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11.12.13

LUSÓFONIA





HOJE NÃO SE FALA PORTUGUÊS. LINGUAREJA-SE




Desde que os americanos se lembraram de começar a chamar aos pretos 'afro-americanos', com vista a acabar com as raças por via gramatical, isto tem sido um fartote pegado!
 
 As criadas dos anos 70 passaram a 'empregadas domésticas' e preparam-se agora para receber a menção de 'auxiliares de apoio doméstico'.
 
 De igual modo, extinguiram-se nas escolas os "contínuos"que passaram todos a "auxiliares da acção educativa" e agora são 'assistentes operacionais'.
 
Os vendedores de medicamentos, com alguma prosápia, tratam-se por "delegados de informação médica".
 
E pelo mesmo processo transmudaram-se os caixeiros-viajantes em 'técnicos de vendas'.
 
O aborto eufemizou-se em "interrupção voluntária da gravidez";
 
Os "gangs étnicos" são "grupos de jovens"   (criminosos).
 
Os "operários" fizeram-se de repente "colaboradores";
 
As fábricas, essas, vistas de dentro são "unidades produtivas" e vistas da estranja são "centros de decisão nacionais".
 
O analfabetismo desapareceu da crosta portuguesa, cedendo o passo à "iliteracia" galopante.
 
 Desapareceram dos comboios as 1.ª e 2.ª classes, para não ferir a susceptibilidade social das massas hierarquizadas, mas por imperscrutáveis necessidades de tesouraria continuam a cobrar-se preços distintos nas classes "Conforto" e "Turística".
 
A Ágata, rainha do pimba, cantava chorosa: «Sou mãe solteira...»; agora, se quiser acompanhar os novos tempos, deve alterar a letra da pungente melodia: «Tenho uma família monoparental...» - eis o novo verso da cançoneta, se quiser fazer jus à modernidade impante.
 
Aquietadas pela televisão, já se não vêem por aí aos pinotes crianças irrequietas e «terroristas»; diz-se modernamente que têm um "comportamento disfuncional hiperactivo".
 
  Do mesmo modo, e para felicidade dos 'encarregados de educação', os brilhantes programas escolares extinguiram os alunos cábulas; tais estudantes serão, quando muito, "crianças de desenvolvimento instável".
 
Ainda há cegos, infelizmente. Mas como a palavra fosse considerada desagradável e até aviltante, quem não vê é considerado "invisual". (O termo é gramaticalmente impróprio, como impróprio seria chamar inauditivos aos surdos - mas o "politicamente correcto" marimba-se para as regras gramaticais...)
 
 
As putas passaram a ser 'senhoras de alterne'.
 
Para compor o ramalhete e se darem ares, as gentes cultas da praça desbocam-se em "implementações", "posturas pró-activas", "políticas fracturantes" e outros barbarismos da linguagem.
 E assim linguajamos o Português, vagueando perdidos entre a «correcção política» e o novo-riquismo linguístico.
Estamos "tramados" com este "novo português"; não admira que o pessoal tenha cada vez mais esgotamentos e stress. Já não se diz o que se pensa, tem de se pensar o que se diz de forma "politicamente correcta".

 
 Texto de: Helena Sacadura Cabral