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30.11.14

CASCAIS E A CANALHA NAPOLEÓNICA

( ... ) Em 30 de Novembro de 1807, à noite, entram na vila, famintos e em desordenada formação, 400 soldados franceses, comandados pelo general Maurin.
À invasão segue-se a pilhagem, o saque impiedoso.
       Dias depois, estabelecem-se em Cascais, onde se aboletaram já o almirante Cotton ( que para tal fim desembarcou neste porto ) e Junot, as primeiras conversações para a famigerada Convenção de Sintra.
      No palácio onde está instalada a Câmara Municipal, que então era de Dona Inês da Cunha e depois pertenceu aos Condes da Guarda, foram preparados os alojamentos  para o almirante inglês;
      No solar dos Falcões, hoje Estalagem D. Carlos, ficou hospedado o general Junot. (*1 )

( * 1 ) Monografia de Cascais



Invasões francesas






Para quando a reparação por 1807 ?

Neste ano em que se celebram os duzentos anos da primeira invasão francesa – foi aqui que o trono de Napoleão abriu as primeiras fissuras – importaria que o Estado português abrisse ou agendasse a discussão sobre o paradeiro de largos milhares de objectos – mobiliário, tapeçarias, pintura, ourivesaria, arte sacra, cartografia, manuscritos e impressos – que aqui foram pilhados pela soldadesca de Junot.

O trabalho não exige grande esforço, pois bastará compulsar um dos centos de volumes do inventário patrimonial francês, encomendado por Malraux enquanto ministro da cultura, para saber onde está – em que museus, galerias e instituições – esse fartote de vilanagem que foi o saque desapiedado aqui praticado pelos “libertadores”.


O tema apaixona museólogos, arqueólogos e historiadores da arte. Da Grécia, do Egipto, da Síria, Camboja, Guatemala, Perú e México chovem abaixo-assinados e pedidos sobre o Louvre, o British Museum e o Pergamon Museum exigindo a devolução de obras de arte subtraídas por caçadores de tesouros, militares, traficantes e marchands em toda a geografia colonial e militar de Oitocentos e Novecentos.

A posse de tesouros artísticos, a sua exibição e estudo exprime a independência, o orgulho e o direito à memória nacionais, pelo que o tema do património artístico e monumental constitui um adereço fundamental da política cultural dos Estados.

Sei que Portugal jamais o fará.

Somos demasiado obedientes, submissos e temerosos para arrostar tais perigos, mas num momento em que por todo o lado se começam a desenhar políticas de permuta e serena discussão sobre o direito à posse de tesouros roubados e desaparecidos no curso acidentado da história recente - quanto tesouro se encontra escondido nos mundos subterrâneos das colecções norte-americanas, russas, francesas e britânicas - não seria por demais colocar a questão ao governo francês.


Quadro de Francisco José de  Goya  " La Factoria Historica "



Goya eternizou esse momento terrível de violação da península pela canalha napoleónica – dizem os demógrafos que nos custou 10% de vidas – mas essa carnificina envolveu também uma mutilação tão ou mais grave que a hacatombe de 1755.

Aqueles bens foram roubados, embarcados e expedidos por um Estado que usou a força para os retirar do povo e da terra em que estes haviam sido criados.

Cumpre aos ofendidos e lesados o direito ao protesto e consequente pedido por depredações causadas por terceiros.

Para quando a reparação por 1807 ?

29.11.14

RAÚL BRANDÃO

Chove sempre.
 As árvores, despojadas de fruto, não podem com o peso da humidade; à volta os montes negros deram um passo e aproximaram-se maiores e mais espessos. Crepes no céu e gotas caindo num ruído de quem avança ao de leve. E cheiro, cheiro a terra aquecida e molhada, cheiro a folhas que fermentam pelo chão.
 Vêm aí as noites negras e aquela voz cavernosa que me faz encolher na enxerga: - o vento que clama às portas e dá o primeiro encontrão às vidraças.

