"Um
povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e
sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de
vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a
energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as
moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde
vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro,
porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como
que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio
escuro de lagoa morta.
Uma burguesia, cívica e politicamente
corrupta até à medula,não descriminando já o bem do mal, sem palavras,
sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima,
descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de
toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira à falsificação, da violência
ao roubo, donde provém que na política portuguesa sucedam, entre a
indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no
Limoeiro.
Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo;
este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto
pela abdicação unânime do País.
A justiça ao arbítrio da Política,torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas.
Dois
partidos sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, vivendo
ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras,
idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo
zero, e não se malgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém
deu no parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de
jantar." * Guerra Junqueiro, 1896.
Guerra Junqueiro
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Abílio Manuel Guerra Junqueiro GCSE (
Freixo de Espada à Cinta,
Ligares,
15 de setembro de
1850 —
Lisboa,
7 de julho de
1923) foi alto funcionário administrativo, político,
deputado,
jornalista,
escritor e
poeta português.
[1]
Foi o poeta mais popular da sua época e o mais típico representante da
chamada "Escola Nova". Poeta panfletário, a sua poesia ajudou a criar o
ambiente revolucionário que conduziu à implantação da República.
[2]
Foi entre 1911 e 1914 o embaixador de Portugal na Suíça (o título era
"ministro de Portugal na Suíça"). Guerra Junqueiro formou-se em
direito na
Universidade de Coimbra.
Biografia
Nasceu em
Ligares, freguesia do concelho de
Freixo de Espada à Cinta a
15 de setembro de
1850,
filho do negociante e lavrador abastado José António Junqueiro Júnior e
de sua mulher Ana Maria do Sacramento Guerra. A mãe faleceu quando
Guerra Junqueiro contava apenas 3 anos de idade.
[1]
Estudou os preparatórios em
Bragança, matriculando-se em
1866 no curso de Teologia da
Universidade de Coimbra.
Compreendendo que não tinha vocação para a vida religiosa, dois anos
depois transferiu-se para o curso de Direito. Terminou o curso em
1873.
Entrando no funcionalismo público da época, foi secretário-geral do
Governador Civil dos
distritos de
Angra do Heroísmo e de
Viana do Castelo.
Em 1878, foi eleito
deputado pelo círculo eleitoral de
Macedo de Cavaleiros.
A 12 de fevereiro de 1920, foi agraciado com o grau de Grã-Cruz da
Antiga, Nobilíssima e Esclarecida Ordem Militar de Sant'Iago da Espada, do Mérito Científico, Literário e Artístico.
[3]
Obra literária
Guerra Junqueiro iniciou a sua carreira literária de maneira promissora em
Coimbra no jornal literário
A Folha[4], dirigido pelo poeta
João Penha,
do qual mais tarde foi redator. Aqui cria relações de amizade com
alguns dos melhores escritores e poetas do seu tempo, grupo geralmente
conhecido por
Geração de 70.
[2]
Guerra Junqueiro desde muito novo começou a manifestar notável
talento poético, e já em 1868 o seu nome era incluído entre os dos mais
esperançosos da nova geração de poetas portugueses. No mesmo ano, no
opúsculo intitulado "O Aristarco português", apreciando-se o livro
"Vozes sem eco", publicado em Coimbra em 1867 por Guerra Junqueiro, já
se prognostica um futuro auspicioso ao seu autor.
Lista de Obras
-
- Viagem À Roda Da Parvónia
-
- A Morte De D. João (1874)
-
- Contos para a Infância (1875) (eBook)
-
- A Musa Em Férias (1879)
-
- A velhice do padre eterno (1885) (eBook)
-
- Finis Patriae (1890)
-
- Os Simples (1892) (eBook)
-
- Oração Ao Pão (1903)
-
- Oração À Luz (1904)
-
- Gritos da Alma (1912)
-
- Pátria (1915) (eBook)
-
- Poesias Dispersas (1920)
-
- Duas Paginas Dos Quatorze Annos (eBook)
-
- O Melro (eBook)
No
Porto, na mesma data,
aparecia outra obra, "Baptismo de amor", acompanhada dum preâmbulo escrito por
Camilo Castelo Branco; em Coimbra publicara Guerra Junqueiro a "Lira dos catorze anos", volume de poesias; e em
1867 o poemeto "Mysticae nuptiae"; no Porto a casa Chardron editara-lhe em
1870 a "Vitória da França", que depois reeditou em
Coimbra em
1873.
[1]
Em 1873, sendo proclamada a República em Espanha, escreveu ainda nesse ano o veemente poemeto
"À Espanha livre".
Em 1874 apareceu o poema "A morte de D. João", edição feita pela casa Moré, do Porto, obra que alcançou grande sucesso.
Camilo Castelo Branco consagrou-lhe um artigo nas Noites de insónia, e
Oliveira Martins, na revista "Artes e Letras".
Indo residir para
Lisboa foi colaborador em prosa e em verso, de jornais políticos e artísticos, como
A Lanterna Mágica[5] [6] e
O António Maria[7] (1879-1885;1891-1898), com a colaboração de desenhos de
Rafael Bordalo Pinheiro[1].
Em 1875 escreveu o "Crime", poemeto a propósito do assassínio do
alferes Palma de Brito;
a poesia "Aos Veteranos da Liberdade"; e o
volume de "Contos para a infância".
No "Diário de Notícias" também
publicou o poemeto
Fiel e o conto
Na Feira da Ladra.
Em 1878 publicou em Lisboa o poemeto
Tragédia infantil.
