Há 101 anos, um grande incêndio consumiu o Pinhal de Leiria.
Foi assim.
Em 1916, 150 hectares
de pinhal arderam em Leiria e levantaram dúvidas sobre as políticas de
proteção da floresta.
Cento e um anos depois, tudo parece repetir-se.
Na época, foi assim que aconteceu.
Cento e um anos depois, tudo parece repetir-se.
Na época, foi assim que aconteceu.
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Em 1916, Portugal tinha uma luta em mãos: o país, especialmente a região centro, estava constantemente a ser fustigada por incêndios de grandes dimensões.Acácio de Paiva — poeta e jornalista leiriense que também contribuía para jornais como o “Diário de Notícias” e “O Mensageiro” — dizia que “os repetidos incêndios no pinhal de Leiria, a maior e melhor mata do Estado, constituindo uma verdadeira riqueza natural, tem chamado a atenção de toda a imprensa, que reclama, com os habitantes da região, providências urgentes dos poderes públicos”.E depois opinava: “Estes ouviram as reclamações, mas triste foi que se tivessem de formular, porque remediar vale muito menos do que prevenir.“.
Conseguir-se-á uma vigilância suficiente e permanente? Não se voltará, passada a impressão da catástrofe, à indiferença do costume?Será necessário fundar uma Sociedade dos Amigos do Pinhal de Leiria, como se fundou a dos Amigos do Jardim Zoológicos, a dos Amigos do Castelo de Leiria, a dos Amigos da Amadora, etc., e todas elas mais cuidadosas do que as repartições cujo fim é, precisamente, a defesa do património geral?”
A revolta de Acácio Paiva tinha raízes num incêndio que consumiu grande parte do Pinhal d’El Rei, mandado construir por D. Afonso III e aperfeiçoado por D. Dinis, no início de setembro daquele ano.O mesmo que este domingo ( 15 de Outubro de 2017 )foi ameaçado pelas chamas, obrigando a evacuar aldeias e vilas no distrito de Leiria.
A 4 de Setembro de 1916 na Ilustração Portuguesa suplemento que acompanhava o jornal “O Século”, enchia quatro páginas de jornal com um texto assinado por Floreano sobre o que havia acontecido dois dias antes no pinhal da Marinha Grande e de como a população lutou contra o fogo. Pode lê-lo na íntegra aqui em baixo.
Trepei ao alto de uma duna fixada e convertida pelo precioso trabalho dos pinheiros num monte sólido e fértil. Era simplesmente desolador! Estendia-se diante de mim, a perder de vista, um trato de muitos hectares de pinhal novo, com as suas ramas torrificadas, mas ainda aderentes pela sua resistência excecional.Ao de cima dessa extensa massa carbonizada erguiam-se tristonhos, aqui e além, os pinheiros velhos, de cuja semente haviam nascido os outros.Apesar de uma altura de 20 metros ou mais, as suas comas haviam sido alcançadas pelas labaredas! Mortas e bem mortas, aquelas gigantes sentinelas das dunas! Recordavam as heróicas sentinelas de Pompeia, surpreendidas e incineradas nos seus postos pela lava do Vesúvio, conservadas na mesma forma e na mesma atitude, através de séculos, ao abrigo das abóbadas sob que ficaram sepultadas.Desfizeram-se com a primeira lufada de ar fresco que lhes trouxeram as excavações dos arqueólogos.Também os primeiros sopros ásperos de outono hão de reduzir às linhas hirtas e falhadas do seu esqueleto tantos milhares de árvores, há poucas horas ainda tão verdes e orgulhosas do seu porte, se antes disso o machado do lenheiro não fizer desaparecer a obra infame do incendiário.
Que dor de alma ver tanta floresta destruída numa época tão angustiosamente falha de madeira e de lenha! Aquele crime enormíssimo nem parece ter sido cometido por portugueses contra sua própria terra, contra a sua própria vida e a da sua família; porque, devorado pelo fogo o Pinhal de Leiria, essa majestosa floresta de 25 quilómetros por 9, deixou de ter razão a existência de todos os povos que vivem à sua sombra saudável e hospitaleira.
