Salgado queixou-se à administração.
Sentia-se retratado no meu artigo "como se fosse um gatuno". Fiquei sem
emprego e os meus colegas também.
A propósito de Berardo, lembro-me de alguns dos 'poderosos' e
'intocáveis' com os quais, para meu azar, me cruzei em Portugal ao longo
de 25 anos de jornalismo.
Ricardo Salgado/BES:
depois de dois artigos publicados na revista Fortunas & Negócios
sobre os 'donos da banca' em 2001, Salgado queixou-se à administração.
Sentia-se retratado no meu artigo "como se fosse um gatuno" (quem
transmitiu esta citação de Salgado é hoje director de informação de um
canal de televisão).
Fiquei sem emprego e os meus colegas também - a administração fechou a
revista para não perder a publicidade no Diário Económico e no Semanário
Económico.
Jorge Jardim Gonçalves/Millennium:
depois de uma crónica numa revista enviou-me um bilhete, manuscrito,
assinado e não muito subtil, a ameaçar com processos judiciais.
André Jordan/magnata do imobiliário: não gostou de um artigo que escrevi
sobre ele para a 'Sábado' e o, na altura, director da revista veio
dizer-me que a minha colaboração não podia continuar: "Lamento, passaste
a persona non grata; o Jordan deve ter oferecido uns cartões gold para
jogar golfe a alguém da administração".
Outras 'figuras do regime', da área política, que se queixaram de
artigos meus e levaram um director de jornal a despedir-me: Santana
Lopes e Dias Loureiro.
Depois houve o jornal, de primeira linha (Expresso), com o qual deixei
de poder colaborar, subitamente e depois de meses de elogios aos meus
artigos, porque alguém, imagino eu, mas não sei ao certo quem, não
gostava da minha abordagem aos temas.
Houve ainda, também essa uma forma de censura, várias publicações que
deixaram de me encomendar artigos porque, simplesmente, deixaram de ter
verbas para pagar (recentemente o DN, por exemplo).
Enfim, nunca isto me deitou abaixo por muito tempo. Quando deixei de ter
trabalho em Lisboa, que me permitisse sobreviver, fui durante uns anos
trabalhar como jornalista para - excelentes publicações - em Berlim e
Frankfurt.
Tenho a enorme sorte de poder trabalhar para órgãos de comunicação
social na Alemanha e na Áustria. Mas tenho muita pena de alguns
excelentes e incorruptíveis jornalistas que, aqui em Portugal, ficaram
pelo caminho.
Miguel Szymanski (twitter)
Jornalista/autor, correspondente em Portugal
«A independência das redacções é anedótica»
Sou jornalista há 30 anos e já trabalhei para jornais, revistas, rádios e televisões em quatro países.
correspondente estrangeiro em Portugal