" Conjectura-se que grande devia ser a dissolução dos costumes, pelos actos de severa justiça praticados por D. Pedro I.
Foi ele dos Reis de Portugal , o primeiro que tomou o encargo de ser pai dos seus vassalos.
Tinha sofrido muito: A tragédia dos seus amores, que teve por último acto o bárbaro assassínio de Inês de Castro, lavraram-lhe fundo na alma o ódio das injustiças e uma sede insaciável de vinganças contra todas as prepotências.
Reservava a si com amor o encargo de julgar todos os delitos. Mandava trazer à corte os criminosos de qualquer ponto do País onde fossem agarrados.
Vê-los presos e algemados na sua presença era para ele um prazer intenso que saboreava com delícias.
Torturá-los, martirizá-los, fazer-lhes sofrer as mais duras provas era ocupação que antepunha a qualquer outra.
Levantava-se da mesa, mal lhe traziam a notícia da chegada de algum grande criminoso, e passava logo sumariamente à execução.
Da cintura pendia-lhe sempre o látego com que retalhava o corpo dos criminosos.
Castigava rigorosa e severamente todos os crimes, mas os de sensualidade eram para ele um pratinho de grande mimo e inventava para os pobres criminosos requintes de ferocidade que espantaram os seus contemporâneos.
D. PEDRO I EM CASCAIS ( Foto de J.P.L. Ano 2013 ) |
Ai dos adúlteros que lhe caiam nas mãos ! Era implacável para com eles.
O seu escudeiro Afonso Madeira, dextro nos jogos da época e distinto pelas mais apreciáveis qualidades, era-lhe muito querido e merecera-lhe sempre uma predilecção muito especial.
O pobre rapaz teve porém a desventura de se enamorar dos encantos de Catarina Tosse, mulher casada, que se lhe entregou, rendida de paixão; e o Rei, apenas soube do adultério, pôs de parte a afeição para só respirar justiça vingadora:
Afonso Madeira foi castrado e morreu em consequência deste bárbaro suplício ou talvez pelo desgosto que a vida lhe causava depois de ter sofrido tão dura perda, de sua natural door - diz o cronista.
Chegaram um dia aos ouvidos do Rei os galanteios de certa esposa desleal a seu marido.
Justiça sumária: a pobre mulher foi queimada.
O marido, que sabia das fraquezas da esposa e as suportava filosoficamente, recebeu depois deste suplício um recado do monarca, dizendo que não se afligisse por aquela perda, pois até lhe devia dar alvíssaras por ter vingado a sua honra ofendida. ( ... ) 1
SÓ A CAÇA LHE SERVIA DE DISTRACÇÃO, MAS, EMBORA NESSE EXERCÍCIO SE MOSTRASSE FOLGAZÃO E AFÁVEL, O SEMBLANTE EM BREVE SE ENUBLAVA, AO RECEBER QUEIXA DE QUALQUER AGRAVO.
OUVIA QUANTOS SE APROXIMAVAM E A SUA JUSTIÇA ERA SEMPRE PRONTA E RIGOROSA.
ERA IGUAL NA APLICAÇÃO DOS CASTIGOS, QUER O CULPADO FOSSE PLEBEU, OU FIDALGO, OU CLÉRICO. OS RICOS - HOMENS QUE PERDIAM A REPUTAÇÃO DAS DONZELAS ERAM TÃO SEVERAMENTE PUNIDOS COMO O ÚLTIMO DOS SEUS VASSALOS QUE TAL FIZESSE.
JUSTIÇA PARA TODOS !
MOSTREM E DECLAREM AQUELLO EM QUE LHES VAM CONTRA SEUS FOROS, GRAÇAS E MERCEES QUE HAM E QUE LHAS FAREMOS GUARDAR " ( ... ) 2
( ... ) O TEMPO ERA BÁRBARO E OS COSTUMES CORRUPTOS, BÁRBARO E IMPLACÁVEL DEVIA SER A JUSTIÇA.
ASSIM O ENTENDIA D. PEDRO, E ASSIM O PRATICAVA.
O INCESTO, O ADULTÉRIO E O ESTRUPO ERAM FREQUENTES.
O CLERO E OS FIDALGOS REFOCILAVAM-SE À VONTADE SOBRE O CORPO INERME DO POBRE POVO INDEFESO.
