Os 'números trágicos' de Pedrógão, meio ano após o fatídico incêndio
O incêndio que deflagrou há seis meses no
concelho de Pedrógão Grande e que alastrou a concelhos vizinhos fez 66
mortos e 253 feridos, sete dos quais graves, destruiu meio milhar de
casas e quase 50 empresas.
Quarenta e sete das vítimas
mortais seguiam em viaturas, no dia 17 de junho, e ficaram cercadas
pelas chamas na EN (estrada nacional) 236-1, entre Castanheira de Pera e
Figueiró dos Vinhos ou em acessos a esta via.
Extintas passado uma semana, as chamas vieram, em 20 de junho,
a juntar-se às do fogo que, cerca de dez minutos depois do início do
fogo no concelho de Pedrógão Grande (em Escalos Fundeiros), no interior
norte do distrito de Leiria, eclodiu no município de Góis (distrito de
Coimbra), em Fonte Limpa.
Estes fogos devastaram cerca de 53 mil
hectares de território, 20 mil hectares dos quais de floresta, sobretudo
dos municípios de Pedrógão Grande, Castanheira de Pera e Figueiró dos
Vinhos, no distrito de Leiria, de Góis, Penela e Pampilhosa da Serra
(Coimbra) e da Sertã (Castelo Branco), mas também de Alvaiázere e Ansião
(Leiria), de Arganil (Coimbra) e de Oleiros (Castelo Branco).
Cerca
de meio milhar de casas foram total ou parcialmente destruídas pelas
chamas, 169 das quais de primeira habitação, 205 de segunda habitação e
117 devolutas, de acordo com estimativas, avançadas, em 3 de julho, pela
Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro (CCDRC),
que, então, calculava os prejuízos diretos dos fogos em 193,5 milhões de
euros, prevendo mais de 303 milhões de euros para medidas de prevenção e
relançamento da economia na região.
Quase 50 empresas foram também atingidas, afetando os empregos de 372 pessoas.
A
maior fatia dos prejuízos adveio da floresta, ultrapassando os 83
milhões de euros, enquanto os danos em habitação particular foram de
mais de 27,6 milhões de euros, na indústria e turismo perto de 31,2
milhões de euros e noutras atividades económicas mais de 27,5 milhões de
euros.
A agricultura sofreu prejuízos na ordem dos 21 milhões de
euros, valor idêntico ao estimado para os danos provocados em
infraestruturas municipais, tendo a rede viária nacional ficado
danificada em perto de 2,6 milhões de euros.
Mais de 1.200 animais
de explorações afetadas foram assistidos, por voluntários, nos dez dias
posteriores aos incêndios, de acordo com a Cooperativa Agro Pecuária do
Sudoeste Beirão.
Aqueles animais equivalem a cerca de metade dos
que terão ficado feridos, de acordo com a mesma fonte, que estima em
mais de um milhar, sobretudo ovinos e caprinos, os animais mortos pelas
chamas (em 07 de julho já tinham sido recolhidos perto de meio milhar de
cadáveres, segundo o Ministério da Agricultura). Por outro lado, pelo
menos 300 veados, corços e javalis morreram na Serra da Lousã, disse à
agência Lusa, em 01 de julho, o biólogo Carlos Fonseca.
O Governo
previa, em 3 de julho, investir 100 milhões de euros para o
projeto-piloto de gestão florestal do Pinhal Interior, afetado pelos
incêndios, e 58 milhões para arborização e rearborização do território.
O
incêndio de Pedrógão Grande foi "muito provavelmente aquele que, em
Portugal, libertou mais energia e o fez mais rapidamente (com um máximo
de 4.459 hectares ardidos numa só hora), exibindo fenómenos extremos de
vorticidade e de projeção de material incandescente a curta e a longa
distância", afirma o relatório da Comissão Técnica Independente (CTI),
criada pela Assembleia da República, em 10 de julho, para fazer "uma
avaliação independente" dos incêndios ocorridos entre 17 e 24 de junho,
naqueles 11 concelhos.
O relatório de desempenho do Sistema
Integrado de Redes de Emergência e Segurança de Portugal (SIRESP),
publicado no dia 27 no portal do Governo, indica que o número de
chamadas processadas nas 16 estações-base, entre as 19:00 de 17 de junho
e as 09:00 do dia seguinte, foi de 115.255, representando uma média de
8.233 chamadas feitas por hora.
Cerca de 08% (mais de 10 mil) das
115.255 chamadas feitas nos incêndios de Pedrógão Grande, entre as 19:00
de 17 de junho e as 09:00 do dia seguinte, não foram feitas à primeira
tentativa devido à saturação da rede, revelou o SIRESP.
A
Assembleia da República aprovou, em 21 de junho, por unanimidade, um
voto de pesar pelas vítimas destes incêndios, que continuavam então
ativos, e as mais altas figuras do Estado, designadamente o Presidente
da República e o primeiro-ministro marcaram presença no funeral de um
bombeiro vitimado pelas chamas. Nesse dia, o combate às chamas na zona
de Pedrógão Grande e Góis mobilizava 2.500 operacionais, mais de 860
viaturas e duas dezenas de meios aéreos.
Três meses depois dos
incêndios, o Fundo Revita, entretanto constituído para gerir os
donativos para as vítimas dos incêndios, apontava para a reconstrução de
199 casas de primeira habitação, das quais 95% estavam em andamento,
com obras em projeto, em consulta de preço, adjudicação, consignadas ou
em execução, estando 19 concluídas.
Em 09 de outubro, o relatório
trimestral do Fundo, que envolve 35 empresas e outras entidades,
revelava já ter recolhido o valor global de mais de 3,7 milhões de euros
de donativos (dois milhões de euros em setembro) e que, das 205
habitações que precisavam de reconstrução, 35 estão concluídas.
O
Conselho para a atribuição de indemnizações às vítimas dos incêndios de
15 de junho e de 17 de outubro deste fixou, em final de novembro, em 70
mil euros o valor mínimo para privação de vida, valor que, no entanto,
caberá à provedora de Justiça estabelecer em relação a cada um dos
casos.
As seguradoras anunciaram, em 13 de julho, que vão pagar
indemnizações no valor de 18,8 milhões de euros, depois de um "primeiro
apuramento de danos".
O primeiro-ministro, António Costa, revelou,
em 28 de junho, que os sete concelhos afetados pelos incêndios que
afetaram o interior da região Centro vão ser alvo de um projeto-piloto
de reordenamento da floresta. O Governo pretende "utilizar este
território para fazer um projeto-piloto no reordenamento da floresta, na
revitalização do interior".
Em Castanheira de Pera, as chamas
destruíram, para além de mais de uma centena de casas, 56% da área
floresta do concelho (mais 4.000 hectares) e cerca de 25% da área
agrícola, enquanto Figueiró dos Vinhos perdeu, além de 23 habitações
permanentes, 66% da área florestada (e cerca de 25% dos terrenos
agrícolas).
Em Pedrógão Grande, onde arderam mais de cem
habitações permanentes e foram atingidas 26 empresas e mais de 270
postos de trabalho, ficou queimada 81% da floresta do concelho e 40% da
área agrícola.
Mais de dez mil hectares de floresta arderam em Pampilhosa da Serra,
enquanto em Penela foram destruídos de 1.800 hectares de floresta.