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30.7.11

CARLOS PAIÃO



                                        Vou contar-vos uma história que não me sai da memória.
                                        Foi para mim uma vitória nesta era espacial.
                                         Outro dia estremeci, quando abri a porta e vi
                                         Um grandessíssimo O.V.N.I. pousado no meu quintal.

                                         Fui logo bater à porta. Veio uma figura torta, eu disse:
                                       " Se não se importa poderia ir-se embora ? "
                                         Tenho esta roupa a secar e ainda se vai sujar
                                         Se essa coisa aí ficar a deitar fumo pra fora.

                                         O senhor extraterrestre viu-se um pouco atrapalhado.
                                         Quis falar mas disse " pi " estava mal sintonizado.
                                          Mexeu lá no botão e pode contar-me, então,
                                          Que tinha sido multado por o terem apanhado sem carta de condução.

                                          O senhor desculpe lá. Não quero passar por má,
                                          Pois você aonde está não me adianta nem me atrasa.
                                          O pior é a vizinha que parece que adivinha.
                                          Quando vir que estou sózinha com um estranho em minha casa.

                                           Mas já que está aí de pé, venha tomar um café.
                                           Faz-me pena pois você nem tem cara de ser mau.
                                           Eu queria saber, também, se na terra donde vem
                                           Não conhece lá ninguém que me arranje bacalhau



                                                                                  
                                            O senhor extraterrestre viu-se um pouco atrapalhado.
                                            Quis falar mas disse " pi " estava mal sintonizado.
                                            Mexeu lá no botão, disse para me pôr a pau
                                            Pois na terra donde vinha nem há cheiro de sardinha
                                            Quanto mais de bacalhau.

                                            Conte agora novidades. É casado ? Tem saudades ?
                                            Já tem filhos ? De que idades ? Só um ? A quem é que sai ?
                                            Tem retratos, com certeza. Mostre lá, ai que riqueza !
                                            Não é mesmo uma beleza ? Tão gordinho, sai ao pai.

                                            Já está de chaves na mão ? Vai voltar para o avião ?
                                            Espere que já ali estão umas sandes pra viagem.
                                            E vista também aquela camisinha de flanela,
                                             Para quando abrir a janela não se constipar co'aragem.

                                            O senhor extraterrestre viu-se um pouco atrapalhado.
                                            Quis falar mas disse " pi " estava mal sintonizado.
                                            Mexeu lá no botão e pôde-me dizer então
                                            Que quer que eu vá visitá-lo, que acha graça
                                             Quando eu falo.Ou ao menos para escrever.

                                            O senhor extraterrestre viu-se um pouco atrapalhado.
                                            Quis falar mas disse " pi " estava mal sintonizado.
                                            Mexeu lá no botão só pra dizer
                                            " Deus lhe pague "

                                            Eu dei-lhe um copo de vinho e lá foi no seu caminho
                                            Que era um pouco em ziguezague.  ( * )
                                                                                                    

                 ( * ) De autoria do falecido Carlos Paião .
                              Interpretação do grupo MESA.                          
              


Cumprem-se no dia 26 de agosto 30 anos sobre a morte de Carlos Paião, NUM ACIDENTE NA EN 1, quando vinha a caminho das festas de Penalva do Castelo.
Corria o ano de 1988. Mês de agosto. Mês de todas as festas em todos os lugares. Mês de grande azáfama, potenciada pelos emigrantes que se deslocavam anualmente à sua terra natal, como, afinal, ainda agora fazem. Era sexta-feira, não 13 mas 26 de agosto, dia após o terrível incêndio do Chiado, em Lisboa.

Carlos Paião, o médico, sobretudo o cantor e compositor, vinha por aí acima. Rumava às festas de Penalva do Castelo onde nessa noite iria efetuar mais um concerto, dos muitos que já carregava no currículo. Em agosto era sempre assim, era mês de concertos quase diários por todo o país e Carlos Paião era dos artistas mais solicitados por terras de Portugal, de lés a lés.

Porém, na nacional 1, nas imediações de Rio Maior, o sonho de um dos maiores compositores e letristas portugueses e também intérprete, encontrou a morte, de frente, num camião que seguia em sentido contrário.

Jorge Esteves, o condutor da viatura Datsun Urvan, que sobreviveu ao acidente, contou à revista Sábado, em 2017, que os seus dois colegas, ambos declarados mortos no local, iam a dormir e que ele de nada se lembra a não ser que “estava sentado no alcatrão, a acordar, com um monte de pernas à minha volta”, tendo sido transportado para o hospital com graves ferimentos.

Jorge Esteves soube da morte dos seus companheiros de viagem bem depois.