E como essa dor se refletia nos olhos e nas palavras de um pobre velho, que ainda hoje é dos primeiros a acudir os fogos do Pinhal, que lhe doem, que o afligem como se da sua casinha em chamas! Não tinha memória de outro em semelhantes circunstâncias.Sempre foram 150 hectares, ou seja um milhão e quinhentos mil metros quadrados de pinhal, novo e velho, absolutamente perdidos.As chamas rebentaram em três pontos ao mesmo tempo. Tocadas pelo vento e alimentadas pelo mato miúdo e pela caruma seca que cobriam o solo, não tardaram a cruzar-se num grande mar de fogo. Uma coisa sublimemente horrível!
Buzinas, apitos, toques de sino, gritaria, alvoroçaram as povoações convizinhas, das quais a principal é a vila da Marinha Grande. Nas fábricas, nos campos, em casa não ficou ninguém.Todos munidos de enxadas, machados, pás, forquilhas, ancinhos, do primeiro instrumento que topavam à mão, abalaram desordenadamente para atacar o fogo; e centenas de mulheres também se puseram a caminho, com cântaros de água da cabeça para matar a sede aos homens, que devia ser insaciável no meio da faina debaixo daquela torreira.
Na fúria com que toda a gente se atirava ao fogo não havia visivelmente um plano de ataque, executando a uma voz imperiosa de comando; mas havia uma perícia e uma tática individuais que davam ao conjunto dos esforços uma admirável unidade de ação.Abrem-se aceiros, compridos e largos, machadando sem piedade belas árvores para atalhar a marcha galopante do fogo, que as devoraria, a elas e a muitas mais, sendo admirável como essa gente se estendia numa linha rigorosa de combate, sem se estorvar uma à outra.
Já se sentia o bafão estiolante do fogo, o crepitar do lenho verde abarcado pelas labaredas, o rugir surdo da fornalha rolante, em que esses valentes se podiam ver, de um momento para o outro e irremediavelmente, envolvidos; mas eles continuavam a manejar o machado, com o rosto afogueado, escorrendo em suor e arfando fortemente como os antigos ciclopes na forja abrasadora.Outros roçavam o mato e procuravam arredá-lo do caminho do fogo; estes deitavam pás de terra sobre a vegetação miúda para o abafar; aqueles abriam arrifes à enxada tentando atalhar-lhe a marcha de todas as formas possíveis.Daqui como se despegavam chamas para ir levar o incêndio muitos metros além, cercando por vezes os homens com tal surpresa que dificilmente saíam ilesos.
São tão rápidos estes saltos do fogo, tão caprichosas e vivas as voltas que ele dá, que nem aos bichos que vivem acoitados na floresta lhes vale o instinto e a agilidade para escaparem.Raposas, coelhos, lebres, cobras, ouriços, texugos, parecem todos tomados de loucura e, na sua fuga, esbarram nos homens, metem-se debaixo das enxadas e dos machados, caem carbonizados dos matagais ardentes! As próprias aves, como as rolas — as pobrezinhas! — nem se desenvecilham num voo alto por entre os pinheiros espessos a tempo de se salvar.
Também se lhes encontram os restos nas cinzas do imenso braseiro.
Mas a fase culminante da batalha é o contrafogo. Abre-se um aceiro largo. Lança-se lumo, bem entendido, do lado onde lavra o incêndio. Este novo fogo vai ao encontro do outro.Avançam ambos velozes, rosnam cóleras tremendas, chocam-se com estranho estampido e ambos expiram numa explosão medonha, indo as últimas línguas de fogo e rolos de fumo desfazer-se bem alto na atmosfera.
Segue-se então brusco um silêncio de morte. Se o mar encrespado, bramindo furioso, se estagnasse de súbito num lago dormente, não nos chocaria mais brutal impressão de contraste. Até o vento se acalmou.A forte exclamação de vitória, de alívio, saiu uníssona de tantas bocas, sucedeu o arfar surdo do cansaço e o sorvo ansioso de muitos cântaros de água, atirando-se toda essa gente, extenuadíssima, para o chão, onde não andara o lume, e contemplando com os olhos embaciados de água tão hediondo quadro de devastação.
E o que iria talvez a essa hora, de remorso no espírito dos bárbaros incendiários ao contemplarem, sabe Deus de onde, os horrorosos efeitos da sua obra nefasta? Daí…
Ou Nero mandasse deitar, ou não, fogo a Roma para deliciar a sua alma negra com os horrores de tão estranho espetáculo; o que é facto é que ele pôs-se, todo enlevado, a entoar ao som da lira um hino ao célebre incêndio de Tróia!”