   Não é ainda inverno, mas os melros já debicam a baga dos loureiros, e os estorninhos desgarrados puxam a azeitona às oliveiras.


   Logo depois das lufadas, dias parados e mornos com sol coado por névoas, todos brancos e meio adormecidos. O caseiro com o seu velho casaco de remendos apõe os bois para carregar um carro de mato.

 Assim que este fantasma branco se esvai, tornam os dias lípidos. E agora vereis ! A tília ergue-se
no azul toda de oiro, os choupos esguios estremecem, e a vinha esfarrapa-se cor de mosto entre as leirinhas viçosas e os montes roxos e pasmados. Está frio.

 Já apetece comer os gaipelos que ficaram esquecidos pelos podadores, transparentes, gelados e doces como mel. Passo horas extasiado na vinha com medo de me mexer, e todos os dias  pergunto : - É o último ? - o tempo está para morrer.

Às primeiras chuvas pesadas o doirado desaparece no negrume. tremo pela luz, pelo esplêndido Outono que está por um fio. E sinto tudo isto com delícia, como quem está para morrer... *

Raul Brandão. Memórias III

20.11.14

GUERRA JUNQUEIRO

  Li este texto  e  achei poder compartilhar com todos. 

 

 

Um retrato de Portugal feito por Guerra Junqueiro há 118 anos, mas duma actualidade aterradora*


   "Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta.

Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula,não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira à falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro.


Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País.
A justiça ao arbítrio da Política,torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas.
Dois partidos sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se malgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar."
 
 
* Guerra Junqueiro, 1896.


6.11.14

AVIÕES DESAPARECIDOS



   Mistérios no ar.

  Jactos comerciais desaparecidos

O desaparecimento do voo MH370, da Malaysia Airlines surpreendeu o mundo meses atrás. Como uma aeronave comercial moderna, um Boeing 777, pode simplesmente sumir do mapa, sem qualquer razão aparente? Foi um evento que muito especialistas julgavam impossível de ocorrer no mundo moderno, com tantos recursos tecnológicos, mas aconteceu.

 Até agora, ninguém sabe o que aconteceu realmente com o MH370,  e só existem especulações a respeito.
O PP-VLU, desaparecido em 1979
Desaparecimentos de aeronaves, no entanto, não são eventos tão incomuns assim.

 São comuns na aviação geral, e geralmente, e facilmente, são explicados por acidentes em locais remotos e inacessíveis. Na aviação comercial, são eventos raros, e muito misteriosos, já que a aviação comercial opera com normas muito mais rígidas que a aviação geral, que não deveriam deixar margem a esse tipo de ocorrência, mas o facto é que outros casos, além do voo MH370, já aconteceram.
O voo RG967, da empresa aérea brasileira Varig, em 1979, foi o desaparecimento mais intrigante até ao voo MH370.
 O voo RG 967 era um voo de carga, operado por uma aeronave Boeing 707-323C, matriculada PP-VLU.
 O PP-VLU era um Boeing 707 originalmente conversível carga /passageiros, fabricado em 1966 para a American Airlines e vendido para a Varig em 1974.

 Foi convertido para cargueiro puro na Varig, que desde 1974 estava substituindo os 707 de passageiros por aeronaves mais modernas, os McDonnell-Douglas DC-10.
O Boeing 707 PP-VLU
A linha aérea mais longa operada pela Varig, em 1979, ligava os aeroportos do Galeão, no Rio de Janeiro e Narita, no Japão, com uma única escala em Los Angeles. Essa linha operava aeronaves de passageiros, mistas ou de carga.
O voo RG967 era um voo puramente cargueiro. Sendo um voo longo,  o Boeing 707 tinha a bordo seis tripulantes, liderados pelo Comandante Master Gilberto Araújo da Silva.

 Gilberto era um dos mais conhecidos pilotos da aviação comercial brasileira, pois esteve envolvido no acidente do Varig 820, que sofreu um incêndio a bordo em 11 de julho de 1973, na França.

