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16.5.17

UM POEMA AO CAÇADOR

«Se...
Se depois de caçares um dia inteiro
Torceste a camisola, bagada de suor
E este maldito vício não perdeste


Se consumido já o provimento
Suportaste sem gemer
O vergonhoso peso de uma grade
Se na perdiz que te saltou dos pés
A arma chapeou
E nem porra disseste,



Se o companheiro cintou
A perdiz que mataste
E fizeste de contas que não atiraste
Se vês o javardo,
Sereno, a dormir
E não o fuzilas e o deixas fugir,
Se o pointer nervoso
Do bando t'enxauga
A mansa perdiz
E tu, como paga
Num gesto bondoso
Fazendo-lhe festas, te sentes feliz



Se a costeleta
(Que cem escudos te custou)
À hora da merenda
Repartes como irmão
Roendo tu o osso
E dando a chicha ao cão
Fará a multidão pouco de ti
Apupado serás
E ainda alvo da inveja dos Reis
De que és Senhor,
Por seres simplesmente "caçador".»




José Alcântara, in ATC, Termas de Monfortinho, p’los idos de 60

OS CAMPOS DE CAÇA PELOS IDOS DE 60   (Quadro de J.P.L. )