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Publicado na Ilustração Portuguesa, um suplemento do jornal “O Século”, em Setembro de 1916, este impressionante artigo relata, ao longo de quatro páginas, a ocorrência de “Um fogo no Pinhal de Leiria”.
In: Ilustração Portuguesa nº 550 de 04 de Setembro de 1916© Hemeroteca Digital
E EM 2017 FOI ASSIM !
O INCÊNDIO NO PINHAL DE LEIRIA
O grande incêndio que ocorreu no Pinhal de Leiria, em outubro, terá sido planeado um mês antes de ter acontecido.
Envolvidos no planeamento terão estado madeireiros, responsáveis por grandes empresas e também de fábricas que compram e vendem madeira, avança a TVI 24.
As reuniões para planear o incêndio aconteceram numa cave, explica a mesma televisão, onde também foram delineados preços para a madeira.
Terão sido também utilizados, para iniciar as chamas, vasos de resina com caruma no interior.
Em janeiro, a Polícia Judiciária de Leiria adiantou que os dois incêndios que a 15 de outubro queimaram 86% do Pinhal de Leiria tiveram "mão criminosa", sem adiantar mais detalhes, concretamente.
O PINHAL ANTES DO INCÊNDIO
E DEPOIS DO INCÊNDIO
Os incêndios de outubro de 2017, que atingiram 36 concelhos da região Centro, provocaram 49 mortos e cerca de 70 feridos, e destruíram total ou parcialmente perto de 1.500 casas e cerca de meio milhar de empresas.
Extensas áreas de floresta e de terrenos agrícolas foram igualmente destruídas pelos fogos de 15 e 16 de outubro de 2017, que afetaram de forma mais grave os municípios de Castelo de Paiva e Vagos, no distrito de Aveiro;
Oleiros e Sertã (Castelo Branco);
Arganil, Figueira da Foz, Lousã, Mira, Oliveira do Hospital, Pampilhosa da Serra, Penacova, Tábua e Vila Nova de Poiares (Coimbra);
Gouveia e Seia (Guarda);
Alcobaça, Marinha Grande e Pombal (Leiria);
e Carregal do Sal, Mortágua, Nelas, Oliveira de Frades, Santa Comba Dão, Tondela e Vouzela (Viseu).
Na sequência dos fogos que deflagram em 15 de outubro foram consumidos 190.090 hectares de floresta, cerca de 45% da área total ardida durante 2017, de acordo com o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF)
Com Lusa
Pinhal de Leiria
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Tem uma área de 11.080 ha, abrangendo as freguesias da Marinha Grande e de Vieira de Leiria, estando assim inserido única e totalmente no concelho da Marinha Grande.[1]
Em Portugal, o pinhal de Leiria marcava assim o início da plantação intensiva de monocultura do pinheiro bravo.
Em Outubro de 2017, devido aos violentos incêndios que assolaram o país, a floresta ardeu quase na totalidade.
Consequentemente, surgiram iniciativas populares que visam a recuperação do pilhas. [2]
Índice
História
Seria, então, mais tarde, entre 1279 e 1325, aumentado substancialmente pelo rei D. Dinis I, para as dimensões actuais.
Procedeu-se então à sementeira duma área extensa que acompanha o litoral, especialmente com recurso ao pinheiro-bravo.[3]
Alguns autores atribuem até o começo da plantação do pinhal a D. Sancho II (1223-1248).
Sempre que se procedia ao corte de árvores, era seguida uma replantação - desta forma o pinhal manteve-se intacto.
Desde pelo menos o último quartel do século XV, o cargo de Guarda-Mor dos Pinhais de El-Rei ou Pinhais Reais de Leiria, Guarda e Couteiro das Matas dos Pinhais do Rei, foi hereditário nos Rodrigues Veloso, nos da Costa de Mesquita e, finalmente, nos da Silva de Ataíde, até à sua extinção em 1835.[4]
O pinhal de Leiria foi muito importante para os Descobrimentos Marítimos, pois a madeira dos pinheiros era usada para a construção de embarcações.
O pez foi ainda usado para proteger as caravelas. Ainda existem fornos onde este era fabricado.