Em Penalva do Castelo, onde no próximo fim de semana vão ter lugar as festas do concelho, de 2018, festas em torno de São Genésio, que se comemora a 25 de julho, Carlos Paião ainda hoje é recordado.
Não há ninguém, acima dos 50 anos, das muitas pessoas com quem contactámos, que não se recorde desse dia. E lembram-se com tristeza dessa fatídica sexta-feira.

Nessa noite, em 1988, o palco em Penalva do Castelo, esse, ficou vazio. Carlos Paião que ali haveria de subir para interpretar as suas inúmeras cantigas (Playback, Pó de arroz, Cinderela, Vinho do Porto, Os namorados..) que faziam parte do seu reportório, havia partido para outro palco.



  1. Carlos Paião

    Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
    Carlos Paião
    Informação geral
    Nome completo Carlos Manuel Marques Paião
    Nascimento 1 de novembro de 1957
    Origem Coimbra
    País Portugal Portugal
    Morte 26 de agosto de 1988 (30 anos)
    Género(s) Pop, Rock
    Instrumento(s) Voz, Piano
    Período em atividade 1978 - 1988


    Carlos Manuel de Marques Paião (Coimbra, 1 de novembro de 1957Rio Maior, 26 de agosto de 1988) foi um cantor e compositor português. Licenciou-se em Medicina pela Universidade de Lisboa (1983), acabando por se dedicar exclusivamente à música.

     

     

    Biografia

    Nasceu, acidentalmente, em Coimbra, filho de um piloto de barra que, anos antes, se dedicara à pesca do bacalhau, e de uma professora,[1] vivendo em Ílhavo (terra natal dos pais).

     Desde muito cedo, Carlos Paião demonstrou ser um compositor prolífico, sendo que, no ano de 1978, tinha já escritas mais de duzentas canções.

     Nesse ano obteve o primeiro reconhecimento público, ao vencer o Festival da Canção do Illiabum Clube.

    Em 1980 concorre, pela primeira vez, ao Festival RTP da Canção, numa altura em que este certame representava uma plataforma para o sucesso e a fama no mundo da música portuguesa, mas não foi apurado.

    Com Playback ganhou o Festival RTP da Canção 1981, com a esmagadora pontuação de 203 pontos, deixando para trás concorrentes tão fortes como as Doce e José Cid.

     A canção, uma crítica divertida, mas contundente, aos artistas que cantam em playback, ficou em penúltimo lugar no Festival Eurovisão da Canção 1981, realizado em Dublin, na República da Irlanda.

    Tal classificação não "beliscou" minimamente a popularidade do cantor e compositor, pois Carlos Paião, ainda nesse ano, editou outro single de sucesso e que mantém a sua popularidade até hoje: Pó de Arroz.


    O êxito que se seguiu foi a Marcha do Pião das Nicas, canção na qual o cantor voltava a deixar patente o seu lado satírico. Telefonia (Nas Ondas do Ar) era o lado B desse single.


    Carlos Paião compôs canções para outros artistas, entre os quais Herman José, que viria a alcançar grande êxito com A Canção do Beijinho (1980), e Amália Rodrigues, para quem escreveu O Senhor Extra-Terrestre (1982).

    Algarismos (1982), o seu primeiro LP, não obteve, no entanto, o reconhecimento desejado. Surgiu, entretanto, a oportunidade de participar no programa de televisão O Foguete, com António Sala e Luís Arriaga.


    Em 1983, cantava ao lado de Cândida Branca Flor, com quem interpretou um dueto muito patriótico intitulado Vinho do Porto, Vinho de Portugal, que ficou em 3.º lugar no Festival RTP da canção.


    Num outro programa, Hermanias (1984), Carlos Paião compôs a totalidade das músicas e letras de Serafim Saudade, personagem criada por Herman José, já então uma das figuras mais populares da televisão portuguesa.


    Em 1985 concorreu ao Festival Mundial de Música Popular de Tóquio (World Popular Song Festival of Tokio), tendo a sua canção sido uma das 18 seleccionadas.


    A 26 de Agosto de 1988 morre num violento acidente de automóvel, quando se dirigia para um concerto - as festas em honra de S. Ginésio, em Penalva do Castelo (os cartazes das festas da vila confirmam-no).
    O acidente aconteceu na antiga Estrada Nacional 1[2], perto de Rio Maior.[1]

     A sua morte foi alvo de polémica por não ser claro se foi culpado do acidente que o vitimou.

     O seu corpo foi sepultado em São Domingos de Rana, freguesia do concelho de Cascais.


    Estava a preparar um novo álbum intitulado Intervalo, que acabou por ser editado em Setembro desse ano, e cujo tema de maior sucesso foi Quando as nuvens chorarem.


    Compositor, intérprete e instrumentista, Carlos Paião produziu mais de trezentas canções.
    Em 2003, foi editada uma compilação comemorativa dos 15 anos do seu desaparecimento - Carlos Paião: Letra e Música - 15 anos depois (Valentim de Carvalho).

