A BALADA DA NEVE
Batem leve, levemente,
Como quem chama por mim...
Será chuva ? Será gente ?
Gente não é certamente
E a chuva não bate assim...
É talvez a ventania;
Mas há pouco, há poucachinho,
Nem uma agulha bulia
Na quieta melancolia
Dos pinheiros do caminho...
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Quem bate assim levemente,
Com tão estranha leveza
Que mal se ouve, mal se sente ?...
Não é chuva, nem é gente,
Nem é vento com certeza.
Fui ver. A neve caía
Do azul cinzento do céu,
Branca e leve, branca e fria...
- Há quanto tempo a não via !
E que saudades, Deus meu !
Olho-a atravéz da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho.
Passa gente, e quando passa,
Os passos imprime e traça
Na brancura do caminho ...*
* Poema de Augusto Gil
