Conheci a beleza que não morre
E fiquei triste. Como quem da serra
Mais alta que haja, olhando aos pés a terra
E o mar, vê tudo, a maior nau ou torre,
Minguar, fundir-se, sob a luz que jorre;
Assim eu vi o mundo e o que ele encerra
Perder a cor, bem como a nuvem que erra
Ao pôr do sol e sobre o mar discorre.
Pedindo à forma, em vão, a ideia pura,
Tropeço, em sombras, na matéria dura,
E encontro a imperfeição de quanto existe
Recebi o baptismo dos poetas,
E assentado entre as formas incompletas
Para sempre fiquei pálido e triste.
* Antero de Quental
Antero de Quental
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Antero de Quental | |
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Antero de Quental, poeta açoreano c. 1887 | |
Nome completo | Antero Tarquínio de Quental |
Nascimento | 18 de abril de 1842 Ponta Delgada, Açores, Portugal |
Morte | 11 de setembro de 1891 (49 anos) Ponta Delgada, Açores, Portugal |
Nacionalidade | Português |
Alma mater | Universidade de Coimbra |
Ocupação | Escritor |
Principais trabalhos | Sonetos de Antero (1861) Beatrice e Fiat Lux (1863) Odes Modernas (1865) Bom Senso e Bom Gosto (1865) A Dignidade das Letras e as Literaturas Oficiais (1865) Defesa da Carta Encíclica de Sua Santidade Pio IX (1865) Portugal perante a Revolução de Espanha (1868) Primaveras Românticas (1872) Considerações sobre a Filosofia da História Literária Portuguesa (1872) A Poesia na Actualidade (1881) Sonetos Completos (1886) A Filosofia da Natureza dos Naturistas (1886) Tendências Gerais da filosofia na Segunda Metade do Século XIX (1890) Raios de extinta luz (1892) |
Movimento literário | Questão Coimbrã, Geração de 70 |
Carreira musical | |
Período musical | 1861 - 1891 |
Assinatura | |
Biografia
Durante a sua vida, Antero de Quental dedicou-se à poesia, à filosofia e à política. Deu início aos seus estudos na cidade natal, mudando-se para Coimbra aos 16 anos, ali estudando Direito e manifestando as primeiras ideias socialistas. Fundou em Coimbra a Sociedade do Raio, que pretendia renovar o país pela literatura.
Em 1861, publicou os seus primeiros sonetos. Quatro anos depois, publicou as Odes Modernas, influenciadas pelo socialismo experimental de Proudhon, enaltecendo a revolução. Nesse mesmo ano iniciou a Questão Coimbrã, em que Antero e outros poetas foram atacados por António Feliciano de Castilho, por instigarem a revolução intelectual. Como resposta, Antero publicou os opúsculos Bom Senso e Bom Gosto, carta ao Exmo. Sr. António Feliciano de Castilho, e A Dignidade das Letras e as Literaturas Oficiais.
Ainda em 1866 mudou-se para Lisboa, onde experimentou a vida de operário, trabalhando como tipógrafo, profissão que exerceu também em Paris, entre janeiro e fevereiro de 1867.
Em 1868 regressou a Lisboa, onde formou o Cenáculo, de que fizeram parte, entre outros, Eça de Queirós, Abílio de Guerra Junqueiro e Ramalho Ortigão.
Foi um dos fundadores do Partido Socialista Português.
De 1869 data a sua viagem à América, com partida do Porto, a bordo do patacho Carolina, do seu amigo algarvio Joaquim de Almeida Negrão. Sabe-se que visitou primeiro Halifax, no Canadá, e depois Nova Iorque, onde permaneceu cerca de um mês. Desta viagem, que terá sido atribulada, não ficou nenhum testemunho da autoria de Antero, mas apenas os relatos feitos anos depois por Joaquim Negrão, que alguns hoje consideram parcialmente desmemoriado ou fantasista.[3]
Em 1870, fundou em Lisboa o jornal A República - Jornal da Democracia Portuguesa, com Oliveira Martins.
Em 1871, encontramo-lo a reunir-se em Lisboa com delegados da Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT) para apresentar as ideias anarquistas.[4]
Nessa altura, em Maio do mesmo ano, igualmente participa numa conferência Iberista e aí apresenta um polémico discurso em que tenta explicar as razões do atraso português, e do espanhol, desde o século XVII.[5]
Ele, juntamente com José Fontana, em 1872, passou a editar a revista O Pensamento Social.
Colaborou igualmente em diversas outras publicações periódicas, nomeadamente: A Esperança [6] (1865-1866), Renascença [7] (1878-1879?), O Pantheon [8] (1880-1881), Branco e Negro (1896-1898), Contemporânea (1915-1926), A imprensa (1885-1891), O Thalassa (1913-1915) e, a título póstumo, no periódico O Azeitonense [9] (1919-1920).
Em 1873 herdou uma quantia considerável de dinheiro, o que lhe permitiu viver dos rendimentos dessa fortuna. Em 1874, com tuberculose, descansou por um ano, mas em 1875, fez a reedição das Odes Modernas.
Em 1879 mudou-se para o Porto, e em 1886 publicou aquela que é considerada pelos críticos como a sua melhor obra poética, Sonetos Completos, com características autobiográficas e simbolistas.