O Varig 820 fez uma aterragem de emergência, numa uma área rural perto do Aeroporto de Orly, em Paris. Infelizmente, 123 pessoas morreram nesse acidente, mas 11 sobreviveram, inclusive a maior parte da tripulação.
O acidente do Varig 820, em Paris
Os demais tripulantes escalados para o RG 967 eram: Cmte. Erny Peixoto Mylius, actuando como 1º Oficial, 2º Oficial Antônio Brasileiro da Silva Neto, 2º Oficial Evan Braga Saunders, Engenheiro de Voo José Severino Gusmão de Araújo e Engenheiro de Voo Nicola Exposito.

 Todos eram profissionais experientes. A tripulação deveria ser substituída por outra em Los Angeles, e o PP-VLU tinha como destino final o Aeroporto Internacional do Galeão, no Rio de Janeiro.
O voo RG967 descolou de Narita às 20h 23min, hora local, do dia 30 de Janeiro de 1979.  Vinte e dois minutos depois, o RG 967 fez contacto com o controle de tráfego aéreo, e a comunicação foi normal, nada indicando problemas a bordo.

 Um segundo contacto deveria ter sido feito uma hora após o voo, às 21h 23min local, mas tal contacto jamais foi feito.

Após repetidas tentativas de contacto, os órgãos de controle japoneses entraram em estado de alerta. O RG 967 não reportou qualquer anormalidade ou emergência, não pediu "Mayday", nada. Simplesmente desapareceu depois  da sua última comunicação, que foi totalmente normal.
As autoridades aeronáuticas japonesas logo iniciaram uma acção de busca e salvamento sobre a rota que deveria ser percorrida pelo RG 967.

 Entretanto, nada, absolutamente nada, foi encontrado. O RG 967 era operado por um Boeing 707, uma aeronave quadrimotor de grande porte, cheia de combustível e de carga, e mesmo que houvesse caído no mar, deixaria grandes destroços e combustível flutuando à superfície.

 Nenhum sinal foi observado, no entanto, até o abandono das buscas. O Boeing 707, com seus seis tripulantes e sua carga, simplesmente desapareceu.

Os tripulantes do RG967. O primeiro acima, da esquerda para a direita, é  o comandante Gilberto Araújo da Silva
O relatório final do acidente aponta causas desconhecidas para o acidente, em vista da ausência de qualquer evidência, pedido de emergência ou localização de destroços.

 Diversas teorias foram formuladas para o desaparecimento da aeronave, no entanto:
  •  A aeronave teria penetrado inadvertidamente no espaço aéreo soviético e teria sido abatida por caças, confundida com um avião militar americano EC-135, muito semelhante ao 707.
  •  
  •  Tal teoria é altamente improvável, pois os radares japoneses acompanharam o voo pelo radar numa rota Leste- Nordeste, que a deixaria muito afastada dos territórios soviéticos das ilhas Kurilas e de Sacalina.
  •  
  •  Em 1979, a Guerra Fria, aliás, estava em um período de distensão, e é pouco provável que os soviéticos tivessem tomado tal acção nessa época. Posteriormente, em 1983, um jacto comercial da Korean Airlines, um Boeing 747, foi realmente abatido sobre território soviético, o voo KAL007, mas a situação política já era bem diferente;
  •  
  • O voo teria sido sequestrado por ladrões de arte. Realmente, o voo levava, como carga, 153 quadros do artista nipo-brasileiro Manabu Mabe, que estavam numa exposição no Japão e que retornavam ao Brasil nesse voo.
  •  
  •  O que essa teoria não explica é: quem teria sequestrado o avião, se a aeronave não levava passageiros? Nenhum dos quadros que estavam a bordo jamais apareceu novamente em qualquer colecção;
  •  
  • O voo teria sofrido uma lenta despressurização, e a aeronave, com seus tripulantes adormecidos ou mortos, teria voado no piloto automático até acabar o combustível, e caído muito longe dos locais onde era procurada. Essa teoria é bastante plausível. 
  •  
  • Realmente, em 2005, uma aeronave Boeing 737-300 da Helios Airways, cumprindo o voo RCQ 522, sofreu uma despressurização lenta, resultado de uma acção equivocada dos mecânicos e de falhas da tripulação em reconhecer o problema.
  •  
  •  O alarme de pressurização foi confundido com um alarme de configuração, que não deveria ocorrer em voo, e foi descartado como alarme falso.
  •  
  •  A tripulação ficou adormecida em virtude da hipóxia, e o avião, voando no piloto automático, caiu quando acabou o combustível.
Existem algumas teorias de conspiração, como a presença, na carga, de uma aeronave russa de caça Mig 25, ou de alguns de seus componentes, mas tal aeronave tornou-se bem conhecida dos americanos desde a deserção de um piloto soviético no Japão, em 1973, e não houve outro evento semelhante depois disso.

