Só para se pensar um pouco...
O General Pires Veloso, um dos protagonistas do 25 de Novembro de 1975 que naquela década ficou conhecido como "vice-rei do Norte", defende um novo 25 de Abril, de raiz popular, para acabar com "a mentira e o roubo institucionalizados".
"Vejo a situação atual com muita apreensão e muita tristeza. Porque sinto que temos uma mentira institucionalizada no país.
Não há verdade. Fale-se verdade e o país será diferente. Isto é gravíssimo", disse hoje (10/08/2012), em entrevista à Lusa.
Para
o general, que enquanto governador militar do Norte foi um dos
principais intervenientes no contra-golpe militar de 25 de Novembro que
pôs fim ao "Verão Quente" de 1975, "dá a impressão de que seria preciso
outro 25 de Abril em todos os termos, para corrigir e repor a verdade no
sistema e na sociedade".
Pires
Veloso, 85 anos, considera que não poderão ser as forças militares a
promover um novo 25 de Abril: "Não me parece que se queiram meter nisto.
Não estão com a força anímica que tinham antigamente, aquela alma que reagia quando a pátria está em perigo".
"Para
mim, o povo é que tem a força toda.
Agora é uma questão de congregação, de coordenação, e pode ser que alguém surja" a liderar o processo. Inversão de valores
E
agora que "o povo já não aguenta mais e não tem mais paciência, é capaz
de entrar numa espiral de violência nas ruas, que é de acautelar",
alertou, esperando que caso isso aconteça não seja com uma revolução,
mas sim com "uma imposição moral que leve os políticos a terem juízo".
Como
solução para evitar que as coisas se compliquem, Pires Veloso defendeu
uma cultura de valores e de ética.
"Há uma inversão que não compreendo desses valores e dessa ética. Não aceito a atuação de dirigentes como, por exemplo, o Presidente da República, que já há pelo menos dois anos, como economista, tinha obrigação de saber em que estado estava o país, as finanças e a economia. Tinha obrigação moral e não só de dizer ao país em que estado estavam as coisas", defendeu. Pires Veloso lamentou a existência de "um gangue que tomou conta do país. Tire-se o gangue, tendo-se juízo, pensando no que pode acontecer.
E ponha-se os mais ricos a contribuir para acabar a crise. Porque neste momento não se vai aos mais poderosos".
O
general deu como exemplo o salário do administrador executivo da
Eletricidade de Portugal (EDP) para sublinhar que "este Governo deve
atender a privilégios que determinadas classes têm".
"Não
compreendo como Mexia recebe 600 mil euros e há gente na miséria sem
ter que dar de comer aos filhos.
Bem pode vir Eduardo Catroga dizer que é legal e que os acionistas é que querem, mas isto não pode ser assim. Há um encobrimento de situação de favores aos mais poderosos que é intolerável. E se o povo percebe isso reage de certeza", disse.
Para
Pires Veloso, "se as leis permitem um caso como o Mexia, então é
preciso outro 25 de Abril para mudar as leis", considerando que isto
contribui para "a tal mentira institucionalizada que não deixa que as
coisas tenham a pureza que deviam ter".
Casos
como este, que envolvem salários que "são um insulto a um povo inteiro,
que tem os filhos com fome", fazem, na opinião do militar, com que em
termos sociais a situação seja hoje pior, mesmo, do que antes do 25 de
Abril: "Na altura havia um certo pudor nos gastos e agora não: gaste-se à
vontade que o dinheiro há de vir".
Inversão do 25 de Abril
Quanto
ao povo, "assiste passivamente à mentira e ao roubo, por enquanto. Mas
se as coisas atingirem um limite que não tolere, é o cabo dos trabalhos e
não há quem o sustenha.
Porque os cidadãos aguentam, têm paciência, mas quando é demais, cuidado com eles".
"Quando se deu o 25 de Abril de 1974, disseram que havia de haver justiça social, mais igualdade e melhor repartição de bens.
Estamos a ver uma inversão do que o 25 de Abril exigia", considerou Pires Veloso, para quem "o primeiro-ministro tem de arrepiar caminho rapidamente".
Passos
Coelho "tem de fazer ver que tem de haver justiça, melhor repartição de
riqueza e que os poderosos é que têm que entrar com sacrifícios nesta
crise", defendeu, apontando a necessidade de rever rapidamente as
parcerias público-privadas.
"Julgo que Passos Coelho quer a verdade e é esforçado, mas está num sistema do qual está prisioneiro.
O Governo mexe nos mais fracos, vai buscar dinheiro onde não há. E, no entanto, na parte rica e nos poderosos ainda não mexeu. Falta-lhes mais tempo? Não sei. Sei é que tem de mudar as coisas, disse Pires Veloso
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