Em 1880, adoptou as duas filhas do seu amigo, Germano Meireles, que falecera em 1877. Em setembro de 1881 foi, por razões de saúde e a conselho do seu médico, viver em Vila do Conde, onde residiu até maio de 1891, com pequenos intervalos nos Açores e em Lisboa. O período em Vila do Conde foi considerado pelo poeta o melhor da sua vida: "Aqui as praias são amplas e belas, e por elas me passeio ou me estendo ao sol com a voluptuosidade que só conhecem os poetas e os lagartos adoradores da luz." [10]
Em 1886 foram publicados os Sonetos Completos, coligidos e prefaciados por Oliveira Martins. Entre março e outubro de 1887, permaneceu nos Açores, voltando depois a Vila do Conde. Devido a essa sua estadia, foi fundado nesta cidade, em 1995, o "Centro de Estudos Anterianos"
Em 1890, devido à reacção nacional contra o ultimato inglês, de 11 de janeiro, aceitou presidir à Liga Patriótica do Norte, mas a existência da Liga foi efémera. Quando regressou a Lisboa, em maio de 1891, instalou-se em casa da irmã, Ana de Quental. Portador de distúrbio bipolar, nesse momento o seu estado de depressão era permanente. Após um mês, em junho de 1891, regressou a Ponta Delgada, cometendo suicídio no dia 11 de setembro de 1891, com dois tiros, num banco de jardim junto ao Convento de Nossa Senhora da Esperança, onde está na parede a palavra "Esperança", no Campo de São Francisco, cerca das 20:00 horas.
Os seus restos mortais encontram-se sepultados no Cemitério de São Joaquim, em Ponta Delgada.[11]
Foi impressa uma nota de 5.000$00 Chapas 2 e 2A de Portugal com a sua imagem.
Análise da obra
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- Properly speaking there has been no Portuguese literature before Antero de Quental;
- before that there has been either a preparation for a future literature,
- or foreign literature written in the Portuguese language.
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- Fernando Pessoa[12]
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A poesia de Antero de Quental apresenta três faces distintas:
- A das experiências juvenis, em que coexistem diversas tendências;
- A da poesia militante, empenhada em agir como “voz da revolução”;
- E a da poesia de tom metafísico, voltada para a expressão da angustia de quem busca um sentido para a existência.
Antero atinge um maior grau de elaboração em seus sonetos, considerados por muitos críticos uns dos melhores da língua e comparados aos de Camões e aos de Bocage. Há, na verdade, alguns pontos de contato estilísticos e temáticos entre esses três poetas: os sonetos de Antero têm inegável sabor clássico, quer na adjetivação e na musicalidade equilibrada, ou na análise de questões universais que afligem o homem.
Obras
- Sonetos de Antero, 1861
- Beatrice e Fiat Lux, 1863
- Odes Modernas, 1865 (na origem da polémica Questão Coimbrã). Reeditadas em 1875.
- Bom Senso e Bom Gosto, 1865 (opúsculos)
- A Dignidade das Letras e as Literaturas Oficiais, 1865 (na origem da polémica Questão Coimbrã)
- Defesa da Carta Encíclica de Sua Santidade Pio IX, 1865
- Portugal perante a Revolução de Espanha 1868 (eBook)
- Causas da decadência dos povos peninsulares, 1871
- Primaveras Românticas, 1872
- Considerações sobre a Filosofia da História Literária Portuguesa, 1872 (eBook)
- A Poesia na Actualidade, 1881
- Sonetos Completos, 1886 (eBook)
- A Filosofia da Natureza dos Naturistas, 1886 (eBook)
- Tendências Gerais da filosofia na Segunda Metade do Século XIX, 1890
- Raios de extinta luz, 1892 (eBook)
- A Bíblia da Humanidade (eBook)
- Leituras Populares (eBook)
- Liga Patriótica do Norte (eBook)
- Prosas
Referências
- Fernando Pessoa, Carta a William Bentley, 1915.in Correspondência 1905-1922, ed. Manuela Parreira da Silva, Lisboa, Assírio & Alvim, 1999, p. 197, ISBN 972-37-0505-2.
Bibliografia
- SÁ, Victor de. Antero de Quental. Braga, ed. do autor, 1963. Coleção Cultura e Ação, n.º 8.
- Literatura Portuguesa no Mundo "Dicionário Ilustrado"(vol. 10) ISBN 972-0-01251-X
- VÁRIOS (2000). Nova Enciclopédia Barsa. [S.l.]: Encyclopædia Britannica do Brasil. Volume 12, ISBN 85-7026-492-5
Ver também
Ligações externas
- Espólio de Antero de Quental no Arquivo de Cultura Portuguesa Contemporânea da Biblioteca Nacional
- Geração de 70
- Biografia em arqnet.pt
- Biografia em "Vidas Lusófonas"
- Obras de Antero de Quental na Biblioteca Nacional Digital
- Obras de Antero de Quental no Projeto Gutenberg USA
- República e Laicidade - associação cívica
- Centro Virtual Camões
- As Mortes de Antero Quental - Autópsia de um Suicídio - Francisco Moita Flores
- Análise e interpretação de poemas de Antero de Quental
- Branco e Negro : semanario illustrado (cópia digital)
- Contemporânea (cópia digital)
- A imprensa : revista scientifica, litteraria e artistica (cópia digital)
- O Thalassa : semanario humoristico e de caricaturas (cópia digital)
- Roteiro Cultural de Antero de Quental em Ponta Delgada DIREÇÃO REGIONAL DA CULTURA - Açores