«[...] este código inquisitorial que, em muito breve, completará dois séculos. Não chegou a vigorar cinquenta anos.
Ideias mais largas e generosas vindas dessa Europa em ebulição lavaram entretanto os ares da nossa terra, não sem dificuldades, emperramentos e sangue.
É que o reaccionário português, falho de altura mental e de generosidade, intolerante até a medula, conhece apenas um meio de apostolado: o cacete.
E é absolutamente incapaz de admitir que outros pensem de forma diferente da sua. É-lhe intolerável a ideia do progresso e nada é bom se não vier dos pais e avós.
Ideias só as expressas na cartilha e quanto mais arrevezada for a ortografia melhor.
O Santo Ofício seria abolido pelas Constituintes liberais, já depois de soldados franceses terem talado o país e de a família real ter fugido para o Brasil.
A própria Inquisição fora saqueada e o Inquisidor-geral desterrado para Bayonne.
Mas depois da abolição quanta trabalheira ainda para convencer as gentes que a liberdade de ideias, de expressão, de culto, a tolerância, são virtudes essenciais a uma sociedade culta, bem organizada e progressiva! [...]»
* Texto de Raúl Rego
Recorri a este excerto do livro " O Último Regimento da Inquisição Portuguesa " porque, pareceu-me oportuno, considerando o que por vezes encontro nas chamadas redes sociais em que diferentes pontos de vista são considerados intoleráveis.
Exemplifico com um " caso " passado comigo no qual que defendi como heterónimo de Cascais a palavra cascalense, e, o meu opositor, defendia cascaense.
Ambas as grafias em meu modesto entender e de alguns, esses sim ilustres académicos, estão correctas.
Tanto bastou para que fosse apodado de desconhecedor das tradições, dos costumes e muito mais desta minha terra de sempre.
Chegado a este patamar nada mais resta que pedir desculpas pelo incómodo, desejar muitas felicidades a tão ilustre senhor e dar por encerrado o debate.
Foi o que fiz.
ALGUNS EXEMPLARES DE LIVROS EM QUE A GRAFIA SURGE REFERENCIADA AO GOSTO DE CADA UM.