QUEM SÃO AS PERSONALIDADES QUE INTEGRAM O CONJUNTO
ESCULTÓRICO DO PADRÃO DOS DESCOBRIMENTOS?
A
defesa, feita em Fevereiro, pelo deputado Ascenso Simões (PS), de que se
deveria demolir o Padrão dos Descobrimentos existente em Belém, levou
vários amigos a dirigirem-me alguns pedidos de
informação a respeito daquele monumento.
Embora parte dessa informação não seja muito difícil de encontrar,
tenho previsto vir a redigir proximamente um artigo acerca da obra
erigida na Praça do Império, mas darei hoje prioridade à satisfação
daquela que foi a curiosidade mais generalizadamente transmitida:
quem
são os personagens que compõem o conjunto escultórico que se distribui,
lateralmente às duas faces do monumento, com o Infante Dom Henrique (O
Navegador) em lugar dianteiro? Pois aqui vai a resposta.
Do lado da face oriental (a que está orientada para o lado de Belém),temos:
1
- D. Afonso V (de cognome O Africano), que foi rei de Portugal de 1438 a
1481 e ficou ligado a uma política de intensificação da expansão
ultramarina.
2 - Vasco
da Gama, o navegador e explorador que se distinguiu por ter comandado as
primeiras viagens de ligação marítima da Europa à Índia, concretizada
definitivamente em 1498.
3 - Afonso Gonçalves Baldaia, um dos primeiros navegadores enviados a explorar a costa ocidental africana, em 1434.
4 - Pedro Álvares Cabral, o capitão-mor da armada que em 1500 fez a descoberta oficial do Brasil.
5
- Fernão de Magalhães, navegador português que capitaneou nos dois anos
iniciais (1519 a 1520) a armada responsável pela primeira viagem de
circum-navegação ao Globo terrestre, feito que só não concluiu por, já
no regresso, ter morrido no meio de um combate.
6
- Nicolau Coelho, navegador que, como comandante de embarcação,
participou nas viagens de descoberta tanto do Brasil como do Caminho
Marítimo para a Índia.
7
- Gaspar Corte-Real, navegador a quem se atribuem as viagens de
descoberta da Gronelândia e da Costa Nordeste da América do Norte.
8
- Martim Afonso de Sousa, navegador estreitamente ligado aos nossos
reis Dom Manuel I e D. João III, teve destacado papel em acções
diplomáticas e militares tanto no continente americano como no asiático.
9 - João de Barros, considerado o grande narrador dos feitos dos
portugueses
no Oriente, repartiu a sua actividade entre a produçao de uma brilhante
obra literária e o papel de destacado funcionário da administração
régia em vários continentes.
10 - Estêvão da Gama, filho de Vasco da Gama, ficou conhecido
principalmente pelas virtudes militares, sobretudo nos mares do
Oriente.
11
- Bartolomeu Dias, comandante da frota que dobrou pela primeira vez o
Cabo das Tormentas (ou da Boa Esperança), proeza decisiva para se
progredir na descoberta do caminho marítimo para a Índia.
12 - Diogo Cão, navegador que realizou empresas de grande
merecimento na exploração da costa ocidental africana.
13
- António de Abreu, navegador proeminente nos mares das Índias,
sendo-lhe também atribuída a provável descoberta da Austrália.
14
- Afonso de Albuquerque, Governador da Índia a partir de 1506, e que
foi talvez, em toda a gesta ultramarina, o personagem com mais ampla
visão estratégica.
15 - São Francisco Xavier, religioso da Companhia de Jesus, foi
nomeado,
pelo próprio Inácio de Loyola, Superior das Missões Orientais desde o
Cabo da Boa Esperança até à China, desenvolvendo uma ímpar acção
evangelizadora.
16 -
Cristóvão da Gama, outro filho de Vasco da Gama, que as Crónicas
celebraram pela grande heroicidade nas campanhas de resistência a Turcos
e Muçulmanos ao lado do Imperador Prestes João.
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Do lado da face ocidental (a que fica ‘virada’ para Algés), sucedem-se:
17 - Infante Dom Fernando, um dos filhos de Dom João I, conhecido como Infante Santo e mártir das guerras em Marrocos.
18 - João Gonçalves Zarco, navegador a quem se ficou a dever a
descoberta do arquipélago da Madeira e o início do povoamento das ilhas atlânticas.
19 - Pêro de Alenquer, piloto de grande perícia que participou com
relevo na exploração dos mares africanos, assim abrindo caminho para o acesso à Índia.
20 - Gil Eanes, navegador celebrado pela chegada às Canárias e por ter dobrado pela primeira vez o Cabo Bojador.
21 - Pedro Nunes, matemático a quem se devem progressos nas
disciplinas científicas da cosmografia e da astronomia que seriam
decisivos para o sucesso no avanço da exploração marítima do
Atlântico.
22 - Pêro de Escobar, notável piloto de embarcações, ligado à realização
de numerosas viagens, dentre as quais a de descoberta da Costa da Mina.
23 - Jaime de Maiorca, cartógrafo maiorquino contratado para dar
formação aos cartógrafos portugueses na elaboração de mapas das terras, mares e costas de África.
24
- Pêro da Covilhã, o mais conhecido dos emissários que o Rei D. João II
enviou por terras do Norte de África tendo em vista confirmar o acesso
às Índias que estava sendo tentado por mar, bem como o estabelecimento
de alianças com reinos locais.
25 - Gomes Eanes de Zurara, autor de diversas crónicas, que são
documentos fundamentais para o conhecimento da expansão
portuguesa.
26
- Nuno Gonçalves, talvez a figura maior de toda a história da pintura
portuguesa e de cuja oficina terão saído os famosos painéis
descobertos na Igreja de São Vicente e que são o principal atractivo do Museu Nacional de Arte Antiga.
27
- Luís de Camões, a maior figura da Literatura Portuguesa de todas as
eras e cuja obra principal, “Os Lusíadas”, constitui um símbolo da
epopeia marítima portuguesa.
28
- Frei Henrique de Coimbra, padre franciscano que integrou a armada que
descobriu o Brasil, sendo-lhe atribuída a celebração da primeira missa
rezada em terras de Vera Cruz.
29 - Frei Gonçalo de Carvalho, membro da Ordem religiosa dos
Pregadores (ou padres dominicanos), que viveu e morreu no reino
africano do Congo.
29
- Fernão Mendes Pinto, escritor e aventureiro que descreveu como nenhum
outro os povos e costumes observados durante um longo percurso que o
levou desde a Etiópia até ao Japão.
30
- Dona Filipa de Lancastre, rainha e mãe que as crónicas da época
relatam como a grande incentivadora da vontade e talentos dos vários
Infantes que tão importantes foram para a Empresa dos Descobrimentos e
que ficaram conhecidos por “Ínclita Geração”.
31
- Infante Dom Pedro, filho de D. João I, Duque de Coimbra e também
Regente do Reino durante a menoridade de D. Afonso V), foi um autêntico
homem do Renascimento, culto, com visão cosmopolita, fruto das numerosas
viagens e contactos que estabeleceu por numerosos países da Europa e
lhe granjeou o epíteto de “ O das sete partidas”.
E termino com a esperança e o desejo de que esta breve descrição
permita
a muitos dos meus leitores um olhar mais rico e interessado da próxima
vez que visitarem este singular monumento à beira do Tejo, que bem
merece o apreço dos portugueses amantes da sua pátria.