 Os registos soviéticos não possuem qualquer referência à uma deserção de um piloto ou ao abate de uma aeronave invasora nessa época.

Notícia na Folha de São Paulo sobre o desaparecimento
Até hoje (Outubro de 2014), não existem mais notícias sobre o paradeiro do voo RG 967. E um mistério de 35 anos ainda não solucionado.

 O Comandante Gilberto foi um dos raríssimos pilotos envolvidos em mais de um acidente na aviação comercial.
Outro desaparecimento, ainda sem solução, ocorreu em Angola, em 2003.

 Um jacto comercial cargueiro Boeing 727-223, anteriormente operado pela American Airlines, desapareceu completamente após descolar clandestinamente do Aeroporto Internacional de Luanda.


O N844AA, quando ainda operando pela American Airlines, em 1989
O Boeing 727-223, pertencente à Aerospace Sales & Leasing, e matriculado N844AA, estava arrendado à TAAG - Linhas Aéreas de Angola, para transporte exclusivo de carga (óleo diesel em tambores), mas, por alguma razão, ficou parado por cerca de 14 meses no Aeroporto Internacional Quatro de Fevereiro, em Luanda, Angola, acumulando um considerável débito de tarifas aeroportuárias em atraso, mais de 4 milhões de dólares americanos.


O N844AA, na África, operando em pistas não pavimentadas

Pouco antes do por-do-sol do dia  25 de maio de 2003, o engenheiro de voo americano Ben Charles Padilla, acompanhado por um mecânico oriundo do Congo, contratado pela TAAG, entraram na aeronave.

 Os dois estiveram pesquisando planos de voo pré-elaborados junto à empresa, mas nenhum deles era piloto qualificado para o Boeing 727, que, aliás, exige uma tripulação de 3 pessoas.

 Ben Charles era piloto privado, mas só tinha voado o 727 como engenheiro de voo, tendo, portanto, um bom conhecimento da aeronave e de seus sistemas.


Em primeiro plano, o engenheiro de voo Ben Charles Padilla

O avião teve seus motores acionados, e pouco depois começou a movimentar-se, à revelia dos controladores e das autoridades aeroportuárias.

 Entrou na pista de  e descolou sem autorização, seguindo um rumo sudoeste, em direcção ao Oceano Atlântico. Os controladores tentaram entrar em contacto com a aeronave, mas não obtiveram resposta.

Com luzes e transponder desligados, o avião subiu, e jamais foi visto novamente, assim como seus dois tripulantes.

 Existem relatos, não confirmados, de que Padilla teria entrado sozinho no avião. Ele também nunca mais foi visto, e nunca mais entrou em contacto com seus amigos e familiares.

O presumível furto de um jacto comercial preocupou imediatamente o Departamento da Defesa Americano.

Menos de dois anos antes, os Estados Unidos tinham sofrido os ataques de 11 de Setembro de 2001, e a possibilidade de um jacto roubado ser utilizado em novos ataques era perfeitamente plausível.

 A despeito dos esforços dos americanos, a aeronave não pode ser localizada.


