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24.3.22

Incêndios Pedrógão Grande

 

Artigo

 Incêndios Pedrógão Grande

2022-03-22 (IPMA)

No âmbito da participação do IPMA no projeto FIRESTORM (Weather and Behaviour of Fire Storms) financiado pela FCT (Fundação para a Ciência e a Tecnologia) foi concluído, em parceria com a ADAI (Associação para o Desenvolvimento da Aerodinâmica Industrial), participante no mesmo projeto, o artigo científico intitulado Influence of Convectively Driven Flows in the Course of a Large Fire in Portugal: The Case of Pedrogão Grande (Influência de um Sistema Convectivo sobre os Incêndios de Pedrógão Grande). Este artigo foi recentemente publicado (março 2022) na revista Atmosphere (MDPI), integrado no tema especial Advances in Fire-Atmosphere Interaction.

O trabalho procurou explicar a influência que o sistema meteorológico que se propagou nas proximidades de dois incêndios iniciados durante a tarde de 17 de junho de 2017, em Escalos Fundeiros e Regadas (Pedrógão Grande), teve na evolução dos referidos incêndios. Verificou-se que o sistema apresentou caraterísticas particulares e que gerou episódios de vento forte à superfície por meio de dois mecanismos fundamentais, um dos quais terá condicionado a propagação do fogo de modo mais significativo.

Na fase inicial e madura do sistema ocorreu atividade convectiva na sua secção dianteira, que se traduziu pela ocorrência de trovoada e se revelou prolífica geradora de fenómenos do tipo downburst. Trata-se de correntes de ar descendente que, neste caso, foram produzidas pelos efeitos combinados da sublimação e fusão de graupel e granizo e da evaporação de gotas de água que precipitaram a partir dos núcleos convectivos. Estes coexistiam com uma massa de ar seco em que o sistema meteorológico se propagava. As correntes descendentes associadas a cada um dos núcleos convectivos eram fortes e organizadas, acelerando à medida que se aproximavam do solo e divergindo à proximidade deste produzindo, então, escoamentos junto à superfície que geraram vento forte, com rajadas. Estes efeitos foram reportados pela população em diversos locais situados a sul da área dos incêndios e também foram observados em estações meteorológicas de superfície. A contínua monitorização das plumas dos incêndios durante estas fases sugeriu, no entanto, que estes fenómenos não terão influenciado os incêndios de modo significativo.

Num momento posterior do ciclo de vida do sistema meteorológico, e quando este se encontrava mais próximo dos incêndios, verificou-se a gradual dissipação dos seus núcleos convectivos e o estabelecimento de um conjunto de duas correntes de ar principais. Por um lado, uma corrente de ar ascendente e inclinada, que transportava ar situado adiante do sistema em níveis baixos, para níveis elevados da região posterior do sistema convectivo. Por outro, uma corrente de ar relativamente seco que penetrava pela secção posterior do sistema meteorológico, aos níveis médios, e que o foi atravessando ao longo de extensos volumes atmosféricos ricos em partículas de gelo e gotas de água. Neste processo esta corrente de ar foi perdendo calor por efeitos de sublimação, fusão e evaporação de hidrometeoros, o que conduziu ao seu progressivo arrefecimento e consequente atitude descendente, com aceleração. Verificou-se que esta corrente de ar descendente, dirigida na direção dos incêndios, era caraterizada por uma escala espacial maior do que a que havia estado associada a cada um dos referidos downbursts e, também, que os seus efeitos foram mais duradouros, tendo influenciado a área em que os incêndios se propagavam, contribuído para antecipar a sua junção e a produção da chamada tempestade de fogo que se lhe seguiu.

No final do artigo existe um link para acesso às figuras em material suplementar.

 

 

Imagens associadas

  • Figura 1

    Figura 1