DURA E ENÉRGICA HAVIA DE SER A JUSTIÇA DO REI QUANDO O MONARCA, FAZENDO-SE O VERDADEIRO PAI PROTECTOR DOS SEUS VASSALOS, SE MOSTRAVA DISPOSTO A NÃO TOLERAR ABUSOS NEM VEXAMES.
" TAIS DEZ ANOS NUNCA HOUVE EM PORTUGAL !
COMO ESTES EM QUE REINARA D. PEDRO ! "
EXCLAMA O VELHO HISTORIADOR FERNÃO LOPES NA CRÓNICA DO MONARCA ; E O POVO, AO COMEMORAR COM LÁGRIMAS SAUDOSAS A MORTE DO REI AMIGO E PAI, EXCLAMAVA TAMBÉM QUE :
" MONARCAS ASSIM OU NUNCA DEVIAM NASCER OU NUNCA DEVIAM MORRER " ( ... ) 3
3 ) . Texto extraído do livro " Os bons velhos tempos da prostituição em Portugal "
Antologia de histórias e documentos colhidos na HISTÓRIA DA PROSTITUIÇÃO EM PORTUGAL de Alfredo Amorim pessoa ( 1887 ) realização e anotações de Manuel João Gomes ( 1976 )
Nota pessoal - Significam estes asteriscos que; 1 (...) e ( ... ) Tive de omitir várias passagens por serem muito extensas e variados os relatos, mas não menos interessantes na sua leitura.
Ano de 1355. Fizeram ontem seiscentos e cinquenta e sete anos que morreu em Coimbra Inês de Castro ( n.c. 1320 ), mulher do infante D. Pedro ( depois Rei de Portugal ), executada por ordem do sogro, D. Afonso IV.
Pedro I de Portugal
Nota: Não confundir com Dom Pedro I.
D. Pedro I | |
---|---|
Cru, Cruel, ou Justiceiro | |
Rei de Portugal e Algarve | |
Reinado | 28 de maio de 1357 a 18 de janeiro de 1367 |
Antecessor(a) | Afonso IV |
Sucessor(a) | Fernando I |
Cônjuge | Constança Manuel Inês de Castro |
Descendência | Maria, Princesa de Aragão Fernando I de Portugal João, Duque de Valência de Campos Dinis, Senhor de Cifuentes Beatriz, Condessa de Albuquerque João I de Portugal |
Casa | Borgonha |
Nome completo | Pedro Afonso |
Nascimento | 8 de abril de 1320 |
Coimbra, Portugal | |
Morte | 18 de janeiro de 1367 (46 anos) |
Estremoz, Portugal | |
Enterro | Mosteiro de Alcobaça, Alcobaça, Portugal |
Pai | Afonso IV de Portugal |
Mãe | Beatriz de Castela |
Religião | Catolicismo |
Ficou conhecido pela atenção dada à justiça e pelo desvario por Inês de Castro.
Vida
Dos seus primeiros anos de vida, pouco se sabe.
Conhecem-se, todavia, através de fontes escritas, a sua ama, D. Leonor; o aio e mordomo-mor Lopo Fernandes Pacheco; o guarda, Domingos Anes; o reposteiro-mor, Gonçalo Lobato; e os reposteiros, Afonso Domingues e Afonso Esteves. É também sabido que, por volta dos seus quinze anos, em 1335, já tinha casa.
Os cronistas fazem menção a um defeito de gaguez[2] e ainda, no foro psíquico, "paixões exaltadas e violentas, cóleras explosivas, perversões várias"; é igualmente caracterizado como um amante da festa e da música, cantando e dançando por Lisboa ao som de "longas" com os populares.[1]
D. Pedro é conhecido pela sua relação com Inês de Castro, a aia galega da sua mulher Constança Manuel. O rei Afonso IV temia a influência da família Castro à qual pertencia a amante de Pedro.
