ANATOMIA DE UM ECOCÍDIO: O Parque Natural Sintra-Cascais
OPINIÃO
19 fevereiro 2022 | 19h12 |
Qualquer pessoa que frequente o
Parque Natural Sintra-Cascais na zona entre a Malveira e a Peninha sabe que, nos
últimos anos e, nomeadamente, nos últimos meses, têm sido praticados cortes absolutamente
inqualificáveis de extensas áreas, sendo arrasados, designadamente, cupressos e
pinheiros com dezenas e centenas de anos.
Há mais de uma semana, um conjunto de
associações ambientais e movimentos cívicos (entre os quais o Grupo de Amigos
das Árvores de Sintra, o Grupo Ecológico de Cascais, o Fórum por Carcavelos, o
Fórum Cidadania Lisboa, a Associação de Defesa da Aldeia de Juso, o QSintra e o
SOS Parque Natural Sintra-Cascais) apresentaram a diversas entidades (Ministério
do Ambiente e da Ação Climática, Ministério da Agricultura, CMC, ICNF, APA, SEPNA, IGAMAOT) provas
fotográficas disso mesmo e uma queixa pelo corte de árvores de espécies
não-invasoras numa vasta área do Parque Natural Sintra-Cascais, na freguesia de
Alcabideche, pedindo explicações para o facto. As explicações oficiais continuam
sem ser dadas. Porém, como é costume, a CMC apressou-se a vir dizer aos meios
de comunicação social a lenga-lenga do costume: que tudo não passava de
ignorância e que apenas estavam a ser cortadas acácias, espécie invasora.
Mentira pura. Têm sido cortadas acácias? Têm. Devem ser cortadas as acácias?
Nalguns locais, sem dúvida. Mas o corte das acácias não justifica o corte das outras
espécies. A menos que as mesmas estejam a ser cortadas por razões económicas,
ligadas ao valor da sua madeira. Que é alto, muito maior do que o das acácias.
A que se destinam estas toneladas de madeira? E as de madeira exótica? Quem as
compra? Quem as vende? Por quanto? O que é feito ao dinheiro?
Diga-se que nas áreas em que a CMC levou a cabo semelhante ecocídio em anos anteriores, são agora predominantes…as acácias! Com efeito, pela forma como a intervenção foi realizada, as acácias voltaram a nascer; as outras grandes árvores não. E a maior parte dos exemplares plantados pela CMC morreu.
A CMC e o ICNF – que gerem o Parque Natural como se fosse um feudo deles e não ouvem as organizações ambientais, ao contrário do que estão obrigadas – estão, pois, a tornar o Parque Natural um campo deserto e sem vida, ameaçando flora e fauna protegida por tratados internacionais.