Um misero lenhador,
Que oitenta invernos contava,
Com um feixe de lenha às costas
A passos lentos andava.
Pela idade enfraquecido,
Além do sustento escasso,
Tropeçou, caiu-lhe o feixe,
Fazendo um golpe num braço.
Depois com pranto nos olhos
Alguns alentos cobrou,
E refletindo em seus males,
Sentado, assim declamou:
" Mais do que eu sou, infeliz,
" Não há no globo um vivente,
" Trabalho mais do que posso,
" E vivo assaz indigente.
" Pouco pão, nenhum descanso,
" Uma existência oprimida,
" Ah! que não vejo quem tenha
" Tão dura e penosa vida !
" Filhos maus, mulher teimosa,
" Más pagas, duro credor,
" Rendas de casas, impostos,
" Não há desgraça maior !
" Vem, ó morte, ó morte amável !
" Socorre a quem te apetece !
Eis o esqueleto da morte
De repente lhe aparece;
*
E diz: " Mortal, que me queres ? "
Torna-lhe ele de mãos postas:
" Quero, amiga, que me ajudes
" A pôr este feixe, ás costas. "
Na dor deseja-se a morte;
Mas quando vem faz tremer;
Que é dos viventes o instinto
Antes penar que morrer.*
Semmedo
Lisboa,Fevereiro de 1881.
Quadro em que imaginei o lenhador ao cair da tarde com o feixe de lenha às costas. Na envolvência, está representada uma Galinhola em voo. Os pinhais ao redor, são aqueles que em tempos relativamente recentes por esta minha terra existiam. Hoje teria que pintar moradias, estradas e sei lá que mais.
* Web Site desta imagem : agatafm.org
Acrílico S /Tela
Autor. J.P.L.
Que oitenta invernos contava,
Com um feixe de lenha às costas
A passos lentos andava.
Pela idade enfraquecido,
Além do sustento escasso,
Tropeçou, caiu-lhe o feixe,
Fazendo um golpe num braço.
Depois com pranto nos olhos
Alguns alentos cobrou,
E refletindo em seus males,
Sentado, assim declamou:
O LENHADOR E A GALINHOLA |
" Mais do que eu sou, infeliz,
" Não há no globo um vivente,
" Trabalho mais do que posso,
" E vivo assaz indigente.
" Pouco pão, nenhum descanso,
" Uma existência oprimida,
" Ah! que não vejo quem tenha
" Tão dura e penosa vida !
" Filhos maus, mulher teimosa,
" Más pagas, duro credor,
" Rendas de casas, impostos,
" Não há desgraça maior !
" Vem, ó morte, ó morte amável !
" Socorre a quem te apetece !
Eis o esqueleto da morte
De repente lhe aparece;
A Morte |
E diz: " Mortal, que me queres ? "
Torna-lhe ele de mãos postas:
" Quero, amiga, que me ajudes
" A pôr este feixe, ás costas. "
Na dor deseja-se a morte;
Mas quando vem faz tremer;
Que é dos viventes o instinto
Antes penar que morrer.*
Semmedo
Lisboa,Fevereiro de 1881.
Quadro em que imaginei o lenhador ao cair da tarde com o feixe de lenha às costas. Na envolvência, está representada uma Galinhola em voo. Os pinhais ao redor, são aqueles que em tempos relativamente recentes por esta minha terra existiam. Hoje teria que pintar moradias, estradas e sei lá que mais.
* Web Site desta imagem : agatafm.org
Acrílico S /Tela
Autor. J.P.L.