Inês acabou assassinada por ordens do rei a 7 de Janeiro de 1355, mas isto não trouxe Pedro de volta à influência paterna.[3] Contrariamente, durante alguns meses, Pedro revoltou-se contra o pai; apoiado pela nobreza de Entre Douro e Minho e pelos irmãos de Inês. A paz veio por vontade declarada do povo e perdoaram-se mútuas ofensas.[3]
Acerca do temperamento deste soberano, o cronista Fernão Lopes dedicou um capítulo que intitulou "Como El-Rei mandou capar um seu escudeiro porque dormia com uma mulher casada", permitindo entrever que o gesto teria sido motivado por ciúmes do monarca por seu escudeiro, de nome Afonso Madeira.
Madeira é descrito como um grande cavalgador, caçador, lutador e ágil acrobata, e regista:
"Pelas suas qualidades, El-Rei amava-o muito e fazia-lhe generosas mercês."
O escudeiro, entretanto, apaixonou-se por Catarina Tosse, esposa do Corregedor, descrita como "briosa, louçã e muito elegante, de graciosas prendas e boa sociedade".
Para se aproximar dela, Madeira fez-se amigo do Corregedor, seduzindo-a e consumando a traição.[4]
O soberano, entretanto, tudo descobriu e não perdoou Madeira, castigando-o brutalmente.
O cronista insiste no afeto do soberano, referindo enigmaticamente:
"Como quer que o Rei muito amasse o escudeiro, mais do que se deve aqui dizer (...)", mas regista que D. Pedro mandou "cortar-lhe aqueles membros que os homens em maior apreço têm".
O escudeiro recebeu assistência e sobreviveu, mas "engrossou nas pernas e no corpo e viveu alguns anos com o rosto engelhado e sem barba".[5]
Casamento
Esteve para casar com Branca de Castela, em 1329, mas dada a sua debilidade e sua incapacidade, o casamento não se chegou a realizar.[6][7](chegou sim)Mais tarde, em 1339 tratou-se do casamento com Constança Manuel, filha de nobre família castelhana. A recusa do rei de Castela, primo de Pedro em deixar a noiva sair, desencadeou um conflito entre Afonso IV e o sobrinho e genro: Afonso XI de Castela.
Após uma ameaça de invasão moura, os reis fazem as pazes e reúnem-se para lutar contra o invasor na batalha do Salado.
Reinado
Aclamado rei em 1357, Pedro anunciou em Cantanhede, em junho de 1360, o casamento com Inês, realizado em segredo antes da sua morte,[3] sendo sua intenção a ver lembrada como Rainha de Portugal.A promessa de perdão aos responsáveis pela morte de Inês foi esquecida;[3] este facto baseia-se apenas na palavra do rei, uma vez que não existem registos de tal união.
Dois assassinos de Inês foram capturados e executados (Pêro Coelho e Álvaro Gonçalves) com uma brutalidade tal (a um foi arrancado o coração pelo peito, e a outro pelas costas),[8] que lhe valeram os epítetos supra mencionados.
Conta também a tradição que Pedro teria feito desenterrar o corpo da amada, coroando-a como Rainha de Portugal, e obrigando os nobres a procederem à cerimónia do beija-mão real ao cadáver,[3] sob pena de morte.
Em seguida ordenou a execução de dois túmulos (verdadeiras obras-primas da escultura gótica em Portugal), os quais foram colocados no transepto da igreja do Mosteiro de Alcobaça, para que, no dia do Juízo Final, os eternos amantes, então ressuscitados, de imediato se vejam.
O corpo de Inês foi transladado, num cortejo digno de rainha.[3] Foi este facto que contribuiu para a lenda de que depois de morta foi rainha, de origem erudita, passando para a camada popular.[3]
Aplicava a justiça com brutalidade, de forma «democrática», punindo exemplarmente sem olhar a quem.[9]
Para não atrasar a aplicação das sentenças, puniu com pena de morte a prática da advocacia, isto levou a protestos nas cortes de 1361.[10]
Pouco fez para refrear o poder da nobreza, mas esta temia o rei.[11]
Na política externa, Pedro ajudou seu sobrinho, Pedro, o rei de Castela, na guerra contra o meio-irmão.[12]
A sua relação com o clero foi algo conflituosa, em relação à nobreza foi magnânimo.[11]
Deu o título de conde de Barcelos a João Afonso Telo com direito hereditário e deu terras aos filhos de Inês. A Ordem de Avis entregou-a a seu filho, João, futuro rei. Dava início à nacionalização das Ordens Militares.[12]
A forma como exerceu a justiça, parece-nos hoje cruel, mas era costume naqueles tempos difíceis.