Por algum tempo, suspeitou-se que essa aeronave acidentada em Benin fosse o Boeing 727 furtado

Em Julho de 2003, uma aeronave parecida com a aeronave furtada, que ainda mantinha quase o esquema básico de pintura da American Airlines (faixas azuis em  fundo metálico), foi avistada em Conakri, Guiné,  com outro registro, 3X-GDO, e algumas pessoas dizem ter visto a matrícula N844AA bem apagada na traseira do avião.

 Todavia, o Departamento de Estado Americano pesquisou e concluiu que o 3X-GDO era, na verdade, outro 727 ex-American, antes matriculado N862AA.

 Essa aeronave acabou sendo destruída em um acidente em Benin (voo UTA 141), e no acidente, novamente a questão foi levantada, se o avião destruído seria o mesmo avião roubado em Luanda, mas novamente os americanos descartaram a hipótese.

O caso do N844AA permanece em aberto.

Sem dúvida, o desaparecimento mais sinistro já ocorrido ocorreu com o voo MH370, operado pela Malaysia Airlines.

 Envolveu uma aeronave muito moderna e segura, um Boeing 777-200, e, ao contrário dos dois outros aviões citados, estava lotado de passageiros, 227 ao todo, e mais 12 tripulantes.


O Boeing 777-200 da Malaysia desaparecido em Março de 2014

O desaparecimento do Malaysia 370 merece um artigo  exclusivo, no entanto, já que é uma história bastante complexa, mesmo estando longe, aparentemente, de uma solução final. Aguardem que logo publicaremos tal artigo.

Fonte das imagens e texto. Blogue « Cultura Aeronáutica ».

4.11.14

PONTE FERROVIÁRIA D. MARIA PIA

4 de Novembro de 1877. Inaugurada a Ponte Ferroviária D.Maria Pia, sobre o rio Douro, no Porto.

Porto. Rio Douro e Ponte D. Maria Pia

" A utilização do ferro fundido, a partir do último quartel do século XVIII, e do aço laminado que, em 1870, veio substituir o do ferro laminado (para além do próprio betão armado, já em período finissecular), possibilitou a edificação de um vasto conjunto de pontes absolutamente essencial à expansão das linhas de caminho-de-ferro em plena

Era Industrial, além de permitir uma maior criatividade aos seus projectistas, graças às características dos novos materiais utilizados, ultrapassando muitas das dificuldades impostas pela própria geografia do terreno.
Eram, na verdade, planos que se enquadrariam na perfeição no conceito generalizado de "Arquitectura do Ferro", então profusamente incrementado pela nova burguesia que lhe dera vida e sentido, bem como à própria sociabilidade de raízes liberais, substanciada nas múltiplas possibilidades económicas proporcionadas pelo vertiginoso desenvolvimento científico-teconológico.

 E apesar de ter sido a Inglaterra a presenciar as primeiras experiências neste domínio da engenharia, foi a ponte concebida por Gustave Eiffel (1832-1923) para Bordéus, em 1860, conhecida por La Passerelle, que acabou por servir de modelo a todas quantas foram doravante erguidas.

Um pouco à semelhança do que sucedeu noutros recantos europeus, a construção de pontes em Portugal acompanhou o próprio processo de abertura de novas estradas, no âmbito da política Fontista de meados de oitocentos, período geralmente conhecido por Regeneração.

E foi neste ambiente, que a primeira ponte metálica lançada em território nacional teve lugar na cidade do Porto, sobre o rio Douro, a conhecida "Ponte Pênsil", certamente graças à grande actividade comercial que caracterizava a urbe e à considerável comunidade de origem britânica que aí residia desde há longa data.

 Com efeito, mesmo que representasse um notório avanço, o prolongamento da linha do Norte até às Devezas, não parecia satisfazer em pleno os objectivos da cidade do Porto, uma vez que impelia à concentração da actividade comercial em Gaia, ao mesmo tempo que impedia a ligação tão esperada com as linhas férreas do Minho e do Douro, razões suficientes para que cedo se equacionou a possibilidade de inaugurar uma estação de caminho de ferro no Porto, à qual ficaria ligada a das Devezas por uma ponte lançada sobre o rio Douro.