Colaborou em diversas publicações periódicas, nomeadamente:
Atlantida[8] (1915-1920)
,
Branco e Negro [9] (1896-1898),
Brasil Portugal [10] [11] [12] (1899-1914),
A Crónica [13],
Ilustração [14] [15] (1884-1892),
A Illustração Portugueza [16] [17] [18] (1884-1890),
Ilustração Universal [19] (1884-1885),
A Imprensa [20] [21] [22] (1885-1891),
Jornal do domingo (1881-1888),
A Leitura [23] (1894-1896),
Luz e Vida [24] (1905),
A Mulher [25] [26] (1879)
,
O Occidente [27] [28] (1878-1915)
,
Renascença [29] [30] (1878-1879?),
O Pantheon [31] (1880-1881),
A Republica Portugueza [32] (1910-1911),
Ribaltas e Gambiarras [33] (1881),
Serões (1901-1911),
Azulejos [34] [35] (1907-1909),
na
Revista de turismo [36] iniciada em 1916 e no periódico
O Azeitonense [37] (1919-1920).
Uma grande parte das composições poéticas de Guerra Junqueiro está reunida no volume que tem por título
A musa em férias, publicado em 1879.
Neste ano também saiu o poemeto
O Melro, que depois foi incluído na
Velhice do Padre Eterno, edição de 1885. Publicou
Idílios e Sátiras, e traduziu e colecionou um volume de contos de
Hans Christian Andersen e outros.
[2]
Após uma estada em Paris, aparentemente para tratamento de doença digestiva contraída durante a sua estada nos
Açores, publicou em
1885 no Porto
A velhice do Padre Eterno, obra que provocou acerbas réplicas por parte da opinião clerical, representada na imprensa, entre outros, pelo cónego
José Joaquim de Sena Freitas.
Polémico no que diz respeito à religião, outros escritos de cariz
anticlerical da sua autoria foram encontrados em publicações periódicas
como
A Lucta [38] e
A Luz [39] [40] [41] [42] [43] [44] (1919-1921).
Quando se deu o conflito com a
Inglaterra sobre o "
mapa cor-de-rosa", que culminou com o
ultimato britânico de
11 de janeiro de
1890, Guerra Junqueiro interessou-se profundamente por esta crise nacional, e escreveu o opúsculo
Finis Patriae, e a
Canção do Ódio, para a qual
Miguel Ângelo Pereira escreveu a música. Posteriormente publicou o poema
Pátria.
Estas composições tiveram uma imensa repercussão, contribuindo poderosamente para o descrédito das instituições monárquicas.
[2]
Cronologia
- 1850: Nasce no lugar de Ligares, Freixo de Espada à Cinta;
- 1864: «Duas páginas dos quatorze anos»;
- 1866: Frequenta o curso de Teologia na Universidade de Coimbra;
- 1867: «Vozes Sem Eco»;
- 1868: «Baptismo de Amor». Matricula-se na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra;
- 1873: «Espanha Livre». Colaboração de Guerra Junqueiro em «A Folha» de João Penha. É bacharel em Direito;
- 1874: «A Morte de D. João»;
- 1875: Primeiro número de «A Lanterna Mágica» em que colabora;
- 1878: É nomeado Secretário Geral do Governo Civil em Angra do Heroísmo;
- 1879: «A Musa em Férias» e «O Melro». Adere ao Partido Progressista. É transferido de Angra do Heroísmo para Viana do Castelo e eleito para a Câmara dos Deputados;
- 1880: Casa a 10 de fevereiro com Filomena Augusta da Silva Neves. A 11 de novembro nasce a filha Maria Isabel;
- 1881: Nasce a filha Júlia. Interditada por demência vem a ser internada no Porto;
- 1885: «A Velhice do Padre Eterno». Criação do movimento «Vida Nova» do qual Guerra Junqueiro é simpatizante;
- 1887: Segunda viagem de Guerra Junqueiro a Paris;
- 1888: Constitui-se o grupo «Vencidos da Vida». «A Legítima»;
- 1889: Falece a sua esposa, Filomena Augusta Neves, facto que lamentará até ao fim dos seus dias.
- 1890: «Finis Patriae». Guerra Junqueiro é eleito deputado pelo círculo de Quelimane;
- 1895: Vende a maior parte das coleções artísticas que acumulara;
- 1896: «A Pátria». Parte para Paris;
- 1902: «Oração ao Pão»;
- 1903: Reside em Vila do Conde;
- 1904: «Oração à Luz»;
- 1905: Visita a Academia Politécnica do Porto e instala-se nesta cidade;
- 1908: É candidato do Partido Republicano pelo Porto;
- 1910: É nomeado Enviado Extraordinário e Ministro Plenipotenciário da República Portuguesa junto da Confederação Suíça, em Berna;
- 1911: Homenagem a Guerra Junqueiro no Porto;
- 1914: Exonera-se das funções de Ministro Plenipotenciário;
- 1920: «Prosas Dispersas»;
- 1923: Morre a 7 de julho em Lisboa.
- 1966: O seu corpo é solenemente trasladado para o Panteão Nacional
da Igreja de Santa Engrácia, em Lisboa, numa cerimónia ocorrida para
homenagear também outras ilustres figuras portuguesas entre os dias 1 e 5
de dezembro. Antes disso, encontrava-se no Mosteiro dos Jerónimos.
Referências
Ver também
Ligações externas
«Abílio Manuel Guerra Junqueiro». Brasil Escola. Consultado em 7 de julho de 2012
«Abílio Manuel Guerra Junqueiro». dec.ufcg.edu.br. Consultado em 7 de julho de 2012. Arquivado do original em 18 de outubro de 2012
«Cidadãos Nacionais Agraciados com Ordens Portuguesas». Resultado da busca de "Guerra Junqueiro". Presidência da República Portuguesa. Consultado em 19 de julho de 2019
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