Diz-se que mandou servir um banquete enquanto assistia à execução de Pêro Coelho e Álvaro Gonçalves.
Gostava mais de ser algoz de que juiz, como atestam algumas sentenças que proferiu.[9]
Perto do fim de vida, perdoou Diogo Lopes Pacheco, um dos três responsáveis pela morte de Inês que conseguiu escapar.[13]
D. Pedro reinou durante dez anos, sendo tão popular ao ponto de Fernão Lopes escrever "que taes dez annos nunca houve em Portugal como estes que reinara el Rei Dom Pedro".[13]
O seu reinado foi o único no século XIV sem guerra e marcado com prosperidade financeira,[12] daí ficar na memória como um bom reinado. Para Fernão Lopes foi o avô da dinastia de Avis.[12]
Jaz no Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça.
Títulos, estilos, e honrarias
Estilo de tratamento de Pedro I de Portugal | |
Estilo | Sua Mercê |
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Tratamento direto | Vossa Mercê |
Estilo alternativo | Senhor |
Ver artigo principal: Lista de títulos e honrarias da Coroa Portuguesa
Títulos e estilos
- 8 de Abril de 1320 – 28 de Maio de 1357: "o Infante Pedro de Portugal"
- 28 de Maio de 1357 – 18 de Janeiro de 1367: "Sua Mercê, o Rei"
Descendência
Descendência
Seu primeiro casamento foi com Constança Manuel, filha de D. João Manuel de Castela, de quem teve:- D. Luís, infante de Portugal (1340);
- D. Maria, infanta de Portugal (1342-137?), casada com D. Fernando, príncipe de Aragão;
- D. Fernando, rei de Portugal (1345-1383).
- D. Afonso, infante de Portugal (1346);
- D. Beatriz, infanta de Portugal (1347-1381);
- D. João, infante de Portugal (1349-1387);
- D. Dinis, infante de Portugal (1354-1397).
- D. João I, (1357-1433), rei de Portugal (1385-1433).
Ascendência
[Expandir]Ancestrais de Pedro I de Portugal |
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Ver também
- Árvore genealógica dos reis de Portugal
- Beneplácito Régio
- Ordem de Avis
- Inês de Castro
- Túmulos de D. Pedro I e de Inês de Castro
- Crónica de D. Pedro de Fernão Lopes
Referências
- Crónica de D. Pedro de Fernão Lopes, cap. XLIV
Bibliografia
- Azevedo Santos, Maria José (2009). D. Pedro I. O Justiceiro. Col: Reis de Portugal 1.ª ed. Lisboa: Quidnovi. ISBN 978-989-554-583-4
- Caetano de Souza, Antonio (1735). Historia Genealógica de la Real Casa Portuguesa (PDF). I, Livros I e II. Lisboa: Lisboa Occidental, na oficina de Joseph Antonio da Sylva. ISBN 978-84-8109-908-9
- Rodrigues Oliveira, Ana (2010). Rainhas medievais de Portugal. Dezassete mulheres, duas dinastias, quatro séculos de História. Lisboa: A esfera dos livros. ISBN 978-989-626-261-7
- Mattoso, José (1993). História de Portugal, A Monarquia Feudal, Segundo Volume. [S.l.]: Círculo de Leitores. ISBN 972-42-0636-X
- Saraiva, José (1993). História de Portugal. Mem Martins: Publicações Europa-América
Ligações externas
- Chronica del Rey D. Pedro I deste nome, e dos reys de Portugal o oitavo cognominado o Justiceiro na forma em que a escereveo Fernão Lopes, Fernão Lopes (1380-1460), Lisboa Occidental, 1735, na Biblioteca Nacional Digital (em português)
- Chronica de el-rei D. Pedro I, Fernão Lopes (1380-1459), no site Project Gutenberg (em português)
Pedro I de Portugal Casa de Borgonha Ramo da Casa de Capeto 8 de abril de 1320 – 18 de janeiro de 1367 | ||
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Precedido por Afonso IV |
Rei de Portugal e Algarve 28 de maio de 1357 – 18 de janeiro de 1367 |
Sucedido por Fernando I |