Iria adquirir muita importância para o desenvolvimento económico e crescimento demográfico da região no século XVIII e século XIX, uma vez que foi dos principais impulsionadores de indústrias como a construção naval, a indústria vidreira, metalurgia e produtos resinosos (através da extracção da goma dos pinheiros, no século XIX) - a madeira era usada tanto como matéria-prima como fonte de energia para as indústrias e habitações.
Incêndios florestais
Em 1916, o jornalista e poeta Acácio de Paiva apontada "repetidos incêndios no pinhal de Leiria", sendo que um deles consumiu 150 hectares.[6]
Paralelamente, o famoso ciclone de 15 de Fevereiro de 1941 terá afetado, no Pinhal, cerca de 300.000 árvores, consoante as fontes; a tempestade causou estragos em todo o país, com ventos na ordem dos 130 km/h.[7]
Em 2017, durante os Incêndios florestais em Portugal de 15 e 16 de outubro, o pinhal ficou com 86% da sua área completamente queimada.
Uma reportagem da TVI publicada em Abril de 2018 alega que este grande incêndio foi causado por um grupo de madeireiros a que chama de "Máfia do Pinhal".[8]
Fauna e Flora
No que respeita a aves, podíamos encontrar corvos, gralhas, felosas e melros, entre outras espécies.
A flora do pinhal também era bastante variada.
Para além do pinheiro bravo que dominava a paisagem, há (ou possivelmente nalguns casos, havia) em muito menor quantidade pinheiros mansos, urze-brancas, feto-arbustivo, lentisco-bastardo, urze-rosada e rosmaninho, sendo possível encontrar também, principalmente junto à ribeira de Moel, eucaliptos, acácias, adernos, samoucos, taxódios e carvalhos.[9]
Há também registo de existência de espécies endémicas, nomeadamente a única pequena árvore endémica de Portugal continental, o Juniperus navicularis.[10]
Apesar dos incêndios, ainda existem várias árvores de interesse público, como o eucalipto-glóbulo, pinheiro-serpente, entre outras árvores de tamanho excecional.
Ordenamento do território
Estes talhões estão divididos por caminhos de areia, aos quais se dá o nome de aceiros (perpendiculares ao mar, identificados por letras de A a T, de Norte para Sul) ou arrifes (paralelos ao mar, identificados por números, entre 0 e 22, de Este para Oeste).
Estes servem para um melhor ordenamento do território e também para ajudar a limitar a propagação de incêndios florestais.[10]
Ligações externas
- Observação de aves no pinhal de Leiria
- Há 101 anos, um grande incêndio consumiu o Pinhal de Leiria. Foi assim
Referências
- http://www.icnf.pt/portal/florestas/gf/pgf/publicitacoes/drf-centro/2011/pgf-mn-leiria
- «#PinhaldoPovo congrega esforços para replantar Leiria». Público. 18 de outubro de 2017. Consultado em 19 de outubro de 2017
- Nuno Leitão. «A Floresta e os Florestais na História de Portugal (parte I)». Naturlink. Consultado em 21 de abril de 2018
- Francisco Queiroz e Ana Margarida Portela. «A Casa do Terreiro - História da Família Ataíde em Leiria - por Francisco Queiroz». QueirozPortela.com. Consultado em 31 de Março de 2016
- Flora Ferreira-Leite, António Bento-Gonçalves, Luciano Lourenço. «Grandes incêndios florestais em Portugal Continental. Da história recente à atualidade». uc.pt. Consultado em 18 de Outubro de 2017
- «Há 101 anos, um grande incêndio consumiu o Pinhal de Leiria. Foi assim». Observador. 16 de outubro de 2017. Consultado em 23 de outubro de 2017
- Adélia Nunes, João Pinho, Nuno Ganho. «Ciclone" de fevereiro de 1941: análise histórico-geográca dos seus efeitos no município de Coimbra». researchgate.net. Consultado em 18 de Outubro de 2017
- «Incêndio no Pinhal de Leiria foi planeado um mês antes da tragédia». TVI24. 13 de abril de 2018. Consultado em 16 de abril de 2018
- Group, Global Media (22 de janeiro de 2018). «Pinhal de Leiria: ainda há pirilampos na catedral sussurrante?». TSF Rádio Notícias