Documento antigo que ilustra a construção da ponte D.Maria Pia

E é, precisamente, neste contexto que deveremos analisar a inauguração da ponte D. Maria Pia (1847-1911) a 4 de Novembro de 1877, com a presença do par real português.

O início da sua construção, nos primeiros dias do ano anterior, resultou de um longo processo de avaliação das propostas apresentadas ao concurso internacional entretanto aberto, com a selecção final do projecto delineado por Gustave Eiffel, com base em critérios estéticos, conceptuais e financeiros, e no qual assumiram um papel de relevo dois engenheiros portugueses, Manuel Afonso de Espregueira e Pedro Inácio Lopes.


Ponte D.Maria Pia no século XIX -XX

Com uma estrutura leve, a ponte inclui um arco biarticulado com um vão de cento e sessenta metros que, através de pilares em treliça, suporta o tabuleiro ferroviário de trezentos e cinquenta e quatro metros de comprimento colocado a cerca de sessenta e um metros acima do nível médio das águas."*
 
* Texto de A Martins "

Créditos da parte sublinhada com ( " ) do  texto. D.G.P.C. Direcção Geral do Património Cultural.

 Fotografias.  « Wikipédia », « Lugares da História » e « Agenda  Setting ». 


2.11.14

PRAGA DAS PALMEIRAS SEM CONTROL

Só faltava mais esta praga !

 

 É para mim muito triste olhar as autrora luxuriantes palmeiras da região. Muitas começam a apresentar sintomas preocupantes em tudo identificados com a praga causada pelo escaravelho, que aqui se refere.

 

 

 





 

Como ler uma caixa taxonómicaEscaravelho-vermelho
Classificação científica
Reino: Animalia
Filo: Arthropoda
Classe: Insecta
Ordem: Coleoptera
Família: Curculionidae
Género: Rhynchophorus
Espécie: R. ferrugineus

Nome binomial
Rhynchophorus ferrugineus
(Olivier, 1790

Sinónimos
Calandra ferruginea Fabricius, 1801 Curculio ferrugineus Olivier, 1790 Rhynchophorus signaticollis
Chevrolat, 1882

O escaravelho vermelho (Rhynchophorus ferrugineus) é um besouro. É relativamente grande, entre dois e cinco centímetros de comprimento, e tem uma cor vermelho-ferrugem.^

 Suas larvas escavam buracos de até um metro de comprimento no tronco das palmeiras, podendo matar a planta hospedeira. Como resultado, o besouro é uma importante praga das palmeiras - também é conhecido pelo nome de escaravelho das palmeiras - e seu controle tem se demonstrado bastante complicado.


Originária da Ásia tropical, o escaravelho vermelho se espalhou para a África e Europa, atingindo o Mediterrâneo em 1980.


 

Ciclo de vida

 

O escaravelho normalmente infeta palmeiras com menos de doze anos. O adulto pode causar alguns danos ao alimentar-se, no entanto, é a larva que, ao escavar túneis pelo tronco da palmeira, provoca a morte da planta. A fêmea adulta põe aproximadamente 200 ovos nas zonas de crescimento da coroa da palmeira, na base das folhas novas ou noutras zonas lesionadas da planta. O ovo incuba numa larva branca que se alimenta de fibras tenras e e rebentos de folhas, escavando túneis pelos tecidos internos da árvore durante um mês. As larvas podem ocasionalmente crescer entre 4 a 6 centímetros2 . Na metamorfose, a larva deixa a árvora e forma um casulo feito com fibras secas de folhas de palma na base da palmeira. O ciclo de vida completa-se em 7 a 10 semanas.

