres, de 22 a 28 de fevereiro, seguindo-se paragens em Tel Aviv (onde será exibido no ANU Museum of the Jewish People), Dallas, Los Angeles e a cidade de Nova Iorque.
Influente e importante
Questionado acerca dos potenciais interessados nesta obra, à AFP, Austin frisou que a lista de compradores é «um poço sem fundo», pois este é documento «fundador da civilização»: «É difícil encontrar um texto que tenha tido mais influência do que a Bíblia na história da humanidade».
O Codex não apenas fornece uma visão crítica sobre o desenvolvimento e a
disseminação das religiões abraâmicas, bem como «a transição mais ampla
das tradições orais para as literárias». «Os seus séculos de anotações e
inscrições testemunham a história do Levante na Idade Média», avançou o
especialista.
A casa de leilões descreve o documento como «o elo fundamental na
história judaica que permitiu trazer a tradição oral da antiguidade para
as bíblias hebraicas da atualidade», considerando esta «uma referência
na história da humanidade».
«O Codex Sassoon há muito que ocupa um lugar reverenciado e lendário no
panteão de documentos históricos sobreviventes e é inegavelmente um dos
textos mais importantes e singulares da história humana», frisou ainda
Richard Austin. «Com tal eminência, o Codex tem uma presença e seriedade
incomparáveis que só podem ser sustentadas por mais de mil anos de
história», concluiu.
Realizado por volta do ano 900, omanuscrito esteve numa sinagoga na
Síria até ao século XIV, ficando depois desaparecido durante cerca de
600 anos. Ressurgiu em Frankfurt em 1929, quando foi adquirida por
Solomon Sassoon por 350 libras.