Supermercados: Covid-19 não é razão para alarme. E não há ruturas. Eis porquê
Fábricas a produzir normalmente, transporte de produtos assegurado, lojas reabastecidas: os alimentos vão estar disponíveis, garantem Governo e associações de distribuidores e produtores
Conservas e enlatados, frescos, arroz, massa, farinha, açúcar, leite, água... e papel higiénico.
Estes produtos estiveram esta semana na mira dos clientes dos super e hipermercados, numa corrida às compras que em alguns casos deixou vazias prateleiras nas maiores cidades portuguesas.
O movimento, impulsionado pelos receios em torno da pandemia de Covid-19, começou a sentir-se na terça à noite e intensificou-se na quarta-feira, com engarrafamento nos corredores dos produtos mais procurados, carrinhos de compras lotados, filas junto às caixas de pagamento.
Na quinta-feira ao fim do dia, a escassez de alguns produtos era evidente. No Pingo Doce de Paço d’Arcos duas mulheres olhavam incrédulas para o espaço onde deveria estar o papel higiénico: “Nem uma embalagem”, comentavam. “Parece que vai acabar o mundo”, desabafava uma jovem no momento em que entrava na Mercadona de Matosinhos e enfrentava prateleiras totalmente vazias nos corredores dos frescos.
O Governo tinha acabado de apelar à calma, pela voz do secretário de Estado do Comércio, Serviços e Defesa do Consumidor, João Torres, garantindo não haver risco de rutura de stocks nem de racionamento de produtos. “Não há razões para aquilo que se designa corrida aos supermercados”, disse o governante no final de uma reunião de um grupo de trabalho entre o Governo, entidades públicas e associações dos sectores agroalimentar, retalho, distribuição e logística.
Na quarta-feira, os responsáveis da área da distribuição e da produção já tinham apelado à calma e rejeitado ruturas nas lojas. O diretor-geral da Associação Portuguesa das Empresas de Distribuição (APED), Gonçalo Lobo Xavier, assegurava o normal funcionamento do sector da distribuição: “Este maior afluxo tem levado a que as operações logísticas tenham de ser mais rápidas, o que nem sempre é possível”, explicava. “As fábricas continuam a produzir os produtos, os transportes não vão parar, nem a logística. Há produtos em stock, muitos são de produção nacional.”
Pedro Pimentel, diretor-geral da Centromarca — Associação Portuguesa de Empresas de Produtos de Marca, recomenda: “É fundamental que os consumidores não sintam sensação de escassez e é preciso que sejam racionais nas compras para não andarmos, daqui a uns anos, a consumir coisas que açambarcamos sem qualquer necessidade.”
A regra é manter hábitos de consumo e “tudo continuará a correr normalmente, até porque desta vez o quadro não tem qualquer relação com o que se passou com a greve dos motoristas de matérias perigosas e há todas as condições para os produtos chegarem diariamente às prateleiras”, acrescenta.
A comparação com o que se passou em 2019, na crise dos combustíveis, mostra que estamos perante situações completamente diferentes, defende.
Em 2019, as bombas de gasolina estavam sem combustível, o transporte dos produtos estava bloqueado e as lojas corriam o risco de ficar vazias. Agora, na crise da Covid-19, as unidades produtivas estão a laborar, o transporte de produtos é contínuo, as lojas são reabastecidas, os produtos vão estar disponíveis, sublinha.
E o Expresso confirmou que as reposições são reais. Quinta-feira às 19h30, nos supermercados de Matosinhos Sul havia buracos na prateleiras, mas às 9h de sexta-feira era visível a azáfama nas reposições. Pelas 10h de sexta-feira, a reposição de conservas no Auchan de Cascais corria a todo o vapor. Os funcionários confessam “exaustão” no arranque da jornada, mas as vitrinas refrigeradas estão novamente cheias de carne, conservas, cereais, polpa de tomate, bolachas, batatas reaparecem.
Assim, antes de correr ao supermercado e meter alguma coisa no carrinho, “será bom pensar primeiro se realmente precisa do produto”, alerta Pedro Pimentel
. “Somos os mesmos consumidores de sempre, com as necessidades de consumo de sempre e tudo sempre correu bem”, reforça. António Rousseau, especialista em marketing de distribuição e professor do IPAM — Instituto Português de Administração de Marketing acrescenta: “As marcas trabalham cadeias de reaprovisionamento inteligentes que reportam automaticamente produtos em falta.
Se vai havendo buracos é porque estamos a trabalhar com um quadro de consumo diferente do habitual, ainda desconhecido das superfícies comerciais, habituadas a uma reposição diária nas lojas. O ajuste envolve alterações da cadeia logística”, explica.