Sintomas de infestação

 

Os sinais de infestação pelo escaravelho vermelho são
  • Orifícios e galerias na base das folhas (eventualmente com larvas ou casulos);
  • Folículos das folhas novas cortadas em ângulo ou com pontas truncadas a direito
  • Amálgama de fibras cortadas e húmidas com mau cheiro
  • Folhas desprendidas e pendentes da coroa;
  • Coroa desguarnecida no topo ou achatada;
  •  
Os primeiros sinais de infestação são os orifícios no tronco e as folhas cortadas. Os sons das larvas a escavarem o tronco e a alimentarem-se pode-se ouvir quando se aproxima o ouvido do tronco da palmeira. Existem também equipamentos eletrónicos de amplificação sonora que são utilizados para inspecionar as árvores.
Numa fase seguinte, a coroa da palmeira perde o vigor, com as folhas mais novas a pender e a secar, ficando com forma achatada e cor castanha. Seguem-se as folhas da parte de baixo da coroa. Quando estes sintomas começam a ser visíveis, a palmeira já está infestada há algumas semanas e os seus tecidos vasculares internos já estão danificados, sendo já muito difícil recuperar a palmeira que, provavelmente, morrerá. Podem observar-se ainda infeções secundárias por bactérias e fungos oportunistas que, aproveitando as feridas causadas pelo escaravelho, aceleram o declínio. Uma Palmeira pode estar infectada também sem que quaisquer vestígios aparentes sejam visiveis, só com uma grande inspecção pormenorizada se pode eventualmente detectar a infestação.

Controlo

 

O principal método de controlo da praga é a aplicação sistemática de inseticidas em túneis escavados cerca de 5 cm acima das zonas infestadas do tronco. A praga pode ser monitorizada pela utilização de armadilhas com feromonas. Formas de controlo alternativo incluem descontaminação de zona e utilização maciça de armadilhas de feromonas e outros compostos químicos. Estão em desenvolvimento novas tecnologias, incluindo bio-inseticidas, para controlar esta forte praga das palmeiras.
Em Portugal, caso detecte algum sinal de infestação, contacte imediatamente a Direcção Geral de Agricultura e Pescas da sua região (ver contactos)
ou www.escaravelho.net

 Prevenção

  uma vez que o escaravelho prefere pôr ovos nos tecidos mais tenros da palmeira, evitar a existência de cortes e feridas no tronco pode ajudar a reduzir a infestação, pelo que se devem cobrir as feridas ou cortes com produtos apropriados para cicatrização e proteção. Também se deve evitar o transporte e movimentação de folhas ou restos de palmeiras infetadas, que devem ser eliminadas no local. O escaravelho entra também pelos orificios das palmas cortadas desde o chão até ao cume, o que só e apenas as injecções localizadas não surtem o efeito desejado.

Distribuição

Palmeiras afetadas

Areca catechu, Arenga pinnata, Borassus flabellifer, Caryota maxima, C. cumingii, Cocos nucifera (coqueiro), Corypha gebanga, C. elata, Elaeis guineensis, Livistona decipiens, Metroxylon sagu, Oreodoxa regia, Phoenix canariensis, P. dactylifera (tamareira), P. sylvestris, Sabal umbraculifera, Trachycarpus fortunei, Washingtonia spp.. Também pode afetar a Agave americana, and Saccharum officinarum.

Países afetados

 

Bangladesh, Bahrain, Brasil, Camboja, China, Índia, Indonésia, Japão, Kuwait, Laos, Malásia, Myanmar, Oman, Paquistão, Filipinas, Qatar, Arábia Saudita, Sri Lanka, Taiwan, Tailândia, Emirados Árabes Unidos, Vietname, Papua-Nova Guiné e Ilhas Salomão. Foi reportada mais recentemente na Eslovénia, França, Itália, Malta, Grécia, Espanha, Portugal, Turquia, Chipre, Síria, Marrocos, Aruba e Estados Unidos.

Em Portugal

 Os primeiros ataques de escaravelho vermelho foram detectados em setembro de 2007 em palmeiras emblemáticas no Algarve. Em 2011 a praga já tinha atingido Silves, Ferreira do Alentejo, Porto Covo, Setúbal, Cascais, Oeiras, Lisboa, Montemor-o-Novo e Porto.