    Em 2008, por altura da comemoração dos 20 anos do desaparecimento do músico, vários músicos e bandas reinterpretaram alguns temas do autor na edição de um álbum de tributo, "Tributo a Carlos Paião".[3][4]
     
    Os seus restos mortais são trasladados para o cemitério da freguesia de São Salvador, no concelho de Ílhavo, por desejo dos seus pais, no final de 2014[5][6][7].


    A 29 de Janeiro de 2016, a Junta de Freguesia de São Domingos de Rana protagonizou um Tributo a Carlos Paião, numa noite que contou com muitos artistas para quem Carlos Paião escreveu e que o reinterpretaram.

     No dia 30 de Janeiro de 2016, foi inaugurada em São Domingos de Rana a Exposição Carlos Paião com o espólio do cantor e compositor.

     

     

    Discografia

    Ver artigo principal: Discografia de Carlos Paião

     

    Álbuns

    • Algarismos - LP (EMI, 1982)
    • Intervalo - LP (EMI, 1988)
    Compilações
    • O Melhor de
    • Letra e Música - 15 Anos Depois
    • Perfil
    • Letra e Música - 25 Anos Depois

    Singles

    • Souvenir de Portugal / Eu Não Sou Poeta (EMI, 1981)
    • Refilar faz mal à Vesícula (EMI, 1981)
    • Play Back/Play Back (versão inglesa) (EMI, 1981)
    • Pó de Arroz / Gá-gago (EMI, 1981)
    • Marcha do Pião das Nicas / Telefonia Nas Ondas do Ar (EMI, 1982)
    • Zero a Zero / Meia Dúzia (EMI, 1982)
    • Vinho do Porto, Vinho de Portugal - com Cândida Branca Flor (1983)
    • O Foguete (1983)
    • Discoteca (EMI, 1984)
    • Cinderela (EMI, 1984)
    • Versos de Amor (EMI, 1985)
    • Arco Íris (EMI, 1985)
    • Cegonha/Lá Longe Senhora (EMI, 1986)

    Outros

    Nomes que gravaram temas de Carlos Paião: António Mourão, Herman José, Joel Branco, Cândida Branca Flor, Amália Rodrigues, Nuno da Câmara Pereira, Peter Petersen, Florbela Queirós, Alexandra, Rodrigo, Lenita Gentil, Ana, Carlos Quintas, Gabriel Cardoso, Pedro Couceiro, Vasco Rafael, Luis Arriaga, Florência, Fernando Pereira, Mariette Pessanha e Norberto de Sousa.
    Inéditos
    • Os Maternitas lançaram em 1987 o single "Super Zequinha".
    • José Alberto Reis participou no Festival RTP da Canção de 1989 com "Palavras Cruzadas" que nunca foi gravado. Também cantou o tema "Sol Maior" que foi gravado em 1994, no disco "Alma Rebelde.
    • Ana gravou o tema "ilusão" em 1989.
    • O álbum "Microfone e Voz" de António Sala, de 1989, inclui o tema "A Um Amigo" com letra de António Sala.
    • Mísia gravou, em 1991, o tema "Ai Que Pena" de Carlos Paião e Mário Martins.
    • José da Câmara gravou o tema "Ai Fadinho" em 1991.
    • Nuno da Câmara Pereira gravou em 1992 o tema "A Marcha do Castelo",
    • O álbum "Histórias" de António Sala, de 1993, inclui o tema "Pecado Capital".
    • A cantora Alexandra Cruz gravou em 1993 três inéditos: "Amigos eu voltei", "A vida quer, a vida manda" e "Vamos parar o tempo".
    • O cantor Pedro Vilar gravou os temas "Talvez", "Canção da Última Idade" e "Beijo Roubado".
    • No segundo volume do projecto "Novo Canto Português" de Pedro Brito, lançado em 2008, inclui o tema "Tempo".
    • O tema "O Novo Povo" não chegou a ser gravado por Amália mas em 2016 foi gravado por Yolanda Soares.

    Referências


  2. «Se fosse vivo, Carlos Paião faria hoje 56 anos». Revista Sábado. 26 de agosto de 2013. Consultado em 7 de outubro de 2014

  3. «Carlos Paião: falámos com o homem que ia ao volante quando ele morreu»

  4. Tributo a Carlos Paião: CDGO.com, acesso em 12 de Outubro de 2008

  5. Tributo a Carlos Paião: Portugal Rebelde, acesso em 12 de Outubro de 2008

  6. http://www.freguesiassalvador.pt/noticias/restos-mortais-de-carlos-pai-o-trasladados-para-lhavo

  7. http://www.aveiro.co.pt/noticia.aspx?id=157160

  8. http://sicnoticias.sapo.pt/cultura/2015-01-04-Restos-mortais-de-Carlos-Paiao-trasladados-para-o-cemiterio-de-Ilhavo