Vou contar-vos uma história que não me sai da memória.
Foi para mim uma vitória nesta era espacial.
Outro dia estremeci, quando abri a porta e vi
Um grandessíssimo O.V.N.I. pousado no meu quintal.
Fui logo bater à porta. Veio uma figura torta, eu disse:
" Se não se importa poderia ir-se embora ? "
Tenho esta roupa a secar e ainda se vai sujar
Se essa coisa aí ficar a deitar fumo pra fora.
O senhor extraterrestre viu-se um pouco atrapalhado.
Quis falar mas disse " pi " estava mal sintonizado.
Mexeu lá no botão e pode contar-me, então,
Que tinha sido multado por o terem apanhado sem carta de condução.
O senhor desculpe lá. Não quero passar por má,
Pois você aonde está não me adianta nem me atrasa.
O pior é a vizinha que parece que adivinha.
Quando vir que estou sózinha com um estranho em minha casa.
Mas já que está aí de pé, venha tomar um café.
Faz-me pena pois você nem tem cara de ser mau.
Eu queria saber, também, se na terra donde vem
Não conhece lá ninguém que me arranje bacalhau
O senhor extraterrestre viu-se um pouco atrapalhado.
Quis falar mas disse " pi " estava mal sintonizado.
Mexeu lá no botão, disse para me pôr a pau
Pois na terra donde vinha nem há cheiro de sardinha
Quanto mais de bacalhau.
Conte agora novidades. É casado ? Tem saudades ?
Já tem filhos ? De que idades ? Só um ? A quem é que sai ?
Tem retratos, com certeza. Mostre lá, ai que riqueza !
Não é mesmo uma beleza ? Tão gordinho, sai ao pai.
Já está de chaves na mão ? Vai voltar para o avião ?
Espere que já ali estão umas sandes pra viagem.
E vista também aquela camisinha de flanela,
Para quando abrir a janela não se constipar co'aragem.
O senhor extraterrestre viu-se um pouco atrapalhado.
Quis falar mas disse " pi " estava mal sintonizado.
Mexeu lá no botão e pôde-me dizer então
Que quer que eu vá visitá-lo, que acha graça
Quando eu falo.Ou ao menos para escrever.
O senhor extraterrestre viu-se um pouco atrapalhado.
Quis falar mas disse " pi " estava mal sintonizado.
Mexeu lá no botão só pra dizer
" Deus lhe pague "
Eu dei-lhe um copo de vinho e lá foi no seu caminho
Que era um pouco em ziguezague. ( * )
( * ) De autoria do falecido Carlos Paião .
Interpretação do grupo MESA.
Corria o ano de 1988. Mês de agosto. Mês de todas as festas em todos os lugares. Mês de grande azáfama, potenciada pelos emigrantes que se deslocavam anualmente à sua terra natal, como, afinal, ainda agora fazem. Era sexta-feira, não 13 mas 26 de agosto, dia após o terrível incêndio do Chiado, em Lisboa.Cumprem-se no dia 26 de agosto 30 anos sobre a morte de Carlos Paião, NUM ACIDENTE NA EN 1, quando vinha a caminho das festas de Penalva do Castelo.
Carlos Paião, o médico, sobretudo o cantor e compositor, vinha por aí acima. Rumava às festas de Penalva do Castelo onde nessa noite iria efetuar mais um concerto, dos muitos que já carregava no currículo. Em agosto era sempre assim, era mês de concertos quase diários por todo o país e Carlos Paião era dos artistas mais solicitados por terras de Portugal, de lés a lés.
Porém, na nacional 1, nas imediações de Rio Maior, o sonho de um dos maiores compositores e letristas portugueses e também intérprete, encontrou a morte, de frente, num camião que seguia em sentido contrário.
Jorge Esteves, o condutor da viatura Datsun Urvan, que sobreviveu ao acidente, contou à revista Sábado, em 2017, que os seus dois colegas, ambos declarados mortos no local, iam a dormir e que ele de nada se lembra a não ser que “estava sentado no alcatrão, a acordar, com um monte de pernas à minha volta”, tendo sido transportado para o hospital com graves ferimentos.
Jorge Esteves soube da morte dos seus companheiros de viagem bem depois.
Em Penalva do Castelo, onde no próximo fim de semana vão ter lugar as festas do concelho, de 2018, festas em torno de São Genésio, que se comemora a 25 de julho, Carlos Paião ainda hoje é recordado.
Não há ninguém, acima dos 50 anos, das muitas pessoas com quem contactámos, que não se recorde desse dia. E lembram-se com tristeza dessa fatídica sexta-feira.
Nessa noite, em 1988, o palco em Penalva do Castelo, esse, ficou vazio. Carlos Paião que ali haveria de subir para interpretar as suas inúmeras cantigas (Playback, Pó de arroz, Cinderela, Vinho do Porto, Os namorados..) que faziam parte do seu reportório, havia partido para outro palco.
Carlos Paião
Carlos Paião Informação geral Nome completo Carlos Manuel Marques Paião Nascimento 1 de novembro de 1957 Origem Coimbra País
Portugal
Morte 26 de agosto de 1988 (30 anos) Género(s) Pop, Rock Instrumento(s) Voz, Piano Período em atividade 1978 - 1988
Carlos Manuel de Marques Paião (Coimbra, 1 de novembro de 1957 — Rio Maior, 26 de agosto de 1988) foi um cantor e compositor português. Licenciou-se em Medicina pela Universidade de Lisboa (1983), acabando por se dedicar exclusivamente à música.